O céu de Roma era um mar de estrelas esparsas, mal visíveis pelas nuvens que flutuavam como sombras sobre a cidade. As torres da cidade erguiam-se como vigias silenciosas e ao longe, o Castelo Sant'Angelo, um gigante de pedra imponente. As paredes brancas e cinzentas refletiam a luz pálida da lua, como se o próprio castelo exalasse um aviso sombrio. Roma estava sufocada, subjugada pela tirania dos Borgia, e a Ordem dos Templários.
Ezio Auditore caminhava pelas ruas estreitas, seu manto de Assassino mal tocando o chão enquanto ele se movia com discrição pela cidade. O capuz ocultava seu rosto, mas seus pensamentos eram claros. Guardas patrulhavam cada esquina, olhos atentos a qualquer sinal de rebelião. Mas eles não o veriam. Ezio era um fantasma, uma sombra que passava por entre os becos, sentindo cada vez mais próximo o clímax de sua missão.
Não era apenas mais uma infiltração. Ali, dentro das muralhas do castelo, estava Caterina Sforza, amiga, aliada e, outrora, amante. A sensação de urgência misturava-se com o desejo de vingança contra os Borgia, principalmente Lucrezia, cuja crueldade rivalizava com a de seu irmão, Cesare. Ela era mais do que uma simples dama da corte. Intrigante e bela, ela controlava uma teia de informações e influências quase tão vasta quanto a de seu irmão. Enquanto Cesare comandava exércitos, Lucrezia dominava os salões da aristocracia, usando sua sedução e inteligência para garantir que os Borgia permanecessem no topo. Para Ezio, ela era um enigma, uma mulher envolta em mistério, perigo e charme mortal.
Depois do ataque devastador a Monteriggioni, onde seu tio Mario fora brutalmente assassinado, a necessidade de vingança corria como um veneno pelas veias de Ezio. Ele havia reunido a Irmandade novamente, conquistado corações e mentes, mas a verdadeira batalha ainda estava por vir. Roma não cairia sem resistência. Os Borgia não seriam derrotados com facilidade.
E naquele momento, enquanto observava as luzes acesas nas janelas do castelo, ele se perguntou o que o aguardava do outro lado dos portões. A escuridão caía sobre Roma como um véu de sombras, e Ezio, agora apenas uma silhueta no topo dos telhados, observava atentamente o Castelo Sant'Angelo. A fortaleza, outrora uma tumba, agora era o epicentro do poder Borgia. Guardas armados patrulhavam os muros, tochas acesas lançando luz tremeluzente sobre a pedra fria. Ezio sabia que precisaria de furtividade e silêncio para infiltrar-se sem ser detectado. Não havia margem para erro.
Com movimentos ágeis, o Assassino começou sua aproximação. Suas botas mal tocavam o chão enquanto ele se esgueirava pelos becos sombrios que levavam ao castelo. As muralhas altas e os guardas bem posicionados tornavam a entrada impossível para qualquer homem comum. Mas Ezio não era um homem comum. Ele era treinado para escalar as paredes mais íngremes, se misturar às sombras e desaparecer sem deixar rastros.
Com uma rápida inspeção, ele identificou o ponto menos vigiado, uma parede que parecia intransponível para muitos, mas não para um Assassino. Usando os sulcos entre os tijolos, começou a escalar a parede de pedra. Seus músculos se contraíam e esticavam com cada movimento, enquanto o vento gélido assobiava ao redor, como se tentasse denunciá-lo.
Uma vez no alto da muralha, Ezio parou por um breve instante, os olhos explorando o pátio lá embaixo. Ele avistou o que esperava: soldados com lanças, lanternas penduradas em suas cinturas, circulavam pelo pátio, mas sua atenção era relaxada, como se não imaginassem que alguém ousaria invadir o castelo naquela noite. Eram tolos. Ezio já estava dentro.
Ele avançou com a agilidade de um felino, descendo para um dos telhados mais baixos. O jardim interno do castelo estava à sua frente, suas paredes ladeadas por pilares altos e arbustos bem podados. O cheiro de flores noturnas, misturado ao de terra molhada, preenchia o ar. Ali, mais adiante, estava Lucrezia Borgia, sua presença anunciada por risos suaves, acompanhada de um amante desconhecido.
Ezio manteve-se imóvel nas sombras, observando Lucrezia à distância. Vestida com um traje exuberante, adornado em tons de dourado e vermelho, ela caminhava pelo jardim, parecendo alheia ao mundo ao seu redor. O cabelo loiro, preso em um coque intrincado, reluzia sob a luz da lua, um contraste com a escuridão que envolvia o castelo. Sua risada suave cortava o silêncio da noite enquanto se despedia do homem que a acompanhava, Pedro Calderón, um criado da corte papal. Ezio assistiu de longe enquanto Pedro a beijava na mão antes de desaparecer por uma das portas.
Lucrezia permaneceu ali por mais alguns momentos, virando-se lentamente, como se sentisse a presença de alguém. Seus olhos percorreram o jardim, e, por um breve segundo, pousaram exatamente onde Ezio estava oculto. Ele congelou, mantendo a respiração silenciosa, mas sentiu que ela sabia que não estava sozinha. Seus lábios se curvaram em um sorriso leve, malicioso, antes de começar a caminhar na direção oposta.
O confronto era inevitável, mas ele precisava agir com cautela. Ele desceu silenciosamente do telhado e se moveu rapidamente entre as colunas que ladeavam o jardim, mantendo-se fora do campo de visão. O vento suave que soprava agitava levemente as folhagens, abafando seus passos. Ele estava prestes a avançar quando um movimento repentino chamou sua atenção, dois guardas surgiram da escuridão, marchando em sua direção.
Rapidamente, Ezio recuou para a segurança das sombras, encostando-se contra a parede de pedra enquanto os guardas passavam por ele. O tilintar de suas armaduras ecoava na noite, mas eles não tinham notado sua presença. Assim que passaram, ele retomou sua aproximação. Lucrezia estava agora em uma área mais aberta, caminhando vagarosamente como se saboreasse a tranquilidade da noite.
Quando Ezio se aproximou, prestes a confrontá-la, uma voz fria e autoritária cortou o ar:
— Guardie! (Guardas!) — gritou Lucrezia de repente, os olhos se fixando em Ezio com uma mistura de surpresa e satisfação.
Ela havia percebido sua presença o tempo todo. Com um gesto gracioso, mas determinado, ela fez um sinal para que os guardas ao redor agissem.
Ezio sentiu o calor da adrenalina tomar conta de seu corpo quando os guardas avançaram. Três deles emergiram das sombras, espadas desembainhadas e olhar determinado. Com um movimento rápido, suas lâminas ocultas se projetaram das braçadeiras de couro. O brilho metálico refletido pela lua mal teve tempo de ser notado antes que ele se movesse como um vulto. O primeiro guarda, um homem corpulento com uma armadura pesada, avançou direto, brandindo sua espada com força. Ezio desviou com agilidade, passando por baixo do golpe e cravando a lâmina em seu flanco exposto. O guarda tombou com um grito abafado.
Antes que o corpo atingisse o chão, Ezio girou no mesmo movimento, erguendo a perna em um chute lateral, que atingiu o segundo guarda no peito. O homem cambaleou para trás, desequilibrado, mas logo recuperou-se, avançando com a espada em um arco descendente. Ezio parou o golpe com sua própria lâmina, o choque de metal contra metal ecoando no jardim, antes de desarmar o oponente com um giro ágil de pulso e derrubá-lo com uma estocada precisa no coração.
O terceiro guarda hesitou por um momento, mas logo correu na direção de Ezio com uma lança em punho. Ezio, mais rápido, deu um salto lateral, desviando da lâmina pontiaguda. Em um piscar de olhos, ele desferiu uma estocada mortal no pescoço do oponente, que caiu sem emitir som.
Ezio respirava fundo, o corpo ainda tomado pela adrenalina, enquanto os guardas jaziam ao seu redor. Ele ergueu os olhos, buscando por Lucrezia. Ela estava parada ao longe, observando-o com um olhar enigmático. Seus olhos não demonstravam medo, pelo contrário, pareciam admirar a destreza e a brutalidade com que Ezio havia derrotado seus guardas. Um sorriso malicioso brincava em seus lábios.
— Impressionante, Assassini! (Impressionante, Assassino!) — disse Lucrezia, sua voz carregada de uma calma intrigante. — Combatti come un bestia in gabbia, come se avessi qualcosa da dimostrare (Você luta como um animal enjaulado, como se tivesse algo a provar).
Com um movimento rápido as lâminas se retraem. Seus olhos, fixos em Lucrezia, transmitiam apenas determinação.
— Non sono venuto per combattere (Não vim para lutar) — respondeu Ezio, com a voz grave e controlada, mas cheia de tensão. — Sono venuto a liberare Caterina (Vim para libertar Caterina).
— Oh, ma stai sempre combattendo, Ezio (Oh, mas você está sempre lutando, Ezio). — Ela sorriu, aproximando-se lentamente. — Contro cosa, mi chiedo? Le tue convinzioni? I tuoi desideri? O te stesso? (Contra o que, eu me pergunto? Suas crenças? Seus desejos? Ou você mesmo?)
A provocação de Lucrezia tocava fundo, mais do que ele gostaria de admitir. Mas Ezio não podia permitir que ela o distraísse. Ele deu um passo à frente, aproximando-se dela com cautela. Estava claro que a verdadeira batalha entre os dois estava apenas começando.
— Non giocherò ai tuoi giochi, Lucrezia. Dammi la chiave. (Não vou jogar seus jogos, Lucrezia. Me dê a chave).
Lucrezia parou, seus olhos brilhando com um misto de desafio e fascinação.
— La chiave? Oh, Ezio, pensi davvero che sia così semplice? (A chave? Oh, Ezio, você realmente acha que é tão simples assim?) — ela provocou, os lábios se curvando em um sorriso enigmático. — Prima, dobbiamo parlare. (Primeiro, precisamos conversar.)
Lucrezia, com um olhar enigmático, deslizou pelo corredor do castelo, conduzindo Ezio até o interior de seu quarto privado. O ambiente era opulento, com tapeçarias luxuosas adornando as paredes e velas espalhadas iluminando suavemente o espaço. O quarto de Lucrezia era o reflexo de sua personalidade: belo, perigoso e envolto em mistério.
Ezio seguiu-a em silêncio, seus passos leves, mas seu corpo tenso. Ele sabia que estava entrando em um jogo de poder, um jogo em que Lucrezia Borgia era uma mestra. Ao fechar a porta atrás deles, Lucrezia se virou lentamente, seus olhos fixos nos de Ezio, um brilho astuto dançando neles.
— Benvenuto nel mio santuario. (Bem-vindo ao meu santuário). — ela disse, com um sorriso provocante nos lábios. — Non molti uomini hanno avuto l'onore di essere qui dentro… e ancora meno ne sono usciti indenni. (Poucos homens tiveram a honra de estar aqui dentro… e ainda menos saíram ilesos.)
Ezio manteve seu olhar fixo nela, sem se deixar intimidar.
— Non sono qui per giochi o per parole vuote, Lucrezia. Dammi la chiave. (Não estou aqui para jogos ou palavras vazias, Lucrezia. Me dê a chave).
Ela riu, um som suave, mas carregado de ironia, antes de caminhar lentamente em sua direção. Suas mãos percorreram levemente o próprio decote, como se já soubesse o que ele estava pedindo. Seus dedos pairaram ali, provocantes.
— La chiave è più vicina di quanto pensi, ma non pensare che la darò così facilmente. (A chave está mais próxima do que você pensa, mas não ache que vou entregá-la tão facilmente). — Lucrezia inclinou-se levemente, permitindo que o decote de seu vestido se aprofundasse, revelando um vislumbre da chave presa entre os seios.
A tensão sexual entre eles era palpável. Os olhos de Ezio se fixaram no pequeno objeto que ele precisava, mas ele sabia que, para Lucrezia, isso era mais do que apenas uma negociação. Era uma prova de poder, um teste de vontades.
— Tu non sei diverso dagli altri. (Você não é diferente dos outros). — ela murmurou, seus olhos percorrendo o corpo dele com uma mistura de desejo e desafio. — Desideri qualcosa, ma quanto sei disposto a sacrificare per ottenerlo? (Você deseja algo, mas quanto está disposto a sacrificar para obtê-lo?)
Ezio deu um passo à frente, seus olhos penetrando nos dela, ciente de que este era o momento decisivo.
— Non sono come gli altri uomini che hai incontrato. (Eu não sou como os outros homens que você conheceu). — ele disse em um tom baixo e firme. — Io prendo quello che voglio, e tu lo sai. (Eu tomo o que quero, e você sabe disso).
Lucrezia sorriu, o brilho nos olhos agora quase incendiário. Ela deu um passo para trás, o olhar desafiador.
— Allora… dimostralo. (Então… prove.) — ela sussurrou.
Ezio avançou lentamente, o desejo e o dever misturando-se em sua mente. A proximidade crescente entre eles incendiava uma chama que ambos estavam prestes a deixar consumir. Com um movimento ágil, ele segurou Lucrezia pela cintura, aproximando seus corpos. Ela não resistiu; pelo contrário, seu sorriso se alargou, satisfeita com a troca de poder. As mãos de Ezio deslizaram por seu corpo até chegarem ao decote de seu vestido, os dedos encontrando a chave que ele procurava. Mas no momento em que ele a tocou, os lábios de Lucrezia se encontraram com os dele, em um beijo feroz e possessivo. Puxando Ezio pela gola alta, seus lábios colidindo com os dele em um beijo molhado, carregado de uma fúria silenciosa. Ele hesitou por um momento, surpreso pela agressividade, mas rapidamente sentiu o calor do desejo tomar conta. A racionalidade foi deixada de lado, e a tensão que havia entre eles se transformou em algo muito mais físico.
A chave caía de seus dedos, esquecida por um instante, enquanto ambos se rendiam ao desejo intenso que pairava entre eles. Os dedos de Lucrezia afastaram o capuz e se enredaram nos cabelos de Ezio enquanto sua língua duelava com a dele, cada movimento carregado de paixão e controle. Ela pressionou seu corpo contra o dele, e Ezio podia sentir o calor da pele dela através das roupas finas. Estava cruzando uma linha perigosa, mas naquele momento, nada parecia importar.
O som suave de sua respiração entrecortada ecoava pela sala enquanto o beijo se intensificava. Ezio sentiu as mãos dela deslizarem por seu peito, explorando seu corpo com uma confiança inabalável, como se ela já soubesse o que ele faria em seguida. Mas, ao mesmo tempo, ele estava no controle, e seus dedos deslizaram pela cintura dela, puxando-a ainda mais para perto.
— Vedi, Ezio… (Vê, Ezio…) — sussurrou ela entre os beijos, seus lábios ainda próximos dos dele. — Non si tratta di guerra o potere… è molto di più (Não se trata de guerra ou poder… é muito mais).
Ezio a empurrou suavemente contra a parede, seu corpo agora completamente sobre o dela. Ele sabia que estava jogando o jogo de Lucrezia, mas naquele momento, sentia-se igualmente no controle. Era uma batalha silenciosa de vontade e desejo, onde ambos se entregavam à tentação.
— Se pensi che questo cambi qualcosa… (Se você acha que isso muda algo…) — murmurou ele, sua voz rouca enquanto seus lábios deslizavam pela pele macia do pescoço dela.
Ela arfou, a cabeça inclinando-se levemente para dar-lhe mais acesso.
— Forse non cambierà Roma… (Talvez não mude Roma…) sussurrou ela — ma cambierà noi… (mas mudará a nós).
O calor do desejo envolvia a sala, ofuscando momentaneamente os perigos do mundo lá fora. Ezio, que sempre se orgulhou de sua disciplina, sentia agora a tensão de sua missão se misturar com algo muito mais primitivo. Seus lábios tocavam a pele macia de Lucrezia, enquanto suas mãos traçavam as curvas do corpo dela, cada toque alimentando uma chama que ambos sabiam ser incontrolável.
Lucrezia, por sua vez, não se deixava submeter. Embora estivesse presa entre Ezio e a parede de pedra fria, seu olhar cintilava com a confiança de quem sabia exatamente o que estava fazendo. Ela havia vivido sua vida manipulando homens poderosos, e Ezio, apesar de ser diferente dos outros, também estava caindo na teia que ela tecia com tanta habilidade.
— Ezio — sussurrou Lucrezia, sua voz baixa e rouca, enquanto suas mãos se agarravam aos ombros dele, apertando com intensidade. — Sai che questo… non è solo desiderio. (Ezio… você sabe que isso… não é apenas desejo).
— Non confondere il piacere con il potere (Não confunda prazer com poder) — ele murmurou em resposta, as palavras graves enquanto seus lábios se aproximavam do ouvido dela.
Ela riu suavemente, um som que ressoou como uma melodia sedutora no silêncio da sala.
— Ah, Ezio… — suspirou ela, seus lábios tocando o pescoço dele em resposta. — Ma il potere è la vera fonte del piacere (Ah, Ezio… mas o poder é a verdadeira fonte do prazer).
Os corpos deles estavam colados, e cada movimento de Lucrezia parecia calculado, como se ela estivesse explorando os limites da resistência de Ezio. Os dedos dele habilmente desatavam os cordões que seguravam seu vestido, abrindo caminho até a pele pálida de seu corpo. Lucrezia arfou levemente, mas seu sorriso permaneceu intacto. Ele sentiu as mãos de Lucrezia deslizarem por seu peito, e seus dedos ágeis começaram a desafivelar das tiras que prendiam sua capa e as ombreiras, seu cinto.
Ela puxou Ezio mais perto, seus corpos tão próximos que ele podia sentir o ritmo acelerado da respiração dela. O jogo entre eles estava claro: sedução e manipulação. Mas, naquele momento, a linha entre esses dois conceitos parecia perigosamente tênue. A intimidade entre eles não era apenas física; havia um desafio psicológico envolvido, um duelo de vontades em que cada um tentava ganhar vantagem sobre o outro.
Com um movimento rápido, ele a ergueu pela cintura, virando-a e pressionando-a contra a parede, de frente para ele. O olhar surpreso de Lucrezia durou apenas um segundo antes de ser substituído por um brilho ainda mais intenso de desejo.
— Ora giochiamo secondo le mie regole (Agora jogamos segundo as minhas regras) — ele sussurrou, seu rosto perto do dela.
Lucrezia o encarou, seus olhos cintilando com uma mistura de excitação e desafio. Ela não era uma mulher que se deixava dominar facilmente, mas naquele momento, ela estava disposta a deixar Ezio assumir o controle… por enquanto.
Depois do beijo feroz e dos toques que incendiavam suas peles, Lucrezia se afastou por um momento, uma expressão de puro desafio em seu rosto. Ela estava suada, os cachos loiros despenteados caindo sobre os ombros nus. Seu vestido de seda vermelha e fios dourados estava solto, e o brilho em seus olhos indicava que, embora tivesse perdido terreno, a batalha estava longe de acabar.
Ezio observava cada detalhe, ciente de que estava envolvido em um jogo mortal, e a sedução, naquele momento, era tão perigosa quanto qualquer lâmina oculta. O calor que ainda vibrava em seu corpo, após o breve momento de intimidade, apenas realçava o desafio que ambos enfrentavam.
— Ezio — sussurrou Lucrezia, sua voz baixa e rouca, enquanto seus olhos azuis o fitavam com intensidade. — Non pensare che mi abbia conquistato così facilmente. (Ezio... Não pense que me conquistou tão facilmente).
Ezio, com o cabelo ligeiramente caído sobre os olhos, deu um passo à frente, sua presença imponente preenchendo a sala.
— Lucrezia — ele murmurou, a voz firme, enquanto estendia a mão para tocar levemente o queixo dela. — Mi sottovaluti (Lucrezia, você me subestima).
Ela sorriu de canto, o brilho de seus lábios contrastando com a palidez do rosto emoldurado pelos cachos dourados. O vestido vermelho que usava acentuava sua figura, e o decote revelava mais do que apenas beleza física, um símbolo do poder que ela acreditava possuir.
— Forse… (Talvez…) — respondeu ela, seus olhos cintilando com malícia. — Ma sai anche tu che il desiderio è un'arma potente. — (Mas você também sabe que o desejo é uma arma poderosa).
— Un'arma che tu pensi di controllare… (Uma arma que você pensa que controla…) — ele respondeu, com um leve sorriso, enquanto seus dedos acariciavam o rosto dela com cuidado. — … Ma che ora appartiene a me ( … Mas que agora pertence a mim).
Por um instante, Lucrezia hesitou. Ela estava acostumada a controlar todos ao seu redor, sua beleza angelical, somada à sua posição como filha do papa, a tornava uma mulher temida e desejada. Mas naquele momento, olhando nos olhos de Ezio, havia algo diferente. Ela estava sendo desafiada por alguém que conhecia os jogos de poder tão bem quanto ela.
— Così sicuro di te stesso (Tão confiante de si mesmo,) murmurou ela, inclinando-se levemente em sua direção, os olhos ainda fixos nos dele. — Ma dimmi, Ezio…. quanto lontano sei disposto ad andare per vincere? (Mas me diga, Ezio… até onde está disposto a ir para vencer?)
Ezio se aproximou mais, envolvendo seus corpos. Ele podia sentir o calor do corpo dela através do tecido, e o aroma de jasmim que emanava de sua pele o cercava, trazendo uma nova onda de tentação.
— Andrò fino in fondo (Eu irei até o fim) — ele respondeu com firmeza, sua voz baixa e carregada de intenção. Seus dedos deslizaram pela cintura dela, traçando o contorno das costuras do vestido. — Ma non con il potere… con la verità (Mas não com o poder… com a verdade).
Ela riu suavemente, embora o sorriso sedutor tivesse algo de tenso agora.
— “Nulla è reale, tutto è lecito”, non è questo il motto degli Assassini? (Nada é verdade, tudo é permitido, não é esse o lema dos Assassinos?) — Lucrezia brincou com os dedos no ombro de Ezio, como se estivesse avaliando suas intenções. — La verità è la cosa più facile da manipolare, Ezio (A verdade é a coisa mais fácil de manipular, Ezio).
— Non questa volta (Não desta vez) — ele respondeu, seus olhos penetrando os dela.
Os olhos de Lucrezia vacilaram por um breve segundo, mas logo recuperaram seu brilho habitual.
Antes que ela pudesse dizer alguma coisa, Ezio a puxou contra si, seus lábios unindo-se novamente com os dela em um beijo ardente e possessivo. Lucrezia se entregou ao momento, suas mãos deslizando sob a túnica dele, sentindo o tecido pesado e os músculos tensos por baixo. Mas por mais que o desejo os dominasse, ambos sabiam que aquilo era mais do que apenas atração. Era uma batalha pela superioridade, onde a traição e a manipulação poderiam decidir o destino de ambos.
Enquanto seus corpos se entrelaçavam, a mente de Ezio não parava. Ele sabia que a chave para derrotar Cesare Borgia estava ao seu alcance. Lucrezia, com toda a sua astúcia e poder, era ao mesmo tempo uma aliada valiosa e uma inimiga perigosa. E naquele instante, enquanto seus lábios exploravam cada parte do corpo dela, ele planejava os próximos passos com a precisão de um Mestre Assassino, mas por ora, a sedução e o perigo se misturavam em uma dança fatal, onde ambos jogavam com fogo e a única certeza que restava era que o desfecho daquele duelo seria devastador para quem ousasse baixar a guarda primeiro.
Lucrezia puxou Ezio para a cama, o calor de seus corpos se unindo em uma dança de poder e submissão. Ela percebeu a hesitação e sorriu, desafiadora, seus olhos brilhando com a certeza de que ele estava perdendo a batalha interna.
— Che succede, Ezio? (O que está acontecendo, Ezio?) — ela sussurrou, sua voz sedutora. — Temi di perdere il controllo? (Tem medo de perder o controle?)
Ele não respondeu com palavras. Em vez disso, inclinou-se sobre ela, suas mãos firmemente segurando os pulsos dela contra a cama. Lucrezia ofegou com a força que ele demonstrava, mas o sorriso nunca abandonou seus lábios. Ela o incitava, encorajava cada movimento. E, por um instante, ela também se permitiu ser dominada.
As roupas caíam uma a uma, o quarto iluminado apenas pelas velas se transformava em um cenário de desejo e luxúria. Lucrezia envolveu suas pernas pela cintura de Ezio, enquanto sentia a presença dele abrindo seu interior, um encaixe perfeito que transcendia o físico e mergulhava nas profundezas de sua alma. Cada movimento era uma dança de intimidade, um ritmo perfeito que os envolvia em um êxtase compartilhado. Seu corpo se eletrizava a cada movimento, a luta por controle tornava cada toque mais intenso, cada gemido mais profundo. A batalha entre eles, porém, não era de ódio, mas de paixão, uma batalha onde, ao mesmo tempo em que se desafiavam, ambos estavam dispostos a perder.
Lucrezia arqueava o corpo sob o de Ezio, entregando-se ao ápice enlouquecedor, ao mesmo tempo, tentando tomar as rédeas do momento. Ele a arrastava para uma espiral de prazer e poder. Seus corpos se fundiam em um abraço apaixonado, conectando-se em uma fusão de desejo e amor. Cada investida de Ezio era um chamado ao prazer, ecoando através de cada fibra de seu ser. O calor que emanava deles parecia alimentar o fogo que os envolvia.
Mesmo no meio da tempestade de desejo, Ezio mantinha um fragmento de sua mente focado. Sabia que aquela mulher nunca cedia sem obter algo em troca. Enquanto eles se envolviam, ele lembrava a si mesmo do verdadeiro objetivo: a chave.
A intensidade de seus corpos crescia, atingindo mais uma vez o clímax com um último suspiro conjunto, o corpo de Lucrezia tremendo debaixo do dele, enquanto suas mãos firmes afrouxavam o aperto sobre ela. Por um breve momento, ambos estavam em um estado de vulnerabilidade que raramente permitiam a si mesmos. E foi exatamente nesse momento que a tensão sexual se transformou em algo mais profundo, algo que ambos reconheciam, mas nunca admitiriam.
A madrugada envolvia Roma em um manto silencioso, e a luz tênue das velas ainda iluminava o quarto onde Ezio e Lucrezia haviam compartilhado momentos intensos. O ar estava carregado com o aroma de jasmim e a memória do desejo ainda vibrava no ambiente. Ezio, envolto em seu traje de Mestre Assassino, olhava para o corpo nu de Lucrezia sobre a cama com uma mistura de determinação e conflito interno. A missão era mais importante, mas a ligação que tiveram o perturbava.
Lucrezia, agora com os cabelos loiros desalinhados, vestia novamente, ajustando delicadamente o corselete em seu torso e cobrindo-se com o elegante vestido vermelho. Ela se aproximou com graça, seus olhos azuis refletindo uma profundidade que Ezio não conseguia decifrar completamente. Talvez não tenha sido apenas ele a estar com o coração perturbado após dormir com o inimigo.
Quando finalmente se encararam, ambos respiravam pesadamente, o quarto em silêncio exceto pelo som de suas respirações entrecortadas. Lucrezia olhou para ele, satisfeita, e estendeu a mão para a chave caída no chão.
— Ecco, Ezio. Hai guadagnato la tua ricompensa. (Aqui, Ezio. Você ganhou sua recompensa).
Ezio pegou a chave, os olhos ainda fixos nos dela.
— Questo non è finito, Lucrezia (Isso não acabou, Lucrezia). — ele disse, antes de se levantar, preparado para continuar sua missão.
— No, Ezio. Non è mai finito… (Não, Ezio. Nunca acaba…) — Lucrezia murmurou, enquanto o observava se afastar.
Ezio, agora com a chave em mãos, não perdeu tempo. Libertar Caterina Sforza era sua prioridade. Sua mente ainda estava parcialmente presa ao encontro com Lucrezia, a tensão daquela troca de poder e paixão, mas ele sacudiu as lembranças e focou no que vinha a seguir. Sem hesitar, deixou o quarto de Lucrezia e seguiu pelos corredores escuros do Castelo Sant'Angelo.
Os guardas estavam por toda parte, patrulhando os corredores e mantendo a prisão bem vigiada. Ezio, no entanto, conhecia bem seus caminhos e habilidades furtivas. Movendo-se pelas sombras, ele evitava confrontos diretos sempre que possível, mas, quando inevitável, sua lâmina oculta brilhava silenciosa e letal. Cada guarda que caía sob sua lâmina era movido para um canto escuro, sem ruídos que chamassem atenção.
Finalmente, ele chegou à cela onde Caterina estava presa. A mulher, mesmo em cativeiro, mantinha seu porte orgulhoso, os olhos acesos de raiva e frustração. Ao ver Ezio, uma fagulha de esperança brilhou em seus olhos, mas ela não disse uma palavra enquanto ele destrancava a porta com a chave de Lucrezia.
— Finalmente. Pensavo che avresti lasciato che mi marcissi qui (Finalmente. Achei que você me deixaria apodrecer aqui). — disse ela, com um meio sorriso, tentando esconder o alívio que sentia.
— Non lo farei mai. Vieni, dobbiamo uscire di qui (Eu nunca faria isso. Vamos, precisamos sair daqui) — Ezio respondeu, sério.
Ela saiu da cela e juntos começaram sua fuga pelos corredores escuros do castelo. Ezio liderava o caminho, eliminando guardas pelo trajeto, enquanto Caterina o seguia de perto, sem medo, mas ciente da gravidade da situação.
O silêncio entre eles logo foi rompido por Caterina, sua voz baixa e carregada de emoções não resolvidas.
— Ezio, perché sei tornato davvero? (Ezio, por que você realmente voltou?) — A pergunta era direta, mas cheia de significado.
Havia mais naquele resgate do que apenas lealdade à causa dos Assassinos, e ambos sabiam disso.
Ezio não respondeu de imediato. Em meio à tensão da fuga, ele não queria discutir sentimentos. Mas ele sabia que não poderia evitá-la para sempre. Finalmente, ele falou, sem se virar para ela.
— Non è solo per la causa, se è quello che stai chiedendo. Non potevo lasciarti qui. (Não é só pela causa, se é isso que está perguntando. Eu não poderia deixá-la aqui.)
Caterina parou brevemente, olhando para ele, uma mistura de raiva e ternura nos olhos.
— Eppure l'hai fatto una volta. (E ainda assim você já fez isso uma vez). — disse ela, referindo-se ao tempo em que ele havia partido, deixando-a enfrentar as consequências de sua captura anterior sozinha.
Ezio sentiu o peso das palavras dela, mas antes que pudesse responder, o som de mais guardas se aproximando os forçou a se mover. Lutaram juntos, Ezio com sua lâmina, Caterina com uma adaga que havia pego de um dos guardas mortos. As habilidades de ambos se complementavam, mas era claro que havia mais em jogo do que apenas uma fuga.
Quando finalmente conseguiram chegar à estrebaria, o calor do momento ainda pairava sobre eles. Os sentimentos que haviam entre eles não estavam resolvidos, mas o perigo iminente os impedia de mergulhar fundo naquele diálogo. Roubaram dois cavalos e, enquanto os guardas trocavam de turno, aproveitaram a distração para escapar pelos portões.
A noite escura envolvia o caminho deles enquanto galopavam para longe do castelo. O vento soprava forte contra seus rostos, mas mesmo a adrenalina da fuga não conseguia afastar as emoções não ditas entre os dois.
Quando pararam em uma colina distante, fora do alcance dos guardas, ambos desceram dos cavalos. Caterina, ainda em êxtase, virou-se para Ezio, seus olhos brilhando com uma intensidade que não era apenas fruto do perigo que acabaram de enfrentar.
— Non so cosa aspettarmi da te, Ezio. Ma non posso negare che sei sempre lì quando ne ho più bisogno (Não sei o que esperar de você, Ezio. Mas não posso negar que você sempre está lá quando mais preciso).
Ezio se aproximou dela, os dois em silêncio por um longo momento. As palavras entre eles eram pesadas, mas sabiam que não precisavam de muitas para expressar o que sentiam. A atração que havia entre eles, reprimida por tanto tempo, finalmente os atingiu com força total. Com uma única troca de olhares, eles cederam ao desejo. O perigo, a fuga, as emoções intensas, tudo conspirava para aquele momento.
Suas bocas se encontraram com urgência, e o toque de seus corpos era uma mistura de necessidade e conforto. Aquele momento poderia ser breve, mas era real. Entre beijos e suspiros, ambos se perderam um no outro, o mundo ao redor se apagando por instantes.
Quando finalmente se separaram, os corações acelerados falavam por si só.
Caterina se preparou para montar novamente no cavalo, seus olhos agora calmos, mas com uma sombra de tristeza.
— Vado a Firenze. Ho molto lavoro da fare (Vou para Florença. Tenho muito trabalho a fazer). — ela disse, sua voz firme, mas com uma nota de despedida.
Ezio assentiu, compreendendo que os caminhos deles estavam destinados a se separar mais uma vez.
— E io ho una missione a Roma. Ma ci vedremo ancora, Caterina. Questo non è l'addio (E eu tenho uma missão em Roma. Mas nos veremos novamente, Caterina. Isso não é um adeus).
Ela sorriu levemente, sem palavras, e montou no cavalo. Com um último olhar para ele, ela puxou as rédeas e galopou em direção ao horizonte, deixando Ezio ali, assistindo-a partir.
Ezio montou em seu cavalo e voltou para a cidade. A missão contra os Borgia ainda não havia terminado, e ele sabia que o caminho à sua frente seria longo e árduo.