Rafael, enquanto arrumava a mesa e colocava um prato para a ruiva, reafirmou a proposta que haviam discutido anteriormente:
— Relativo ao que mencionei sobre não querer mais estar com Malu, falo sério. A decisão agora está em suas mãos e confio que você fará o que é melhor para todos nós nessas circunstâncias tão confusas.
Entendendo a exigência dele, Cecília revelou:
— Fique tranquilo, Malu já conseguiu o que queria. Ontem, eu vi ela e o Fabiano no clube de swing. Sabe quem estava com eles?
— Sério? Quem? — Rafael ainda processava a revelação.
Cecília fez suspense por alguns segundos, mas logo revelou:
— A Geovana, acredita? Ela não é sua ex?
A revelação de Cecília pairou no ar, desafiando Rafael a compreender a gravidade da situação. Ele franziu a testa e, com um tom de incredulidade, perguntou:
— Geovana? Mas o que ela estava fazendo com Malu e Fabiano? Isso não faz sentido. Você tem certeza do que viu?
Cecília, percebendo a urgência nas palavras de Rafael, confirmou com firmeza:
— Absoluta. Elas estavam próximas uma da outra, rindo e se divertindo. Eu não vi quando estavam na área reservada, mas tenho certeza de que os três transaram.
Rafael a encarava sem acreditar. Cecília tinha mais a dizer:
— Você conhece o jeito que Malu age quando está se divertindo, e não parecia que elas estavam se conhecendo pela primeira vez. Havia uma cumplicidade evidente. Precisamos entender o que está por trás disso.
Rafael se sentou, tentando organizar os pensamentos. O clima entre eles se tornara pesado, e a confusão tomou conta de seu coração.
— Então, o que sugere? Devemos confrontar Malu imediatamente? Ou pode ser arriscado? Geovana não é flor que se cheire.
Cecília coçou a cabeça, indecisa, mas a determinação logo retornou:
— Eu acredito que devemos manter a calma, mas não podemos deixar isso passar sem uma resposta. Vamos planejar nossos próximos passos. Precisamos descobrir o que realmente está acontecendo para proteger nossas amizades e a nós mesmos.
Enquanto isso, Rafael se levantou, a ansiedade começando a transbordar:
— Concordo, precisamos saber a verdade, mas como podemos fazer isso sem parecer acusadores?
Cecília refletiu por um momento e propôs:
— Que tal começarmos com uma conversa clara e honesta? Podemos abordar Malu discretamente, talvez propondo um encontro e, a partir daí, entender suas intenções.
A ideia parecia sensata, mas Rafael ainda estava apreensivo:
— E se ela se recusar a falar? E se tentar se defender com mentiras? Estamos nos arriscando demais.
Cecília sorriu para acalmá-lo e respondeu:
— Eu sei que é arriscado, mas o que mais podemos fazer? Precisamos de clareza. Se formos direto ao ponto, pelo menos saberemos em que posição estamos.
Rafael assentiu, a tensão diminuindo gradualmente, e respondeu:
— Você está certa. Não podemos viver na escuridão. Vamos traçar um plano e encarar a verdade. Estamos juntos nessa, certo?
Cecília segurou a mão dele, cheia de confiança:
— Sempre, Rafa. Me desculpe novamente. Eu não deveria ter acusado você. Eu conheço seu caráter.
Rafael conhecia bem Geovana, e só a menção do nome da ex causava calafrios em sua espinha.
— E se tudo isso for mesmo um jogo? — murmurou Rafael, a angústia transparecendo em sua voz. — O que podemos fazer para garantir que estamos jogando da maneira certa? Pode ser que Malu esteja escondendo algo mais profundo.
Cecília, encarando a situação de maneira mais racional, respondeu:
— A questão é que precisamos descobrir a verdade, independentemente de como isso poderá mudar nossas relações. Uma suposta manipulação como essa, se mantida, pode se transformar em um monstro que acabará nos consumindo. Devemos estar preparados para qualquer resposta, por mais dolorosa que possa ser.
Um arrepio subiu novamente pela coluna de Rafael à medida que ele considerava as possibilidades. A ideia de Malu, com toda sua luz e alegria, estar escondendo um lado sombrio o deixava inquieto. “Poderiam elas realmente estar planejando algo à sua revelia, ou havia um mal-entendido?” A dúvida consumia seus pensamentos.
Cecília, percebendo sua luta interna, sugeriu:
— E se nós preparássemos algumas perguntas antes de abordá-las? Isso nos ajudará a manter o foco durante a conversa e evitar que as emoções nos dominem. Precisamos de um plano de ação claro e, se necessário, lembre-se de agir com sutileza.
Rafael assentiu pensativo, seu olhar distante. Cada nova ideia que surgia em sua mente era imediatamente seguida por uma nova onda de incerteza.
— Ok, então vamos escrever algumas perguntas… mas o que devemos perguntar exatamente? Como podemos tocar nesse assunto sem parecer que estamos atacando? — questionou, sentindo a pressão aumentar.
Ele se levantou, caminhando de um lado para o outro, com rubores no rosto enquanto sua mente fervilhava.
— Precisamos ser cautelosos. Podemos começar com algo mais leve, como perguntar como foi o encontro entre os três. Se notar alguma hesitação, então poderemos aprofundar a conversa e você revela quem realmente é a Geovana. É tudo uma questão de como conduzir a situação — respondeu Cecília, tentando novamente acalmá-lo.
O plano começou a tomar forma, mas a ansiedade permaneceu, como uma sombra. Estavam desconfiados, e se conseguissem provar sua teoria, poderiam ser mais diretos com Malu.
Rafael fechou os olhos, respirando profundamente. Ele sabia que qualquer caminho escolhido poderia trazer consequências inesperadas, mas a busca pela verdade era vital. Era hora de enfrentar o que estava escondido nas sombras.
{…}
Fabiano:
— Vem comigo. Estou com vontade de fazer uma loucura e realizar mais uma fantasia. — Malu saiu me puxando para uma trilha secundária, mais estreita.
Malu e eu, como havíamos combinado, resolvemos fazer uma trilha pela área de mata intocada nos fundos do nosso bairro. Aquele era um local pouco movimentado, com natureza vibrante.
Com Malu me puxando, saímos da trilha original, seguindo direto para um pequeno trecho de mata fechada. Conhecendo minha esposa, já imaginei o que ela planejava.
Encontramos, minutos depois, uma pequena clareira elevada com uma bela visão do nosso bairro.
— É lindo aqui, né? Uma visão magnífica — Ela sorria para mim.
Depois de alguns minutos explorando a clareira, Malu se virou para mim com um sorriso radiante.
— Você está gostando da aventura? — Seus olhos brilhavam com a excitação do momento.
Eu assenti, embora ainda me sentisse um pouco fora da minha zona de conforto. O ar era fresco, e a vegetação trazia um conforto inesperado.
— Vamos ficar aqui por um tempo e apreciar a vista? — Perguntei, querendo aproveitar aquele momento inusitado especial.
Malu concordou, e nos sentamos em uma pedra baixa, observando a paisagem.
Enquanto apreciávamos a beleza do nosso bairro lá de cima, Malu começou a contar sobre as plantas e animais que habitavam aquela área. Ela falava com uma paixão contagiante, descrevendo como aquele ecossistema se mantinha em equilíbrio e a importância de preservar aquele espaço natural. Eu estava fascinado por seu conhecimento e, aos poucos, percebia como aquele passeio se tornava mais do que apenas uma simples caminhada. Era uma aula prática de respeito e amor pela natureza.
Confesso que fiquei confuso, esperando que Malu logo partisse para o ataque. Eu sabia muito bem que ela adorava se exibir, transar em lugares inusitados, mas não foi isso o que aconteceu. Ela parecia calma, bastante serena, sem nenhuma chama sexual aparente.
Decidimos explorar um pouco mais, lembrando de não nos afastar demais da trilha principal. Malu apontou para um grupo de árvores altas e disse que havia uma pequena cachoeira um pouco além delas. A ideia de encontrar um lugar assim me encheu de empolgação.
— Vamos lá! — Exclamei.
Com Malu liderando o caminho, atravessamos um campo de ervas verdes e floridas, cada passo revelando algo novo que capturava minha atenção. Conforme nos aproximávamos da área mencionada por Malu, comecei a ouvir o suave som da água caindo. Esse som era como uma melodia que tornava a caminhada ainda mais mágica.
Quando finalmente chegamos à cachoeira, eu fiquei sem palavras. A água transparente descia por rochas cobertas de musgo, e um arco-íris se formava com a luz que penetrava através da folhagem. O espaço era como um segredo guardado pela natureza, e eu me senti privilegiado por estar ali com Malu.
Sentamos à beira da água, permitindo que nossos pés fossem acariciados pelas gotículas que espirravam. Olhei para Malu e vi um brilho de satisfação em seu rosto, e naquele momento percebi que estava começando a entender a beleza e a importância de explorar o mundo natural.
— Isso é incrível, amor. Obrigado por me trazer aqui — Eu disse, sentindo-me grato pela experiência que ela havia me proporcionado.
Ela sorriu e, me surpreendendo com uma analogia inteligente, respondeu:
— Isso foi apenas o começo, amor. Assim como esse lugar incrível e tão próximo, que você não conhecia, um casamento aberto pode ser uma jornada de exploração e descoberta mútua.
Malu deitou a cabeça em meu ombro e continuou a falar:
— Da mesma forma que nos aventuramos juntos nesse local, respeitando os limites da trilha e conhecendo essa natureza exuberante, um casamento aberto pode oferecer liberdade e segurança para explorar “individualmente”, mantendo o respeito e compromisso mútuo. E foi bom por um tempo, não nego, mas estar junto a você, na noite de ontem, foi muito melhor e mais completo.
— O que você quer dizer? Prefere que façamos isso juntos? Que entremos de cabeça, como um casal, na vida liberal? — A questionei, ainda mais confuso.
Ela me deu um selinho carinhoso nos lábios e prosseguiu:
— Pensa comigo: A cachoeira, como um segredo guardado pela natureza, representa as surpresas e descobertas que podem surgir em um relacionamento aberto, onde ambos os parceiros têm espaço para crescer e explorar. Assim como eu compartilhei meu conhecimento e paixão pela natureza, os parceiros em um casamento aberto podem compartilhar suas experiências e aprendizados, enriquecendo a relação. Juntos então, fica ainda melhor.
Antes que eu pudesse perguntar, tentar entender aquela analogia estranha, Malu disse:
— O que eu disse antes, que “isso é apenas o começo", pode representar o potencial de crescimento e evolução contínua em um relacionamento aberto, onde ambos os parceiros estão abertos a novas experiências e descobertas. Você me entende?
Eu entendia perfeitamente suas palavras. Apesar da eloquência da sua analogia e da inteligência que ela expressava, isso era apenas uma forma de ela lidar com as minhas desconfianças. Eu não estava mais cego, concordando com qualquer coisa.
Como já mencionei anteriormente, Malu possui uma inteligência emocional muito superior à minha. Ela é mais astuta e está melhor preparada para enfrentar os desafios que a nossa nova situação de vida apresentava.
Decidi que era hora de ser transparente e me posicionar. Precisava pressioná-la um pouco mais, oferecer a ela um pouco do próprio veneno.
— Compreendo suas intenções, mas preciso ser sincero. Não consegui digerir bem as suas revelações. Você propôs o casamento aberto, saiu para viver suas experiências e me deixou à margem dessa nova fase.
O sorriso dela foi se apagando à medida que eu falava. Então, fui ainda mais fundo:
— Não entendo quando e onde as coisas mudaram, mas me sinto como uma marionete, manipulada pelas cordas que você mesmo amarrou em mim. Por te amar intensamente, acabei aceitando o papel de fantoche e perdi a noção dos meus próprios desejos.
Minhas palavras a atingiram em cheio e eu tive certeza de que ela não esperava esse tipo de resposta.
Achei que poderia insistir mais:
— Sinto que sou apenas um figurante na minha própria vida, um personagem secundário que você utiliza quando não há nada mais interessante para fazer. Honestamente, não é uma sensação agradável.
Malu finalmente reagiu:
— Você não está sendo justo. Eu nunca te deixei de lado. Em que momento deixei de ser sua esposa? Deixei de te amar com a mesma dedicação de sempre? Quando foi que negligenciei nossa vida sexual?
— É exatamente aí que você se confunde. Você nunca me faltou como amante, mas será que um casamento se resume a isso? Por que demorou tanto para me contar a verdade? Eu deveria ser o primeiro a saber, não acha? E se os papéis estivessem invertidos?
Eu a observava com intensidade. Era raro ver Malu sem respostas à altura. Ela sempre tinha se negado a me deixar ter a última palavra.
Pressionei ainda mais:
— Me senti traído, essa é a verdade. Embora tivéssemos um acordo sobre a abertura do casamento, você me "enganou" por seis meses. Quantas vezes você fez amor comigo depois de ter estado com Cecília e Rafael? Quantas vezes fui a segunda opção do dia?
— É... eu... não sei ao certo... — Malu falhava em oferecer uma resposta honesta.
Levantei-me, batendo a terra da bermuda, e voltei a olhar para Malu. Era hora de diminuir a pressão, minha mensagem tinha sido passada com bastante êxito. Alcancei o resultado que queria.
— Acho que é melhor irmos para casa. Agradeço mais uma vez por me mostrar este lugar, foi um passeio maravilhoso.
Malu me surpreendeu mais uma vez:
— Você pode ir na frente. Eu gostaria de ficar aqui mais um pouco.
Me afastei, deixando Malu sozinha no local que, minutos antes, parecia um paraíso. Agora, era um lembrete doloroso das ilusões que eu havia construído.
Durante o caminho de volta para casa, minha mente estava fervilhando com pensamentos e emoções conflitantes. Eu me sentia como um barco à deriva, sem direção, perdido em um oceano de incertezas.
Cada lembrança de Malu, desde seu sorriso até seu olhar distante, se entrelaçava em uma complexa teia de sentimentos que eu mal conseguia decifrar.
Ao chegar em casa, eu me joguei no sofá, tentando processar tudo. A imagem de Malu, sozinha naquele lugar, não saía da minha mente. Era como uma sombra que persistia em seguir meus pensamentos. O eco de suas palavras ainda ressoava em meus ouvidos, e eu lutava para encontrar um sentido no que havia acontecido.
As horas passaram e Malu não voltou. A ansiedade começou a se transformar em preocupação. A incerteza me corroía, e eu me perguntava se deveria ligar para ela, mas não queria parecer desesperado ou invasivo. Estava preso entre o desejo de me comunicar e o receio de ser desconsiderado.
Foi então que ouvi a porta abrir. Malu entrou, com um olhar distante que parecia refletir as tempestades internas que enfrentávamos. Sua presença era reconfortante e ao mesmo tempo, me deixava inquieto. Eu sabia que precisava saber como ela realmente estava.
— Você está bem? — Perguntei, tentando controlar meu tom e evitar que minha preocupação transparecesse excessivamente. Sabia que o que ela precisava agora era de espaço, mas a necessidade de conexão era irresistível.
— Estou. — Ela respondeu, evitando meu olhar.
Sua resposta sucinta me deixou com um nó na garganta, e o silêncio que se seguiu foi pesado, como um manto que nos envolvia, dificultando a comunicação.
— Precisamos conversar mais sobre isso — Eu disse, quebrando o silêncio.
Sentindo que uma conversa franca era essencial para que pudéssemos avançar, fui tomado pela esperança de que, ao discutir nossos sentimentos, poderíamos encontrar um caminho a seguir.
Malu assentiu, mas sua expressão era de relutância.
— Agora não — pediu ela, com um tom exausto. — Estou cansada e preciso de um tempo para processar tudo isso. Às vezes, a melhor maneira de lidar com nossos sentimentos é dar um passo atrás.
Eu concordei, mesmo que uma parte de mim quisesse insistir. Respeitar seu desejo naquele momento parecia o mais sábio a se fazer. Naquela noite, dormimos em lados opostos da cama, de costas um para o outro, cada um mergulhado em seus próprios pensamentos e preocupações, a distância entre nós se ampliando.
O futuro do nosso relacionamento parecia mais incerto do que nunca, e eu não sabia como reverter aquela situação. A fragmentação de nossa comunicação me deixava ansioso. “E agora?” Eu me perguntava sobre o que o futuro reservava para nós.
No dia seguinte, acordei antes da Malu e fui preparar o café, tentando encontrar um senso de normalidade em meio ao caos emocional. Enquanto esperava que ela acordasse, comecei a refletir sobre nossa conversa anterior. Eu precisava entender melhor o que Malu queria e sentia, para que pudéssemos reconstruir a confiança entre nós.
Quando Malu se levantou, nos sentamos à mesa do café. O silêncio ainda era opressivo, mas eu sentia que era necessário quebrá-lo para que a conversa pudesse fluir.
— Malu, ontem você mencionou que eu não estava agindo com justiça. Poderia explicar melhor o que quis dizer? — Pedi, buscando um entendimento mais profundo.
Malu dirigiu seu olhar para mim, seus olhos ainda parecendo distantes, como se estivesse lutando para se conectar.
— Você está me julgando pelo que fiz, mas não está percebendo o que eu realmente sinto. Eu nunca quis machucar você, mas precisei buscar minha liberdade — respondeu, a voz carregada de emoção.
— E o que você realmente descobriu nesse processo? — Perguntei, curioso sobre suas revelações.
Malu hesitou, um momento de introspecção profunda antes de continuar.
— Descobri que ainda amo você mais do que tudo, mas também entendi que preciso de mais do que isso. Preciso de liberdade para ser quem realmente sou e para poder explorar minhas próprias verdades. — Ela disse com sinceridade.
Um aperto doloroso tomou conta do meu coração ao ouvir suas palavras.
— E o que isso significa para nós? — Questionei, tentando entender onde estávamos a partir daquele ponto.
Malu olhou nos meus olhos novamente, a conexão enfraquecida começando a se restabelecer.
— Significa que precisamos redefinir o que nosso relacionamento realmente é. Até onde você está disposto a ir. — Ela declarou, a voz firme.
Eu assenti, compreendendo a profundidade da situação.
— Estou aberto à conversa e disposto a ouvir tudo o que você tem a dizer — Afirmei, sentindo a tensão começar a se dissipar.
Malu esboçou um leve sorriso, um sinal de que estava disposta a se abrir.
— Eu também quero isso.
Naquele momento, percebi que nosso relacionamento estava em uma encruzilhada. Era necessário que tomássemos uma decisão importante: seguir em frente, juntos, ou optar pela separação.
A tensão pairava no ar, refletindo a gravidade da situação. Sabíamos que o momento exigia reflexão e honestidade sobre nossos sentimentos e expectativas.
Depois da conversa intensa, Malu e eu concordamos que era melhor darmos um tempo. Eu fui para o escritório, mas, mesmo tentando me concentrar, minha mente insistia em divagar. A imagem da Malu e as palavras que trocamos estavam presentes em meus pensamentos, tornando difícil focar nas tarefas que precisava adiantar para a semana.
Senti que aquele espaço entre nós poderia ser necessário para ambos avaliarmos o que realmente desejávamos.
Malu saiu logo após o almoço, me deixando sozinho com meus pensamentos durante toda a tarde daquele domingo. Já no fim do dia, recebi uma mensagem dela:
"Podemos conversar? Me encontre no parque de ontem às dezessete horas."
Cheguei ao parque e encontrei Malu sentada em um banco. Ela sorriu e me levou à mesma trilha escondida.
Caminhamos em silêncio até que finalmente chegamos a mesma cachoeira escondida. A água cristalina, dançando sob a luz do sol, e o arco-íris que se formava em seu vapor novamente me deixaram sem palavras.
Malu se aproximou e, com um olhar confiante, disse:
— Lembre-se da sua primeira sensação ao estar nesse lugar. É isso que eu desejo para nós: momentos de surpresa, descobertas emocionantes e um crescimento contínuo juntos.
Eu a observei atentamente, sentindo uma mistura intensa de emoções conturbadas em meu peito, como um redemoinho.
— Você realmente acredita que podemos fazer isso funcionar? — Perguntei, a incerteza transparecendo na minha voz.
Malu acenou com a cabeça, com um brilho resoluto nos olhos.
— Sim, eu acredito. Você só precisa confiar em mim.
Eu assenti, sentindo um novo senso de determinação crescer dentro de mim. Malu sabia como me envolver.
— Estou pronto para tentar, Malu. Vamos fazer isso juntos.
— Eu também estou pronta — Malu respondeu, um sorriso sincero iluminando seu rosto, refletindo esperança.
Sinceramente, eu não sabia se estávamos preparados para o que viria a seguir. Eu estava, de coração, pronto para deixar as desconfianças de lado e seguir em frente com meu casamento. Eu amo minha esposa e não estava preparado para perdê-la. Ainda mais, por escolha própria.
Mas uma nova revelação, uma verdade inesperada, teria o poder de abalar os alicerces do nosso, naquele momento, frágil relacionamento.
Continua.