De ninfeto sexy a espião uma jornada libertina 2
O clube, agora denominado Club Adouss, estava localizado na parte nobre da cidade, numa enorme praça retangular rodeada de palmeiras onde também ficavam a sede do Protetorado Espanhol no Marrocos e algumas embaixadas. Era um edifício de três pisos em estilo mourisco que outrora serviu de residência para um rico comerciante. No térreo com seu teto alto e abobadado e paredes revestidas de azulejos coloridos até meia altura foi instalado o clube propriamente dito, com um pequeno palco, um longo bar feito em mogno, e mais de uma dezena de mesas circulares de diversos tamanhos rodeadas de poltronas que ostentavam o mesmo luxo do extinto Club Aliaga. Algumas portas encimadas por arcos de ferro e vidro davam para um pátio interno aberto em cujo centro borbulhava a água de uma fonte em cascata. Durante o dia ele era iluminado pelo sol que destacava suas paredes em tom terroso e, durante a noite, além da lua, postes encimados por grandes lampiões a gás distribuíam uma luz âmbar e intimista. Tal como em Madri, o primeiro andar ficou reservado para o escritório do Sr. Alejandro e pequenos quartos onde alguns clientes recebiam um tratamento diferenciado e exclusivo de alguns funcionários. No segundo andar, cercado por uma varanda da qual se tinha uma visão privilegiada da praça, ficavam os aposentos particulares onde o Sr. Alejandro e eu residíamos.
Boa parte da revitalização do edifício e da decoração suntuosa foi desenvolvida por uma tal Sra. Alcázar Sayago antes da nossa chegada, de modo que ficaram faltando apenas toques finais para que o clube pudesse ser inaugurado. Essa senhora era uma mulher excêntrica na faixa dos cinquenta anos, não se sabia sua origem certa, nem se tinha posses suficientes para custear as joias que ostentava e os vestidos que mandava confeccionar sob medida inspirados no que havia de mais elegante e sofisticado na Europa. O Sr. Alejandro a apresentou como uma “velha amiga”. Na ocasião trocaram um olhar enigmático e um sorriso que nunca consegui decifrar. Ela circulava pelo clube todas as noites, não se metia em nenhum assunto comercial, e costumava estar acompanhada de homens de meia idade que não economizavam em seus pedidos, sempre exigindo os melhores vinhos e champanhes da casa junto às refeições. Ela parecia íntima de todos eles, que a cercavam de atenção e mimos. Na minha concepção era uma puta refinada. Quando fomos apresentados, ela passou os dedos finos pelo contorno do meu rosto imberbe como se estivesse avaliando uma joia.
- Qué chaval guapo y prometedor! (Que garoto lindo e promissor!) – pronunciou com um sorriso de matrona.
- Es mi esperanza! Apuesto todas mis fichas a este chico! – retrucou o Sr. Alejandro, me encarando de maneira indecifrável.
Nas primeiras quatro semanas após a nossa chegada a Tânger ficamos hospedados na casa da Sra. Sayago que, nem de longe, ostentava o mesmo luxo de sua figura ímpar. Era uma casa antiga que exibia sinais de deterioração embora a mobília guardasse sinais de uma época mais suntuosa. Toda a residência cheirava a perfumes adocicados e enjoativos, talvez para disfarçar o cheiro mofo das paredes e cortinados. Uma criada uniformizada estava encarregada de todas as tarefas da casa e, seu semblante exausto era reflexo da quantidade de serviço sob sua responsabilidade. Apesar disso, era simpática e faladeira, o que fazia com que a Sra. Sayago procurasse mantê-la longe dos hóspedes para que sua vida privada não fosse espalhada por toda Tânger. Nesse período, os acertos finais do clube foram concluídos, a data da inauguração foi agendada e convites luxuosos foram distribuídos para os membros da sociedade e autoridades de Tânger, Tétouan e até Rabat e Fez. O Protetorado nunca havia visto um clube tão exclusivo e sofisticado, e a noite da inauguração foi um estrondoso sucesso.
Desde o embarque em Valência, o Sr. Quilme reteve meu passaporte, alegando que ele cuidaria de todos os trâmites da alfandega, uma vez que eu era totalmente inexperiente nesse assunto. Depois, numa ocasião em que o lembrei que ele não havia me devolvido o documento, ele disse que não o fizera por estar tratando de oficializar meu trabalho no Marrocos e, que o devolveria assim que tudo estivesse acertado. Os meses foram passando e, envolvido com a minha nova função no clube, fui esquecendo o assunto. Por alguma razão eu achava que estava seguro nas mãos daquele homem, até descobrir que não.
Ao insistir para que me ajudasse a trazer minha mãe e minha irmã para o Marrocos, ele me comunicou que ambas estavam seguras, na Argentina.
- Na Argentina? – questionei incrédulo. – Como elas foram parar lá?
- Você tem ouvido as conversas dos clientes do Clube e já deve ter percebido que a situação na Espanha está cada vez pior, a guerra civil está devastando o país e eu me incumbi de retirá-las de lá. – revelou ele
- Mas por que não as trouxe para cá? Eu havia prometido a elas que voltaríamos a ficar juntos!
- Por que dessa forma sei que não vai recusar o que tenho a lhe propor! – senti um frio na barriga quando ele sentenciou a frase.
- Proposta? Que proposta? Não havíamos combinado que eu viria para o Marrocos e assumiria a função do Ignacio no Clube? É exatamente isso que estou fazendo! – afirmei
- Não uma delas! Você deve ao menos ter suspeitado que o Ignacio era mais do que um funcionário do clube. – minhas pernas começaram a tremer.
- Não sei do que o senhor está falando! – menti
- Tenho necessidades de homem que o Ignacio supria! – comecei a deduzir onde essa conversa ia terminar.
- Continuo não entendendo!
- Sei que é ingênuo, Juan, mas não burro! Eu fazia sexo com o Ignacio, pois ele também não era muito homem, como você! E é exatamente essa outra função que quero que passe a assumir. Quero te enrabar! Quero que se encarregue de satisfazer meus desejos sexuais, como ele fazia. – despejou, sem rodeios.
- Mas eu sou homem! – exclamei de pronto.
- Na aparência sim, mas sei que é homossexual! E, é esse lado de sua personalidade que me interessa. – afirmou
- Não me vejo mantendo relações sexuais com o senhor! Não sou capaz de ficar com um homem só pelo fato de ser homossexual. – retruquei
- Contudo, é bom que seja, pois é isso que fará de agora em diante! Serei seu macho e espero que cumpra suas obrigações para comigo. – seu tom exigente e impositivo me fez ver que não me restavam escolhas. – Se quiser que sua mãe e sua irmã continuem tendo uma vida longe de problemas e dificuldades, fará exatamente o que estou ordenando. Não me crie problemas, Juan! Não será nada bom para você, eu garanto! – ameaçou. Eu quis chorar, eu precisava chorar; porém, engoli o choro e a humilhação, não lhe daria o gosto de me ver vertendo sequer uma lágrima pela degradação.
- Está certo! Farei como quer! Mas, me prometa que minha família continuará segura e bem!
- Enquanto você cumprir sua parte no acordo, eu cumprirei a minha! – eu já não tinha mais tanta certeza disso. Aquele homem podia ser mais demoníaco do que eu supunha.
Sem meu passaporte, sem saber exatamente onde minha mãe e minha irmã estavam e, na condição de estrangeiro irregular no Marrocos, eu não podia nem pensar em denunciá-lo às autoridades. Até porque, as mais poderosas e influentes eram clientes assíduos do Clube, já haviam angariado a amizade do Sr. Alejandro e, dificilmente dariam ouvidos a um mero funcionário dele.
Eu já havia me recolhido, abraçado ao travesseiro, revivia meu passado em Madri, minha infância, as festas cheias convidados que meus pais davam devido ao cargo do meu pai no Ministério, a adolescência desfrutada com inúmeros amigos, meu primeiro salário no Club Aliaga, o falo gigantesco e grosso do Ramiro tirando a minha virgindade naquela madrugada chuvosa, eram nada mais do lembranças. Ele entrou no quarto sem acender a luz trajando nada além da cueca, mesmo assim, pude distinguir sua silhueta corpulenta se aproximando. Sentou-se na beira da cama e tirou o lençol de cima de mim, expondo meu corpo esguio. Um calafrio o percorreu, chegara a hora de desempenhar mais aquela função. Ele acariciou meu rosto, em seguida a bunda, sempre me encarando com um olhar dominador.
- Tire o pijama! – ordenou impassível
Despi-me deitado vendo seus olhos se arregalarem sobre a minha nudez. Ele voltou a me tocar com a mão grande e pesada na qual cresciam pelos no dorso, deslizou-a sem pressa pelo meu peito, detendo-se ao redor dos mamilos e excitando-os ao esmagar os biquinhos entre os dedos grossos, avançou sobre o ventre roçando-o de leve e seguindo para dentro da minha virilha até chegar às coxas. Não tocou no meu sexo, que não esboçou nenhum movimento com aquele toque. Virou-me ligeiramente de lado e deixou a mão escorregar até as nádegas acariciando-as despudoramente. Inclinou-se e beijou uma antes de amassá-la; fez o mesmo com a outra e depois guiou a mão para dentro do meu reguinho profundo e liso. Minha respiração acelerou, não pela excitação, mas pelo que ele estava prestes a fazer comigo.
- É uma pena que aquele desgraçado do Ramiro tenha tirado a virgindade desse ânus! – exclamou. – Seria uma satisfação imensa lacerar essas preguinhas com meu cacete quando ainda virgens. – afirmou, ao roçar minha fenda anal com o dedo sequioso. – Vocês acharam que ninguém descobriria o que vinham fazendo no apartamento dele, após o fim do expediente? – perguntou.
- O que acontece na vida privada dos seus funcionários não lhe diz respeito! – devolvi petulante, adotando a mesma postura que havia presenciado do Ignacio.
- Tem razão! Não é da minha conta o que um degenerado como o Ramiro e um veado como você fazem na cama, mesmo sendo eu a lhes pagar o salário. – sentenciou. – No entanto, uma coisa não posso negar ao Ignacio, ele era um bom investigador, além de um amante ardente. – revelou, para que eu soubesse como aquela informação havia chegado aos seus ouvidos. – Mas o ciúme doentio que sentia de você estava me aborrecendo e o cu laceado dele não valia essa amolação, foi por isso que resolvi trazer você para o Marrocos ao invés dele.
Pela primeira vez tive pena daquele infeliz do Ignacio. Toda aquela empáfia, o ar arrogante e superior com o qual me olhava, a grosseria de suas palavras para comigo, tudo não passava de uma maneira desesperada de segurar aquele homem a quem ele amava e por quem daria a vida se necessário. Foi dispensado como trapo velho e roto que já não serve mais para nada, sem que seus sentimentos verdadeiros fossem levados em conta. Pensei em como ele estaria agora, sem quem o custeasse ou lhe oferecesse um emprego naquela Madri empobrecida pela guerra civil, talvez se prostituindo como sempre fez, pois não tinha capacidade para outra coisa.
O Sr. Alejandro pegou minha mão, beijou-a e a levou ao rosto cofiando a própria barba, antes de fazê-la deslizar sobre o tórax peludo até seu falo rijo, antes de a meter dentro da cueca e me fazer pegar o pauzão ereto.
- Sabe o que tem que fazer! Não me faça esperar e, muito menos pedir, que não sou homem de ser condescendente com as obrigações de um amante! – determinou, enquanto tirava a cueca e deixava o cacete pesado cair a centímetros do meu rosto.
Envolvi-o com uma mão e espalmei a outra sobre a barriga peluda dele. O pauzão não deixava de impressionar para um homem na idade dele, tinha um tamanho proporcional à constituição física do Sr. Alejandro, era reto e calibroso, apenas a glande era enorme e parecida com um cogumelo. Um emaranhado de veias salientes se destacava sobre a pele que o revestia. Era circuncisado e, em sua base, pendia um sacão, esse sim bastante volumoso, no qual se via nitidamente o contorno dos dois testículos globosos. Ele havia se banhado antes de adentrar ao quarto, e a virilha pentelhuda não guardava aquele cheiro peculiar e másculo do qual eu tanto gostava no Ramiro. Amoldei os lábios ao redor da cabeçorra e a rocei com a língua. Ele soltou um gemido rouco e enfiou os dedos nos meus cabelos. Lambi e suguei sem muito empenho, mas o caralho reagia ficando tão duro que mal conseguia movê-lo. Levou um tempo até eu sentir o sabor do pré-gozo, que não era muito, diga-se de passagem, e muito mais ralo e menos saboroso que o do Ramiro.
- Quero que engula tudo o que sair daí, sem frescuras! – exigiu. O que foi desnecessário pois minha intenção era mesmo sentir no que os machos se distinguiam um do outro, uma vez que até então só tinha conhecido o Ramiro e já não podia mais me dar ao luxo de sonhar com ele sendo meu único homem na vida.
Tatear por entre todos aqueles pelos grossos da virilha dele e brincar com aqueles dois colhões ingurgitados não era de todo ruim. Eu até conseguia colocar quase todo o cacete na boca, o que com o Ramiro era impossível. Mesmo assim, o Sr. Alejandro o forçou inteiro na minha garganta enquanto eu o chupava. Toda essa ação não durou nem dez minutos, ele estava tão excitado que a urgência já estava a lhe cobrar uma solução, ou teria que ejacular na minha boca, e não era esse o desejo dele. A tara indisfarçável pela minha bunda e penetrar meu cuzinho praticamente virgem vinham lhe atormentando desde que me conheceu naquele café perto da Academia de Belas Artes, e que só não se consumou antes devido a vigilância ferrenha do Ignacio. Agora nada o impedia, ele estava me pagando para isso, podia dispor de mim como bem lhe aprouvesse, até por coerção se me recusasse a lhe satisfazer a tara.
Ele me virou de bruços e lançou seu peso sobre mim, esfregando a verga dura no meu rego enquanto ela o lambuzava com o pré-gozo. Ele arfava na minha nuca como um leão que precisou correr muito atrás de sua presa. Desceu pelas minhas costas lambendo-as até alcançar as nádegas. Apartou-as com ambas as mãos e examinou desvairado o cuzinho piscante rodeado de preguinhas rosadas, caindo de boca sobre ele e lambendo-o como se estivesse comprovando meu cio. Indiferente ao homem que me lambia o cuzinho não havia como não soltar um gemido de êxtase, uma vez que toda a sensibilidade que havia no meu corpo pareceu migrar para ali. Para todos os efeitos, era um macho que me sondava e que estava prestes a se apossar do meu ânus. O Sr. Quilme se posicionou ao pé da cama, me puxou até a beirada, se encaixou entre as minhas pernas que segurava abertas ao redor de sua cintura e apontou a cabeçorra sobre a fendinha rosada. Um único e abrupto impulso meteu metade da pica no meu cu. Eu gritei quando a jeba grossa me rasgou as pregas ao atravessar meus esfíncteres, e se alojou na minha carne tremula e úmida. Ele soltou um bramido grave de puro êxtase quando sentiu o caralho firmemente encapado pela musculatura do meu cuzinho estreito. Ele até já havia se esquecido a última vez que semelhante prazer se fez sentir em seu falo.
- Tesão de moleque apertado! – exclamou em meio ao bramido. – Vou te arregaçar, pederasta do caralho! – emendou, dando nova estocada que empurrou todo o cacete para dentro de mim, deixando apenas o sacão pendendo no meu reguinho.
Ele me fodeu como se eu fosse uma cadela, montado em mim e bombando num frenesi tresloucado. Eu gania, sentia minha carne dilacerando, as vísceras se revolvendo, a dor se alastrando pelas entranhas, e nenhum prazer para compensá-la. Esperei uns cinco minutos com a bunda empinada e encaixada na virilha dele, até sentir o primeiro jato de esperma sendo derramado no meu cu, seguiram-se mais uns três que foram igualmente escorrendo sobre a mucosa anal e se embrenhando no fundo do casulo quente. Ele urrou o tempo todo enquanto ejaculava, continuando a socar o cacete fundo no meu rabo, me fazendo ganir. Findo o gozo, atirou seu peso sobre mim, respirando ruidosamente enquanto seu peito suado colava nas minhas costas. Foram poucos minutos, mas que me pareceram uma eternidade até aquela pica amolecer completamente e ele a arrancar do meu cu num único puxão. Precisei gritar novamente quando a cabeçorra passou pelos músculos anais, pingando porra no meu rego. O Sr. Quilme deitou-se ao meu lado encaixando-se nas curvas do meu corpo, envolveu meu tronco com o braço e asseverou que fazia tempo não gozava tanto e nem sentia um prazer como aquele.
- Com o tempo vai se acostumar a me reconhecer como seu macho! Vou cuidar de você, Juan! Estará sempre seguro nas minhas mãos, e sei que em breve vai me amar tanto quanto o Ignacio me amou. – despejou o desgraçado.
- É claro, Sr. Quilme! – balbuciei inexpressivo.
- Só me chame de Alejandro, sem nenhuma formalidade! Sou seu homem, sou seu macho, não tem cabimento nos tratarmos com tanta frieza. – determinou
- Está bem, Sr. Ale....., está bem Alejandro! – devolvi, antes de cair no sono sentindo uma leve ardência no cu.
O Club Adouss, em pouco tempo, se revelou tão lucrativo, ou mais, que o Club Aliaga. O Protetorado era carente de lugares tão luxuosos e exclusivos, o que tornava o Clube um centro de diversão e também um ponto de encontro para o fechamento de acordos empresariais e políticos. O alto escalão das embaixadas que estavam ao seu redor passava pelo menos duas a três noites se distraindo nos elaborados jantares e apresentações de cantores e músicos. Homens em ternos caros e uniformes engalanados vinham acompanhados de mulheres trajando vestidos de alta costura e joias caras, às vezes esposas, outras vezes concubinas, ou tão somente acompanhados de amigos de farra. Do staff da casa faziam parte homens e mulheres jovens de boa aparência atuando como garçons e garçonetes, alguns deles estendendo sua atenção para os clientes no andar superior. Entres eles estavam o Ortega e o Zyan, dois machos atléticos cobiçados tanto pelas mulheres quanto por alguns homens menos másculos. O primeiro era nascido em Saragoça numa família campesina que cultivava frutas em sua pequena propriedade, foi onde ele adquiriu todos aqueles músculos e o tom bronzeado da pele que funcionavam como imãs atraindo olhares cheios de luxúria. O segundo era de origem berbere, nascido em Sefrou uma cidadela situada a sudeste de Fez num oásis; seu tom de pele acobreado e os olhos de um castanho muito claro formavam um sedutor conjunto com seus ombros largos e braços musculosos. Uma garota francesa de família humilde nos arredores de Paris, Juliette, era a escolha predileta dos homens de negócio e militares de alta patente que disputavam seu corpo esguio e ancas largas. A outra com a qual formava dupla era Soledad, Sole como a chamávamos, de origem espanhola cuja família havia se mudado para o Marrocos quando ainda pequena. Os pais deram prioridade a educação dos outros três irmãos homens em detrimento da dela; como uma espécie de vingança, ela passou a levar uma vida desregrada e foi expulsa de casa, desde então usa sua beleza e os seios grandes empregando-se em casas noturnas.
O Alejandro me ensinou a gerenciar o Clube, o que logo assimilei passando a consultá-lo apenas raras vezes para a solução de alguma questão. Confiante, ele tomava cada vez mais tempo para si próprio sabendo que os negócios estavam em boas mãos. Ele aproveitava o vigor que ainda lhe restava fodendo matronas do tipo da Sra. Sayago que gostavam de homens bem sucedidos como ele e que saciavam os calores que atormentavam suas vaginas sem exigir muito delas, além da companhia em eventos e festas promovidas pela sociedade local. Em casa, seu vigor e apetite sexual recaíam sobre mim numa frequência perfeitamente tolerável. Não era de todo ruim satisfazer seu instinto de macho cinquentão, e minha relação com ele além de muito próxima era prazerosa. Eu aprendi a gostar daquele corpão parrudo, daquela barriguinha saliente e peluda, de seus braços cobertos de pelos grossos e negros, de seu cavanhaque que me fazia cócegas no rego quando ele lambia meu cuzinho antes de enfiar a rola grossa e cabeçuda dentro dele, só o sacando depois de deixar sua gala cremosa dentro dele. De início dormíamos em quartos separados, mas depois de alguns meses, compartilhávamos o mesmo leito nas noites em que não estava na casa de alguma matrona se esbaldando nas bocetas delas. Ao contrário do Ignacio, eu não lhe cobrava nada, nem a fidelidade nem as explicações, o que fez do nosso relacionamento algo leve e descontraído, tanto quanto prazeroso para ambos. Ele só se mostrava enciumado quando algum outro cliente velhaco cheio de intenções libidinosas ficava tecendo elogios a mim ou, quando os rapazes do staff ficavam cochichando pelas minhas costas e ajeitando as ereções enquanto contemplavam a exuberância da minha bunda.
- Ainda mando esse filho da puta desse marroquino desgraçado para o olho da rua! Não é a primeira vez que o flagro mexendo no cacete enquanto baba pela sua bunda. – vociferava o Alejandro, referindo-se ao Zyan que já chegara a me passar algumas cantadas na intenção de saciar sua tara pelo meu cuzinho.
- Gosto quando sente ciúme de mim, Alejandro! Porém, saiba que não te trocaria por nenhum desses garotões cheios de testosterona! Meu único macho é você, e isso aqui é tudo que preciso para ser feliz! – devolvia eu, pegando no falo dele ao mesmo tempo em que me esfregava em seu corpão e beijava sua boca.
Ele imediatamente me agarrava, enfiava sua língua na minha boca e amassava minhas nádegas externando sua tara. A depender da ocasião, ele me levava direto para a cama e me penetrava dando vazão à libertinagem. Tinha sido a maneira que encontrei para que tivesse certeza de que não o traía com outros homens, e manter nosso relacionamento sem conflitos. Eu não o amava, nunca o amei. Contudo, com a intimidade fui desenvolvendo certo carinho por ele; bem ou mal, esse homem cuidava de mim e da minha família, mesmo que a seu jeito pouco ortodoxo. O Alejandro se contentava com essas demonstrações de afeto e tinha como certo que aquilo era amor, uma vez que achava que eu nutria por ele algo igual ao que o Ignacio lhe oferecia. Para mim era bom que pensasse assim, pois disso dependia a harmonia daquele relacionamento incomum.
O Club Adouss estava comemorando um ano e uma grande festa foi programada. Eu estava assoberbado de trabalho providenciando cada detalhe para tornar a comemoração um sucesso. Fazia uma tarde quente como de costume, pouco antes do sol se pôr. Apenas cinco mesas estavam ocupadas, duas no salão e três no pátio, por empresários discutindo questões comerciais. Os dois sujeitos trajando ternos baratos, se dirigiram a uma mesa do salão perto do bar, um deles fumando um charuto cujo cheiro logo impregnou o salão. Eu os observei à distância, envolvido nos meus afazeres e tive a nítida impressão de já ter presenciado aquela cena. Minha coluna foi percorrida por um calafrio, um mau presságio, aventei, ao concentrar minha atenção exclusivamente naqueles sujeitos.
- O Sr. Quilme está? – perguntou o não fumante ao rapaz que lhes trouxe as bebidas.
- No momento, não! Do que se trata? Posso chamar o gerente, o Juan, a depender do assunto. – esclareceu o rapaz
- Não é necessário, o assunto é pessoal, apenas com o Sr. Quilme! – apressou-se a responder o que tinha o charuto na boca e liberava uma longa baforada no ar.
- A que horas é possível encontrar o Sr. Quilme? – tornou a perguntar o não fumante
- À noite, ele sempre circula entre os clientes e amigos.
Os dois saíram depois de entornarem as bebidas que haviam pedido, sem deixar sua identificação nem um recado para o Alejandro. De tão preocupado que fiquei, relatei a visita dos sujeitos ao Alejandro assim que ele chegou.
- Não fique assim, está trêmulo! Devem ser representantes daquele novo fornecedor de suprimentos que contatamos na semana passada. – respondeu-me o Alejandro, sem ter se mostrado abalado.
- Não tinham cara de representantes! Eram mais parecidos com aqueles tipos que você recebia no Aliaga e que nunca pagavam a conta. Estou com medo, Alejandro! Não esconda nada de mim, por favor. Sei que deixou a Espanha daquela maneira clandestina devido a credores ou algo pior. – retruquei.
- Não encha essa sua cabecinha de fantasias, meu amor! Não há o que temer, eu garanto! Vem cá, me dá um beijo e vamos subir, estou com os colhões abarrotados do leitinho de que você tanto gosta. Vem, faça uma pausa, você deve estar exausto, tem trabalhado muito nas últimas semanas e está vendo o que não existe. – tentou me tranquilizar, me levando para o quarto onde mamei até a última gota de porra que ele ejaculou na minha boca. Passei os dias seguintes sobressaltado por qualquer barulho ou sombra.
A comemoração do primeiro ano de existência do Club Adouss foi um tremendo sucesso, os convites caros tiveram uma disputa ferrenha e as dependências ficaram lotadas, estendendo o clamor por toda a praça das embaixadas. Na semana que a precedeu, não se falava noutra coisa em todo Protetorado.
Os mesmos sujeitos voltaram numa noite dois dias depois da festa, e o Alejandro foi à mesa deles. Notei que estavam tendo uma conversa tensa, pois as têmporas do Alejandro brilhavam de tão suadas, um sinal de que estava sob pressão. Os sujeitos não pagaram a conta astronômica, foi uma cortesia da casa determinada pelo Alejandro. Estávamos com problemas, isso era mais que evidente, os mesmos de Madri, supus.
- Quero que passe uns dias em Tétuan, descansando e usufruindo um pouco das lindas praias que há por lá! – disse o Alejandro quando fomos para a cama naquela noite e ele estava tão agitado que nem quis que eu acariciasse seus genitais como estava habituado a fazer quando não transávamos e, que o relaxava fazendo cair no sono mais rápido.
- Fiquei de fechar o contrato com aquele fornecedor que você pensou ter enviado aqueles representantes. Está tudo acertado para a quinta-feira à tarde. Também fiquei de entrevistar aqueles músicos que querem fazer umas apresentações no Clube. Estou ocupado demais para me ausentar nesse momento. – retruquei
- Puta merda, moleque! Será que sempre vai discutir as minhas ordens? Não é um pedido nem uma sugestão, estou mandando que vá para Tétuan, e amanhã logo cedo! Você é meu empregado, não tem que questionar minhas ordens, seu moleque atrevido! – despejou furioso.
Era assim que ele reagia quando se zangava comigo, me chamando de moleque, jogando na minha cara que eu não passava de um simples empregado, que eu era o veadinho dele e ele o meu macho exigindo submissão total.
- Sei que são como aqueles sujeitos de Madri, você está enrascado e quer me jogar para escanteio. Eu não vou para Tétuan! – revidei
- Você vai fazer o que eu estou mandando, seu veadinho presunçoso! Nunca enfiei a mão na sua cara como fazia quando o Ignacio me aborrecia, mas se continuar a me desafiar vou te sentar a mão na cara agora mesmo, seu moleque! – berrou ele, erguendo pela primeira vez a mão para mim. No mesmo instante as lágrimas começaram a rolar pelo meu rosto, imobilizando-o. – Caralho de moleque sensível! Chora por qualquer coisinha, esse maricón! – tomando-me em seus braços e me comprimindo contra seu peito, mais arrependido do que um penitente no confessionário.
Na manhã seguinte parti rumo a Tétuan, por quinze dias, para a casa de praia do embaixador francês, acompanhado de toda sua família. Um pedido que ele aceitou de bom grado pelos favores que devia ao Alejandro. Eu ligava para ele todas as noites de tão preocupado com a segurança dele, e tinha um sono agitado apesar de ele me garantir que tudo estava bem.
Foi pela manhã, os funcionários estavam preparando o salão e as mesas para o almoço, as portas do Clube ainda não haviam sido abertas. Eu supervisionava os trabalhos e estava ao lado de uma funcionária fazendo os arranjos de flores nos vasos que seriam distribuídos pelo salão. Os três entraram pela entrada de serviço na lateral do edifício durante um descarregamento de bebidas e passaram pelo funcionário que as recebia. O Alejandro estava no andar superior no escritório, assinando alguns cheques que deixei separados para o pagamento quinzenal dos funcionários. Eles passaram por mim com as armas em punho e subiram as escadas sabendo exatamente qual era seu destino. Tentei impedi-los correndo atrás deles com a ajuda do Zyan e do Ortega, mas um deles se deteve no topo da escada e nos apontou o revólver, enquanto os outros dois, os mesmos que haviam estado no Clube dias atrás, invadiram o escritório e quatro disparos ecoaram pelo corredor. Soltei um grito.
- Alejandro! Alejandro! – os dois sujeitos retornaram e desceram as escadas correndo rumo à saída.
Ele estava sentado à mesa de trabalho, o tronco ligeiramente inclinado para o lado, os olhos vítreos e sem vida encarando a porta e, na camisa branca cresciam rapidamente manchas de sangue. Tornei a soltar outro grito e corri na direção dele a tempo, tão somente, de segurar sua cabeça que caiu em minhas mãos. Não havia mais chão sob os meus pés, o escritório parecia estar num redemoinho, eu não parava de balbuciar.
- Alejandro! Alejandro! – mas ele não respondia. Tiveram que me arrancar dali quando o escritório estava cheio de funcionários que acorreram ao ouvirem os disparos.
Quando o comissário de polícia do Protetorado chegou acompanhado de um batalhão de policiais, eu estava tão entorpecido que mal distinguia suas silhuetas, e suas vozes pareciam ecos longínquos a reverberar nos meus ouvidos. Por ordem do próprio governador do Protetorado, uma investigação foi iniciada. A vida pregressa do Alejandro foi esmiuçada em profundidade, sua ligação com políticos opositores da República Espanhola, com militares ingleses sediados no Protetorado, suas dívidas com inúmeros credores espanhóis vieram à tona como boias submergindo do mar. No entanto, o que mais saltou aos olhos astutos do Chefe da Comissaria de Polícia, foi o fato do Club Adouss, bem como de todos os seus outros bens do Alejandro no Marrocos estarem no meu nome.
- O senhor lucrou muito com a morte do Sr. Quilme, não é verdade, Sr. Juan?
- Eu nunca soube que esse patrimônio estava em meu nome! Sou apenas o gerente do Alejandro, digo, do Sr. Quilme, um funcionário como os demais! – respondi
- Não acredito que seja um funcionário tão dedicado que chegava a compartilhar a cama com o Sr. Quilme, um homem que tem a idade para ser seu pai! – retrucou insolente o comissário.
- Não me importa o que o senhor pensa, comissário! Nem estou interessado em suas insinuações! O que estou afirmando é que não sabia que os bens do meu patrão estavam em meu nome. Talvez fosse mais proveitoso que dirigisse seus esforços para encontrar aqueles sujeitos que estiveram aqui e assassinaram o Aleja...., o Sr. Quilme! – devolvi, enquanto ele esboçava um risinho sarcástico.
- Quer me ensinar meu trabalho, meu jovem? – perguntou irônico.
- Não! Apenas que o faça com diligência, e não supondo fatos que não existem! – revidei.
- Não gosto de você, moleque! Não gosto de veados que sabem tirar proveito de homens maduros e endinheirados. Estarei de olho em você, Juan! Saiba que cada passo seu aqui no Protetorado chegará aos meus ouvidos. – ameçou
- Faça como quiser! É seu trabalho investigar a morte do Aleja..., o assassinato do Sr. Quilme, procure fazê-lo direito! – ele me fuzilou com o olhar.
- Não abuse, moleque! Você pode ter esse rostinho lindo, esse corpo escultural, mas eu não me deixo impressionar pela sua sensualidade. Não hesitarei em mandá-lo para uma prisão se ficar provado que encomendou a morte do Sr. Quilme para se apossar de todos os seus bens. Lá haverá muitos homens interessados nesse corpo e nos seus favores, esteja certo disso! – ironizou, antes de partir.
- Filho da puta, desgraçado! – resmunguei para a Juliette e o Ortega que presenciaram toda a conversa.
- Eu ouvi isso, moleque! Vou imputar esse desaforo ao seu crime quando o provar. – sentenciou o comissário quando já estava na porta de saída.
Mais uma vez me senti perdido, sem saber o que fazer. Estava proibido de deixar o Protetorado e meu passaporte que, até então estava em poder o Alejandro, foi confiscado até o final da investigação. Sem nenhuma dúvida, eu era um dos suspeitos pelo assassinato do Alejandro, uma vez que sua morte me favorecia.
O Clube ficou fechado por uma semana com um laço preto na porta de entrada. Meu luto pelo Alejandro não foi tão indiferente como eu havia imaginado. Havia me apegado a ele, talvez não como amante, embora fazer sexo com ele não me desagradava, mas como uma espécie de pai que de alguma forma me deu segurança e transmitiu ensinamentos. A semana passada em reclusão também serviu para eu refletir sobre a minha situação e meu futuro. O Clube não estava endividado como o de Madri, uma boa soma numa conta bancária e um bocado de libras esterlinas no cofre do escritório, além de uma quantia em outras moedas estrangeiras eram a prova de que o negócio ia muito bem, apesar do Alejandro ter feito um cheque num valor alto na noite em que aqueles dois sujeitos jantaram no Clube, dias antes do assassinato. Nunca descobri para que serviu aquele dinheiro, se era de algum credor, ou se foi para pagar um chantagista.
Não só eu, como os demais funcionários dependíamos daquele negócio e, na semana seguinte ao assassinato, resolvi reabrir o Clube e tocar a vida adiante, até porque não me restava outra opção, uma vez que estava proibido de sair da cidade ou deixar o país. Do saldo da conta bancária fui impedido de movimentar qualquer centavo. Já a conta particular do Alejandro que também estava em meu nome como descobri quando os investigadores de polícia vasculharam nossas vidas, pude dispor sem interferências. Com esse dinheiro, ia trazer minha mãe e minha irmã para o Marrocos. Recebi as condolências de diversos clientes à medida em que a notícia do assassinato do Alejandro se espalhou.
Sem o Alejandro, o Zyan começou a se engraçar comigo, o campo estava livre e desde o dia em que o contratei, ele vinha alimentando na surdina o desejo de me enrabar. Algumas indiretas acintosas ele já havia me dado, mas sentia-se intimidado pelo Alejandro e desestimulado de me fazer qualquer oferta libidinosa já que eu nunca demonstrei esse tipo de interesse por ele. Começou com ele se aproximando de mim durante o sepultamento do Alejandro, como uma forma de expressar seus pêsames, aproveitando para me abraçar e consolar. Depois disso, estava sempre ao meu redor, prestativo e assumindo algumas tarefas que, segundo ele, era para que eu não me visse sobrecarregado. Da presença constante ele fazia uma oportunidade para que eu reparasse nele, especialmente como macho, já que havia perdido o meu. Nunca pensei no Zyan nesses termos, embora ele fosse um homem muito atraente e sedutor, e apenas uns poucos anos mais velho do que eu. Levei alguns meses antes de parar de rechaçar suas abordagens, sempre muito sutis e cuidadosas. As noites sem o corpo de um macho ao meu lado na cama começaram a se mostrar solitárias e vazias. Portanto, perceber que outro estava me cobiçando não deixava lá de ser excitante. E foi assim, que o Zyan me roubou o primeiro beijo, me envolveu em seus braços, me fez sentir sua virilidade máscula, me encoxou até conseguir uma ereção que não disfarçava, até o dia em que me pegou de jeito no escritório com uma pegada firme e uma enrabada que deixou meu cuzinho ardendo e encharcado de porra. Nunca senti por ele mais do que atração sexual; sua personalidade não se afinava com a minha e isso fez com que nos mantivéssemos apenas nesse campo, nunca passando para algo diferente. Assim fui aprendendo que tesão e sexo nem sempre estão ligados a sentimentos mais profundos e que, mesmo assim, conseguem ser prazerosos.
O comissário de polícia não saía do meu pé, vinha constantemente ao Clube com uma desculpa qualquer, queria fazer parecerem casuais os encontros na rua ou num estabelecimento comercial, sempre refazendo as mesmas perguntas sobre a morte do Alejandro, para ver se eu caía em contradição ou lhe desse alguma pista de que estava envolvido naquele assassinato.
- Já lhe respondi essas perguntas uma centena de vezes! E, vou lhe repetir mais uma vez, não tenho nenhuma ligação com o crime. Eu não matei, nem mandei alguém matar o Alejan.... o Sr. Quilme. É tão difícil para o senhor compreender isso?
- Estou apenas fazendo o meu trabalho! – retrucava ele.
- Bem mal feito por sinal, pois até agora o senhor não encontrou nenhum daqueles homens que o assassinaram. – revidava eu, o que o deixava furioso.
Minha mãe e minha irmã se juntaram a mim no dia 17 de julho de 1938, trazendo consigo meu cunhado Hector Sanz, um argentino filho de um produtor de frutas naquele país. Minha irmã havia se casado com ele há poucos meses, nem tendo a chance de me dar a notícia nas cartas que trocávamos. Era um sujeito cativante e logo nos demos muito bem. O que mais me agradou nesse casamento, foi saber que já não era mais o único homem da família encarregado de um papel do qual eu não gostava. Na questão familiar, eu estava tranquilo, bem como nos negócios relativos ao Clube.
De cliente regular das noitadas no Clube, Molly Ludders, uma exuberante mulher de quarenta e poucos anos, se tornou minha melhor amiga. Ela era casada com um inglês que mantinha negócios na Índia e vivia por lá, deixando-a sozinha com uma filha pequena, quando o casamento se deteriorou e a Molly veio ao Marrocos onde o marido também tinha alguns negócios com sócios locais. Ela era uma mulher com bastante prestígio entre a sociedade britânica no Protetorado, frequentando as casas e festas de seus membros. Muitos deles frequentavam o Clube e ela se encarregou de me apresentar a todos. Dessa forma, conheci homens influentes e poderosos que moravam no Protetorado e ligados à coroa britânica. Um deles, Sir Drynsdale, não era um afortunado como os demais e, como vim a descobrir, seu poder era mais político e de empresário rico, ou advindo de algo que ele mantinha em segredo, mas que estava ligado ao governo britânico, ou muito próximo a ele, o que lhe rendeu o título de Sir.
Sir Drynsdale fez amizade com o Alejandro logo que abrimos o Clube, nem o Alejandro nem eu simpatizávamos muito com ele, pois parecia esconder mais do que revelava. Algumas vezes o Alejandro chegou a se irritar com ele, mas nunca me contou o motivo. Quando me abordou numa festa na casa da Molly em homenagem ao aniversário do embaixador britânico, ele quis recrutar meus serviços e contatos para um “assunto muito delicado”, como o chamou naquela noite. Por isso, propôs um encontro no Clube para a manhã do dia seguinte.
- Não sei no que lhe poderei ser útil, Sir Drynsdale! – exclamei, logo após cumprimentá-lo ao chegar ao Clube e nos sentarmos numa mesa discreta.
- Em mais coisas do que você pode imaginar, Juan! Posso ter essa liberdade de te chamar de Juan, não posso?
- Sim, claro!
- Bem, vamos ao que interessa! Já notei que o Clube é muito bem frequentado e que circulam muitos políticos e militares de alta patente pelo salão. Certamente é de seu conhecimento que os britânicos não gozam de bom prestígio na Espanha em guerra e na pessoa do general Franco o grande responsável por essa guerra e um aliado dos regimes nazistas e fascistas que lhe dão suporte nessa guerra civil. Contudo, os interesses britânicos tanto em território espanhol quanto no Protetorado são enormes. Não podemos permitir que a Alemanha se fortaleça nessa relação com a Espanha. – ele olhava ao redor, cauteloso em continuar, depois que três generais alemães entraram no bar.
- Onde quer chegar, Sir Drynsdale? Não entendo muito de política, embora saiba do que o senhor está falando. Mas, não vejo no que poderei lhe ser útil. – confessei sincero.
- A Sra. Ludders, com seu prestígio e facilidade em circular pela sociedade local tem nos municiado de informações importantes, obtidas entre os alemães. Porém, precisamos de mais informações e mais relevantes que só podem ser obtidas por alguém em quem os alemães confiam. Sei que você teve uma educação primorosa e que a casa de seu pai na Espanha recebia pessoas e políticos influentes, que você fala muito bem o alemão, o francês e o inglês. E é de uma pessoa assim que precisamos, com fácil trânsito entre esses generais, que não levante a menor suspeita de que está nos repassando informações importantes. – continuou ele, sempre cauteloso com as palavras.
- O senhor quer que eu seja um espião Sir Drynsdale? – perguntei na lata.
- Eu não usaria esse adjetivo! Diria tratar-se de alguém com olhos e ouvidos bem abertos, capaz de captar os planos alemães para com a Espanha e esse Francisco Franco.
- Um espião! É assim que se denominam essas pessoas. – reiterei. – Não posso ajudá-lo, Sir Drynsdale! Não sou um homem para esse tipo de tarefa!
- Deixe-me lembrá-lo, Juan, que sua situação no Marrocos não é das melhores. Paira sobre você uma suspeita de que tenha mandado matar seu amante o Sr. Quilme para se apossar de todos os bens dele. De que está proibido de sair do país e que seu passaporte foi confiscado. – continuou ele
- Está me chantageando, Sir Drynsdale?
- Você usa umas palavras um pouco fortes, Juan! Digamos apenas que eu tenho como tirar a polícia do seu encalço e tenho como resgatar seu passaporte, não deixando mais pairar nenhuma dúvida sobre a sua índole. – revelou
- E, em troca, o senhor quer que eu espione os generais e o embaixador alemão que frequentam meu Clube?
- Viu como é fácil e simples? Algo que você pode fazer praticamente sem se desviar de sua vida normal. Embora esperamos que nos preste serviços também fora do âmbito do Clube.
- Nada é tão fácil e simples, Sir Drynsdale! Minha vida não valerá um centavo se descobrirem que estou espionando e repassando informações sigilosas, especialmente para os britânicos, que tanto o governo franquista quanto a Alemanha, não tem em boa conta..
- Eu também tenho como garantir a sua segurança e de sua família! O governo britânico tem pessoal suficiente aqui no Protetorado e na Espanha para garantir a sua integridade física e lhe dar apoio no que for possível nesse trabalho. – asseverou
- Preciso pensar! Há muito em jogo.
- Pense o quanto quiser, é justo! Mas preciso de uma resposta em dois dias.
- Por que dois dias?
- Porque temos fortes indícios de que os alemães estão negociando algum tipo de armamento com negociantes espanhóis, e precisamos saber do que se trata exatamente.
- E como o senhor pensa que eu conseguirei essa informação? Teria que estar tão intimamente ligado a esses generais para obter essa informação quando alguém que partilhasse a cama com eles. – ao ouvir as minhas palavras, um discreto sorriso surgiu na expressão de Sir Drynsdale.
- Uma tarefa fácil, como mencionei, para um jovem homossexual bonito e sedutor como você! – exclamou ele, tomando o último gole da bebida que estava em seu copo.
- Por todos os santos, Sir Drynsdale! Quer que me prostitua? Nem mesmo o Alejandro me pediu para exercer essa função tanto no Clube de Madri quanto neste.
- Pense bem, Juan! Sua liberdade, a segurança de sua família e o desaparecimento do inquérito policial onde você figura como um dos suspeitos pelo assassinato do Sr. Quilme, são vantajosos para você. – ele estava me ameaçando, mais um a me pressionar. A partir daquele dia passei a detestá-lo e me sentia incomodado cada vez que vinha ao Clube.
- O inquérito policial vai acabar provando que sou inocente!
- Crê mesmo nisso, Juan? Você conhece o Chefe do Comissariado de Polícia do Protetorado, acha sinceramente que ele não vai encontrar um culpado qualquer assim que o governador o pressionar por uma solução do caso? Não seja ingênuo, Juan! As leis aqui são muito mais maleáveis do que você imagina. – afirmou.
- Muito bem, eu aceito! – respondi, sem muito refletir e, muito menos, sem saber no que implicaria a minha decisão.
Ele voltou uma semana depois, acompanhado da Molly, e jantaram como num encontro de dois velhos amigos. Foi ela quem me chamou para a mesa a fim de tomar uma taça de champanhe com eles, após o término da apresentação musical, quando a maioria dos clientes já estava deixando o Clube. Não sei o que me levou a pensar que aquela taça de champanhe ia me sair caro, como de fato aconteceu.
- Olá, Juan! O Clube é realmente um sucesso, você se mostrou muito capaz no gerenciamento dele sem o Sr. Quilme. – elogiou Sir Drynsdale, como forma de puxar meu saco. Limitei-me a um sorriso amarelo.
- Sir Drynsdale tem algo muito importante para você, Juan querido! – exclamou a Molly, incomodada por ter que fazer aquele papel, se valendo de nossa amizade.
- As propostas de Sir Drynsdale têm mais um caráter de coerção, não é mesmo Sir? – questionei
- Para lhe provar que faz um julgamento errado da minha pessoa, tenho um presente para você! – afirmou ele, tirando um envelope do bolso interno do paletó, e o colocando diante de mim.
- O que é isso?
- Abra! Sei que vai gostar. É um sinal para que não duvide das minhas boas intenções. – respondeu ele.
Quando tirei o conteúdo do envelope, lá estava o inquérito policial movido contra mim pelo Comissário chefe de polícia, meu passaporte espanhol e mais um, marroquino, no qual eu me chamava Adnan Tremblay Al-Kudsi, sobre o qual eu deslizei a ponta do indicador sem saber o significado daquilo tudo.
- É a sua nova identidade, esclareceu Sir Drynsdale, me vendo perdido em pensamentos. O Tremblay é devido a sua mãe que tem origem francesa, os outros dois são populares no Marrocos e fortalecem sua suposta origem marroquina. Acostume-se a atender com naturalidade por eles quando for interpelado, afinal ninguém pode se confundir com o próprio nome, não é, meu rapaz? – havia um tanto de cinismo na voz dele, o que me irritou.
- Precisamos muito da sua ajuda, Juan querido! Os britânicos estão perdendo gradualmente prestígio na Espanha, enquanto a influência alemã só cresce junto ao governo. É uma boa causa, eu juro. Não te pediria ajuda se soubesse que isso pode salvar muitas vidas e melhorar a vida dos cidadãos espanhóis no futuro. – corroborou a Molly, me vendo relutante.
- Já perdi a minha pátria, e agora querem que eu perca também a minha identidade? – indaguei
- Quando o resultado das missões que vou lhe propor começarem a aparecer, verá que não está cometendo nenhum ilícito e que está colaborando para o bem da Espanha. – além de não acreditar nesse homem, eu desconfiava de suas intenções. “Para o bem da Espanha” me soou apelativo.
- Seu cinismo é impressionante, Sir Drynsdale! – exclamei, puto da vida. – Típico dos britânicos, cínicos e mal humorados! – ele apenas sorriu com frieza.
- Não gosta de mim, não é, meu jovem? Isso não importa! Basta que de agora em diante siga as minhas instruções, que não questione sua importância, e que seja tão competente na execução delas quanto está sendo no gerenciamento do Clube. – devolveu ele.
- Por favor, Juan querido! – suplicou a Molly, pousando sua mão delicada sobre a minha.
- Pela nossa amizade, Molly! Pelo profundo sentimento que nutro por você! Espero que isso não custe a minha vida. – exclamei
- Não diga isso, querido! Eu jamais colocaria sua vida em risco. – devolveu ela
- Bem, Juan! Me encontre amanhã à tarde nesse endereço, sua primeira missão começa durante a festa de aniversário do general Richter na embaixada alemã na próxima semana. Sabemos que recebeu um convite das mãos da esposa do general da última vez em que estiveram no Clube, e que ela tem uma simpatia especial por você, bem como o próprio general, que é, digamos assim, um fã ardoroso de ninfetos lindos como você. – o olhar da Molly imediatamente o censurou pelas últimas palavras, mas ele fingiu não ver.
Na tarde seguinte, quando fazia um calor abrasador, eu me encontrava na suíte luxuosa de Sir Drynsdale num refinado hotel da cidade, esperando sentado num sofá de couro depois que sua auxiliar me fez entrar e me serviu uma limonada gelada. Ele não demorou a aparecer por uma porta situada entre as duas estantes atrás de sua mesa de trabalho. Me cumprimentou com efusividade.
- O que devo fazer? – perguntei impaciente
- Nada de muito complicado, especialmente depois que angariar a confiança do general Richter e o presentear com o que ele certamente considerará o melhor dos que vai receber em seu aniversário. – o tom da colocação estava novamente irônico; o que me levou a acreditar que esse sujeito me via como os mesmos olhos que via uma prostituta. – Você irá acompanhado da Molly, ela não recebeu o convite, mas ninguém estranhará ela estar acompanhada por você. O papel dela será lhe dar cobertura enquanto obtém o que precisamos, uma lista com os nomes dos militares alemães que estão negociando com empresários espanhóis, e os produtos que estão adquirindo. Temos fortes indícios de que essa lista foi transmitida por ordem direta de Hitler, e que passou pelo Protetorado para não gerar suspeitas. – revelou ele.
- Esta lista não deve estar pendurada em nenhuma das paredes da embaixada, como vou saber onde a encontrar e, principal, como vou me apossar dela? Estarei morto antes mesmo de tentar! – retruquei
- Insinue-se para o general, ele o levará direto para o lugar mais seguro e discreto dentro da embaixada. Faça o que ele lhe pedir, e o terá em suas mãos. Não preciso lhe ensinar como seduzir um homem, especialmente um que já não vê a hora de se apossar de seu corpo sedutor. Seu alemão é fluente, deve conhecer inúmeras palavras para deixar um homem excitado, e quando isso acontecer, ele se comportará como qualquer animal macho na presença do cio de uma fêmea, pensará com a cabeça do caralho e não com a outra. – senti engulhos ao deglutir o último gole da limonada, aquele homem me dava enjoo.