E LEIA GOZOU COMO UMA CADELA

Um conto erótico de Nadja Cigana
Categoria: Gay
Contém 4102 palavras
Data: 03/10/2024 11:29:27

O grosso caralhão de titio Gil havia dilatado o brioco do viadinho Bruninho de um jeito inédito para o jovenzinho.

A bichinha voltou para seu quarto feliz da vida, peladinha e com o cuzinho ardendo mas preenchido de muita porra, enquanto mamãe e titio se preparavam para dormir.

De passagem para o banheiro, sentindo a vontade instintiva de cagar toda a porra que o tio injetara em seu reto, o menino pegou seu celular e descobriu que o namoradinho Artur lhe mandara uma série de três mensagens. E a felicidade de Bruninho foi ao máximo lendo.

“Oi, Bruninha. Minha Bruninha. Mesmo você pedindo pra te chamar de Bruninha só no teu quarto, eu agora vou te chamar de Bruninha sempre que puder. Você agora é a minha menininha.”

“Eu só queria te dizer que no domingo você disse que foi o dia mais feliz de sua vida, mas hoje, pra mim, foi o dia mais feliz da minha vida.”

“Boa noitinha pra você, minha Bruninha!”

Embora exultante com as mensagens de Artur, Bruninho não sabia direito o que responder. Ele amava o namoradinho e ao mesmo tempo morria de tesão com a ideia de ser mais uma putinha no harém de titio Gil. Refletindo um pouco, o viadinho concluiu pelo que lhe era mais conveniente, sem deixar de ser racional.

Bruninho decidiu que daria gostoso o cuzinho para titio Gil sempre que mamãe Gilda deixasse, já que o incesto seria para sempre um segredo muito bem guardado entre os três. E decidiu também, com clareza e sem nenhuma culpa, que aprenderia a dar o rabinho para Artur. Afinal, talvez com o namoradinho ele conseguisse chegar ao orgasmo anal, seu atual sonho de passivinho.

E foi pensando em alcançar o gozo de cu com Artur, que o viadinho respondeu ao namorado.

“Ái, Tutu! Você é tão bom pra mim. Me faz tão feliz! Não vejo a hora de ter você todinho dentro de mim!”

Para surpresa da bichinha, Artur estava online sem que ela tivesse percebido e iniciou uma conversa.

- Oi, Bruninha! Você demorou!

As três mensagens de Artur eram de mais ou menos uma hora atrás, quando Bruninha estava em 69 com a mãe, lambendo a xana materna fodida e a piroca fodedora de titio Gil. Mas isso a bichinha não podia contar.

- Eu cochilei depois que tu saiu. Fiquei cansadinha.

- Ah, tá. Tu me quer mesmo, dentro de você?

- Quero muito! Tu não quer, não?

- Eu quero!

- Então porque perguntou?

- É que tu disse que não tava pronta.

Um raio passou pela cabeça de Bruninha e ela compreendeu num instante o mal entendido de quando Artur quisera tocar em seu luluzinho e fora repelido. Mas aquilo não era assunto para explicar pelo zap. Era algo para ser dito entre beijos apaixonados, com os corpos suados se tocando.

- Ái, desculpa, Tutu. Quando eu disse que não tava pronta, não era sobre ter você dentro de mim, não.

- Não entendi. Então era sobre o que?

- Eu te explico quando gente tiver junto. Prefiro. Pode ser?

- E que tal hoje, ainda?

- Hoje?

Bruninha ficou toda assanhada! O namoradinho tinha gozado duas vezes com ela naquela tarde e início de noite e queria mais! O machinho continuou.

- Saca só o que pensei. Tu sabe que aqui em casa é duplex. Os quartos da gente ficam encima e a gente usa o quarto de empregada, embaixo, como quarto de hóspedes. E a porta de serviço fica bem ao lado. A gente pode entrar por ali e ficar juntinho no quarto de hóspedes.

Bruninha adorou a proposta mas ela tinha um problema insuperável. A viadinha falava no zap com Artur, sentada no vaso e sentindo a porra de titio Gil escorrer de seu cuzinho. Além do receio de que o namoradinho descobrisse que seu fiofó havia sido usado (e muito bem usado), Bruninha romanticamente achou que a primeira enrabada que tomaria de Artur merecia um momento especial e com seu anelzinho bem fechadinho, para ser desbravado por aquela linda pica cônica, branca e rosa. Então, ela arrumou um pretexto para desfazer do convite.

- Ái, Tutu. Tenho medo do teu pai. Tu disse que ele num sabe da gente, nem pode saber.

- É só a gente não fazer barulho.

A palavra “barulho” ativou o lado puta rasteira de Bruninha. E se ela desse o rabinho para Artur no seu quarto, gritando e se descabelando como louca, pra mamãe Gilda e titio Gil ouvirem que sua viadinha não se contentava com pouco? Esquecendo o medo de que o namorado descobrisse seu cuzinho usado e pensando que bastaria dar pra ele no escuro, Bruninha ousou inverter o convite.

- Era melhor que tu viesse pra cá! Mamãe e titio já se trancaram para dormir, mas mesmo assim tu entrava escondidinho. E, se eles pegarem a gente, não tem problema. O dois sabem da gente.

O convite estava feito com tesão e amor sinceros, mas, depois de um tempo de silêncio, resultou na primeira decepção de Bruninha com seu namoradinho.

- Eu... vou ser sincero contigo. Eu acho que eu não ficaria à vontade com teu tio aí.

Bruninho engoliu em seco, intuindo com precisão a “homice” de Artur. O nadador, jovem, bonito, atlético, não queria que outro macho o visse namorando um viado. A bichinha até pensou em disfarçar o contragosto, mas tudo o que conseguiu escrever foi um “sei” que deixou Artur bastante desconfortável. Daí, o bom resultado foi que o jovem caiu em si e quis compensar sua femeazinha.

- Mas faz o seguinte. Eu vou aí amanhã. E não vou esperar teus pais irem dormir, não! Vou chegar logo depois do jantar e vou dar boa noite pros dois. Eu quero namorar você!

Bruninha leu, imediatamente começou a chorar e respondeu:

- Tá bom! (com um monte de emojis abraçando coraçõezinhos).

- Boa noitinha pra você, minha Bruninha!

- Boa notinha Tutu!... meu Tutu! Tutu... eu...

- Que foi?

- Eu te amo! Muito!

- Também te amo! Muito!

Bruninho tomou um bom banho, botou roupinhas largas de dormir e se deitou, mas não tinha a menor possibilidade de pegar no sono, depois do dia intenso de sexo e imaginando a noite seguinte, em que Artur entraria em sua casa, na frente de titio Gil e de mamãe Gilda.

A bichinha até se masturbou, ralando o piruzinho minúsculo contra seu ursão de pelúcia, enquanto imaginava que mamava a linda rola de Artur e que ao mesmo tempo era agarrada e enrabada de quatro, com força, pelo tio. Mas nada do sono chegar.

Insone, Bruninho caiu no erro de olhar sua caixa de entrada de e-mails e se deparou com uma mensagem da viada-madrinha. A jovem bichinha não podia ter a mínima ideia de que sua compreensão sobre a vida das travestis, do sexo e dos relacionamentos, mudaria completamente a partir do exemplo de Leia.

DO DIÁRIO DE LEIA

Belém, Umarizal, 2008 (é assim que vai ser, diário! Só o ano e olhe lá!)

Meu Diário, Amigo Imaginário

Ontem foi mais um dia de bebedeira e putaria, e a Leiazinha, aqui, filha de dona Verônica, tem que admitir que tá viciada nas duas!

É de manhã e eu tô de ressaca de novo. Pelo menos, hoje não vomitei. Mas a ressaca é só física. Não me arrependo de nadinha!

Fazer sexo aleatório na minha idade? Fácil. Primeiro tem a Internet. É a opção preguiçosa, de quando tô sem saco pra me produzir. Carlão, o taxista cafajeste, achei num chat de sexo trans. Uma boa piroca, mas o sujeito é muito burro. Foi só umazinha e outrazinha e chega. Será que me aproximei e repeli por causa da memória de Vadão? Pode ser?

Mas, se tô afim de me produzir e sair, é só parar num barzinho perto da “Pride” ou do “Refúgio” e dar mole. Nas boates, mesmo, não vale a pena entrar, porque só tem bichinhas novinhas e bofinhos muito novinhos. Não enchem nem o buraco do dente.

Já nos barzinhos de perto, seja no Reduto ou no Guamá, sempre pinta um macho procurando uma aventura. Eu não me produzo tentando disfarçar a idade e fingir que sou travesti novinha, pra enganar. Eu me visto sempre como “senhora” trans, com saltos, minivestido e meias altas. E o meu corpão violão ainda faz sucesso, modéstia à parte. Se eu não soubesse disso, ontem teria sido a prova dos 9. Dos 9 não, Creuza! Dos quatro. Foram quatro!

Eu já tava altinha só com uma dose de cachaça de jambu (É, agora minha cabeça já roda com um só copinho e sim, Diário, eu sei o que isso significa! Não enche!), quando o Ricardo chegou na mesa com aquele sorriso lindo, pedindo pra sentar. Eu já tinha conversado com ele outras vezes, mas a gente nunca tinha se pegado. E de início, nem parecia que a gente ia se pegar.

Ricardo tem uns 25, tá terminando medicina e é um gay alegre e inteligente. Tem o corpo branquelo e meio magro pro meu gosto, mas é bonito. É verdade que se não tivesse o rosto tão magro seria mais bonito, mas não tô escolhendo muito, não.

Ricardo mora num apê de 4 quartos, que divide com outros três estudantes de medicina e todos são gays. Um tinha ficado em casa, o João Marcos, mas os outros dois, que eram o Luís Augusto e o Túlio, tavam na boate, na pegação com quem aparecesse. Depois de outras insinuações minhas, quando ele disse que os amigos estavam “na caça”, eu falei que tava na mesma vibe de “pegar o que aparecesse” e daí ele levantou sorrindo, juntou a cadeira de plástico com a minha, sentou coladinho e me beijou na boca, ali, na frente de todo mundo! Aí fodeu!

Quando eu já tava toda derretida, os dois amigos dele chegaram, sem terem arrumado nada na boate e ficaram animadinhos com a gente. E eu, puta que sou, beijava e me agarrava com Ricardo me exibindo e fazendo caras e bocas pros outros dois. Daí foi questão de tempo pra surgir a ideia de suruba. Óbvio que eu preferia aqui em casa, mas os três malucos quiseram me levar pro apê deles, por causa do outro amigo e fomos.

Uau! Como diz aquele gaiato, foi “tome-lhe rola!” Os quatro meninos me trataram como rainha! Três deles são ativos e passivos, mas Ricardo é só ativo e os quatro me comeram gostoso, além de se comerem também, infelizmente tudo de camisinha.

De lembrança, pedi pra me fotografarem com meu celular, ajoelhada e feliz da vida, com uma pica esfregando num seio, uma em cada mão e outra na boca. Vou guardar com carinho! Fiquei linda, na foto!

**

Boa tarde, Diário.

É, tô maus... tomei banho, me arrumei correndo e cheguei atrasada no trabalho de novo. Tá certo que eu sou a chefa, mas o problema é o exemplo pra equipe.

Ontem à noite foi muito bom, mas não gozei. E quando cheguei em casa, de madrugada, a verdade é que comparei na memória as picas dos quatro rapazes com o caralho lindo do meu ex-marido, chorei de saudade e enchi os cornos de bebida. Pelo menos não ouvi Sertanejo!

Carlinha, minha psi, tem razão. Foi difícil me abrir pra ela. Nooossa, muito mais fácil é abrir a bunda pro pau dela e pro piruzão de cachorro do marido dela, Miguel. A ménage de nós três, há duas semanas, foi sensacional, talvez tão boa quanto a que fizemos quando há muito tempo apresentei Miguel a ela. O triste é que nessa ménage, de há duas semanas, foi a última vez que gozei de verdade, tomando gostoso no toba... há duas semanas! Duas semanas sem gozar com um macho, mesmo tendo dado mais do que xuxu na serra, nesses 15 dias.

Jamais tentaria tirar Miguel da Carlinha. Eles são um lindo casal, apesar da diferença de idade e sei que tanto ele quanto Carlinha gostam de mim de verdade. Nunca que eu vou zaralhar o relacionamento deles.

Carlinha vive falando que tudo o que ela é, deve a mim: ter sido acolhida quando o pai praticamente a colocou na rua, ter se prostituído com orientação, ter estudado e se formado em psicologia e ter conhecido o Miguel-pau-de-cachorro. Mas nós duas já conversamos bebendo juntas e sabemos que só dei uns empurrõeszinhos. Tudo isso foi ela que conquistou. E hoje eu é que falo pra ela que fiz tudo por interesse, pra hoje ela ser minha terapeuta.

Carlinha é a única pessoa pra quem já falei que, desde que deixei de morar com Gil e Gilda, toda noite sonho com a piroca de Gil. Admitir isso e falar pra ela, foi difícil. Não é paixão mais, é obsessão e só sei disso porque contei e Carlinha me fez ver.

Engraçado... Carlinha me fez ver um monte de coisas no comportamento de Gil que eram ruins. Acho que lá atrás, quando a gente a acolheu em casa e Gil falava pra mim que não gostava dela, ele intuía que ela de um jeito ou de outro me faria ver o lado ruim dele.

**

A Ideia de Carlinha funciona. Escrever e reler o diário me ajuda a refletir. Li tudo sobre ontem e não vou beber hoje. Tudo o que tenho a fazer é não beber hoje! Nem sair! Vou assistir ao filminho de minha suruba de quando era novinha, com Rogério, Davi, Djalma e a agora francesa Sandrinha, vou gozar muito na punheta, que não bato há um tempão e vou dormir cedo e chegar no trabalho no horário!

**

Merda, Diário! Continuo bebendo que nem uma esponja e dando aleatoriamente sem que uma e outra coisa resolva meu problema. São fugas, eu sei. Fugas da falta que sinto de Gil. Mas não consigo parar e isso já tá me prejudicando no trabalho. Madalena já brigou comigo e nem isso adiantou. Eu acho que não tenho mais jeito. Se eu fosse Madalena, me mandava embora.

**

Hoje aconteceu uma coisa muito doida, Diário! Um pau roçou no meu ombro e isso gerou uma reação maluca no meu corpo. Me arrepiei como acho que não acontecia desde que eu era um viadinho adolescente e peguei no piru do Luiz Cláudio, meu primeiro macho, pela primeira vez.

Eu ainda tava sóbria, então nem posso falar que foi o álcool. A gente tinha ido no restaurante a peso quase do lado da nossa agência de viagens. Lá tem um garçon que se diz haitiano e que olha muito pra mim. Seu nome é Jean e ele não tem nada de bonito, ou melhor, tem. Tem um sorrisão lindo que combina com um olhar assim iluminado e penetrante, como se olhasse e me visse nua. Mas não é um olhar babão, tipo só de desejo, nem é um riso que ri de mim. Não sei definir direito, mas é um olhar que parece de alegria de me ver e um riso que parece querer rir junto comigo.

Mas, como escrevi, ele não é nada bonito. Tem uns 30 anos e uma cabeça alongada que parece de alien (e ele usa raspada!) e é muito alto, deve ter uns 1,95m, mas é muuuito magro e de ombros e quadris estreitos. Parece que ele tem aquela síndrome do Abrahan Lincoln. De bonito mesmo, além do olhar e sorriso, ele tem a pele que sempre parece sedosa e bem tratada e que é de um negro tão negro que reflete tons de azul.

O povo da agência me bota pilha, dizendo que ele olha muito pra mim e hoje Madalena foi almoçar conosco, o que é uma raridade, e ela disse que também notou. Ate aí, nada demais, que eu, como travesti tesuda que sou, modéstia à parte, toda gostosona e escolada, estou muito acostumada a todo tipo de olhar. Mas o que aconteceu de doido foi o esbarrão e minha reação.

Jean nos perguntou o que iríamos beber e pedi a minha habitual cervejinha, a primeira do dia. E como só eu pedi álcool, ele me falou assim: “Mademoiselle tem certeza de que deve beber?”. Isso num tom condescendente que me irritou, apesar do sorrisão que veio junto.

Enfim, só confirmei e fui educada, mas com vontade de o mandar à merda. Continuei a conversar, mas quando ele veio me servir a cerveja, ele encheu minha tulipa cuidadosamente e ao mesmo tempo eu senti direitinho, por sob a calça social vagabunda dele, a cabeça do pau dele encostando no meu ombro nu (eu não tava com o uniforme da agência, mas com uma blusinha de alcinha). A pica estava dura como aço eu me arrepiei como uma virgenzinha adolescente!

Eu olhei pra ele ainda com a rola encostada no meu ombro e ele só olhou pra mim com aqueles olhos brilhantes e alegres e aquele sorrisão perfeito e enorme. Daí, quando ele desencostou de mim pra ir servir Madalena e as outras colegas, me deu um calafrio de baixo pra cima, na espinha, que eu me tremi toda. Madalena viu e perguntou se eu tava bem e vi que ela foi sincera. Acho que ela não percebeu a causa. Coisa doida.

**

Diário, Querido

Madalena tá armando pra mim. Conheço ela.

Hoje Madalena me fez uma proposta muito doida e já me comprometeu, meio que “me entregando” pra um macho.

Tem uns dois anos que a gente comprou fogões e freezers industriais, armários, bancadas e tudo, pra criar nosso próprio serviço de buffet e catering da agência de viagens.

E tudo isso tá guardado empoeirando na casa dos fundos da minha casa. Madalena quer fazer uma grande reforma na minha casa, transformando-a em espaço de cozinha e de festas, e em troca me dando o big apartamento de luxo dela, que ela e Gustavo querem se aposentar e mudar pra Paris.

O projeto só não andou até agora, porque eu virei alcoólatra e nós duas sabemos que foi por causa disso, mas não falamos abertamente sobre isso. Daí, umas quatro da tarde e comigo já bebinha, Madalena me levou num café, me fez tomar um ice capuccino e me veio com a bomba.

- Espia, Leia. Tem uma pessoa que pode tocar o projeto da gente, junto contigo e desenpacar essa ideia do buffet.

- Quem, Madá?

- Uma pessoa que é mais refinada do que parece, tem curso de chefe de cozinha, fala francês e, por incrível que pareça, não tem onde dormir.

- Gente, que merda!

- É, não é? Antão... a gente pode ajudar ele e ele pode nos ajudar.

- Quem é Madá?

- A gente bota ele pra morar na casa dos fundos da tua casa, enquanto a obra não começa. Depois, ele pode morar lá durante a obra, tomando conta de tudo, e ficar lá, como chefe e caseiro.

- Quem, Madá? Fala logo!

- O Jean, aquele garçon haitiano.

Tudo armado! Eu senti na hora que Madá podia até estar sendo sincera quanto ao projeto, mas que sua intenção principal era me arrumar um macho. Daí, meio indignada, tentei azedar, mentindo a respeito de minha impressão sobre o Jean.

- Madá, ele pra mim tem maió cara de picareta. Tu checou isso daí de chefe de cozinha?

- Diploma do Senac, de Personal Chef. Eu conferi com um conhecido de lá. É real.

- Mas só teórico. Experiência que é bom, só de garçom.

- Assim como nós duas não temos nenhuma experiência na área, também.

- Exatamente por isso a gente devia arrumar alguém com experiência e... porra, Madá! Tu quer colocar um desconhecido na minha casa?

Nessa hora, Madalena segurou na minha mão e me olhou com aqueles olhos de quem consegue tudo o que quer, de mim.

- Espia, filha! Tu alembra de quando te contratei?

- Claro, mas isso é dife... Madá! Tu tá falando de um estranho morando nos fundos da minha casa!

- Filha! Prestenção! Quando te contratei, foi porque minha intuição me disse que tu tinha um potencial enorme pra agência. E os anos me mostraram que eu tava muito certa! Só a criação da nossa ecopousada de aventura, em Marajó, já justificaria tudo o que apostei em tu! Fora todo o resto!

Me acalmei com a lembrança e os elogios. Eu sei que Madalena só quer o meu bem e que ela não aguenta mais meu alcoolismo. Ela continuou:

- Agora, do mesmo jeito, minha intuição me aconselha a apostar no Jean pra tudo, sobre serviço de buffet e gastronomia.

Permaneci muda, olhando pra ela, e a surpresa maior veio em seguida, quando Madalena completou com um olhar sacana.

- Além do que, levei ele pra cama e ele passou no teste!

Fiquei passada, de boca aberta! Madalena não traía Gustavo há muitos anos! O choque da novidade me pegou de jeito e cortou o efeito do álcool, muito mais do que o café com sorvete.

- Não acredito, Madá! Tu deu pro haitiano?

Madá riu e usou uma de suas saídas:

- Uma Dama não comenta essas coisas. E nem dá. Só empresta! Mas saiba que ele é muito bem dotado e sabe usar. Além disso, demonstrou ter bom caráter. Aliás, ele deve tá chegando, porque disse que ser pontual é questão de respeito.

- Tu marcou com ele aqui, tua alcoviteira? E nem me disse nada?

Uns três minutos depois, Jean chegou. Vestia uma camiseta básica branca que lhe parecia larga e curta e uma calça jeans toda amarfanhada pelo cinto. Logo vi o drama. Aquele corpo longo e estreito precisava de roupas sob medida.

- Bem vindo, Jean! Senta com a gente! Falava de tu pra Leia.

Jean sorria do mesmo jeito que no restaurante onde trabalhava, mas de alguma forma a expressão de seu rosto agora parecia mais humilde e gentil do que de costume. Ele sentou nos cumprimentando e falou pra mim:

- Espero que Dona Madalena tenha falado bem de mim, para a Mademoiselle!

- Ela...

Eu, puta rodada e escolada, estava sem jeito com a presença de Jean. Sabia que Madalena me tinha oferecido pra ele numa bandeja. E foi ela quem dirigiu a conversa, percebendo meu constrangimento:

- Expliquei tudo para Leia, Jean. Mas talvez ela tenha alguma pergunta a mais pra tu. Tem, minha filha?

- Eu... espia, Jean. Tu... como é essa história de tu não ter onde dormir?

- Eu durmo no restaurante, encima das mesas que junto. O seu Saraiva acha bom, porque assim tomo conta da loja de noite e no fim de semana.

- E tu estudou pra chefe de cozinha.

- Comecei no Haiti, mas o curso acabou com uns dois meses. Guerras de gangues... um horror... fiz aqui, no Senac.

- Tu tem família, lá?

- Os pais morreram. Tenho um irmão dois anos mais velho, que tenta um visto de refugiado pra também vir pro Brasil. Mas ainda não conseguiu. E tenho uma irmã de 22 anos que não quer vir, mas que eu queria trazer. Namora bandido.

Ele foi sincero, falando dos irmãos que, do ponto de vista de um novo patrão, poderiam ser vistos como problema. Mas Madá é pura acolhida cristã e contornou o assunto com coisas práticas.

- Então tá tudo certo? Quero que vocês façam uma coisa. Jean tem que ver o local onde vai morar, antes de aceitar e pedir demissão do restaurante. E se aceitar, já quero que comece a trabalhar no mesmo dia.

- Eu sei que vou aceitar, Dona Madalena.

Eu não fazia ideia de “por onde” Madalena queria que o recém chegado começasse e perguntei, sem segundas intenções:

- E o que você quer que a gente faça primeiro, Madá?

- Primeiro, quero que vocês se entendam. Vão trabalhar juntos. E a primeira tarefa é me fazer um inventário de tudo o que está lá na casa dos fundos.

- As notas fiscais e a descrição dos equipamentos, todos os dados estão nos nossos arquivos.

- Sim, filha, mas tá tudo parado. Quero que vocês limpem e testem tudo, pra ver se tudo funciona e descrevam o estado das coisas. Hoje tu não pode, né Jean?

- Tenho que voltar pro restaurante agora, Dona Madalena.

- Antão volte e peça demissão. E tome aqui um adiantamento do teu salário. E mais algum, pra tu dormir numa pensão aqui do centro. Amanhã tu já tem casa pra dormir.

Madá tirou da bolsa um maço de notas de cem e Jean primeiro não quis aceitar, mas ela insistiu.

Agora, diário, espero esse haitiano desconhecido e meio mondrongo, na minha casa, amanhã cedo! E o que é que eu vou fazer com ele?

**

Querido Diário.

Hoje de manhã, Jean tocou a campainha da minha casa às 9 horas em ponto, como tínhamos combinado. E eu abri a porta da rua, ele entrou, me agarrou num beijo de selvagem, me virou, desceu minha bermuda, puxou minha calcinha de lado e me comeu. E eu chorei, ri, gritei, dei gostoso e gozei como uma cadela. Foi isso!

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Comentários

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Curioso pra saber se teve mais coisas que o escroto do Gil fez com a Leia nesses anos que passaram, ficou subentendido. E a Gilda não é uma boa amiga para Léia, agora que foi revelado que ela sofreu tanto ao ponto de virar uma alcoolatra, e mesmo assim ela ainda insinuar e incentivar interesses envolvendo Léia e Gil, ela deveria ter mais consideração com a amiga.

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Eu acho que essa parte do conto não ficou legal, a Léia se tornou alcoólatra por causa de Gil, um cara que na minha opinião nunca a amou de verdade, sempre foi um covarde que não teve coragem de cara a cara com Leia confessar que a Gilda era a mulher da sua vida. A Léia merecia melhor sorte e ter encontrado um verdadeiro amor e não um moleque. Eu gostaria que ela já tivesse superado o Gil.

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