Nota: Se você quiser um mini spoiler, continue lendo; se quiser "viver" o processo, pule para o próximo parágrafo. Não gosto de surpreender para o lado negativo, mas não tenho como contar a nossa história sem citar esses episódios tão marcantes. Será uma leitura longa e talvez maçante por algum tempo, não sei dizer quantos capítulos, porém de suma importância para quem somos hoje. Sem esse aviso, minha consciência ia pesar. Boa leitura! 😂❤️
O dia da consulta chegou. Antes, Júlia havia pesquisado no Google quais exames poderiam ser solicitados e fez todos. A ginecologista analisou e disse que ela era fértil como um coelho, rs! Eu apenas fui examinada e a Dra. me passou alguns exames de rotina, já que eu não pretendia gestar mais nenhum bebê.
Entramos em um papo gostoso sobre os métodos. Minha mulher estava toda animadinha, tirando suas dúvidas; os olhinhos chegavam a brilhar. A médica percebeu e começou a prescrever novos exames, aconselhando-a a não perder tempo, já que visivelmente desejava tanto.
Saímos e ela estava caladinha, mas extremamente feliz, saltitando de alegria e segurando a minha mão. Entramos no carro e Juh não conseguia esconder sua empolgação.
— Gostou das notícias, não foi, gatinha? — perguntei.
Ela apenas me encarou, e sua feição respondia melhor do que qualquer palavra. Seus olhos brilhavam intensamente, cheios de alegria. O sorriso largo iluminava seu rosto, fazendo com que suas bochechas se elevassem de forma adorável. As sobrancelhas estavam levemente erguidas, expressando empolgação. Sua energia era contagiante, e a maneira como suas mãos se moviam, esfregando freneticamente uma na outra, transmitia uma animação incontrolável, fazendo com que eu também me sentisse envolvida naquela alegria.
Até o meu útero aposentado coçou!
— Se você ficar me olhando assim, eu vou meter uma criança em você agora! — brinquei, puxando seu rostinho para poder beijá-la.
— Amoooor, essa foi a primeira vez que fui a uma consulta e saí tão radiante! — respondeu-me.
— Isso está perceptível, gatinha — falei, com a mão ainda no seu rosto.
— Seria muita loucura agora? — perguntou-me.
PQP, eu estava pensando a mesma coisa. Ao mesmo tempo em que achava maluquice ir tão rápido, sendo que tínhamos todo o tempo do mundo e Kaká havia recém-chegado em nossas vidas, aquele papo despertou em mim a vontade de explorar a possibilidade.
— Acho que seria bem louco da nossa parte... — vi seu sorriso mudar um pouco, mas eu ainda não havia terminado a frase — Mas uma loucura sensacional de viver — e o seu belo sorriso retornou.
Retornamos para casa e, no sofá, com ela no meu colo, ficamos sonhando com mais um bebê em nossas vidas. Imaginando como seria a dinâmica entre os irmãos, com certeza iriam adorar, e o carinho transbordaria pelas paredes da casa. Mas será que sentiriam ciúme? Um recém-nascido com certeza exigiria muito do nosso tempo e atenção. Será que Kaique e Milena estavam preparados para tal mudança? Para essa pergunta ainda não tínhamos resposta, mas havia dentro de mim a certeza da adaptação. Os dois são ótimos filhos, extremamente amorosos, inteligentes e acolhedores.
A imagem da nossa família crescendo tomou conta da minha cabeça. A energia emanada pelo sorriso daquela linda mulher cacheada no meu colo adentrou meu coração. Eu não via a hora de ter uma miniatura de Júlia com seus traços em nossos braços. Eu necessitava que tudo virasse realidade.
— Se eu pudesse, te engravidava agora! — brinquei, jogando-a sobre o sofá e deitando por cima.
— Sou tão feliz por não parecer uma maluca empolgada, por você viver na mesma vibe que eu, por compartilharmos essa pulsação em viver e por sentir seu amor de forma crescente a cada dia... Eu te amo tanto, amor! — disse-me.
— Eu também te amo, minha gatinha... Dá um pouco de medo por achar que estamos indo muito rápido, mas isso não me impede de querer mais. Cada momento ao seu lado é intenso, cada segundo é precioso. A alegria de saber que estou vivendo com o amor da minha vida faz valer a pena. Nós sabemos o que queremos e dividimos mutuamente esse desejo de amar com urgência. Essa chama que queima em nosso peito nos une! — falei.
Ficamos de amorzinho um bom tempo no sofá, pensando nos métodos e até alguns nomes começaram a surgir: Maya, Luna, Malu, Aurora, Cristal, Mavie, Santiago, Orion, Dom, Luigi, Otto, Dante...
— Os de meninas até que batem, mas Orion, amor? Pelo amor de Deus! — brincou.
— Nem fudendo que vou ter um filho chamado Luigi — brinquei de volta e rimos.
— Será que vou ficar muito chata com os hormônios? — perguntou-me.
— Bem... Pela minha breve experiência, acho que é bom a gente investir em algumas caixas de lenços... Mas você não fica chata, fica sensível, enjoada... E engraçada... Pena que não posso rir, você fica bravinha — falei, segurando o queixo dela para um selinho.
— Isso, não é para rir mesmo — falou, convencida, e eu dei mais um beijo.
Juh preferia tentar primeiro o método FIV, e nós tivemos uma conversa consciente de todas as coisas que poderiam acontecer, inclusive, não dar certo de primeira. Ela disse que se não desse certo, se eu concordasse, ela ia querer tentar a Inseminação Artificial. Falei que a decisão dessas coisas seria dela; eu a apoiaria em suas preferências, quaisquer que fossem.
As crianças chegaram, estavam na casa de Lorenzo brincando e, quando nos viram naquele climinha gostoso no sofá, se juntaram a nós. Permanecemos por um bom tempo ali, ouvindo tudo o que haviam feito. Até biscoito prepararam com a ajuda de Sarah e estavam explodindo de felicidade. Juh e eu, no caminho para casa, combinamos de levá-los para andar de kart no sábado. Quando anunciamos a notícia, eles pulavam de um lado para o outro sem parar e sem conseguir conter o entusiasmo.
Sobre a provável futura gravidez, decidimos fazer como na adoção: esperar algo concreto para poder contar para nossos filhos e para o restante da família. Era melhor assim, sem gerar pressão ou frustração caso não funcionasse ou demorasse a ocorrer.
Eles foram tomar banho e eu fui preparar o café. Minha mulher me ajudou a pôr a mesa e logo subiu para fazer o mesmo que nossos filhos. Fui atrás também. Quando estava próximo do quarto de Mih, ouvi Juh chamando a atenção dos dois.
— Vocês dois sabem muito bem que Kaique não pode brincar de luta ainda. O jiu-jitsu tem muito contato e pode acabar machucando-o. É isso que vocês querem? — perguntou de forma séria.
Não houve resposta, pelo menos não que eu pudesse ouvir.
— Querem perder a ida ao kart? Lore e eu achamos que ia ser divertido, mas se vocês não estiverem merecendo, cortamos esse passeio e ficamos em casa. Como vão preferir? — perguntou firmemente.
— A gente vai se comportar, a culpa foi minha, eu que pedi — disse Kaká, com uma voz triste.
— Mas eu sou mais velha, não deveria ter aceitado. Kaique não tem culpa, eu tenho — disse Mih, com o mesmo tom do irmão.
— Não importa de quem é a culpa, só não quero ter que voltar para um hospital tão cedo, entendem? — perguntou. E depois disso, só ouvi barulhos, muitos beijinhos e risadas.
— Não tira o kart, mamãe — pediu Mih.
— Nós vamos, vocês são ótimos filhos. Sei que vão se conter, não vão? — perguntei, e pude ouvir um sonoro "SIMMMM", seguido de novos beijos e risadas.
Rindo, segui para o banho. Júlia entrou e se juntou a mim. Em um abraço, desabafou.
— Amor, acho que não sei reclamar com eles — falou.
— Oxe, eu discordo totalmente. Acabei de ouvir o diálogo que vocês tiveram e você agiu perfeitamente bem. Eu não faria nada diferente. — falei, passando as mãos em seu rosto.
— Sempre fico com dó, com a sensação de que estou exagerando e eles não merecem isso... — continuou falando.
— Paranóia sua! O que você fez de mais? Nada... Só disse que, se continuarem desobedecendo, vamos retirar as coisas que eles gostam. O que tem de exagero nisso, gatinha? — perguntei.
— Nada... — respondeu-me com um sorrisinho, e eu dei um beijinho.
— Se não colocarmos limites, quem vai pôr? Melhor que seja a gente! — concluí.
No outro dia, a levei à nutricionista e fomos fazer os nossos exames. Os meus foram rápidos e, por incrível que pareça, os de Juh também, por ela ter se antecipado. Três dias depois, já tínhamos resultado e a médica ficou super feliz por nossa decisão em dar prosseguimento. Lá, Júlia fez mais uma ultrassom para avaliar os folículos e já saímos de lá para comprar as suplementações e medicações orais e injetáveis, que seriam aplicadas durante dez dias para estimular o ovário a produzir mais óvulos: hormônios!
Para o terror da minha mulher, foi indicado também acupuntura, mas ela ainda estava pensativa sobre o assunto. Falei que eu já havia feito e achei relaxante, mas que, no caso dela, era só uma das várias técnicas usadas para ajudar na fertilização. Quando ela começou a pesquisar e viu que trazia resultados em alguns casos, mas não era cientificamente comprovado, tomou a decisão de não fazer.
(Se fosse qualquer outra coisa sem comprovação científica, ela faria sem problemas, mas como envolve agulhas, Juh se apoiou nisso 🤣)
Na sexta-feira, começamos a aplicação da canetinha, com uma preparação longa, regada a beijos e tentativas falhas de acalmá-la.
— Amor, você mesmo pode fazer isso. É tão pequena e fininha essa agulha... — falei.
— É tudo agulha, amor, e sozinha eu não vou conseguir. Tenha um pouco mais de calma... — lamentou, enquanto se afastava de mim, como se quisesse me impedir, com as mãos esticadas para frente.
— Deita aí, Júlia. Vou pôr gelinho e você nem vai sentir, prometo! — tentei.
Com muito receio, ela deitou, mas ainda me pedia calma e paciência.
— Gatinha, eu estou um poço de calma. Quem tá nervosa é você — e dei mais um beijinho nela.
— Vai! — disse, fechando os olhos e apertando meu braço esquerdo.
Me aproximei e ela começou a proferir uma sequência de nãos, mas não dava mais tempo de voltar atrás. Segurei a barriga e apliquei. Dei um beijinho um pouco acima e devolvi o gelo para o local.
— Doeu, amor? — perguntei, e ela só acenou que sim. Tentei não rir, mas foi impossível.
— Agora faltam nove — falou, jogando a caixinha longe.
— Acho que você precisa de acupuntura pra relaxar — brinquei e só recebi uma encarada. Afirmei que era brincadeira e a abracei, enchendo-a de beijinhos.
Naquela madrugada, ela começou a vomitar. Quando ouvi, já sabia o que estava acontecendo e fui apoiá-la. Emocionalmente, estava estável, pelo menos.
Toda aplicação era uma novela. Ao mesmo tempo que Juh sabia que precisava tomar, sentia um medo absurdo. Acabava sendo um pouco engraçado.
O domingo chegou e foi bem divertido. Tivemos uma mini aula com instrutores e os adultos deram as primeiras voltas. Logo depois, foram as crianças. Apesar de nossos filhos terem idade mais do que suficiente para brincar, a altura foi um problema e eles não puderam participar de todas as modalidades. Não ligaram tanto, pois a corrida (tem um nome correto, mas não lembro) era o que mais queriam e estava liberada.
Juh ficou olhando atentamente enquanto eram medidos e, quando saíram, em um movimento brusco, ela virou-se contra mim, colando seu rosto. Eu percebi que estava chorando. Tentando descobrir o que havia provocado aquela reação, comecei a perguntar o que tinha acontecido, enquanto fazia carinho em seu rosto.
— Eles estão crescendo muito rápido! — exclamou, olhando para mim, com as bochechas rosadas e lágrimas nos olhos.
Dei um beijinho em sua testa, em meio a um sorriso, e a abracei até que se sentisse melhor. Ela olhou para um lado e para o outro e viu que algumas pessoas estavam olhando.
— Agora estou com vergonha — disse-me baixinho.
Eu ri, apertando o abraço, e disse: — Não precisa ficar, amor.
Depois de muito brincar, as crianças voltaram eufóricas, pedindo que, por favor, pudéssemos voltar outros dias, porque amaram a programação. Falei que podíamos sim retornar, mas ainda tinha muita coisa nova e divertida para fazer. Eles amaram e vibraram, pulando no banco de trás.
De todas as aplicações, a dessa noite foi a mais melancólica. Na medida em que estávamos naquele momento de preparação interminável, comecei a beijá-la. Enquanto isso, tirei o gelo, limpei o local, cessei o beijo e, sem aviso prévio, administrei a medicação. Rindo, entreguei a caneta nas suas mãos. Quando essa mulher percebeu o que tinha acontecido, a casa caiu para mim. Foi um chororô, dizendo que foi uma traição da minha parte. Júlia ficou extremamente brava e subiu as escadas para o quarto chorando. Resolvi dar um tempo antes de subir, até porque eu não queria rir e deixá-la mais irritada comigo. Fui ao seu encontro e lá estava ela, no meio dos nossos filhos, que faziam carinho. Ela já estava mais calma.
— A mamãe precisou tomar uma medicação hoje — expliquei para os olhinhos questionadores em minha direção.
— Para quê? — perguntou Kaique.
— Pra estimular algumas coisas — falei.
— Ela tá chorando porque tomou injeção? — perguntou Milena.
— Na verdade, ela está chorando porque eu não avisei antes de aplicar — me juntei a eles na cama — aí vim pedir desculpas... — falei, fazendo carinho em sua face.
— Mãe! Era pra ter avisado! — disse Mih, também brava.
— É, mãe! Tem que avisar! — disse Kaká, do mesmo jeito.
— Eu sei, eu sei... Preciso da ajuda de vocês pra a mamãe me perdoar... Cê me desculpa, amor? — perguntei para Juh.
Embora nossos filhos estivessem apoiando-a, fizeram um coro estimulando o perdão. Ela deu um sorrisinho para eles e acenou que sim para mim. Eu também sorri e depositei um beijo em seus lábios. Depois, agarrei meus dois colaboradores, agradecendo. Como prêmio, informei que em breve iríamos ao Super Jump (um lugar cheio de cama elástica e uma piscina de espuma) que tinham armado no shopping, e eles foram para o quarto deles, bem felizes.
Juh estava no leste e eu, no oeste da cama. Ela ainda não tinha trocado uma palavra comigo; às vezes, nem precisa. Estiquei meu braço e a chamei. Mesmo meio séria, ela veio e se aconchegou em mim. Após algum tempo naquela posição, com uma das minhas mãos fazendo cafuné e a outra agarrada à sua cintura, ela disse: — Desculpa também, foi um exagero da minha parte...
— Eu entendo, neném... São os hormônios, você não é assim... — a confortei.
— Me avisa antes sempre, tá? — me pediu, e eu confirmei com um beijinho.
Durante a madrugada, levantamos algumas vezes pelo mal-estar e diversos enjoos que sentiu até vomitar. Dava um desconforto imenso saber que estávamos no início do processo com ela tendo todas aquelas reações e sem poder ajudar com muita coisa, apenas prestando meu apoio.
— Quer continuar, amor? — perguntei, enquanto retornávamos à cama, e ela confirmou, voltando a apoiar sua cabeça sobre mim.
A única coisa boa que esses hormônios trouxeram durante o processo foi a libido no teto. Principalmente pela manhã, acordei diversas vezes com algumas surpresas ou pedidos ao pé do ouvido, e todos foram atendidos com excelência! 😌
Durante esses dez dias, ela deve ter feito umas três ultrassonografias para ir observando se estava dando resultado, e obtivemos o que pode ser chamado de satisfatório: 22 folículos. No nono dia, foi preciso tomar três injeções de uma vez para a maturação dos óvulos, e essas eu senti muita dó. Foi sem drama, doeram de verdade. O teste de ovulação deu um positivão e Juh ficou super feliz.
— Imagina quando for o de gravidez? — falou, com um sorrisinho lindo.
— Você tá sendo muito corajosa, enfrentando seus medos, amor... — falei em seu ouvido, enquanto ela nos observava pelo espelho.
— Com fé, vai valer a pena e vem um bebê para nós duas — disse, com a mão na barriga. Eu juntei as minhas à dela, enchendo seu pescoço de beijinhos.
— Cê tá com uns peitãos — brinquei, apertando.
— Paaaara, que hoje não podemos fazer nadinha — se virou, me abraçando para me impedir de continuar.
— Saiba que eu não estava pensando em nada disso — menti descaradamente, mas ela já me conhecia o suficiente.
— Seeeei, amor... Sei... — me respondeu, rindo e dando pequenos beijinhos sobre minha pele.
No outro dia, a levei para a coleta. Chegamos um pouco mais cedo porque precisava ser feito exatamente 36 horas após a última aplicação e em jejum. O procedimento é feito sob efeito de anestesia.
Dentro de alguns poucos minutos, no máximo 20, Juh já estava de volta ao quarto onde eu a esperava. Ficou um pouco sonolenta, mas foi despertando aos poucos e logo se preocupou em saber se tudo havia corrido bem. Eu confirmei: conseguiram colher quatorze óvulos. Fomos para casa algumas horas depois e, no dia seguinte, enquanto perguntava se meu amor estava bem, ela relatava apenas sentir-se inchada, o que era normal. Recebemos uma ligação de atualização onde explicaram que dez dos quatorze óvulos estavam maduros e foram fertilizados. No dia três, recebemos a notícia de que os dez continuaram a evoluir e, no dia cinco, também nos disseram as notas dos embriões: cinco eram A (sucesso!). Marcamos o dia em que saberíamos mais ou menos a data da transferência, que seria um mês após. Durante esse processo, Juh continuou monitorando os hormônios e fazendo ultrassom.
Continuamos vivendo nossa vidinha de férias enquanto isso, com uma mulher manhosa e dois filhos fofinhos. Eu apenas ia fazendo as vontades deles. Fomos ao teatro e Milena e Kaique assistiram ao espetáculo encantados, de pé durante todo o tempo e sem piscar. No final, vi que teria uma aula experimental e perguntei se desejavam participar. Com a resposta positiva, os inscrevi. Eles adoraram. Assim que fizeram, pediram para serem matriculados. Juh viu direitinho os dias para não baterem com o jiu-jitsu e o futebol de Milena, que futuramente Kaká também faria, e apoiamos a ideia. Se não desse certo, era só sair; achei que mal não ia fazer. Eram crianças super expressivas, sem vergonha de nada e com energia de sobra.
Uma semana após a consulta, foi marcada a transferência. Com base nos últimos exames apresentados e na última troca de medicamentos, Júlia estava bem animada e um pouco tensa. Eu estava mais ansiosa que tudo, fiquei fazendo massagem em seus ombros enquanto a doutora não chegava. Foi bem emocionante para nós duas ver tudo acontecendo. Não demora muito, mas é bem tocante. Fui lembrando de todos os dias até chegar ali e, quando percebi, já acompanhava minha amada em suas lágrimas. Segurando sua mãozinha, vimos todo o processo e a pequena sementinha foi finalmente implantada!
Nos avisaram para prestar bastante atenção aos sintomas e, a partir do 9º ao 11º dia após a transferência, já poderia ser feito o teste de gravidez.
— Amor, pode ter um neném na minha barriga nesse exato momento — falou Juh, empolgada.
Sorri e a enchi de beijos, abraçando-a bem forte. Eu estava extremamente orgulhosa da minha mulher e torcendo para que nossa família crescesse com aquele bebezinho.
No nono dia, Juh me acordou pulando na minha cintura, com o teste em mãos. Me deu um beijinho e fomos ao banheiro.
— Sabia que eu nunca tinha visto um teste de gravidez antes? — me perguntou.
— Sério? Nem pra nenhuma amiga? — perguntei.
— Não... — me respondeu, enquanto lia linha por linha. Acho Júlia fofa nas coisas mais normais que ela faz.
Ela fez o teste e esperou o resultado com o rosto enfiado no meu peito, rezando por um positivo... E ele não veio.
— Não grávida — mostrei para ela.
Apertei o abraço e fomos para a cama conversar.
— Amanhã a gente pode fazer outro... — disse, um pouco desanimada.
— Vem cá, amor... — a acolhi com um abraço, ficando assim por bastante tempo.
No outro dia, outro negativo e, no último dia, também.
Uma tristeza sem fim tomou conta da casa quando veio a menstruação. Fez a ficha cair de que realmente não tinha dado certo. Mandei mensagem no grupo com meus irmãos pedindo que algum dos dois ficassem com as crianças e os dois se juntaram para fazer um acampamento dentro da casa de Loren.
— Será que a culpa é minha? — Será que eu vacilei na alimentação? — Será que foi por não fazer acupuntura? — Será que eu devia ter tomado mais chás?
Eram os questionamentos que passavam na cabeça da minha mulher. Eu negava todos eles quando eram expostos. Se existisse um culpado, não era ela. Júlia se esforçou em cada passo, se superou a cada dia. Se tinha uma coisa que eu sentia naquele momento em relação a ela, era satisfação. Deixei claro que iríamos passar por aquilo juntas. Doía não ter dado certo e doía ver o meu amor naquele estado.
— Eu te amo, amor — disse-me depois de um tempo, enquanto eu enxugava suas lágrimas.
— Eu também te amo, minha gatinha — falei e a beijei.
— Não vou desistir agora — afirmou.
— Depois a gente pensa nisso, tá? Vamos viver o processo... — respondi, e ela confirmou.
Querendo ou não, precisaríamos esperar até o próximo ciclo para uma nova tentativa. Naquele momento, a última coisa que eu queria pensar era em vê-la passando por tudo aquilo novamente. Eu poderia jurar que não queria ter mais filhos se tivesse que ver Júlia tão mal novamente. Os dias foram passando, ficando mais alegres. Nossos dois pinguinhos de gente (não mais tão pinguinhos assim), mesmo sem saberem de nada, nos animaram apenas em viver a vida conosco. Nossos dias divertidos ficaram mais caseiros, mais tranquilos, mas não menos divertidos. A casa da máquina da piscina é um pouco grande e nós deixamos eles pintarem e desenharem. Criaram um cantinho colorido lá, e nos pintaram. Fiquei azul igual os caras da Tim e Juh, verde como a Fiona!
Aos poucos, a vida foi voltando ao normal. Tínhamos pouco tempo de férias agora e resolvemos ir para a casa dos meus pais (que não é o interior que passo o São João) para espairecer mais ainda a cabeça.