Num dia qualquer, enquanto eu participava de uma reunião na editora com a Emanuelle e o Alfredinho, recebi uma ligação do celular do meu padrinho. Como ele normalmente não me ligava durante o dia, fiquei preocupado e pedi licença, atendendo-o de imediato. Meu mundo estava prestes a dar uma nova guinada:
- Que-Quem? - Perguntei.
- Sou eu, Marcel, a Chiquinha…
[CONTINUA]
Fiquei em silêncio por um instante, olhando para o nada e ouvi a voz do Alfredinho:
- Marcel, está tudo bem? Aconteceu alguma coisa?
Eu o encarei e ouvi novamente a voz da Chiquinha:
- Marcel!? Alô! Alôôô!? Esse trem está funcionando não!
- Tô… Tô! - Falei, ao telefone, servindo a resposta para ambos.
- É muito bom ouvir a sua voz, sabia? - Disse a Chiquinha caprichando nas palavras.
- Nossa, que surpresa! Onde você está?
- Ué! Na casa do seu Tião, o seu padrinho. Estou ligando do celular dele, Marcel! - Ela disse e deu uma gostosa risada.
- É! Não! Claro! - Falei sem saber o que falar, mas extremamente feliz em ouvir a sua doce voz.
- Você está ocupado? Eu posso ligar depois e...
- Não! - Eu a interrompi e disse: - Só… estou surpreso mesmo. Onde você está morando? Preciso falar com você, te ver novamente.
- Eu cheguei aqui na fazenda agorinha há pouco. A dona Lena não quer me deixar sair.
- E faz bem! Fica aí que eu já estou indo te ver.
- Como?
- Estou indo te encontrar! Não sai daí.
- Mas vindo assim como? Hoje?
- É só o tempo de eu pegar um voo. Não… sai… daí! - Frisei.
A Lena assumiu a ligação. Pedi que cuidasse da Chiquinha até eu chegar e não a perdesse de vista. Pelo tom da sua voz, ela ficou muito feliz com a minha atitude e disse que daria “pouso” para elas. Só então soube que estavam a Chiquinha e sua mãe lá. Desligamos logo depois.
Olhei então para a Emanuelle e para o Alfredinho que ainda me encaravam curiosos. Ela, na verdade, parecia meio surpresa e incomodada. Expliquei que precisaria fazer uma viagem de última hora e perguntei se poderiam adiar os meus compromissos dos próximos sete dias. O Alfredinho concordou e pouco depois se retirou da sala de reuniões. Assim que ele saiu, tive a certeza de que a Emanuelle já havia entendido tudo e não gostou nem um pouco da novidade:
- Quem é ela?
Eu a encarei e embora não devesse satisfação da minha vida, falei:
- É a Chiquinha. Uma namorada que eu tive depois de você.
- Ah… - Resmungou brevemente e me encarou: - E você vai abandonar os seus compromissos por um rabo de saia que não vê sei lá há quanto tempo?
- Não estou abandonando nada! Só pedi para adiarem. Vou… Eu preciso me encontrar com ela e… Nem sei porque estamos tendo essa conversa. Eu vou e pronto!
Ela sentiu que o clima estava prestes a azedar e se calou. No final, me desejou uma boa viagem, que não me convenceu em nada e saiu. Fui até a secretária da editora que milagrosamente conseguiu me encaixar num voo até Cuiabá na manhã do dia seguinte. Aproveitei e pedi que me deixasse um carro reservado lá. Fui para casa e fiz uma mala rápida. Nesse momento, aliás, uma constatação incômoda me atingiu: “E se ela já tiver encontrado alguém?”, “E se ela estiver casada?”, “E se seu contato fora apenas uma formalidade?”. Jantei e praticamente não dormi à noite, tamanha a minha ansiedade.
Na manhã seguinte, tomei o meu café e segui para o aeroporto. O voo transcorreu sem quaisquer percalços. Peguei o carro que havia sido reservado e segui para a fazenda do meu padrinho, numa viagem que durou mais duas horas.
Cheguei e fui entrando pela porta da sala, usando uma chave que eu tinha. Não havia ninguém. Segui até a cozinha e nada também, mas ouvi sons de vozes vindo da área externa. Saí pela porta da cozinha e de longe vi a Lena com uma mulher ao seu lado, mas não era a Chiquinha. Estranhei aquilo e me aproximei em silêncio. A Lena quando me viu, abriu um sorrisão e ali, já próximo a elas, reconheci a mãe da Chiquinha ao seu lado, me olhando um pouco desconfiada. A desconfiança se transformou num belo sorriso quando ela notou que eu já sorria por ter encontrado a Chiquinha trepada no pé de jabuticaba. Brinquei:
- Aproveita que está aí em cima e pega um pouco para mim também!
- Marcel!?
- Achou mesmo que eu não viria?
- Marcel! - Gritou já descendo pelos galhos da árvore como se fosse um Sagui.
Mas a afobação terminou quando ela chegou ao chão. Ela parou ainda me olhando e esticou a mão, talvez receosa de como eu iria recebê-la. Eu olhei para a sua mão e depois para os seus olhos, e disse:
- Sério!? Depois desse tempo todo vai ser só um aperto de mão?
Ela deu um sorriso tímido e já notei as duas mulheres se afastando para nos dar um pouco de privacidade. A Chiquinha então falou:
- Ué! E o que mais você poderia querer de mim, moço?
- Eu quero tudo, mas podemos começar por um abraço. - Falei enquanto me aproximava dela.
Ela me olhava com um sorriso nos lábios e então eu a puxei para mim, abraçando-a forte, bem apertado:
- Ui! Que abraço bom… - Ela ronronou no meu ouvido.
E realmente estava muito bom, tanto que eu não a soltava de jeito algum. Só afrouxei o abraço quando ela começou a rir, porque fiquei curioso e a encarei:
- O que?
- Você vai me amassar inteirinha, Marcel!
Olhei para a sua roupa e depois ao nosso redor, para ver se as mulheres já haviam realmente se afastado e falei:
- Se preferir, eu posso tirar a sua roupa para não amassar…
- Olha… A ideia até que não é ruim!?
Começamos a rir feito duas crianças e só então um primeiro beijo aconteceu. Eu realmente estava com muita saudade dela e fiquei muito feliz em ver que era recíproco. Assim que os nossos lábios se separaram, falei:
- A gente precisa conversar.
- Ah… - Ela resmungou, ficando triste.
- Fica calma. Eu só quero entender algumas coisas, saber mais de você, mas te garanto que, no que depender de mim, a gente não vai se desgrudar mais.
Ela arregalou aqueles lindos olhos, deu uma gostosa risada e brincou:
- Isso é quase um pedido de casamento, hein?
Eu fiquei em silêncio por um instante, franzi a testa em seguida e falei:
- É mesmo, não é?
Agora além de olhos arregalados, ela também ficou boquiaberta e pálida. Acabei rindo da sua cara e disse:
- Primeiro, a gente precisa namorar, noivar, para depois casar. Sou um homem das antigas.
- Tá bom. Também sou das antigas. Sexo só depois do casamento…
Voltamos a rir e aproveitando a sombra da jabuticabeira, sentei-me no chão, encostando-me no tronco e dei dois tapinhas no meu colo, oferecendo-o. Ela não se fez de rogada e sentou de imediato. Ali pudemos matar a saudade e saber um pouco do que aconteceu na vida de cada um de nós. A minha, eu resumi em poucos minutos, mas o suficiente para ela sorrir, orgulhosa:
- Eu sei! Já vi um livro seu lá em Natividade. Cabecinha suja, hein, mocinho! - Seu uma sonora risada, falando depois: - Até entrevista sua, eu já vi. Mostrei para as meninas lá na escola e quase bati numa que duvidou que eu tinha te namorado.
- Olha que abusada!
- E num é!? Sorte dela que a dona Cinara chegou e apartou, senão eu tinha descido a mão nela.
Após isso, começamos a falar sobre a vida dela e já na primeira questão que me incomodava desde que ela foi embora, a sua insinuação no bilhetinho sobre o Zé Miguel ter abusado dela. Ela, naturalmente, ficou constrangida num primeiro momento, mas, confiando em mim, se abriu:
- Pois é… Quando o Zé tirou a minha mãe e eu lá da casa da don’Aninha, ele… é… ele… - Calou-se por um momento, respirando fundo, enquanto olhava à sua frente, sem coragem de me encarar: - Ele fazia comigo também! Eu ainda era meio bobinha e como já tinha sido puta, não achei que seria correto negar. Então, ele fazia com a minha mãe e comigo quando ela não estava por perto.
- Mas que canalha! Aonde eu encontro ele? Quero ter um ou dois dedinhos de prosa com esse miserável!
- Precisa se incomodar não. Conhece aquele ditado “Deus escreve certo, mesmo por linhas tortas”? Então... O bocó do Zé tentou se engraçar com a mulher de um roceiro lá para as bandas de Natividade e… bem… o homem lá não era de muita conversa e passou uma peixeira no Zé.
- Matou o Zé!?
- Matou!? Ele estripou e depois esquartejou o Zé! Saiu até na TV. Aquele lá já deve ter prestando contas para o Altíssimo e agora deve estar ardendo no inferno. - Disse, mas depois ainda se criticou: - Eu até espero que não. Eu rezo para que Deus possa dar um puxão de orelha nele, mas depois lhe dê paz. Ele era mais bom do que ruim, Marcel. Se não fosse ele, talvez eu e a minha mãe ainda estaríamos lá puteiro, e ele, no final das contas, tratava bem a gente.
Eu a escutava meio consternado, acariciando os seus cabelos. Naquele momento, preferi não seguir com essa conversa porque notei que a entristecia. Ela deu um sorriso e perguntou:
- É estaríamos ou estivéssemos? Agora fiquei em dúvida.
Eu a encarei surpreso com a pergunta bastante profunda do tempo verbal na língua portuguesa e dei a minha opinião:
- Eu usaria estivéssemos, mas acho que as duas formas são corretas.
- Ah tá…
- Por falar nisso, notei que você está falando de uma forma bem mais correta, inclusive usando termos bem mais elaborados…
- Posso não?
- Pode demais! Eu só estou curioso.
- Ora, meu caro… - Empinou a bunda, cruzou uma perna sobre a outra e repousou as mãos sobre o joelho superior: - Eu agora sou uma professora. Estou no terceiro ano do curso de Pedagogia. - Então, ela deu uma relaxa e sorriu: - Tá! Sou quase uma professora, ainda não estou formada.
- Como é que é?
- Sim, senhor! Depois que a gente chegou no sítio lá em Natividade, coisa de dois meses depois, teve esse problema com o Zé e ficamos só eu e mamãe. A gente então se mudou para a cidade e…
Ela se calou e coçou os olhos, respirando profundamente enquanto pensava em algo. Eu não conseguia esperar:
- E?
- A gente tinha que comer, pagar as contas… Então, eu… eu tive que trabalhar, fazer o que eu sabia fazer…
Nesse momento, ela desceu do meu colo e se sentou ao meu lado, certamente esperando que eu a rejeitaria. O estranho de toda a situação é que eu não conseguia vê-la como errada nesse contexto, pois era a única forma dela se manter e a própria mãe. Então, eu a peguei pela cintura e a puxei para o meu colo novamente. Ela recusou:
- Não precisa. Tá tudo bem.
- Fiquei tempo demais longe de você. Vem aqui já, sua caboclinha teimosa.
Ela me encarou e sorriu, aceitando se sentar no meu colo novamente. Continuou então falando:
- Por quase um ano eu… fiz. Depois minha mãe conseguiu um emprego de auxiliar de cozinha e eu de serviçal numa escola. Aí eu parei! Eu só achava que não precisava mais daquilo, então parei. A dona Cinara, a diretora da escola, me orientou, me ensinou, ajudou para caramba mesmo, e fiz supletivo rapidinho. Daí prestei vestibular, passei e estou estudando.
Ela se calou novamente e eu falei o que estava sentindo:
- Parabéns! Estou orgulhoso de você.
- De eu ter voltado a ser puta?
- Não, sua boba, por você ter tomado as rédeas da sua vida e por ter domado o seu destino. Ninguém te segura mais, Manô.
Ela me encarou e deu uma risada:
- Você nunca me chamou de Manô…
- Verdade! Chiquinha, minha Chiquinha.
Ela então se virou e me beijou, perguntando após:
- Então… você não está bravo comigo?
- Nem um pouco. Estou muito feliz de ter te reencontrado e… Aliás, você é que voltou. Por que somente não me ligou? Eu teria ido até você.
- A Don’Aninha morreu e deixou a casa dela para a minha mãe. Fiquei sabendo depois que elas eram meio parentes, primas de segundo ou terceiro grau, sei lá, isso eu não entendi direito. Quando o vizinho do terreno ao lado soube disso, fuçou um tanto até encontrar a gente lá em Natividade. Daí viemos aqui para resolver os papéis. Claro que eu vim perguntar de você, né? Então, a Lena me contou que você foi atrás de mim e achou o meu bilhetinho.
- Foi. A gente também procurou vocês, muito, mas eu não consegui… - Falei com a voz um pouco embargada.
Ela se emocionou e me beijou. Depois falou:
- Tá tudo bem. Foi bom também! Eu acabei… como você disse mesmo? Tomei as rédeas da minha vida e domei o meu destino. - Ela deu uma risada graciosa e falou: - Coisa bonita demais!
- Você vai ter que voltar?
- Ah, eu quero terminar a minha faculdade. A dona Selma até faz força que eu faça concurso para dar aula na escola dela. Eu queria…
Nesse momento, entendi que os nossos caminhos poderiam se afastar novamente e eu não duvido que em pouco tempo alguém conseguiria ver nos olhos dela tudo o que eu via naquele momento. Não era justo afastá-la de seus sonhos, mas também não era justo deixar que as circunstâncias nos afastassem novamente. Ela agora havia se recostado em meu peito, curtindo um mormaço de fim de tarde e decidi tomar uma atitude, talvez a primeira verdadeira em minha vida:
- Casa comigo?
- Oi!? - Ela resmungou, sem sair do lugar.
- Casa comigo?
Ela se levantou e me encarou:
- Acho que não ouvi direito…
- Casa… comigo! - Falei, olhando no fundo de seus lindos olhos, negros como a noite, mas agora iluminados como o dia e transbordando de felicidade.
- Não manga de mim, Marcel!
- Levanta! - Pedi.
Ela se levantou, ficando de pé ao meu lado e eu me ajoelhei a sua frente, segurando em sua mão e repeti:
- Manoela Francisca da Silva, a minha Chiquinha, você gostaria de partilhar a sua vida comigo e de me dar a chance de partilhar a minha com você…
- Con-contigo… - Ela resmungou, gaguejando.
- Mas já tá me corrigindo!? Que abusada! - Falei, rindo e continuei: - Casa comigo? Senti muito a sua falta, de uma forma como nunca senti de ninguém e eu não quero ficar longe de você novamente. Eu quero que você seja a minha esposa.
- Ai, Jesuis! Nossa Senhora! - Vi algumas lágrimas escorrerem dos seus olhos: - Eu… Eu… quero demais! Mas e… e… e…
- Eu ajudo você a se formar. Você vai terminar a sua faculdade.
- Eu quero…
- Eu vou te ajudar a se formar. Já falei.
- Eu quero casar… com você.
Levantei-me e agora sim a tomei em meus braços. Nossos lábios pareciam não querer mais se desgrudarem, mas após alguns minutos do beijo mais intenso que já troquei em minha vida, falei:
- Ainda falta algo! Vem comigo.
- Mas para onde?
- Só vem comigo!
Segurei em sua mão e praticamente a arrastei. Passamos pela porta da cozinha bem no momento em que a Lena saia para nos chamar para um café, mas recusei, dizendo que precisava fazer algo com urgência. Entramos no meu carro e segui direto para a cidade:
- Onde você está indo, Marcel?
- Relaxa! Você vai gostar.
Assim que entramos na cidade, eu parei num posto de gasolina e perguntei para o frentista onde fica a joalheria mais próxima. Ele gargalhou e falou que não tinha nada disso naquela cidade. Bem quando eu estava saindo, o seu colega, que havia ouvido a conversa, se aproximou e falou que havia um ourives, perto da matriz da cidade. Segui para lá e tive dificuldades para encontrá-lo, pois ele não tinha uma loja propriamente dita, apenas atendendo seus clientes na sua própria casa e somente com pré-indicação de outro cliente:
- Mas, seu Geraldo, eu quero comprar um par de alianças.
- Mas eu nem te conheço. - Disse um senhorzinho de meia idade, olhando por uma janelinha da porta de sua casa.
- Mas como vai me conhecer se o senhor nem deixa eu me apresentar?
- Boa pergunta…
A Chiquinha me encarava surpresa, mas feliz, e ainda tentou intermediar:
- Tá tudo bem, amorzinho. A gente compra outro dia…
- Seu Geraldo, acabei de pedi-la em casamento. Ajuda um pouco, por favor. - Falei.
Ele então olhou para a Chiquinha ao meu lado e talvez vendo a felicidade estampada no rosto dela, agora permeada por um certo incômodo, aceitou nos receber. Entramos na sala de sua casa e ele chamou a esposa, uma senhorinha também de meia idade, avisando-a que iria atender um jovem casal. Ela se aproximou e perguntou o óbvio:
- Vocês vão se casar?
Respondi um “sim”, objetivo, claro, imediato e a Chiquinha não precisou falar nada, pois o sorriso em seu rosto falava mais que mil palavras. Ela abraçou a Chiquinha, dando-lhe um beijo no rosto e dizendo um simples “Que Deus abençoe!”, repetindo o gesto comigo. Retornou então para dentro de sua casa, enquanto o seu Geraldo se aproximava com uma maleta, que abriu e exibiu os modelos que possuía, tanto os disponíveis como os para encomenda. A Chiquinha não quis escolher após ver os preços dos produtos, então eu escolhi um par de ouro dourado, simples para mim e com alguns brilhantes para ela. O seu Geraldo então mediu os nossos dedos e falou:
- Acho que tenho essas disponíveis para pronta entrega. Espera um minuto.
Sua esposa retornou com uma bandeja com xícaras e nos serviu um café. Conversando um pouco conosco. Resumi a nossa história enquanto bebíamos, falando do desencontro e do nosso reencontro agora, ela sorriu e disse:
- Quando Deus quer, o homem não separa, fio! Dá pra ver que vocês foram feitos um para o outro. Olha só o jeitinho como ela te vê, olha.
Olhei mesmo e sorri para a Chiquinha que não tirava os olhos de mim. O seu Geraldo retornou com o par de alianças e pediu para experimentarmos. Fiz questão de colocar a aliança no dedo anelar direito da Chiquinha que começou a chorar novamente, emocionada com o gesto que certamente não imaginou quando veio acompanhar a mãe. Ela fez o mesmo comigo e confesso, só não chorei porque sou um machista burro, porque vontade eu tive. Apesar de desconfiando para atender, para receber o homem era mais que despachado. Paguei no cartão de crédito e nos despedimos deles.
Paramos em uma lanchonete e a Chiquinha não cabia em si de tanta alegria. Ela olhava para a aliança e para mim, voltava a olhar para a aliança e de novo para mim. Fez isso sei lá quantas vezes, até que eu coloquei a minha mão sobre a dela e falei:
- É verdade sim! Pode acreditar.
- Eita! Mas é linda demais! - Falou, olhando novamente para a sua aliança.
- Não é nada comparada a você.
Ela então me olhou e novamente nos beijamos. Tomamos um refrigerante e comemos uma porção de batatas palito. Depois retornamos para a fazenda do meu padrinho. Todos estavam na sala, nos aguardando para jantar. A Chiquinha entrou “andando duro”, com passinhos curtos, segurando uma vontade imensa de sorrir e de chorar. Foi até a sua mãe e as duas ficaram se encarando por alguns segundos em silêncio:
- O que foi, fia? - Sua mãe perguntou.
A Chiquinha não conseguia falar e logo uma lágrima desceu por sua face. Antes que a sua mãe perguntasse novamente o que estava acontecendo, ela levantou a mão direita, exibindo a sua aliança. Ela abriu a boca, arregalou os olhos e a Lena já começou a chorar. O meu tio, sem nada entender, olhou para mim e eu exibi a minha aliança para ele:
- Ah vá! É sério!? Cês vão casar? - Perguntou, também surpreso.
- Vamos… Ô se vamos, né não, Chiquinha!? - Perguntei.
Ela me olhou com os olhos cheios de lágrimas, mas se virou para a mãe novamente:
- Eu vou casar, mãe.
As duas se abraçaram e começaram a chorar. A Lena já chorava num canto há algum tempo e veio me abraçar. O meu padrinho não sabia o que fazer para nos agradar, mas teve uma ideia: fazer um churrasco para todos os conhecidos próximos já no próximo final de semana. A minha vida parecia ter encontrado um sentido, mas eu sabia bem que uma certa pessoa também sentiria os efeitos da minha decisão e talvez não ficasse tão feliz como estávamos.
[CONTINUA]
OS NOMES UTILIZADOS NESTE CONTO SÃO FICTÍCIOS, MAS OS FATOS MENCIONADOS E EVENTUAIS SEMELHANÇAS COM A VIDA REAL PODEM NÃO SER MERA COINCIDÊNCIA.
FICA PROIBIDA A CÓPIA, REPRODUÇÃO E/OU EXIBIÇÃO FORA DO “CASA DOS CONTOS” SEM A EXPRESSA PERMISSÃO DOS AUTORES, SOB AS PENAS DA LEI.