Júlia e eu acordamos bem cedo. O fundo do Sítio estava quase pronto; tudo foi organizado lá para aproveitar o espaço e também para que pudessem adiantar as coisas sem que Sarah visse ao chegar. Havia uma grande movimentação, mas extremamente silenciosa. Os músicos procuraram um lugar distante para ensaiar e afinar os instrumentos. Após passar o olhar em tudo e se certificar de que estava correndo bem, Juh retornou comigo ao quarto. Precisávamos acordar as crianças para arrumá-las; na verdade, antes eu queria mesmo era matar a saudade, por isso levantei cedo.
Apertei o ursinho para que eles ouvissem as batidas e Juh começou a chamá-los, também dava vários beijinhos. Mih acordou primeiro e, sem abrir os olhos, abraçou a mamãe pelo pescoço.
— Olha quem chegou — disse minha esposa no ouvido da nossa filha.
Ela foi abrindo os olhos; quando me viu, esboçou um sorriso lindo e exclamou: — Mãeeee!
Saltou para o irmão e me abraçou forte. Nisso, Kaká também acordou e se juntou a nós. Ficamos um bom tempo matando a saudade com muito carinho; eles ainda estavam sonolentos e quase pegaram no sono novamente. Então, resolvemos partir logo para o banho.
Arrumei Milena e Juh arrumou Kaique. O que mais dá trabalho é o cabelo, e eu já estava terminando. Quando precisamos ser ágeis, somos obrigadas a separá-los; senão, fica impossível com tantas distrações que inventam. De repente, Kaká invade o quarto segurando o cabelo, e minha muié apareceu logo atrás com um pote na mão.
— Ele não quer deixar eu ajeitar, amor... — disse Juh, com cara de quem já tinha tentado de tudo.
— Filho, obedece a sua mãe, por favor; a gente não pode atrasar, ou a tia Sarah vai descobrir e, se isso acontecer, acabou a surpresa — aconselhei.
— Não quero geeeeel — falou, balançando a cabeça negativamente.
— Mas não é gel, é gelatina, filho... Vem logo — falou, quase implorando.
— Mamãe, isso é a mesma coisa, vai deixar meu cabelo grudento e duro — disse, se afastando.
— Não é nada a mesma coisa, toca aqui no meu e sente se tá grudento e duro — falou Milena.
Um pouco receoso, ele tocou e, ao perceber que estava enganado, timidamente se sentou perto de Juh para que ela pudesse finalizar do jeito que ele gosta, bem cabelinho de anjo.
— Se eu fosse você, colocava para trás hoje — aconselhou Mih, enquanto ele se avaliava no espelho.
— Ficou feio? — perguntou, preocupado.
— Não, mas pode ficar bonito de um jeito diferente — disse-lhe.
Juh passou o pente e a gelatina para as mãos dela, e Milena foi pondo em prática o que imaginou. Pediu um elástico grande e passou de forma que o cabelo permanecesse solto, mas caído para trás, e ficou extremamente elegante; só perdeu a carinha de neném.
— Não sei se tá bonito, mas tá diferente... — falou ao retornar para o espelho.
— Você tá lindo, para de coisa — disse Milena. — Agora só tem que pedir desculpa à mamãe...
— Desculpinha! — pediu, ao agarra-la pela cintura.
— Tá tudo bem, lindão... Agora senta naquela mesa — disse Juh, apontando pela janela — e toma cuidado para não se sujar!
Ele assentiu e foi.
— Você cuida muito bem dele, Mimi — disse Juh, enquanto nossa filha sorria.
— Nota dez como irmã, parabéns! — falei.
— Irmã mais velha! — ela completou. Eu confirmei, rindo, e ela se juntou a ele, seguindo as mesmas instruções.
— Agora eu quero dar banho na mamãe — falei, brincando, enquanto a abraçava. Júlia estava rindo e, subitamente, se desvinculou de mim e correu para vomitar. Apesar de não fugir da normalidade, aquilo já estava acontecendo; pedi para ela pegar leve, e ela confirmou que faria assim.
— Ah, amor, esqueci de te dizer... Você tem que convencer Sarah a entrar nesse vestido aqui, sem parecer suspeito — me informou, mostrando um vestido branco enquanto se vestia.
— Oxe, criatura, e você só me diz agora? Como é que ela não vai desconfiar? — perguntei.
— Você nasceu com a gambiarra comunicativa; todo mundo achou melhor você fazer isso — disse-me, rindo.
Nesse momento, fiquei pensando no que fazer; acabei não pondo o meu vestido ou ia ficar na cara. Saí um pouco e todos já estavam no fundo do Sítio. Alguns amigos deles também haviam chegado e a maioria estranhou o ambiente; afinal, era só uma confraternização no feriado para eles.
Meus pais e meus sogros estavam juntos, e fomos lá falar com eles. Nesses momentos, é possível ver como as nossas famílias, apesar de carinhosas, se expressam de maneira diferente. Meus pais são bem atenciosos, sempre com abraços apertados e palavras doces. Nossos encontros são cheios de risadas, e a gente adora fazer piadas sobre nossas pequenas manias. Cuidamos uns dos outros de forma bem direta e prática, mas sempre repleta de amor.
Quando conheci meus sogros, a relação deles com Júlia, apesar de aparentar estável, estava bem tensa por conta da mudança e emprego em outra cidade. Então, era a primeira vez que eu via os dois tão carinhosos com ela; foi uma experiência nova e um tanto tocante. Ver D. Jacira, que parecia ter deixado para trás aquelas resistências, e, de repente, era como se tudo tivesse mudado. O jeito que ela a tratava, com tanto amor e atenção, era como uma transformação.
Eu brinco que Juh transpira carinho, com todos ao nosso redor, ela é sempre assim. É impressionante como ela irradia essa energia calorosa e acolhedora, que toca a todos. Cada gesto dela é cheio de cuidado, seja um sorriso, um abraço apertado ou uma palavra doce. Consigo enxergar em seus olhos todos esses afetos. É como se ela carregasse esse amor dentro dela e, sempre que interage com alguém que gosta, esse amor transborda. A muié foi moldada em dengo, tenho certeza de que tudo isso é reflexo do carinho que ela recebeu da família. Me sinto extremamente grata por ter alguém assim ao meu lado e que expressa de forma tão natural e sincera dentro da nossa casa, comigo e nossas crias.
Ficamos ali rindo e admirando eles elogiando toda a organização dela. Minha irmã se aproximou pronta para zoar, mas eu fiz sinal para que não prosseguisse; Júlia precisava sentir o que tinha sido privada por quase três anos, e eu sabia que, apesar de tentar se proteger, não tocando no assunto, ela sentia falta.
Depois de cumprimentá-los e Juh fazer o mesmo com meus pais, entrei e dei de cara com meu irmão saindo de fininho do quarto para que Sarah não acordasse. Ele se assustou ao me ver, e foi bem engraçado.
— Porra, estou nervoso... Sei que ela vai dizer sim, mas mesmo assim, estou... — desabafou. — Você também ficou assim?
— Não, mas eu não sou um bom parâmetro... — respondi, sorrindo.
— Parece que meu coração vai sair do peito — falou, animado, ao entrar para o banho.
Assim que ele saiu todo de branco, combinando com o vestido, fui pôr meu plano em ação. Eu teria que ser rápida porque, se Sarah pensasse um pouquinho, iria desconfiar. Torci para ela ter o mesmo raciocínio matinal lento que o meu.
— Cunha? — chamei ao bater na porta, e ela me informou que estava saindo do banho.
— Perfeito! Eu comprei um vestido e não caiu bem em mim; achei sua cara! Se gostar, é seu! — falei, de forma convincente.
Ela se animou, abriu a porta e vestiu. Quando saiu novamente, percebi que meu irmão acertou em cheio; na minha mão parecia simples, mas no corpo de Sarah estava impecável.
— Adorei! — exclamou ao se olhar no espelho.
A levei até o quarto onde eu estava dormindo e pedi que ela calçasse um sapato que combinava; Lorenzo também havia escolhido. Antes que ela me questionasse o porquê de eu ter levado aquelas roupas até lá, inventei que meu irmão precisava vê-la tão gata e a levei para fora. Mesmo sem entender e rindo da situação, ela foi.
Quando ela saiu e viu todo mundo lá aplaudindo, não deve ter dado tempo de pensar em nada. Meus filhos a tomaram pela mão e correram até meu irmão, que ajoelhou e perguntou: — Sarah, você quer casar comigo?
Foi uma das reações mais legais que já vi, ela estava completamente confusa, mas ao ouvir aquelas palavras, tudo pareceu fazer sentido. Ela começou a rir, depois a chorar, e Lorenzo, lá ajoelhando, completamente emocionado, até que ela respondeu: — É claro que sim
Estouraram vários confetes enquanto eles selavam aquele momento com um beijo. Alguns fogos de artifício foram acionados, e procurei Juh com o olhar. Lá estava ela, toda contente, enquanto instruía os músicos. Fui até minha mulher, beijei seu pescoço e falei em seu ouvido: — Me deu vontade de casar de novo...
— Casaria com você todos os dias se eu pudesse — me respondeu, ao virar para me dar um beijo.
Depois de trocar de roupa, voltei, e foi um dia bem agradável. Rolou festa até a noite; no final, muita gente bêbada pulou na piscina, resultando em caos completo. Kaique e Milena estavam pinotando de árvore em árvore, e teve um momento que, mais uma vez, Kaká desapareceu do meu campo de visão. Mih estava em uma árvore baixinha, e fui até lá perguntar por ele.
— Cadê seu irmão, filha?
Mas, nesse momento, senti um peso sobre minhas costas e, inesperadamente, comecei a girar.
— AQUIIIIIIII! — gritou meu filho.
— Te trollamos, mãe — disse Mih, morrendo de rir ao pular no chão.
Comecei a correr atrás dos dois, fingindo estar brava, e, quando os prendi entre minhas pernas, fiz bastante cócegas até eles apelarem para a mamãe, que se aproximava, vendo nossa brincadeira.
— Vocês estão precisando de um banho — disse Juh, rindo de nós.
— Com certeza, estamos nojentos — disse Kaique.
— Primeirinha! — disse Milena, erguendo a mão.
— Só se chegar depois de mim — falei, e saí correndo, tomando Júlia pelo braço, enquanto eles vinham atrás sem chance alguma.
Ficaram esperando na sala; ajudei meu amor a lavar o cabelo. A intenção era adiantar o processo, mas acabei me distraindo no meio do caminho. Minhas mãos começaram a fazer outro percurso, tocando seu corpo; os beijos foram se tornando frequentes, mais intensos e mais sensuais.
— A gente não pode demorar, melhor não... — sussurrou no meu ouvido.
— Não pretendo demorar... — respondi, colando nossas testas e encarando-a. — Posso? — perguntei, segurando firme em seu bumbum.
— Pode, vai logo — pediu e puxou meu queixo para um beijo quente.
Enquanto minhas mãos se deleitavam naquele magnífico corpo e minha boca explorava aquela pele macia em direção aos seus seios... TOC, TOC, TOC.
— Ô maaaaaaae! — nossos filhos gritaram juntos, batendo na porta.
— Ooooi — respondi, rindo, enquanto Juh estava desesperada tentando se libertar do meu abraço.
— Tá demorando e a gente tá com sono — disse Milena, e eu afirmei que já estávamos terminando.
— Chega, chega... Bora terminar esse banho logo — disse-me, apressada, voltando a mexer no cabelo.
— Tá bom... — respondi, sabendo que não tinha mais chances ali.
Ao sairmos, Mih entrou, e depois foi a vez de Kaká. Se eu tivesse pensado melhor, ficar por último seria mais vantajoso; porém, não foi planejado. Tinha a possibilidade do clima esquentar, sempre tem, mas, no momento, não passou pela minha cabeça.
Nossos filhotes capotaram ao nosso meio, os dois de pijamas combinando e cheirando a alfazema. Não tem coisa mais gostosa do que cheirar o cangote deles, principalmente nessas condições, e foi o que ficamos fazendo por um bom tempo.
— Ao mesmo tempo que estão crescendo, continuam sendo tão meus nenéns ainda... — disse Juh, fazendo carinho no cabelo de Mih.
— Vão ser para sempre, que nem você para seus pais — falei, sem querer.
Ela me olhou um pouco séria.
— Não é uma crítica, amor... É lindo, acho fofo demais. A gente não vai fazer uma proteção excessiva ou infantilizá-los, mas quero que eles sintam que, quando a vida pegar pesado, sempre terão nosso colo para recorrer. Quero que transbordem de amor pelo mundo assim como você!
Agora Juh sorria, com aquele sorriso lindo que só ela tem, e eu sou apaixonada.
— Sou obrigada a levantar e ir te dar um beijo agora; esse sorriso me chama... — falei.
Não dei só um, dei vários beijinhos na sua boca e em sua barriguinha que ainda não era tão visível.
Voltamos a falar sobre nomes e decidimos só bater o martelo quando soubéssemos o sexo. A gente não conseguia entrar em consenso caso fosse menino. Depois, voltei ao meu lado da cama e dormimos bastante; estávamos bem cansadas. Acho que levamos até às 14h, nós cinco juntinhos naquele ninho de amor.