Obsidian: De Esposa a Escrava - Parte 1

Da série Obsidian
Um conto erótico de Fabio N.M
Categoria: Heterossexual
Contém 4705 palavras
Data: 12/10/2024 08:24:16
Última revisão: 15/10/2024 05:56:48

O som suave de secadores de cabelo preenchia o ar do Ricci Beauty Lounge, o salão de beleza que Emily havia construído com tanto esforço ao longo dos últimos dez anos. O espaço era requintado, decorado em lilás e branco e móveis de alto padrão, um reflexo da mulher que o comandava: elegante, controlada e, aos olhos de todos, realizada. As cadeiras giratórias de couro branco se alinhavam perfeitamente em frente aos espelhos altos e iluminados, onde clientes satisfeitas passavam por suas transformações diárias.

Emily Ricci sempre fora conhecida por sua habilidade em transformar pessoas. Não apenas com tesouras e tintas, mas com o simples poder de uma conversa, uma gentileza no momento certo. Cada cliente que entrava ali era tratada com cuidado especial, e Emily sabia como fazer cada uma delas se sentir verdadeiras rainhas. Contudo, por trás de cada sorriso caloroso e de cada palavra encorajadora, havia uma sensação incômoda, uma pequena fissura que crescia com o passar dos anos.

Ela terminou de ajustar o corte de uma cliente e deu um passo para trás, examinando o trabalho com um olhar crítico. O cabelo caía em camadas perfeitas sobre os ombros da mulher, mas Emily mal conseguia prestar atenção em seu próprio sucesso. Em vez disso, sua mente vagava, distante dali, para os silêncios longos e pesados que dominavam sua casa.

Emily suspirou e forçou um sorriso enquanto entregava o espelho para a cliente. A mulher sorriu satisfeita, elogios fluindo enquanto ela admirava o corte. Mas Emily apenas balançou a cabeça, como se cada palavra fosse uma brisa que mal tocava sua pele. No fundo, ela se sentia vazia.

— Ficou lindo, obrigada, Emily. Você sempre faz mágica! — disse a cliente, ainda sorrindo.

— Fico feliz que tenha gostado, querida — respondeu, com um sorriso que não alcançava seus olhos.

Assim que a cliente saiu, Emily observou seu reflexo no espelho. Os olhos verdes que a encaravam não tinham o brilho de antes. Cabelos castanhos longos até o meio das costas e perfeitamente escovados, maquiagem impecável, uma mulher que deveria estar no auge de sua vida. Mas o reflexo não mostrava tudo. Ela virou o rosto, tentando afastar os pensamentos que a assombravam há semanas.

O relógio marcava cinco da tarde. Adriano provavelmente já estava em casa, mergulhado no trabalho como sempre. Ela podia vê-lo mentalmente: sentado no escritório, a cabeça baixa enquanto os dedos se moviam rapidamente pelo teclado. Ultimamente, parecia que esse era o único lugar onde ele queria estar. O escritório e o silêncio tinham se tornado seus maiores companheiros.

Emily tirou a capa do pescoço da cadeira e começou a limpar sua estação de trabalho, os movimentos automáticos, quase mecânicos. O salão estava começando a esvaziar, as funcionárias se despediam, algumas com o entusiasmo de quem mal podia esperar para voltar para casa e para os braços de seus maridos. Para Emily, no entanto, a perspectiva de voltar para casa trazia um peso quase insuportável.

Ela arrumou os últimos produtos na prateleira, e quando se deu conta, estava sozinha. O salão, que durante o dia era vibrante e cheio de vida, agora parecia ecoar o vazio que ela sentia por dentro.

Pegou sua bolsa, desligou as luzes e saiu, trancando a porta atrás de si. Lá fora, a noite já começava a cair, tingindo o céu com tons de laranja e roxo. Emily parou por um momento, sentindo o vento frio tocar seu rosto, uma pequena pausa antes de voltar à realidade.

A realidade de um casamento que parecia mais uma obrigação do que uma parceria.

Emily destravou o carro e entrou, sentando-se no banco do motorista. O silêncio ali dentro era reconfortante e, ao mesmo tempo, opressor. Ela ficou ali por alguns minutos, o olhar fixo no para-brisa, mas sem realmente ver nada. Os ecos de suas próprias reflexões enchiam o espaço vazio ao seu redor.

Fechou os olhos por um momento e deixou a cabeça encostar suavemente no volante. As lembranças de quando ela e Adriano se conheceram invadiram sua mente, como um filme projetado sem permissão. Havia risadas, toques ousados, beijos roubados. No começo, ele era tudo o que ela sempre quisera: charmoso, carinhoso e completamente dedicado a ela. O tipo de homem que não hesitava em largar o que estivesse fazendo para surpreendê-la com flores, ou para planejar uma viagem de fim de semana só para os dois fugirem juntos.

E agora? Agora ele mal a notava. Os toques carinhosos tinham desaparecido, as conversas casuais sobre o dia de cada um se transformaram em breves atualizações logísticas. O casamento deles havia virado uma espécie de coreografia ensaiada, onde cada movimento era previsível e cada palavra era dita por pura obrigação.

Ela se lembrava de quando Adriano costumava passar no salão de surpresa, apenas para levá-la para um almoço rápido. Sempre que ele aparecia, o coração dela disparava. Ela sentia a eletricidade entre eles. Mas isso era antes. Antes de o trabalho dominar completamente a vida de Adriano, antes das responsabilidades pesarem tanto que até os beijos de boa noite pareciam apressados, automáticos.

Houve uma época em que as noites eram mais quentes, quando os corpos se encontravam com desejo, quando as palavras sussurradas ao pé do ouvido faziam a pele arrepiar. Agora, quando se deitavam na cama, havia um abismo entre eles. Um silêncio que dizia muito mais do que qualquer conversa poderia.

Emily abriu os olhos e olhou para o celular na bolsa, hesitando em enviar uma mensagem para Adriano. Ela se perguntava se deveria tentar falar com ele sobre como se sentia. Talvez, só talvez, se ela explicasse o quanto estava sofrendo com essa distância entre eles, ele pudesse entender.

Mas sempre que tentava tocar no assunto, Adriano parecia distraído, como se houvesse uma barreira invisível entre eles que ele se recusava a atravessar. Ele nunca discutia, apenas sorria de maneira suave e concordava, como se ela estivesse pedindo algo impossível.

"Você está sendo dramática, Emily", ele disse mais de uma vez. "Estamos bem, é só uma fase."

Mas não parecia apenas uma fase para ela. Parecia mais como um fim que eles fingiam não estar acontecendo.

Emily sentiu um nó se formar na garganta. Ela sabia que não era só ela. Adriano ainda era o homem com quem se casou, o mesmo homem que ela amava, mas a chama entre eles estava se apagando. E ela não sabia como reacendê-la, nem se ele estava realmente interessado em tentar.

Ela finalmente pegou o celular e abriu a conversa com Adriano. Digitou uma mensagem rápida:

🗨 EMILY: Estou saindo do salão. Vai estar em casa quando eu chegar?

Depois de enviar, ficou observando a tela. Nada. A pequena indicação de que ele estava digitando não apareceu. A sensação de vazio cresceu dentro dela, como se aquele simples silêncio fosse uma confirmação da distância entre eles. Ela suspirou e guardou o celular.

O motor do carro ligou com um ronco suave, mas antes de dar partida, Emily olhou uma última vez para a fachada elegante de seu salão refletida no espelho retrovisor. Ali, ela era a mulher poderosa, controlada e confiante que todos viam. Mas dentro daquele carro, sozinha, ela era apenas uma mulher lutando para entender por que o amor da sua vida estava escapando por entre seus dedos, como areia.

Enquanto dirigia para casa, as ruas passando em borrões de luzes difusas, uma pergunta a atormentava: “seria possível salvar o que restava de seu casamento?”. E, talvez pior: “ela ainda queria salvar?”

Quando Emily estacionou o carro na garagem, a casa estava escura, exceto por uma única luz acesa no escritório de Adriano, visível pela janela lateral. Ela desligou o motor e ficou ali por um momento, ouvindo o som do silêncio ao seu redor. Fechou os olhos por um segundo, respirando fundo antes de sair e fechar a porta do carro com um leve clique.

Ao entrar, a casa estava quieta. Emily tirou os sapatos na entrada e caminhou pela sala, sentindo o frio do chão de mármore sob seus pés descalços. Tudo estava exatamente como ela havia deixado de manhã: impecavelmente organizado, mas vazio. Não havia sinal de vida, exceto pelos sons fracos das teclas de Adriano vindo do escritório.

Ela parou na porta do escritório por um momento, observando Adriano sem que ele percebesse. Ele estava sentado à sua mesa, de cabeça baixa, o rosto iluminado apenas pela luz azulada da tela do computador. A mesma cena que Emily via todas as noites. Ela se lembrou de quando ele costumava sentar ali por pouco tempo, sempre interrompido por um beijo ou uma conversa casual com ela. Agora, ele parecia preferir aquele escritório a qualquer outro lugar da casa.

Adriano não levantou o olhar quando ela entrou, não imediatamente. Emily encostou-se ao batente da porta, cruzando os braços, esperando um momento para chamar sua atenção.

— Oi — disse ela finalmente, com uma voz suave, esperando que isso fosse o suficiente para fazê-lo parar.

Adriano deu um leve sobressalto, como se estivesse completamente absorvido no que fazia. Ele levantou os olhos e a fitou por um breve momento, forçando um sorriso antes de olhar de volta para a tela.

— Oi, amor. Como foi o dia? — Ele fez a pergunta de forma automática, os olhos voltando a se concentrar nas palavras e números à sua frente.

— Cansativo. Estou exausta, na verdade — ela respondeu, tentando esconder a irritação que crescia em seu peito. Ela esperava um pouco mais de atenção, algum sinal de que ele estava presente naquele momento com ela. Mas não houve nada. — E você?

— Bastante trabalho. Quase terminando aqui — ele disse, quase como um pedido de desculpas, mas sem olhar para ela.

O silêncio que seguiu foi pesado. Emily observou Adriano digitar por mais alguns segundos, seu foco completamente voltado para a tela. A frustração que ela vinha tentando conter durante o dia inteiro começou a borbulhar sob a superfície. Por que ele não podia simplesmente parar por um minuto?

Ela se aproximou dele, ficando atrás da cadeira, as mãos sobre seus ombros. Sentiu a tensão acumulada ali, os músculos rígidos. Adriano sempre carregava o peso do mundo em seus ombros. Antes, ela admirava isso nele, mas agora, parecia que o trabalho havia se tornado a única coisa que realmente importava.

— Por que você não para por um tempo? — ela sussurrou, deslizando os dedos pelo pescoço dele, na tentativa de provocar algum tipo de resposta, um toque de reciprocidade.

— Daqui a pouco — foi tudo o que ele disse, inclinando-se ligeiramente para longe de suas mãos e voltando à postura anterior.

O movimento, por menor que fosse, feriu o coração da pobre Emily. Seus dedos pararam e ela deu um passo para trás, sentindo a frustração crescer ainda mais dentro dela. “Daqui a pouco”, ele sempre dizia isso. Mas esse “daqui a pouco” nunca chegava. As noites de proximidade, de conversas até tarde na cama, de toques espontâneos, tinham desaparecido. Agora tudo se resumia a esse espaço entre eles – ela tentando alcançá-lo, ele sempre um passo adiante, fora de seu alcance.

— Eu vou me deitar — ela disse finalmente, sua voz mais fria do que pretendia.

Adriano apenas acenou com a cabeça, sem desviar os olhos do computador.

Emily saiu do escritório e fechou a porta suavemente atrás de si. Caminhou pelo corredor até o quarto, sentindo-se mais só do que antes. Sentou-se na beirada da cama, retirando os brincos lentamente, enquanto olhava para o espelho à sua frente. O reflexo que a encarava parecia cansado, desgastado pelas tentativas fracassadas de recuperar algo que parecia estar desaparecendo diante de seus olhos.

Ela sabia que o casamento não era mais o mesmo. Sabia que algo precisava mudar, mas não sabia como ou se Adriano estaria disposto a lutar por isso como ela queria. Talvez houvesse uma maneira. Algo mais ousado, mais direto. Algo que pudesse reacender a paixão que parecia ter sido soterrada sob a rotina e o trabalho.

Emily deitou-se na cama, olhando para o teto escuro do quarto. O som das teclas de Adriano, embora abafado pela distância, parecia ecoar em sua cabeça. Ela fechou os olhos, tentando bloquear o som e, ao mesmo tempo, seus pensamentos. Mas era inútil.

Na manhã seguinte, Emily já estava no salão quando Isabela entrou. Era a primeira cliente do dia. A relação entre as duas ia além de amizade, era quase uma parceria, com momentos de conselhos e confidências. E naquele dia, Emily precisava mais do que nunca de um ouvido atento.

Isabela entrou com sua típica confiança, os saltos ecoando pelo piso brilhante do salão. Vestida de forma impecável, ela tinha o tipo de presença magnética que atraía olhares automaticamente. Cabelos loiros bem cuidados, maquiagem impecável. Para todos os efeitos, Isabela parecia ter a vida perfeita: casada com um homem charmoso e bem-sucedido, mãe de dois adolescentes, sempre elegante e segura de si. Mas nem sempre fora assim.

— Bom dia, gata! — Isabela saudou, com um sorriso caloroso, pendurando a bolsa na cadeira e acomodando-se. — Estou precisando de um retoque urgente. Sabe como é, casamento, trabalho, vida. Mal consigo respirar.

Emily sorriu de volta, um sorriso forçado que Isabela notou imediatamente. Ela sempre fora perceptiva.

— Claro, gata. Vamos começar — respondeu Emily, enquanto pegava os produtos para retocar o loiro perfeito de Isabela.

As duas mantiveram uma conversa trivial durante os primeiros minutos. Assuntos comuns de salão: moda, tendências, e a inevitável onda de calor da proximidade do verão que estava se aproximando. Emily, no entanto, mal conseguia se concentrar. Sua mente ainda estava presa à noite anterior, àquela conversa vazia com Adriano e à sensação crescente de que algo precisava mudar.

Isabela olhou para Emily pelo espelho enquanto ela separava as mechas para aplicar o descolorante. Seus olhos verdes se estreitaram com preocupação.

— Você está bem? — perguntou Isabela, com a sinceridade de quem sabia que algo estava errado. — Não parece a mesma de sempre.

Emily hesitou, olhando para o reflexo de Isabela no espelho, antes de suspirar e colocar o pincel na bancada. Era inútil esconder o que sentia; Isabela perceberia de qualquer forma.

— Para ser honesta… não, não estou bem — disse Emily finalmente, soltando a respiração que vinha segurando desde a noite anterior. — As coisas com Adriano… não sei o que fazer.

Isabela se virou um pouco na cadeira, mostrando sua total atenção. Ela cruzou as pernas, esperando que Emily continuasse.

— O que está acontecendo? Vocês sempre foram o casal perfeito. — A voz de Isabela era cheia de surpresa, mas sem julgamento.

Emily soltou um riso amargo, balançando a cabeça.

— É isso que todos acham, não é? Casal perfeito. — Ela suspirou profundamente. — Mas a verdade é que faz meses, talvez até anos, que eu sinto como se estivéssemos distantes. A intimidade… já não é mais a mesma. Ele está sempre trabalhando, e quando eu tento conversar sobre isso, ele simplesmente não vê o problema.

Isabela ficou em silêncio por um momento, ponderando as palavras de Emily, enquanto ela continuava:

— Não sei mais o que fazer. Ontem à noite, tentei chamar a atenção dele mas…, me senti… sozinha. Na mesma casa que ele, mas completamente sozinha.

Emily parou de falar e voltou a trabalhar no cabelo de Isabela, tentando conter as emoções que ameaçavam transbordar dos olhos. Mas Isabela não deixou o silêncio se prolongar.

— Eu entendo o que você está passando — disse suavemente, sua voz agora cheia de compreensão. — Passei pela mesma coisa com Gabriel.

Emily ergueu o olhar para o espelho, surpresa.

— Você? Achei que vocês dois estivessem bem.

Isabela sorriu, um sorriso cheio de segredos.

— É o que todo mundo pensa. Mas houve um tempo em que Gabriel e eu estávamos exatamente como você descreveu. Frio, distante, como se vivêssemos em mundos diferentes. — Ela fez uma pausa, olhando Emily diretamente nos olhos pelo espelho. — Foi quando descobri algo que mudou tudo para nós.

Emily franziu a testa, curiosa e confusa ao mesmo tempo.

— O que vocês fizeram?

Isabela hesitou por um segundo, como se estivesse decidindo se deveria compartilhar aquele segredo. Então, com um leve arqueamento das sobrancelhas longas e finas e uma expressão séria, ela falou:

— Um clube. Não um clube qualquer, gata. Um lugar onde você pode experimentar… coisas. Coisas que reacendem o desejo, que te fazem redescobrir a si mesma e ao seu parceiro.

Emily piscou, tentando entender o que Isabela estava sugerindo.

— Do que você está falando? — perguntou ela, um pouco incrédula, mas também intrigada.

Isabela inclinou-se um pouco mais para a frente, a voz mais baixa, quase conspiratória.

— O clube se chama Obsidian. É um lugar onde casais vão para explorar suas fantasias, se reconectar de maneiras que você nem imagina. Foi isso que salvou meu casamento com Gabriel. — Ela fez uma pausa, observando a reação de Emily. — E pode salvar o seu também.

O coração de Emily começou a bater mais rápido, sua mente inundada de perguntas. Obsidian. Fantasias. Reconexão. Seria essa a solução que ela estava procurando?

— Isabela, eu não sei… isso parece… — Emily hesitou, buscando as palavras certas. — Extremamente ousado.

Isabela sorriu, um sorriso que revelava uma confiança inabalável.

— Ousado, sim. Mas é exatamente isso que você precisa. Acredite em mim, Emily. Às vezes, a resposta está em algo que nunca consideramos. E foi no Obsidian que Gabriel e eu encontramos uma nova faísca.

Emily ficou em silêncio, digerindo as palavras de Isabela. Parte dela estava assustada com a ideia, mas outra parte… estava intrigada. Talvez essa fosse a solução. Talvez fosse o que ela e Adriano precisavam.

— Pense sobre isso — continuou Isabela, voltando a se ajeitar na cadeira, o tom de sua voz mais leve agora. — Não precisa decidir nada agora. Mas se você quiser uma chance real de mudar as coisas… pode valer a pena tentar.

Emily terminou de aplicar o descolorante, ainda perdida em seus pensamentos. Obsidian. Um clube de swing? Isso realmente poderia salvar seu casamento?

Enquanto o cabelo de Isabela começava a reagir ao produto, algo dentro de Emily começava a reagir também. Uma pequena chama de curiosidade havia sido acesa, e por mais que tentasse ignorá-la, sabia que a ideia de explorar algo tão ousado não sairia de sua cabeça tão cedo.

Emily ficou em silêncio, absorvendo a ideia que Isabela acabara de lançar. Um clube de swing. Ela tentava processar o conceito, mas a parte mais difícil era imaginar que algo assim pudesse ser a resposta para seu casamento falido. Ela e Adriano, em um lugar como aquele? Seria possível?

Isabela notou a confusão no rosto de Emily e sorriu suavemente, como se já tivesse visto essa mesma reação antes.

— Olha, eu sei que parece loucura no começo — começou Isabela, enquanto Emily terminava de separar as mechas e ajustava o cronômetro para o descolorante agir. — Quando Gabriel sugeriu isso pela primeira vez, eu também pensei que ele estava fora de si. Mas, honestamente, o Obsidian é muito mais do que parece.

— Mais do que parece? — Emily finalmente quebrou o silêncio, sem conseguir esconder a incredulidade em sua voz. — Quer dizer… um clube de swing? Como isso poderia salvar o seu casamento?

Isabela soltou uma risada breve, mas não zombeteira. Era o riso de alguém que já havia feito as mesmas perguntas para si mesma, no passado.

— Eu sei. Parece algo extremo, até absurdo, quando você ouve pela primeira vez. — Isabela fez uma pausa, inclinando-se um pouco na cadeira, seus olhos focados no espelho, como se estivesse escolhendo cuidadosamente as palavras. — Mas o Obsidian não é apenas sobre sexo, gata. É sobre liberdade, sobre reconexão. É sobre se redescobrir e permitir que você e seu parceiro explorem lados um do outro que talvez nunca tenham conhecido antes.

Emily arqueou uma sobrancelha, cética, mas também intrigada.

— Como assim? — Ela perguntou, buscando mais explicações.

Isabela suspirou suavemente, como se estivesse abrindo uma porta para um mundo que só ela conhecia.

— Quando Gabriel e eu começamos a nos distanciar, assim como você e Adriano, eu me senti exatamente como você está agora. Sozinha, frustrada, e com medo de que talvez não houvesse mais o que fazer para salvar nosso casamento. Eu tentava de tudo… jantares românticos, conversas sérias, mas nada parecia trazer aquela faísca de volta. A intimidade entre nós havia morrido, e eu tinha medo de que fosse o fim. — Ela olhou para Emily, seus olhos agora mais suaves, quase vulneráveis. — Foi aí que ele me sugeriu o clube.

Emily observava, seus dedos agora parados sobre os materiais de trabalho. Ela esperava saber mais.

— No começo, eu também fiquei horrorizada — continuou Isabela, com um pequeno sorriso ao lembrar da reação inicial. — Eu achava que um lugar assim só pioraria as coisas. Mas, quando fomos lá pela primeira vez, tudo mudou. — Sua voz ficou mais baixa, como se as lembranças daquele momento a envolvessem. — Não se trata de pular direto para a cama com outras pessoas, como você pode imaginar. O Obsidian oferece um espaço seguro onde você pode experimentar, observar, e, mais importante, se reconectar de maneiras que o mundo lá fora não permite.

— Mas como…? — Emily começou, sua mente ainda lutando para entender. — Isso parece muito contraproducente.

Isabela sorriu novamente, desta vez com mais compreensão.

— O clube cria uma atmosfera onde você pode deixar de lado suas inibições, onde pode ver seu parceiro de outra forma, onde pode explorar desejos que talvez nunca tenham vindo à tona. Gabriel e eu começamos devagar, apenas observando no início. Mas só de estarmos naquele ambiente, de nos ver através de outros olhos, algo despertou em nós. O desejo voltou, e não era só sobre sexo. Era sobre o que o sexo representava… poder, vulnerabilidade, confiança. E isso trouxe de volta o que havíamos perdido: a conexão.

Emily ficou em silêncio, absorvendo tudo o que Isabela dizia. Parte dela ainda estava cética, mas outra parte… estava curiosa. Talvez fosse a oportunidade que ela e Adriano precisavam. Um lugar onde pudessem se ver de maneira diferente, se reconectar de formas que nunca consideraram antes.

— Então, vocês não… — Emily começou a perguntar, sem saber exatamente como colocar as palavras. — Vocês não fizeram nada… logo de cara?

Isabela balançou a cabeça.

— Não. Não é sobre você fazer algo com que não se sinta confortável. É sobre explorar no seu tempo. Você pode ir lá apenas para observar, sentir o ambiente, e ver se isso desperta algo entre você e Adriano. — Isabela deu uma pausa e depois acrescentou, com um brilho nos olhos: — E, acredite, desperta.

Emily baixou o olhar, mordendo o lábio enquanto tentava processar tudo. Ela se perguntou como Adriano reagiria a uma sugestão como essa. Ele mal conseguia se afastar do trabalho. Como ela o convenceria a entrar em um lugar como o Obsidian?

— E se ele não quiser? — Emily finalmente verbalizou seu medo.

Isabela cruzou os braços e deu de ombros, como se essa fosse uma pergunta que já esperava.

— Olha, eu também relutei no início, mas Gabriel foi claro comigo. Ele queria tentar algo diferente, algo que pudesse nos salvar. Quando vi o quanto isso era importante para ele, eu aceitei. — Isabela inclinou-se ligeiramente, os olhos fixos nos de Emily. — Tudo depende de como você apresenta a ideia. Se Adriano te ama como Gabriel me ama, ele vai, pelo menos, considerar a possibilidade.

Emily respirou fundo, sentindo o peso daquela decisão à frente. Havia algo sedutor na ideia de reacender a chama de seu casamento, de se reconectar com Adriano de maneiras que ela nem sabia ser possível. Mas, ao mesmo tempo, a ideia de entrar em um clube de swing ainda parecia radical. Não era algo que ela jamais havia considerado.

— Pense nisso — disse Isabela, de forma encorajadora. — Não estou dizendo para você decidir agora. Mas se estiver aberta, o Obsidian pode ser a chance que você estava procurando.

Ela terminou de retocar o cabelo de Isabela, mas sua mente estava longe. A ideia de tentar algo tão ousado parecia estranha, desconfortável, mas havia uma pequena faísca de curiosidade que começava a crescer dentro dela. Enquanto Isabela se levantava e admirava o resultado no espelho, Emily estava presa em um turbilhão de pensamentos. Um clube onde poderia redescobrir seu casamento. Uma chance de salvar o que ela temia estar perdido.

— Talvez você tenha razão — disse, quase em um sussurro, enquanto Isabela pagava pelo serviço.

Isabela deu um sorriso de quem sabia que havia plantado a semente certa.

— Quando você estiver pronta, me avise. Posso levar você até lá.

Emily acenou, observando a amiga se afastar em direção à saída. Quando a porta do salão se fechou, a palavra Obsidian continuava ecoando em sua mente. Uma porta que ela jamais havia considerado estava, agora, entreaberta.

Ela ficou ali por um momento, estática, observando o reflexo no espelho enquanto a luz da manhã entrava pelas janelas. Suas mãos mexiam automaticamente no balcão, ajeitando escovas e produtos, mas sua mente estava longe, perdida em pensamentos.

Ela tentou imaginar o lugar, um clube onde fantasias poderiam ser vividas sem julgamento, onde ela e Adriano poderiam redescobrir algo que parecia ter se perdido. O pensamento era desconcertante, mas ao mesmo tempo intrigante. Até a noite passada, ela sequer consideraria algo assim. Mas agora, depois da conversa com Isabela, a ideia estava profundamente enraizada, como uma pequena faísca que poderia se transformar em algo maior.

Emily suspirou, apoiando as mãos no balcão e encarando seu próprio reflexo no espelho. Havia algo diferente em seus olhos agora. Antes, o reflexo sempre mostrava a mesma imagem: uma mulher forte, controlada, que sabia o que queria. Mas agora ela via outra coisa, algo que não conseguia nomear, mas que se manifestava na forma de dúvida, inquietação.

“E se Isabela estivesse certa?” A pergunta apareceu de repente, sem permissão. “E se aquele clube fosse a única maneira de salvar seu casamento com Adriano?” Ele se distanciara tanto que, às vezes, Emily se perguntava se ele ainda a via de verdade. Eles não eram mais o casal que foram um dia. Agora, o relacionamento estava à beira de um precipício, e Emily não sabia mais como puxá-lo de volta.

— Eu não posso acreditar que estou pensando nisso — murmurou para si mesma, balançando a cabeça.

“Mas e se ele aceitasse?”, “E se isso fosse a chave para reacender o desejo entre eles?”

Emily imaginou como seria a primeira noite. Eles entrariam juntos no clube, o ambiente misterioso e sensual os envolveria. Ela poderia ver a curiosidade nos olhos de Adriano, talvez o medo inicial também, mas logo ele relaxaria, e eles se encontrariam novamente… não como marido e mulher atolados na rotina, mas como amantes redescobrindo um ao outro. Talvez, naquele espaço onde o desejo pairava no ar, Adriano pudesse finalmente vê-la novamente — realmente vê-la, da forma que ele não via há tanto tempo.

Ela mordeu o lábio inferior, um gesto que fazia sempre que estava imersa em pensamentos. Havia algo sedutor naquela ideia. Algo que ela sabia que poderia arriscar. Mas, por outro lado, havia também o medo — medo de que Adriano não aceitasse, de que aquilo fosse longe demais. E se isso apenas ampliasse a distância entre eles? E se, ao invés de reacender a chama, isso a apagasse de vez?

Enquanto finalizava a organização do salão, sentiu o telefone vibrar. Era uma mensagem de Adriano.

🗨 ADRIANO: Reuniões até tarde hoje. Não me espere para o jantar.

As palavras curtas, secas, tão previsíveis quanto sempre. Emily olhou para a tela do celular por mais tempo do que o necessário, como se esperasse que outra mensagem surgisse. Algo mais pessoal, algo que mostrasse um resquício do homem que um dia a fez se sentir viva.

Mas não veio nada.

Ela guardou o telefone e, pela primeira vez, permitiu-se considerar a possibilidade de que o Obsidian não fosse uma loucura. Talvez fosse exatamente o que ela e Adriano precisavam. Uma experiência tão fora do comum, tão intensa, que pudesse quebrar as barreiras que o tempo e a rotina haviam construído entre eles.

“Eu vou sugerir isso a ele”, pensou finalmente. “E se ele não quiser, eu vou sozinha.”

Com essa decisão, uma nova determinação tomou conta de Emily. A chama da curiosidade, acesa pela conversa com Isabela, agora ardia mais forte. E, pela primeira vez em muito tempo, Emily sentiu que tinha um plano. Um caminho a seguir. Algo que, se não salvasse o casamento, pelo menos a ajudaria a encontrar uma nova versão de si mesma.

AUTOR: Mais uma série iniciada. Deixe sua avaliação e seu comentário 😁⭐⭐⭐

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Comentários

Foto de perfil de Al-Bukowski

Estreladíssimo, Fabio! Mais um belo conto, introduzindo uma série que promete. Relações desgastadas causando esse tipo de sensação e a necessidade de buscar algo mais. E sempre com o risco de saber até onde ir a não colocar tudo a perder.

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Foto de perfil genérica

Rapaz, você nunca escreve "qualquer coisa" né? Sempre uma história mais complexa, onde você vai desenvolver bem, sem pressa.

Três estrelas e já vou ler os outros.

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Foto de perfil de P.G.Wolff

Muito interessante. Alguns casais decidem ir a clubes desse tipo por essa razão, mas muitos estão felizes juntos e desejam expandir as possibilidades no âmbito do sexo.

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Foto de perfil de Samas

Caraca que incrível essa história! Se no início a Emily já demonstra insegurança com relação ao casamento,ao futuro dos 2 ,e acredito que esse clube vai despertar a face oculta dos desejos de cada um . Agora não entendi porque ela demonstrou surpresa quando a amiga sugeriu um clube sendo que ela já sabia do que se tratava .

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Foto de perfil de P.G.Wolff

Exatamente. Talvez a conversa com a amiga tivesse ocorrido anteriormente, mas o autor poderia ter esclarecido isso.

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Foto de perfil de Samas

Exatamente pois ela já pensava nesse clube antes da conversa com a amiga embora tenha ficado surpresa quando essa sugere um clube para melhorar o relacionamento .Pode ser que mais adiante esse conhecimento do clube venha se revelar como ela sabia

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Foto de perfil de Fabio N.M

Eu explico. Eu já tinha abandonado essa história e resolvi retomar ela e reescrever. O parágrafo que sugeria que ela já tinha conhecimento do clube ficou fora de ordem, mas já arrumei 😅.

Pra se ter ideia originalmente essa história seria narrada pelo Adriano, mas resolvi mudar.

Obrigado por ter notado.

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Foto de perfil de Samas

Cara ainda bem que você resolveu retomar ela pois é uma história ótima .

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Foto de perfil de Morfeus Negro

Bem, o título me chamou a atenção, também gostei desse capítulo, da Emily, suas questões e inseguranças quanto ao casamento que passa por uma crise. Gostei também do ritmo ds narrativa e seu desenvolvimento, sem pressa, se preocupando nesse início em dar ao leitor toda uma ambientação da história. Aguardando a sequência.

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