Se minha vida nunca mais tinha sido a mesma após a morte de minha esposa, perder a filha então foi a gota d’água.
Eu abandonei meu emprego e comecei a beber muito.
Sem dinheiro para manter-me, fui despejado de onde eu morava por aluguel.
Me recusei a voltar para Porto Alegre e viver com minha mãe. Nem queria viver para ser sincero.
Pensei muitas vezes em tirar minha própria vida, mas me faltava coragem para isso.
Sem ter onde morar, acabei vivendo nas ruas de São Paulo como mendigo.
Os dois anos que se seguiram da minha vida foi de completa nulidade.
Eu era um morto vivo vagando pelas ruas da cidade. Eu dormia e me alimentava no albergue municipal e durante o dia catava lixo para comprar bebida. Passava o dia todo bêbado.
Um dia havia bebido demais durante o dia e peguei no sono. Acabei me acordado fora do horário limite para ingressar no albergue a noite(isso acontecia com frequência). Então o jeito era procurar uma marquise e papelão para passar a noite.
Acabei ficando em frente a uma galeria comercial.
Era por volta de 22:00 quando duas mulheres saem da galeria. Por certo trabalharam até mais tarde aquele dia. Elas param em frente a seu carro e procuram as chaves na bolsa. Nisso, dois homens abordam as mesmas anunciando um assalto. Nada de anormal na rotina de uma grande cidade. O problema é que eles começaram a forçar a barra. Queria colocar as duas dentro do porta malas do veículo. Certamente tinham alguma maldade em mente em relação a elas. Elas se negam a entrar e começam a ser agredidas a soco. Aquilo começou a ferver meu sangue.
Eu estava sentando no chão a cerca de 30 metros deles.
Eu me levanto e vou em direção a eles. Quando eles me enxergam, apenas mandam eu cair fora dali.
Cai fora mendigo... vaza! Fala um deles.
Eu acabo acertando uma cabeçada no nariz do meliante que estava segurando a arma. O sangue espirra na hora. Eu seguro a mão em que ele estava segurando a arma mas seu comparsa acaba me agredindo. Eu entro em luta corporal com ambos mas acabo levando um tiro.
Eles saem correndo tão logo caio no chão sangrando.
As mulheres gritam desesperadamente pedindo socorro. Até que um motorista de uber que estava passando resolve parar para ver o que estava rolando.
Eles chamam uma ambulância e ligam para a polícia.
Eu estava ali deitado no passeio público sorrindo.
Enfim tinha chego minha hora. Desejei tanto aquele momento que apesar da dor me sentia absolutamente feliz. O único momento de felicidade que senti nos últimos anos de minha vida.
Eu não me lembro o que aconteceu após isso. Eu já tinha apagado quando chegou a ambulância.
Tudo que sei é que para meu total desespero, me acordei numa cama de hospital.
Tudo era confuso, minha mente estava enevoada. Sentia muita dor. Havia um tubo dentro da minha boca.
Tentei remover aquilo e tudo mais que tinha preso no meu corpo. Queria sair daquela cama. A enfermeira vem correndo e tenta me acalmar. Sem sucesso, me aplica um sedativo.
Os dias foram se passando dentro daquele hospital. Tão logo eu saí da UTI e fui para o quarto, comecei a receber visita daquelas duas moças do qual eu havia auxiliado.
Elas me agradeceram muito pelo que eu fiz.
De posse de meu nome completo, através do Google elas tentaram localizar meus parentes. Mas sem sucesso.
Foi aí que um dado chamou a atenção delas.
Descobriram que eu era engenheiro elétrico com pós graduação em Automação Industrial através do site do LinkedIn.
Isso despertou nelas muita curiosidade a respeito de minha história de vida. Afinal como um engenheiro virá mendigo?
Elas tentaram saber sobre minha história de vida e me perguntaram a respeito.
Apenas falei meias verdades.
Disse que tinha perdido as duas coisas que eu mais amava nesta vida(minha esposa e filha) e depois disso tudo ficou sem sentido para mim.
Elas ficaram comovidas com minha história e se já havia um sentimento de retribuição e carinho pelo que fiz a elas, saber que ali havia um homem perdido em meio às trevas por causa do amor, criou em ambas um sentimento de empatia.
Coitadas, mal elas sabiam que a história não era bem esta. Que ali naquela cama não havia um herói ou um homem romântico e sim o demônio.
Absolutamente todos os dias elas vinham me ver. Eu estava sendo mimado pelas duas. Traziam chocolate, bolachas, bolos, faziam minha barba. Mas quando um dia uma delas perguntou para a enfermeira se ela podia me dar banho, foi aí que vi que aquilo estava indo para outro nível.
Então está na hora de apresentá-las.
Vera era cabeleireira, tinha 40 anos e 1 filha de 17 anos. Cabelos lisos escorridos até o meio das costas pintados de loiro. Pele branca e era gordinha. Uma mulher digamos... nota 5
Rita era negra, tinha 24 anos e 2 filhos homens com idade de 6 e 4 anos. Usava um cabelo estilo Black Power e era bem magrinha. Uma mulher digamos... nota 6
Ambas eram solteiras(separadas judicialmente na verdade).
A história contínua...