• AO SOM DA VITROLA ~ Capítulo 6 [Parte 4/4]

Um conto erótico de Sativo
Categoria: Heterossexual
Contém 2917 palavras
Data: 31/10/2024 16:50:46
Última revisão: 31/10/2024 17:01:30

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• Capítulo 6.4 ~ ECOS DE UMA MENTE TEMPESTUOSA

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Era quase irônico refletir sobre como aquela segunda-feira se apresentou como o melhor e o pior dia da minha vida até aquele instante. À medida que a madrugada de terça avançava, eu permanecia mergulhado em um turbilhão de memórias recentes, vagando por elas como se, de alguma maneira desconhecida, ainda pudesse reescrever aquele desfecho dramático.

A confusão de sentimentos que me envolvia era quase insuportável. A sensação de euforia trazida por momentos de alegria contrastava com a dor e a desilusão que irromperam de forma abrupta. Era como se a vida me oferecesse um presente embrulhado em papel de dor, revelando suas complexidades e nuances de uma maneira que eu nunca havia imaginado.

Ainda hoje, aos trinta anos, consigo relembrar com uma vivacidade inquietante a profunda angústia que me dominou naquela madrugada. Ouvindo as notas do álbum 'Ferment', da banda Catherine Wheel, percebo que ele foi a trilha sonora das minhas dores naquele dia fatídico. Quando a faixa 'Black Metallic' começou a ecoar na solidão do meu quarto naquela manhã escura, não pude deixar de me perder em pensamentos sobre Dayana. Trechos da citada canção como 'I still can't guess what you're after' e 'I think of you when you're sleeping / Of all the secrets that you're keeping' ressoavam em minha mente conturbada, dialogando com as complexidades de nossa relação, em que sua beleza se mostrava tanto atraente quanto distante. Imagino, leitores e leitoras, que talvez considerem que fui um jovem muito dramático. E não posso negar essa verdade. Afinal, quem, em sua adolescência, escapa às tempestades das próprias emoções?

Meu momento de culpa e melancolia foi abruptamente interrompido pela voz de Nando, que me chamava do portão. Pela janela do meu quarto, fiz um gesto, indicando que ele entrasse, o portão permanecia aberto. Ele adentrou a passos largos, como se a pressa de me ver naquele dia lhe consumisse. Ao entrar no meu quarto, seus olhos logo se fixaram nos meus, percebendo a profundidade da tristeza que neles habitava.

— O João acabou de me ligar e contar que, ontem, você e a Dayana fizeram algo no museu em que ele trabalha — disse Fernando, enquanto acariciava meu rosto com uma expressão de preocupação, e continuou — Gostaria de conversar sobre isso comigo? Porque me parece que algo relacionado a isso não tá te fazendo bem.

— Então a Dayana contou tudo a ele?! — indaguei a mim mesmo em voz alta. Essa revelação reacendia em mim um sentimento de traição, mas eu sabia que não tinha o direito de pensar assim, como um apaixonado ferido. Dayana sempre foi clara sobre sua vida amorosa, eu estava plenamente ciente disso. De certa forma, eu também a usava para alimentar minhas fantasias, embora tivesse sido ingênuo o suficiente para me deixar enredar nesse emaranhado de sentimentos por ela. Se Dayana compartilhara com João os detalhes sobre nosso encontro profano naquela pequena capela, talvez aquilo não tivesse o mesmo peso para ela que tivera para mim.

— Afinal, quem sabe ela já não pensava em aceitar a proposta de noivado feita pelo João desde o princípio? — continuei.

— Noivado?! — exclamou Fernando. — O João me disse que queria conversar pessoalmente com você sobre isso. Pediu-me para que o arranjasse esse encontro com você. O que me diz?

Uma tempestade de emoções estranhas se abateu sobre mim ao ouvir aquelas palavras de Nando. O que, afinal, o João queria discutir comigo sobre seu noivado com Dayana? Eu não representava nenhuma ameaça para ele nisso. Eu precisaria de muita autoestima para me convencer do contrário.

— Sinceramente, Nando... eu nem sei como responder. Acho, na verdade, é que me apaixonei pela Dayana... e a notícia do noivado dela com o João, logo após a experiência mais intensa que já tive com alguém, abateu-me de forma avassaladora — confessei.

Nando me lançou um olhar carregado de compaixão e empatia, fitando-me com a busca silenciosa pela melhor maneira de aplacar meu turbilhão emocional.

— Se isso puder te aliviar um pouco, apenas gostaria de te dizer que não foi a Dayana quem contou ao João sobre vocês e o encontro na capelinha. O próprio João os flagrou enquanto se despediam no ponto de ônibus — revelou Fernando.

Um choque percorreu meu corpo como uma corrente elétrica. Lembro da moto que surgiu, cortando os ventos em velocidade, logo após o ônibus de Dayana partir. Então, ele realmente esteve ali. Essa nova descoberta só me deixou mais confuso. Se a relação entre João e Dayana era livre, o que o motivou a nos seguir? Qual era a sua preocupação em nos vigiar? Eram perguntas que se acumulavam na minha mente, todas apontando para um único destino: aceitar encontrar o João.

— Nando, prometo que pensarei com calma sobre esse encontro. Por agora, só desejo um momento de solitude — expliquei ao meu amigo.

— Sem problemas, querido. Desejo que encontre a cura para suas feridas recentes. Mas não se esqueça de que não pode enfrentar suas amarguras se fechando em seu mundo ferido. Lembre-se de que estarei sempre ao seu lado — disse Fernando com sabedoria e apreço.

— Obrigado, amigo. Guardarei suas palavras com todo o carinho — respondi, reconhecendo a luz que sua amizade trazia nos meus dias mais sombrios.

Fernando me envolveu em um abraço caloroso, confortando-me com seu calor humano. Após um suave tapinha no ombro, despediu-se, enquanto eu me recolhia novamente ao meu santuário solitário. Sua ausência me fez recordar que a melodia de 'Flower to Hide' ecoava naquele instante. Perdi-me nas faixas, navegando entre elas até retornar à 'Black Metallic', a única canção daquele álbum que parecia dialogar intimamente com meu aquele meu momento.

* * *

Mais tarde, no curso, reencontrar Marina foi como revisitar um capítulo fervente de nossas vidas, aquele que se desenrolou em seu quarto, onde compartilhamos o ato mais delicioso e profano que já vivemos. Porém, naquele reencontro, havia muito mais a ser discutido. Na noite anterior, enquanto voltava para casa de ônibus, ela havia me ligado, desvelando uma série de questões sobre seu conturbado namoro com o desgraçado do Leonardo. Mas, de alguma forma, ao nos vermos, não foi sobre isso que ela atentou-se a conversar primeiro. Marina parecia ter sentido a onda de aflição que me envolvia e me bombardeou com perguntas sobre meu estado.

— Sei que algo te angustia, mas se dizes que estás bem, não insistirei — disse Marina, sua voz suave como um sussurro. — Contudo, apenas queria saber se a tua perturbação tem a ver com o que te falei ontem.

— Tens razão, Nina, não estou no meu melhor momento. Mas pode ficar tranquila, não é por sua causa, nem tampouco pela nossa conversa de ontem — respondi, tentando transmitir sinceridade.

Ela me olhou com um semblante que parecia se encher de decepção.

— Talvez me aches egoísta e sem empatia, mas, no fundo, desejava que os motivos de sua perturbação tivessem ao menos um pouco a ver comigo — confessou ela, sua voz tremulando como folhas ao vento — Eu não deveria ter dito isso, agora que falei percebi o quanto foi insensível de minha parte. Perdoe-me por isso, querido!

— Tudo bem, Nina. Olha só, eu acho que te entendo. Tu não precisas me pedir perdão por sua sinceridade em relação ao que sentes por mim. Acredito que, pela consideração e carinho que te dedico, eu também devo ser mais claro sobre os meus.

Eu precisava resolver as coisas com Nina de uma vez por todas. Não sabia por onde começar, mas sabia que era hora de levar aquilo até o fim. Ambos sofríamos por amor; eu por Dayana e Nina por mim. Ela não poderia fazer nada pela dor que me consumia, mas eu podia fazer algo pela dela. Era momento de ser o mais sincero que podia ser.

— Desculpe, Nina... não sei exatamente como expressar isso, mas meu coração tem batido intensamente por alguém que não é você. Infelizmente, se fosse por você, tudo estaria resolvido, não há dúvida de que eu enfrentaria o Leonardo e sua família, se necessário. Mas não é! E aqui estou, padecendo por alguém que não deveria — as palavras escapavam de mim com um certo desespero.

Marina me olhou intensamente nos olhos, tentando conter uma expressão de tristeza que, no final, se transformou em um vislumbre de alívio.

— Que tu não me amas da mesma forma que eu te amo, isso eu já sabia, querido amigo. Eu só precisava de um pouco mais de clareza sobre teus sentimentos — respondeu ela, sua voz tremulando suavemente. — Muito obrigada, Ícaro, por conseguir se abrir comigo!

— Isso também foi muito importante para mim, Nina. Por isso, devo te agradecer também — respondi por fim.

O restante daquele dia no cursinho transcorria de maneira relativamente tranquila. Eu e Marina voltamos a nos tratar sem barreiras, sem preocupações, agora munidos do conhecimento sobre os sentimentos mais íntimos um do outro. Ao sairmos da escola e seguirmos em direção ao ponto de ônibus, ela me contou, com entusiasmo, que tinha tido uma conversa séria com seus pais sobre o desejo de romper seu namoro com Leonardo. Nina disse que a conversa havia sido tensa; como já mencionei, seus pais, amigos da influente família religiosa de Leonardo, não aceitariam aquilo facilmente. No entanto, ao expor claramente os motivos que a levaram a querer desfazer aquele enlace, atado sob forte pressão familiar, seus pais acabaram cedendo e reconhecendo suas razões. Senti uma onda de felicidade ao saber que ela finalmente se livrara daquela maldita sina que a aguardava na figura daquele garoto egocêntrico e narcisista.

Quando chegamos ao ponto do ônibus, sentei-me em um batente, e Marina acomodou-se ao meu lado, segurando um de meus braços e repousando a cabeça em meu ombro, seus longos cabelos ruivos, que exalavam o cheiro doce inconfundível de lírio, espalharam-se parcialmente sobre mim. Em meio à minha introspecção, apreciei, em silêncio, aquele calor humano que os adolescentes tanto valorizam, agarrando-se a qualquer oportunidade.

Os tons lilases do céu anunciavam que as trevas da noite estavam prestes a substituir o alaranjado pôr do sol. Foi então que percebi, pela primeira vez, que em frente ao ponto, por trás de uma casa de esquina, havia um rústico prédio, onde, em seu térreo, localizava-se a loja de discos 'Amigo Vinil', que se destacava em suas cores sombrias sob o ocaso. Minhas memórias sobre Dayana começaram a se avolumar; aquela garota misteriosa exercia sobre mim um poder imenso, capaz de me aprisionar após apenas três "encontros".

Enquanto dividia minha atenção entre o ônibus que estava para chegar e a construção que me remetia à lembranças dolorosas, uma janela se abriu em um andar acima. Um impulso me fez olhar, e, para minha surpresa, ali estava Dayana, segurando uma xícara fumegante em uma mão e um cigarro na outra. Nossos olhares se encontraram, e meu coração disparou, a respiração se tornou irregular. O semblante de Dayana não parecia muito mais feliz que o meu naqueles momentos de angústia; algo em seu olhar revelava uma tristeza semelhante. Ela fez um gesto que parecia convidar-me a conversar em outro momento.

Em um impulso repentino, fiz com que Marina se afastasse de mim, perguntando o que havia acontecido. Mas ao seguir a direção do meu olhar, ela avistou Dayana na janela e, de repente, deduziu, com a intuição feminina que lhe era peculiar.

— É ela, não é? — questionou — Ela é a garota que tem o seu coração!

Com um leve embaraço, acenei positivamente com a cabeça e respondi:

— Não apenas o meu coração... durante o dia, ela habita meus pensamentos e, à noite, governa meus sonhos.

— Isso é realmente intenso, Ícaro. Sinto uma boa inveja por ela conseguir provocar tudo isso em você.

Antes que eu pudesse pensar em acrescentar algo mais, o ônibus 1312 chegou, e partimos. Enquanto seguíamos, observei, pela janela do coletivo, a imagem de Dayana, fumando seu cigarro e tomando seu café, distanciando-se gradualmente sob aquele ar melancólico de fim de tarde, até se perder do meu campo de visão. Aquele novo encontro casual foi peculiar, diferente dos anteriores; sentia-me estranho por vê-la sem poder tê-la de alguma forma. Entretanto, seu domínio sobre mim ainda se fazia presente.

* * *

Ao me aproximar de casa naquele dia, como era de costume, avistei Fernando encostado no pequeno muro de sua casa. A brasa do seu cigarro brilhava na escuridão como um vaga-lume solitário, enquanto sua caixinha de som abrangia as suas melodias favoritas de 'Boy George'. Quando cheguei mais perto, ele acenou, chamando-me com um sorriso. Após um cumprimento rápido, ele logo indagou sobre meu dia. Percebendo que eu parecia menos amargurado do que na nossa conversa matutina daquela terça-feira, Nando me perguntou se poderia compartilhar mais sobre a ligação que tinha recebido do João. Respondi que sim.

Fernando começou a relatar que estava com João, quando recebera a ligação do vigia do museu informando sobre movimentações estranhas no interior da capelinha. Ele me explicou que João havia marcado um encontro com ele no mesmo horário em que Dayana saíra para se encontrar comigo; só que João ainda não sabia que eu, o garoto que ele socorreu naquela briga na praia, era o novo amante de sua namorada. Nando contou que haviam bebido bastante e que estavam a caminho de um motel quando o celular de João tocou.

— Quando o vigia relatou a situação, João parecia já desconfiar que se tratava da Dayana — disse Fernando.

Ao final da chamada, Nando relembrou que João comentou algo como: "Estranho, deixei aquelas chaves na casa da Dayana. Só ela poderia ter acesso a elas". Depois, ele ficou em silêncio por alguns segundos, com uma expressão reflexiva. "Preciso resolver algo urgente no trabalho. Desculpe-me, Fernando", teria dito João. Em seguida, Nando afirmou que João o levou de moto até o ponto de táxi mais próximo, pagou sua corrida de volta para casa e partiu em alta velocidade na direção do museu.

— Depois disso, só conversamos quando ele me ligou hoje cedo, mencionando rapidamente uma discussão com a Dayana e que precisava encontrar você para esclarecer algo sobre uma mensagem de noivado. Parecia arrependido de algo.

— Eles brigaram por minha causa? — espantei-me.

— Se entendi bem, não! Foi mais porque Dayana manteve segredo sobre te conhecer, mesmo quando estivemos na casa dela naquele domingo — explicou Fernando.

— Justo — concordei, um leve desapontamento invadindo meu peito, sentindo o mesmo que Marina sentira em relação a mim mais cedo. — Por outro lado, esse encontro não parece perigoso? Digo, ele mesmo te falou sobre a desavença com a Dayana após nosso lance na capelinha — indaguei, preocupado.

— João não parecia estar com raiva de você; sua tristeza se concentrava na forma como agiu com Dayana sob o efeito do álcool. Não estou certo do que ele pretende, mas talvez esteja buscando abrir caminho para você nessa relação. Convenhamos que seu laço com Dayana se aprofundou rapidamente, isso é evidente. E, de fato, João não parece ser o tipo de cara que faria mal a alguém, muito menos por ciúmes , já que a relação dele com Dayana é aberta — divagou Fernando.

— Estranhamente, isso faz algum sentido — respondi.

Por fim, Nando sugeriu que, por precaução, poderia me acompanhar caso eu decidisse encontrar João. Parecia justo, já que ele havia conquistado sua própria intimidade com João. Ele se tornaria o mediador entre nós, amantes da mesma mulher. Além disso, nenhum outro amigo me passava a confiança que Nando conseguia transmitir. Estava decidido: depois de resolver as pendências com Marina, eu também enfrentaria aquele emaranhado amoroso no qual me metera.

— Passe meu número para o João e diga a ele que me ligue — declarei, determinado.

Aquela noite parecia ser a mais fria do mês. Mais tarde, quando me acomodei na cama, o corpo tremia, não apenas pelo frio, mas também pela ansiedade que me dominava. De algum modo, sentia-me um pouco mais esperançoso, contudo ainda tomado de incertezas sobre a resolução daquela situação com Dayana. E, falando nela, como uma súcubo, mais uma vez, ela protagonizou em meus sonhos. Surgiu imponente, cheia de domínio e poder, envolvida por um manto negro que combinava com os olhos e os cabelos dela. Dayana estava sentada em um altar luxuoso, este, coberto por um véu escuro. As luzes das velas refletiam destacando o rosto de Dayana parcialmente e destacava a cor caramelada de sua linda pele. Com um movimento lento, ela abriu as pernas revelando toda sua nudez, fazendo-me compreender que era hora de ajoelhar diante de sua figura profanamente sagrada e adorá-la. E ali estávamos nós novamente: Dayana sobre o altar e eu, de joelhos, com a boca em seu sexo, arfando e realizando aquela oração molhada. Depois de ser ungido pelo seu mel, Dayana ordenou que eu a penetrasse, mas o nosso culto secular foi interrompido por uma sensação extrema de calor que crescia em meu corpo. Eu não estava mais com Dayana, estava em queda livre pelo céu sombrio de um novo dia que nascia. Antes de ser acometido pelo impacto fatal daquela queda, acordei.

* * *

Na manhã seguinte, enquanto escovava os dentes, o discurso melodioso da água se misturava com os pensamentos que vagavam por minha mente ainda sonolenta. De repente, fui surpreendido pelo toque insistente do meu celular, quebrando a serenidade da manhã. Olhei rapidamente para a tela: era João.

— Bom dia, João! — atendi, tentando soar o mais tranquilo possível.

— Bom dia?! Não, para mim! — ele respondeu, sua voz embargada, carregada de uma emoção sombria.

(Continua...)

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