Uma grande mudança em nossas vidas cap 2.4

Um conto erótico de Manfi82
Categoria: Heterossexual
Contém 2269 palavras
Data: 03/11/2024 14:02:29

Jornada de "Renascimento"

Transformação de Amanda 3

Relembrando como terminei meu último relato:

“Assim como meu pai, que sentiu a necessidade de deixar sua história escrita para que, através dela, eu pudesse aprender algo, sinto agora que é minha vez de fazer o mesmo por vocês. Sei que esse é apenas um capítulo crucial da minha própria jornada, uma peça que faltava para entender e começar a curar as feridas que deixei abertas.

Mas minha transformação, sei bem, só será completa após a conversa que ainda preciso ter com meu pai. Uma conversa que talvez me permita, enfim, reparar as marcas do passado e seguir em frente com um novo entendimento.”

……

Tio Paulo revelava-se cada vez mais como a pessoa generosa e acolhedora que vocês, felizmente, também tiveram a chance de conhecer. Depois de horas chorando e me torturando com as palavras duras que meu pai havia escrito naquela carta, ele apareceu, chamando-me para almoçar.

Na mesa, ele tinha preparado um dos meus pratos favoritos, estrogonofe de filé mignon, e o cheiro cremoso da carne e do arroz trouxe um momento de conforto, mesmo que breve. Vendo o impacto daquele gesto, ele sorriu de leve e me contou:

— Seu pai disse que você ama estrogonofe. Inclusive comentou que prefere o nosso, mais próximo do original, o russo.

Essas palavras atingiram fundo. Assim que ele mencionou meu pai, uma tristeza intensa me invadiu, e as lágrimas voltaram, incontroláveis. Sem dizer nada, Tio Paulo se aproximou e, num gesto suave e acolhedor, me envolveu num abraço. Ele apenas ficou ali, me segurando, enquanto eu deixava tudo o que ainda estava preso dentro de mim sair, sem pressa.

Depois de algum tempo, quando as lágrimas finalmente cederam, ele me levou até a mesa e nos sentamos para comer. O aroma do estrogonofe continuava ali, reconfortante, e cada garfada parecia aliviar um pouco o peso dentro de mim. Durante o almoço, começamos a conversar sobre meu futuro, sobre a nova fase que me esperava em Londrina.

Tio Paulo mencionou que pretendia me acompanhar até lá e ficar comigo pelo menos por um mês, até que eu estivesse instalada e adaptada. Depois disso, ele disse que eu poderia morar sozinha em sua casa, ou até com meu pai, caso ele concordasse.

Ele comentou ainda sobre um vizinho próximo, filho de um de seus amigos de infância e de extrema confiança, e que poderia me ajudar no que precisasse e, até, me fazer companhia quando a solidão batesse.

Apenas agradeci, timidamente, sentindo uma mistura de alívio e desconforto ao perceber o quanto ele já estava planejando a minha vida. Eu sabia que ele queria o melhor para mim, mas não era de aceitar com facilidade que os outros tomassem decisões por mim.

Perceptivo como sempre, ele notou minha inquietação. Então, inclinou-se sobre a mesa, levantou meu queixo com o dedo e me fez encarar seus olhos com um olhar firme e sereno.

– Você é minha sobrinha, quase uma neta para mim – ele disse com uma voz baixa, mas firme. – Prometi ao seu avô, meu irmão, que cuidaria de você e do seu pai no momento em que joguei a primeira pá de terra sobre o caixão dele. – Ele fez uma pausa, os olhos ligeiramente marejados, e respirou fundo antes de prosseguir. – Não quero que você seja uma dessas garotinhas submissas. Nunca criei meus filhos ou netos assim. Se eu ultrapassar o limite, quero que me pare. Não hesite.

Um silêncio pesado se instalou na mesa, e permaneci quieta enquanto ele continuava a respirar de forma lenta e profunda.

Não sabia ao certo se ele esperava uma resposta ou se estava apenas lutando para continuar. Mais uma vez, ele parecia ter dificuldade para falar, como se alguma lembrança dolorosa o impedisse.

– Minha única condição – ele retomou – é que você me ajude a salvar a vida do seu pai. E, pelos seus olhos inchados, vejo que você também tem esse objetivo. Acertei?

O impacto daquelas palavras era como um peso em meu peito. A voz dele carregava um misto de dor e autoridade que me deixava sem reação, quase sem ar. Olhei para ele, tentando captar cada expressão no seu rosto marcado pelo tempo e pelas memórias difíceis. Havia um respeito profundo entre nós naquele instante silencioso, como se ele estivesse me entregando algo muito mais pesado do que qualquer promessa.

A única resposta que consegui dar foi um aceno leve, sem saber ao certo se ele percebia a determinação por trás daquele gesto quase tímido. Mas, ao que parecia, ele entendeu. Um leve sorriso surgiu em seu rosto, um sorriso triste, de quem sabe que está pedindo muito, mas que também sabe que não há escolha.

– Então vamos juntos – ele disse, a voz firme voltando. – Mas não esqueça do que eu disse. Se eu ultrapassar os limites, você me puxe de volta.

Aquela promessa silenciosa entre nós, um pacto que parecia selar um destino. A partir dali, nada mais seria como antes.

Ele então soltou meu rosto, esboçando um leve sorriso. Sorri de volta, e continuamos a refeição em silêncio por alguns minutos, cada um perdido em seus próprios pensamentos. Tio Paulo sempre fora firme, mas sua calma era rara. Ele sabia como me guiar, e eu jamais duvidei das suas intenções.

Depois do almoço, ofereci-me para lavar a louça. Ele apenas sorriu em concordância, colocou uma das panelas na pia e saiu da cozinha, deixando-me sozinha com meus pensamentos. Aqueles minutos de paz, cuidando de uma tarefa simples, foram revigorantes. Concentrada no barulho da água e no toque da esponja, finalmente senti a mente se aquietar e uma sensação de leveza retornar.

Mais tarde, por volta das cinco da tarde, recebi uma ligação do Zeca. Com o humor de sempre, ele começou a contar sobre a "sessão de cinema" com aquela loira tingida. Como combinado, evitou entrar em detalhes, já que mantínhamos esse acordo tácito de não compartilhar certos assuntos. Aproveitei para desabafar sobre a carta do meu pai. A conversa começou leve, mas logo se transformou numa troca de lágrimas e desabafos de ambos os lados.

Por fim, ele comentou que o chefe da academia e o professor tinham iniciado um plano para derrotar o Pedrão. Ele estava empolgado, mas percebi um traço de preocupação em sua voz. Mais uma vez, tentei convencê-lo a desistir dessa vingança que parecia, para mim, sem sentido, mas ele já não era o mesmo Zeca de antes; isso estava claro.

Quando terminamos a ligação, já passava das seis e vinte. Vesti uma roupa simples — jeans preta e camiseta branca, sem nenhuma produção — e desci para encontrar Tio Paulo na sala. Mas, para minha surpresa, ele estava com o rosto pálido e um semblante preocupado.

— Ligaram da clínica — ele disse, a voz baixa, quase um sussurro. — Seu pai teve uma recaída por causa de uma crise de abstinência. Eles o contiveram e o sedaram. Posso te levar lá, mas talvez ele não esteja consciente para conversar.

.

Senti um frio correr pela espinha, mas mantive a calma. Já tinha lido sobre a recuperação de dependentes, e sabia que essas crises eram sinais de que o corpo começava a se livrar dos efeitos do vício. Sem hesitar, concordei e pedi para irmos à clínica ver meu pai.

A viagem até a clínica foi silenciosa, interrompida apenas pelo som do motor e pelos faróis que passavam rapidamente pela janela. Eu observava a estrada, enquanto tentava organizar meus pensamentos. A sensação era de que o ar dentro do carro estava pesado, e a tensão fazia meu peito se comprimir. Tio Paulo dirigia em silêncio, concentrado, mas ocasionalmente lançava olhares rápidos em minha direção, como se estivesse se certificando de que eu estava bem.

Quando chegamos à clínica, o ambiente era frio, com o cheiro característico de desinfetante e o brilho branco das luzes fluorescentes refletindo nas paredes. Eu sentia uma mistura de ansiedade e expectativa, um conflito interno entre o desejo de vê-lo e o medo de encontrar meu pai naquele estado. Ao me aproximar da recepção, tentei engolir o nó que começava a se formar na garganta.

Uma enfermeira nos acompanhou até o quarto dele. No corredor, o som abafado de passos e o murmúrio distante das conversas entre funcionários faziam o ambiente parecer surreal, como se estivéssemos em outro mundo. A cada passo, meu coração batia mais rápido, até que paramos em frente a uma porta com uma pequena placa de número.

Tio Paulo tocou meu ombro, transmitindo um apoio silencioso. Com um aceno de cabeça, ele indicou que eu poderia entrar primeiro. Respirei fundo e girei a maçaneta. O quarto era simples, com paredes brancas e poucos móveis. No centro, meu pai estava deitado na cama, os braços e pernas presos com tiras de contenção. Seu rosto, marcado pelo tempo e pelas batalhas internas, estava virado para o lado, e os olhos semicerrados denunciavam o efeito dos sedativos.

A visão me atingiu com força. Aquele homem, que tantas vezes me pareceu distante e inacessível, agora parecia frágil e vulnerável. Cheguei mais perto, puxando uma cadeira ao lado da cama. Observei as linhas de expressão no rosto dele, as olheiras profundas que mostravam o peso de sua luta interna. Ele estava ali, mas parecia ao mesmo tempo tão distante, preso em uma batalha silenciosa contra os próprios demônios.

Tio Paulo se posicionou ao meu lado, em pé, com a expressão séria e as mãos cruzadas nas costas, transmitindo uma solidez que eu precisava naquele momento. Ele parecia entender que, mesmo em meio à minha dor, era importante que eu visse meu pai assim — que eu compreendesse a profundidade do abismo que ele enfrentava.

Passei alguns minutos apenas observando, absorvendo aquele momento. Toquei a mão dele, mesmo sabendo que ele talvez não sentisse. Seus dedos estavam frios e pálidos, e a sensação de tocá-lo me trouxe uma enxurrada de lembranças e sentimentos conflitantes. Eu queria que ele soubesse que eu estava ali, que não estava mais sozinho, mas ao mesmo tempo sentia o peso de todos os anos de ausência e de mágoa entre nós.

Quando finalmente encontrei forças para falar, minha voz saiu baixa, quase um sussurro. Não sabia ao certo se ele me escutava, mas precisava dizer, mesmo que para mim mesma: - Eu estou aqui, pai. Não vou a lugar nenhum.

Aos poucos, uma calma estranha se instalou em mim. Permaneci ali, sentindo a presença silenciosa de Tio Paulo ao meu lado e o som distante das máquinas de monitoramento preenchendo o quarto. Era um momento de rendição, de aceitação. Eu não podia mudar o passado, mas podia escolher estar ali, agora, com ele, enfrentando esse caminho tortuoso juntos.

Depois de um tempo, Tio Paulo colocou a mão em meu ombro, indicando que era hora de partir. Levantei-me devagar, como se cada movimento exigisse um esforço extra, e dei um último olhar para meu pai, com a promessa silenciosa de que voltaria. Não sabia ao certo qual seria o próximo passo, mas sentia que, de algum modo, havia dado início a uma nova fase, onde não estaríamos mais sozinhos.

- Você precisa resolver seu problema da faculdade. Eu vou com você! Marcel e sua esposa ficaram de sobreaviso. Quando ele sair da clínica, ele vai amar ver você restabelecida e com um rumo. Você não estára sozinha. Eu juro.

Suas palavras penetraram meu coração como um bálsamo, mas eu não consegui articular uma resposta verbal. Apenas assenti com a cabeça, um gesto simples que carregava um peso imenso. Eu sabia que precisava ver meu pai, mas a verdade era que aquela luta era dele, um duelo íntimo contra seus próprios demônios. Minha missão era recebê-lo da melhor maneira possível quando ele voltasse para casa, quando ele voltasse para mim.

Ao sairmos da clínica, o ar frio da noite me atingiu como uma onda refrescante, forçando-me a inspirar profundamente. O cheiro de terra molhada e folhas secas preenchia o ambiente, trazendo um pequeno alívio ao peso emocional que me acompanhava. Olhei para o céu, onde as estrelas começavam a brilhar, como se fossem pequenos pontos de luz em meio à escuridão. Aquele momento de tranquilidade contrastava com a tempestade de sentimentos que ainda fervilhava dentro de mim.

Senti um misto de peso e leveza. O que havia acabado de vivenciar era intenso, e o impacto ainda reverberava em meu ser. Mas, ao mesmo tempo, uma pequena esperança começava a germinar dentro de mim — a ideia de que, talvez, juntos, ainda pudéssemos reconstruir algo valioso, algo que havia se perdido ao longo do caminho. O futuro ainda era incerto, mas pela primeira vez em muito tempo, a possibilidade de um novo começo parecia ao meu alcance.

Ao sairmos da clínica, o ar frio da noite me atingiu, fazendo-me inspirar profundamente. Senti o peso do que havia acabado de vivenciar, mas também uma leveza, uma pequena esperança de que talvez, juntos, ainda pudéssemos reconstruir algo.

No carro, tio Paulo quebrou o silêncio com uma voz baixa e calma. - Não é um caminho fácil, mas você tem mais força do que imagina. E ele, lá no fundo, sabe disso também.

Essas palavras ecoaram em mim, trazendo-me uma compreensão silenciosa. Sabíamos que a jornada seria longa, mas ali, com Tio Paulo ao meu lado, percebi que talvez eu não precisasse enfrentá-la sozinha.

Após dois dias visitei meu pai novamente, mas ele ainda não estava consciente. Resolvemos seguir com o plano de tio Paulo e fomos para Londrina.

Começaria em breve uma nova fase, meu RECOMEÇO.

Mas começarei a relatar para vocês aos poucos, começando pelo meu próximo relato.

Continua…

FICA PROIBIDO A COPIA, EXIBIÇÃO OU REPRODUÇÃO DESTE CONTEÚDO FORA DESTE SITE SEM AUTORIZAÇÃO EXPRESSA DO AUTOR.

Siga a Casa dos Contos no Instagram!

Este conto recebeu 32 estrelas.
Incentive Manfi82 a escrever mais dando estrelas.
Cadastre-se gratuitamente ou faça login para prestigiar e incentivar o autor dando estrelas.

Comentários

Foto de perfil de Hugostoso

Meu irmão, parabéns, que conto, que enredo, e que escrita vc tem!

Vc não é qualquer escritor, desde o seu primeiro capítulo, no seu primeiro conto, já percebi está diferença, este dom que vc tem!

Parabéns de novo, e muito obrigado por vir reforçar um time de escritores que estavam ficando escassos aqui no CDC!

👏🏼👏🏼👏🏼👏🏼👊🏼👊🏼👊🏼👊🏼👊🏼👊🏼

1 0