1. A Partida
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Bianca passara de mera ajudante geral à Secretária do Gerente em tempo recorde. Sim, aquela que é a cara da Monica Bellucci no auge de sua beleza, havia passado informações da Receita Federal para banqueiros e acionistas, e agora tudo fora descoberto. Trinta anos de prisão. Se tivesse muita sorte, talvez vinte e cinco. Tudo havia desmoronado e, pior, antes de ter ficado rica. Sua cabeça estava a mil. A Polícia Federal saía de sua casa levando o notebook, o celular e alguns cadernos. Seu advogado havia sido bem transparente: infelizmente não havia como escapar da sentença que certamente viria. Era o fim.
Na cabeça de Bianca, havia a possibilidade do exílio. Desesperada, ela pega o telefone e liga para vários consulados, que naturalmente se negam a ajudar. Ela não tinha mais esperanças. Dentro de um ou dois dias estaria presa e passaria sua vida na cadeia. O que diria ao seu filho?
Depois de ligar para vários consulados, ela desiste. Começa a chorar, e então, depois de meia hora seu telefone toca. Ela atende.
- Sra. Bianca?
- Sim.
- Eu posso te ajudar. Você disse que já ligou para vários consulados e eu pude confirmar isso - o sotaque era forte, mas era difícil saber de onde.
- Desculpe, quem está falando?
- Infelizmente não posso dizer.
- Como o Sr. pode me ajudar?
- Veja bem... Há um lugar. Uma ilha... Não posso mencionar onde fica, se no Pacífico, se no Atlântico, ou em qualquer outro, porque é uma ilha não-catalogada, para manter-se longe dos radares. Há uma população lá. Muito desenvolvida, por sinal. Não são indígenas, nem nada disso. São como nós... Casas, ruas, escolas... Claro que não é uma metrópole, mas... E eles falam inglês, você fala inglês, certo?
- S... Sim. Mas... Como eu faço pra chegar lá?
- Você não tem mais tempo. Precisa ir imediatamente ao endereço que vou lhe passar, de onde sairá um jatinho.
- Mas eu preciso me arrumar, fazer minhas malas e...
- Bianca, eu não tenho tempo para lhe explicar as peculiaridades da ilha, mas... Pelo menos isso tenho que dizer: eles têm costumes muito diferentes do que você está acostumada. Mas ao mesmo tempo são os melhores seres humanos que já vi. Você não tem tempo para mais nada, Bianca, o jatinho já está carregando e eu não posso me arriscar mais do que já estou. É agora ou nunca.
- Certo... Ok! Eu preciso só pegar meu filho, ele está na escola e...
- Então pega ele agora e já vai para a rua xxxxxxxxx, número xx, SP. Está claro??? Eu preciso desligar.
- Só mais uma coisa, por que está fazendo isso por mim?
- ... Bom, eu sei ser grato. O fato é que as informações que você compartilhou me renderam uma centena de milhões de dólares. Não é justo que a corda tenha estourado só em você, mas infelizmente não há nada mais que eu possa fazerEntendo.
Bianca "voa" em direção a escola, o coração saindo pela boca. Ela tinha uma ordem judicial para não sair de casa. Ela pega o filho na escola e "voa" para o local indicado. Ela nunca tinha pisado tanto no acelerador.
- Mãe, o que tá havendo???
- Filho, pelo menos uma vez na vida, confia na sua mãe!
- Mas que história é essa, eu sempre confiei na senhoooooooooooooraaa, cuidado, mãe!!! - diz Ed colocando o cinto assustado.
Eles chegam numa suntuosa mansão no Morumbi. São esperados no portão pelo o que parecia ser o piloto, que olha o relógio no pulso.
- Estamos atrasados, entrem.
Eles adentram a propriedade e vão logo em direção ao jatinho. Ed estava preocupado:
- Mãe, mas o que tá...
- Filho, pelo menos uma vez... Por favor! Lá dentro te conto tudo!
Eles entram e se acomodam no jatinho, onde havia somente o piloto na cabine dele. O jatinho decola. Bianca se sente uma criminosa escapando da polícia.
No voo, Bianca explica tudo ao filho, que mal podia acreditar em tudo aquilo. Jamais pensaria que a mãe fosse se envolver em coisas assim. E agora, justo no dia em que teve coragem de chegar na Cris, a garota que mexia com seu coração, E ELA TINHA ACEITADO!, justo nesse dia, toda essa merda acontece.
- Me desculpe, filho.
Ed nada responde.
Mais tarde, o piloto deixa o avião no automático e vai conversar com eles.
- Eu sou piloto minha vida toda e nunca vi um lugar tão esquisito pra chegar... Que rota mais estranha!
Bianca então percebe que o piloto não tinha a menor ideia sobre o local para onde estavam indo.
Depois de várias horas, eles pousaram. O piloto não teve autorização sequer para sair do avião. Funcionários o abasteciam pelo lado de fora enquanto desceram apenas Bianca e seu filho, Ed. Eles olham tudo em redor, um lugar exuberante, algo parecido com o que se vê numa Ilha de Caras, ou em Bahamas, embora não houvesse clima de festa, mas de normalidade.
- Caralho, que lugar foda! - diz Ed, impressionado.
Bia respirava aliviada. No avião chegou a imaginar que estava sendo mandada para um campo de trabalho forçado, ou para a fazenda de algum louco tarado. Tudo lhe passou na mente. Mas ver aquela ilha linda e a reação de aprovação do filho foi um grande alívio.
Um casal na faixa dos quarenta e cinco anos, muito bonito, espera ali próximo e dava com a mão. Bianca e Ed vão até eles.
- Sejam bem-vindos! - diz o homem, com um belo sorriso, estendendo a mão - Me chamo Anderson e essa é minha esposa Laís - ela sorri -, somos brasileiros como vocês. E éramos, antes de vocês, os últimos a chegarem à ilha, embora isso já tenha uns vinte anos. Não é muito comum chegar gente nova aqui…
- Certo… Eu sou a Bianca e esse é meu filho, Ed - eles todos se cumprimentam.
Bianca nota que a tal Laís estava com os olhos fixos em seu filho, de uma forma até desconcertante. A roupa era a mesma nos dois, camisa social branca e bermuda bege de escoteiro até os joelhos, embora a tal Laís trouxesse abertos quase todos os botões da camisa. Outra coisa estranha é que aquelas roupas pareciam velhas e, especialmente as de Laís, não lhe caíam bem, como se nem dela fossem. Parecia algo falso e bem improvisado…