Nossa como posso estar exausto de não ter tido nada para fazer, ou sair, queria ter indo me distrair, mas não fui. Dormir, acordei, tomei café-da-manhã, ajudei a arrumar a casa, almocei, peguei minha irmã na escola, fiquei no celular assistindo tantas bobagens, assistir um filme ruim e brega, que decepção dos filmes atuais, pensei em ler mais uma vez um daqueles livros da estante, mas já os conheço de cabo a rabo. Então deito novamente dormir, para amanhã começar tudo de novo, e de novo e de novo [...]
Por isso, hoje, foi mais um dia como outro qualquer, sem muitas mudanças. Nunca percebi minha vida tão monótona. Eu poderia baixar aquele aplicativo que o Pablo tinha me indicado numa conversa sobre conhecer carinhas novos e interessantes, acho que ele não sabe o que realmente torna alguém interessante para mim. Como é mesmo seu nome? Grindr!
Fui até a loja de aplicativos do celular e busquei o nome, nossa que logo estranha, baixei. Mas Alex, não vai sair por aí dando para qualquer um. Vamos criar a conta. Hummm... Que nome colocar? Já sei, “Anjo da Noite”, não vou usar meu nome verdadeiro, lembrando que preciso de anonimato, pois, minha imagem pública é importante. Idade? 24 anos. Posição? Passivo. Altura, peso, cor, vacinas? Nossa isso realmente é um questionário, estou pensando se tenho que responder isso tudo. Contudo, já instalei quero ver no que vai dar. Tenho 170 cm e 55 kg, Porte Físico... hummm... acho que magro de cor parda. Parece que estou respondendo uma entrevista ao IBGE. Como foto usarei uma da festa do Halloween passado, que festa doida foi aquela, fui de um anjo quase nu de costas, de sunga e asas com uma máscara vintage.
Mas este perfil precisa de uma descrição. Qual colocar? Acho que já sei, vamos ver: “De dia de um jeito, a noite de outro”. Achei engraçado porque essa fala da Fiona resumiu bem. Com o perfil finalizado, surgiram algumas mensagens monótonas e umas imagens pornográficas de desconhecidos. Contudo, não surtiram efeito nenhum em mim.
Não estou atrás dessas conversas fúteis ou encontros casuais sem nada de diferente. Até porque se fosse por isso não precisaria desse aplicativo, poderia procurar numa boate ou esquina qualquer. Estou procurando por sensações novas e pessoas diferenciadas.
E já entediado com aquilo, fui para o instagram, vê as novidades nada de muita importância e os reels uns tantos engraçados para me distrair. Olho pela janela, e uma estrela passou tão rápido, eu costumava olhar as estrelas à noite no sítio da minha avó Idalina. Até que um dia ela não acordou mais, mas ela sempre dizia que as estrelas podem se comover com o sofrimento de um ser humano e por chorar tanto ficam pesadas e caem do céu. E dizia ainda que quando elas caem a pessoa a que viu poderia fazer um pedido.
Essa lembrança é como um nó no meu peito. Era que eu recorria quando estava triste, com medo ou com raiva, sempre tinha uma palavra sábia ou uma das suas mágicas para aliviar os corações. Quando a perdi sentir meu chão desabar e nunca mais fui o mesmo. Acho que minha inocência foi junto com ela,
Isso parece tão absurdo para mim, mas na hora em que via estrela, lhe pedia uma aventura de amor. Poderia ter pedido sorte de um bom trabalho ou dinheiro. Mesmo sabendo que isso seria apenas uma tolice de criança. O silêncio é quebrado pelo barulho vibrante do meu celular. Mais uma notificação daquele aplicativo, não quero olhar, só vou perder o meu tempo. Mas vou ver pelo menos quem a enviou. Estrela, estrela o que você me arrumou.
Seu perfil não havia imagem, apenas um emblema de um lobo prata, com o nome de “Lobo Solitário”. Que nome de perfil estranho, mas quem vai julgar, se for falar pelo meu. Minha curiosidade me pegou, abrir a caixa de mensagens, nada de “oi, boa noite ou aceita nudes”, apenas uma imagem. Um convite, estranho e suspeito demais, para uma festa à fantasia, com o local, hora e senha única. Pareceu algo bem particular, deve ser alguma orgia maluca entre pessoas anônimas. Depois da imagem, vinha uma mensagem: “Estarei lhe aguardando, Anjo”.
Aquilo me soou como uma ordem, eu não suporto que me deem ordens, que pretencioso. Iria responder, mas achei que o silêncio seria mais adequado para demonstrar meu “tamanho” contentamento em relação a sua mensagem. A festa seria na terça-feira, hoje já sendo segunda-feira. Será que vou? No convite é estabelecido uma regra de ser terminantemente proibida o uso de câmeras ou compartilhamento de localização nas redes sociais, cabendo processos judiciais.
Que tipo de festa será essa? Não sei, mas estou atiçado para ir. Olho pela janela e o dia já está nascendo. Ou não, não, então a festa é hoje. Um certo desespero passa pelo meu corpo inteiro. Mando mensagem para a Luiza, uma das minhas amigas e cúmplices. O plano seria ela ligar para mim e perguntar se eu poderia ir para uma social na casa dela com as outras meninas e colocaria na função viva voz para minha mãe escutar.
Me levantei, desci as escadas, e fui até a cozinha. Não dormi nada na noite passada, culpa do Pablo que influenciou a usar esse app. Logo eu, uma santa, quase um anjo de pureza, me colocando assim a exposição. Na cozinha, minha mãe, Dona Maria Lúcia, já acordada antes do sol, preparava o café-da-manhã de todos para ir trabalhar.
Ela trabalha no grande Hospital João Targino de Alcântara, como serviços gerais sabe o que tem em cada recanto daquele lugar. Desde que me formei em Psicologia, ela tenta conseguir uma vaga para mim. Sei que os donos pertencem a uma das famílias mais imponentes da cidade.
Minha mãe me conhecendo do jeito que conhece, começa a me encarar até soltar suas alfinetadas maternas.
Então ela começa: - Não acredito que você não dormiu esta noite de novo, olha esses seus olhos vermelhos.
Eu lhe respondo: - Perdi o sono. Não seria tonto o suficiente para retrucar, seria perda de tempo, ela me conhece demais.
- Se você não ficasse no celular até tarde, não perderia seu sono. Tudo dito ao seu tom maternal de “sem nenhuma paciência” logo tão cedo pela manhã, um charme, mas nossa isso é tão clichê, pobre do celular, tudo será sempre sua culpa.
- Mãe, cadê o papai? Pergunto para mudar de assunto, pois, sei que se não cortasse isso iria longe demais e estou sem saco para essas discussões.
- Ele saiu mais cedo, precisou ir, pois, tiveram imprevistos na obra. Meu pai, Seu João Carlos é mestre de obras de uma empreiteira que atua na construção de prédios e grandes edifícios comerciais e residenciais.
- E a Alice, minha querida, dócil e delicada irmãzinha não vai à escola hoje?
- Sim, por falar nisso vá acorda-la e a leve, já estou atrasada.
Pego meu celular e peço urgência a Luiza pela ligação. Lembro uma vez que fui sair com um carinha na praia usamos esta mesma estratégia, so que minha irmã ficou ligando para mim perguntando onde estava seu prendedor de cabelo preferido, estando este no meu cabelo, não dizem que os irmãos tem que compartilhar as coisas, foi a primeira que achei. A Luiza atendia e dizia que eu estava no banheiro, mas na verdade, eu estava nos amassos com o gostosão da praia, esse ficou sendo seu apelido, não costumo a guardar nomes de ficantes.
Essas lembranças precisam invadir minha mente agora, justamente no momento em que preciso passar credibilidade e confiança em minha magnifica atuação.
Um minuto depois meu celular toca. É agora, que se abram as cortinas no teatro.
Luiza: - Amigo, vou fazer uma social aqui em casa lá pelas 20 horas tu pode vim, vamos ter uma noite legal e as outras já confirmaram.
Eu falo na maior cara de pau do mundo e tentando não cair na risada: - Amiga, não sei, pode ficar um pouco tarde, mas vou ver aqui e vou falar com meus pais. Falei isso olhando de lado para minha mãe que estava de frente para a pia da cozinha.
A Luiza já sendo uma conhecedora do funcionamento de planos anteriores, insiste: - Vai amigo, só vai faltar você, e temos muito para conversar. Nisso minha mãe se vira para mim com aquele olhar clínico de deboche me analisando e buscando burlar de alguma forma falha em minha ridícula atuação.
Minha mãe com toda calma, disse: - Pode ir, mas que não precisava dessa algazarra todinha. Eu e minha amiga, nós nos entregamos e começamos a rir. Minha mãe deu de ombros e me mandou acordar minha irmã.
Aí me lembrei que tinha que cutucar a onça com vara curta. Parecia uma expedição no quarto dela. Sabe uma zona, uma bagunça de uma adolescente em estado de fúria, com hormônios a flor da pele. Era assim que estava aquele quarto, eu não conseguia nem distinguir a cor que estava aquela parede.
Peguei a cortina da janela e abrir ligeiramente, com um “bom dia” bem alto e espaçoso. Aquilo iria enfurecera-la, mas já estou calejado de chutes em tentar acordar do modo bonzinho. Ela não falou nada, so me olhou com aquele olhar de onça. Eu lhe disse: - Minha querida irmãzinha, é hora de acordar, o sol já anuncia sua saída para seus estudos.
Minha irmã grita de um jeito que acordou até quem não tinha acordado na rua. E veio até mim avançando, eu não sabia se corria ou se ria muito da sua cara. Minha mãe escutando seus rosnados e agressões físicas, simplesmente diz: - Vocês não crescem mesmo, não é? Vamos eu estou atrasada e não quero sair para vocês colocarem fogo na casa.
Como se a culpa fosse minha. Eu nunca faço nada, bem as vezes é hilário ver a cara da Alice resmunando de raiva. Mas ela também não é nenhuma santa. Então seguimos com a rotina, ela tomou seu café-da-manhã e organizou, “virou gente”, e a levei a escola, nada muito longe daqui de casa. Aproveitei e fui dar uma volta no bairro de bicicleta. Estava vestido para tal, gosto muito dessa sensação de ar puro e liberdade.
Quando dou por mim, percebo que me distanciei de casa, e que deixei a casa aberta sem nenhuma tranca, pois, pensava que logo voltaria. Meu pai me mataria se soubesse. Então voltei numa velocidade que não percebi que entrei numa via que era atalho para os carros quando o movimento da estrada está complexo. E assim fui, nem percebi quando vi um carro preto me fecha, desvio, mas acabo caindo no meio da via.
Nossa que sorte, que estava com uma proteção das joelheiras e cotoveleiras, se não o estrago tinha sido pior. Contudo tinha arranhado minha perna, os carros pararam para que eu pudesse me levantar. Então percebo que o carro preto parou, e alguém estava vindo até mim.
O desconhecido viu que eu estava praticamente no chão e com a bicicleta por cima de mim. Ele pergunta com uma voz tão distante e suave ao mesmo tempo: - Precisa de ajuda?
Eu lhe respondo de modo ainda alucinado pela queda: - Não precisa. Sinto que até fui rude, mas aquela situação e todos olhando me fez entrar em estado de acuação.
Mas ele vendo minha situação, ignorou minha resposta e levantou a bicicleta. E me deu a mão. Não conseguia ver seu rosto, pelo encandeamento do sol nos retrovisores dos outros carros, quem mora nesta cidade sabe que o sol não brinca em serviço.
Me apoiei em sua mão, quase levei um choque, uma sensação estranha de estranhamento misturada a um reconhecimento. Agora que olho para sua face, o vejo quase pareço um maluco olhando fixamente. Mas eu não entendia o porquê daquela reação minha.
Era apenas um desconhecido, mais um cara, meio playboy, com jeito de metido com aqueles óculos escuros na cabeça, com olhos verdes de ausência e profundidade, sua roupa parecia estar vindo da praia, seu porte atlético, confesso que devo ter achado interessante. E com minha distração acabei me metendo no meio do seu caminho. Sua decência de parar e me ajudar surpreenderam-me, nem todo motorista ajuda um ciclista, e ainda mais quando o erro foi meu.
Quando voltei a mim, levanto cambaleando, resmungando: - Não precisava se preocupar, eu sei que a culpa foi minha. Uma senhora chega mais perto e me convida para ficar na sua calçada para lavar o arranhão e eu vou. Esse homem fica parado na calçada olhando para mim, parece estar analisando o animal que entrou na sua frente e foi abatido, se volta para trás, vai ao seu carro e segue seu rumo.
Aquela senhora bondosa pega água e eu começo a lavar a perna, não tinha sido um arranhão tão grande. Ela pergunta: - Nossa que sinal grande você tem.
Lhe respondo: - Sim, é um sinal de nascença. Mas digo isso a ela até com tom de orgulho. Acho um charme meu.
Coloquei um curativo, agradeci aquela senhora, mas antes de ir, ela pegou em minha mão e disse que minha vida iria ficar de cabeça para baixo, e me deu um amuleto, que ela chamou de guia. Seu nome era Maria de Oxalá, Mãe de Santo, e que o dia de hoje não foi e nem será à toa. E que deveria voltar a sua casa, seu terreiro, tinha algo para mim. Mas só podia me entregar depois que eu cumprisse o que deveria fazer, não por mim, mas pelos outros.
Aquilo mexeu comigo de um jeito inexplicável, confirmei que voltaria, depois peguei a bicicleta e fui para casa. Nossa são apenas 08 horas da manhã e um turbilhão de coisas já me pegaram de surpresa.
Ainda bem que o arranhão não vai me impossibilitar de ir à festa. E que festa será essa? Essa festa me faz ter um calafrio. Depois de chegar em casa peguei o celular e fiquei na espera de alguma mensagem daquele perfil, mas o “Lobo Solitário” não deu às caras. Mas fiquei olhando aquele convite, tentando imaginar com qual fantasia iria.
Vou usar a mesma fantasia do perfil, assim o dono da festa me reconhecerá, não que eu queira. Mas quero usa-la, pois, ficou muito bom no meu corpo. E hoje vou extravasar um pouco essa leoa que mora dentro de mim.
Esquentei alguma coisa para almoçar, algo bem leve, para caso haja algo a mais na festa. Sempre se vive preparado. Como vou estar mascarado e sem risco de compartilhamentos nas redes, estarei livre. Mas estou louco de curiosidade para ver esse lobo, se o convite é seu então, desejo apreciar nosso anfitrião. Será algum riquinho mimado que ama uma orgia. Bem do estereótipo de um Dorian Grey, um narcisista, egocêntrico e com ejaculação precoce.
Estaria eu já fazendo uma análise clínica do nosso lobo? Não, longe de mim. Mas se eu fosse um psicanalista já teria pulado fora só de receber o convite. Até porque qualquer profissional que prezasse pelo seu bem-estar, lidasse com a mente humana e soubesse dos seus vieses não se arriscaria assim ou se meteria nessas ideias estapafúrdias.
Agora me lembro da época da faculdade, adorava estudar a mente dos grandes criminosos, dos seriais killers, e alguns filmes de suspense e terror psicológico para saber como funciona basicamente a mente desajustada de um ser humano. E olha eu aqui pensando em me preparar para algo tão mórbido como um convite de um desconhecido que usa como perfil um emblema prateado de lobo.
A tarde foi passando e aquele emblema prata não saia da minha cabeça. Quando o sol ia se pondo, comecei a me organizar. Aquele banho reforçado, uma bela ducha e muita espuma, cabelo lavado e hidratado, secando ao natural.
Enquanto o cabelo secava fui a maquiagem, um tom leve e jovial, até porque estamos falando de um anjo, e também porque estarei de máscara. Colocarei um batom preto, quero misturar personagens algo que dê a impressão do Cisne Negro com a figura angelical.
Com meu cabelo seco, começo a fazer o penteado, aproveitando que ele é grande, bem parecido com o do filme, quero está para matar. Com a fantasia no corpo me olho no espelho parecia que estava me rastejando como uma serpente para caçar minha presa. Coloco um casaco grande da minha mãe por cima, se ela perguntar por ele dou meu jeito de justificar. Ninguém da rua deve me ver assim. A máscara coloco quando chegar lá.
Ainda bem que a casa está vazia, e que minha irmãzinha ficou na casa da amiguinha, quando meu pai vier do trabalho passa por lá e pega ela. Tenho de aproveitar que são 18 horas e vou para casa da Luiza. Já imaginou se meu pai me vê assim é capaz dele ter um treco. Peço uma viagem por aplicativo com meu corpo tremendo, isso tudo por uma festa?
O motorista chegou e fechei a casa, entrei rapidamente e segui viagem. Eu percebia os olhares do motorista para mim. Não sei o que dava em mim quando me fantasiava, mas parecia ligar uma chave, por pura provocação e implicância retribuía os olhares, isso era divertido. Um bando de macho contido, pense numa espécie idiota, mas engraçada.
Eu tinha um vizinho que vivia me observando a todo instante, parece que marcava a hora que eu saia e que voltava. Eu percebia seus olhares e como sempre fui da pá virada as vezes dava aquela olhada só para o deixar nervoso, coitado filho de uma mulher terrível e mal-amada.
Cheguei ao condomínio da minha amiga, e ela vem me receber. Ela me olha de cabo a rabo e diz: - Eita que ela mata um hoje. E rimos muito. Conversamos sobre aonde eu iria, mas lhe disse que não poderia contar, pois o convite era restrito.
Contei sobre o meu pequeno incidente de manhã e ela ficou zombando da minha cara, como de costume e falamos sobre o cara que me ajudou.
Ela disse: - Nossa pareceu aquelas cenas dos doramas. Quando for o casamento me avisa, tenho que alugar o vestido de madrinha.
Eu respondi de forma que quase engasguei: - My god, nunca, jamais, isola isso. E rimos mais ainda, nossas conversas são assim, entre loucuras, delírios e as vezes crises existenciais sem perspectiva de vida.
Já delirando junto, eu disse: - Nada, você sabe o que eu acho desses mauricinhos que já tem a vida ganha e que se pega um gay é para estar se gabando com seus amigos. Mesmo que ele fosse gostosinho e tal.
Ela rebate: - Sua louca, para mais ou menos, uma noite não faz mal, pois eu pego e depois amasso e jogo fora.
- Olha aí, com quem aprendi a ser tão quenga.
- E se acontecer algo comigo?
- Você morrer feliz.
- Eu venho puxar o teu pé. A Luiza tem pavor de fantasmas e coisas de terror. E desconversa, dizendo: - Pois, antes de morrer quero viver e pegar quantos caras eu quiser.
Luiza não se contenta e mostra o carinha que está conversando, um gostoso, diga-se a verdade, minha amiga tem um gosto para machos refinado, mas só para a estética e a financeira, pois, de caráter só um ou dois valem algo mais. Mas só fica com eles se for com garantias. O que chamamos de garantias é o valor que estar disposto a pagar num bom restaurante ou num motel, para nosso bel prazer.
Eu vejo a hora e digo: - É chegada a hora, minha cara, vou até essa festa e ver o que me aguarda. Falo isso lembrando do que a Mãe Maria me avisou mais cedo.
Peço uma nova viagem agora para esse endereço que fica perto de outra cidade, lá se vai o dinheiro mensal, ser pobre dá nisso. Mas tudo para um bem maior, esse pensamento carregado em ironia só me faz rir ainda mais. O motorista chega e tem um susto, vejo um sorriso intrigado de canto da sua boca e seus olhos de estranhamento.
Minha amiga louca grita: - Arrasa, usa camisinha que eu não quero ser madrinha ainda. Isso é tão típico de nossa personalidade deturpada. Quantas loucuras já vivemos e como nos conhecemos a tanto tempo.
Dentro do carro corre um ar gelado tão bom, ao seguir pelas ruas enquanto a noite vai ficando mais densa. São as luzes dos postes e dos faróis pela BR que dão o clarão dentro do carro.
Não queria provocar o motorista, mas ele resolver quebrar o silêncio. Ao falar: - Sair assim, só pode ser uma festa. Sentir que ele queria alguma coisa, ele não era feio, mas não era o meu gosto. Não ia acontecer nada, mas a chavezinha ligou de novo.
O que fazer se gosto dessa brincadeira, da arte da sedução e manipular minhas presas. Então pergunto com uma voz meiga: - Posso ir para frente, estou me sentindo sozinha aqui atrás.
Ele reponde: - Claro, princesa. Nossa isso deu um nojo, quase vomito, mas a mosca estava quase na minha teia.
Eu só queria rir muito da cara desse paspalho, nossa se ele soubesse o tamanho do mico que ele tá pagando por falar assim.
Ele dirigindo com uma mão só. Deixando amostra sua fivela do cinto aberta e me convidando a se aproximar com olhar. Eu fui bem devagar, para chegar tão perto, levantar a cabeça e dizer: - Nossa aqui faz mais frio, vou voltar lá para trás.
Nossa isso foi tão ridículo quase me acabo de rir por dentro. Por fora mantive aquele ar de tranquilidade e displicência. A viagem estando para acabar, então coloco a máscara, e digo ao motorista: - Tchau e obrigado pela viagem.
Saiu do carro e me deparo com uma casa, não, uma casa não, uma mansão. Essa mansão só é alugada por pessoas de renome. Já vi algumas matérias e imagens no instagram. Engraçado que a imprensa não esteja por perto ou que esse tipo de convite não tenha se espalhado.
Procuro uma campainha alguma coisa, não ninguém na porta aguardando que loucura é essa? Não vejo nenhuma luz nenhuma na casa, nenhum som. Será que levei um trote, não, se for isso, vou agora para a pista e me jogo na frente dos carros. Olhe confiar em macho é só no que dá. Mas mais estúpido e muito otário fui eu que aceitou qualquer conversinha de um desconhecido qualquer.
E ainda mais pode ser uma tentativa de assalto ou outra coisa pior. É melhor ir embora, antes que o trote vire um funeral, bem que não seria uma má ideia. Lembro da ideia de atravessar a pista na frente dos carros, contudo, sinto que não vale a pena fazer isso por uma maluquice dessa e por um maníaco desses. Só lhe daria mais prazer saber da minha morte depois. Esse gozo não lhe darei.
Espero um tempo olhando aquele muro coberto por uma vegetação como uma expressão de descrédito, até que meu celular recebe uma notificação do app, é ele o lobo. Ele pergunta na mensagem: “Você chegou estou te vendo pelas câmeras, alguém está indo te receber, e por falar de você.” “Você está incrível”. Continuo não respondendo, mas só suas mensagens me deixam nervoso.
Então o portão e um moço de máscara me atende sem dizer uma palavra e me pergunto será que é ele. Penso em rejeitar a oferta e voltar para a casa da Luiza, mas há um ímpeto que faz entrar por aquele portal. A via estar completamente deserta, alguns poucos carros passam e os que passam quase se tornam imperceptíveis por suas velocidades. O vento gélido da noite passa pelo casaco grosso e da fina camada da fantasia chegando até minha espinha. A iluminação é tão pouca que a um poste a cada distância muito limitada com pontos de escuridão profunda e bem próxima a mata.
Sem dúvida, um bom local para se cometer um crime e ter chances para despistar as autoridades, como ocultar um cadáver ou escapar. E ainda mais quando se pede para não divulgar a ninguém aonde se estar indo. Caso for vítima de um maluco, as únicas testemunhas serão aquele motorista, e minha amiga. E o motorista, será que lembraria aonde teria me levado? Mas o que dirá? Até parece que vi fazer algum programa. Se não for isso que vim fazer mesmo.
Mas agora já era estou indo na direção e passando pelo mascarado, quando ele fecha o portão atrás de mim sem mencionar uma palavra ou cerimonial. Estou mais desconcertado e melindroso do que um animal acuado e preso numa gaiola.
Só pode ser brincadeira, mas estava entrando num daqueles jogos mortais que psicopatas fazem antes de dar cabo de suas presas. Por que para eles nem pessoas somos, e sim, o brinquedo que a mãe não pôde dar-lhes. Logo percebo que não, pois, vejo seu aceno para que eu vá para o jardim. E agora o que espera aqui? Não vejo outros convidados.