Encontrei meu macho nas lembranças do passado

Um conto erótico de Kherr
Categoria: Gay
Contém 23686 palavras
Data: 23/11/2024 11:06:24

Encontrei meu macho nas lembranças do passado

Não estava sendo fácil retornar a Aceguá, a cidadezinha bem ao sul do Brasil junto à fronteira com o Uruguai, depois de quinze anos longe. À medida que os marcos na estrada diminuíam os quilômetros faltantes para eu chegar à cidade, a inquietação e aquela mesma dor que senti no dia em fui embora começaram a me atormentar. Uma pressão no peito me sufocou e precisei parar no acostamento para tomar ar, pois estava a ponto de desmaiar tamanho o pânico do qual fui tomado. Àquelas velhas lembranças se juntava a recente separação do Mario, com quem estive nos últimos cinco anos, acrescentando mais um tanto de dor com a qual não estava conseguindo lidar. Desci do carro, respirei fundo, olhei para a paisagem ao redor, uma vasta planície de campos verdes cobrindo as coxilhas de ondulações suaves. Num ponto ou outro, avistava-se um rebanho de ovelhas de pelagem branca que quebrava os tons verdes do pasto. Pensei em desistir, mas se o fizesse não teria para onde voltar uma vez que tinha acabado de alugar o apartamento por dois anos. A única opção era seguir em frente e tentar sublimar aquela dor, embora estivesse percebendo naquele momento que os quinze anos foram insuficientes para isso.

Eu achava que entre o Mario e eu estava tudo bem, amava-o tanto que não percebi a sutil mudança pela qual ele estava passando; até algumas semanas atrás, quando tivemos aquela conversa que colocou um ponto final em nossa relação.

Fui pego de surpresa. Ele chegou do trabalho naquela sexta-feira bastante animado, se aconchegou a mim, que estava preparando nosso jantar, por trás me beijando a nuca e me dando uma bela encoxada que me fez perceber que estava de pau duro. Propôs sairmos, jantar fora e depois dançar numa casa noturna que há tempos queríamos conhecer. Minha semana tinha sido difícil no trabalho, estava exausto e sugeri deixarmos para outro dia. Ele não gostou. Em outras ocasiões nas quais não chegamos a um acordo, ele foi compreensivo, mas dessa vez não.

- Você parece um velho, está sempre cansado, ou tem que dormir cedo porque vai ter um plantão longo no dia seguinte, e eu vou ficando para escanteio. – sentenciou aborrecido.

- Estava implícito quando assumi a chefia do departamento que teria que trabalhar mais horas, e quando te contei você concordou e me incentivou a assumir o cargo. O que mudou desde então? – questionei. – E eu nunca te coloquei em escanteio, você sempre foi, e é a minha prioridade. Tudo que faço é pensando em você, na sua felicidade, no seu bem-estar, em nós. – acrescentei.

- Se é assim, por que não topou abrirmos a nossa relação, conhecer outras pessoas e compartilhar experiências? Venho te pedindo isso há meses e você se mantem irredutível. – afirmou

- Porque eu te amo, não quero te dividir com ninguém, não quero fazer sexo com outro cara que não seja você. Sinto repugnância só de pensar em sentir outro homem enfiando a rola no meu cu na sua frente. Numa relação em que haja amor verdadeiro o swing não cabe, não faz o menor sentido, é um passo para os desentendimentos e a separação. – devolvi convicto.

- Eu não vejo a troca de parceiros como algo prejudicial, acho que apimenta a relação, que nos faz perceber que a pessoa com quem estamos é especial e única. – argumentou.

- Se acha isso, que a pessoa com quem está é especial e única, é meio contraditório querer incluir mais alguém nessa relação, não acha? Único já quer dizer isso, apenas um e mais ninguém. – devolvi.

- Me refiro ao sexo, não ao amor! Tenho vontade de transar com outros caras, de exercer a minha dominância sexual sobre outros e sentir como reagem. Isso não é amor, é só sexo! – disse ele.

- Então está me dizendo que eu não o satisfaço o bastante, que minhas reações à sua impetuosidade sexual não lhe bastam, que precisa que mais outros o façam? – questionei, sentindo uma forte frustração por saber que ele não estava plenamente satisfeito com o meu sexo e a minha devoção.

- Não foi isso que eu disse! Você me satisfaz em tudo, é carinhoso, é submisso na cama e você bem sabe o quanto eu aprecio um cara submisso, tem um cuzinho apertado que é a porra de tão tesudo, me mama a pica e toma meu leite como ninguém nunca fez, a questão não é essa! – exclamou.

- O que é então? Você se cansou de mim, acha que o sexo comigo é uma rotina sem tempero?

- Não viaja, Lucas! Eu não me cansei de você nem acho que nosso sexo é sem-graça e rotineiro; é estranho você perguntar isso quando sabe o quanto de tesão me causa, o quanto me faz esporrar em cada gozo. Eu só estou propondo que diversifiquemos os parceiros, que tenhamos outras experiências, outras sensações. É pedir demais?

- Sim, Mario, para mim é pedir demais. É por isso que a homossexualidade é vista com maus olhos, que nos consideram criaturas pervertidas que transam com qualquer um e, mais do que putas de um bordel. Eu não sou assim, o sexo para mim deve estar acompanhado de sentimentos, de amor para ser prazeroso. Não quero um estranho entrando em mim, me arregaçando a troco do prazer dele. Não sou um depravado, não quero me expor a doenças sexualmente transmissíveis, não quero outra pica no meu cuzinho que não seja a sua. Enquanto passivo, todo coito deixa em mim as marcas da voracidade do ativo, e é por isso que ele tem que ser especial e não um sujeito qualquer, por mais sexy e másculo que seja.

- Talvez esteja na hora de revermos a nossa relação. Eu preciso mais, Lucas! Me sinto amarrado, sufocado, preciso transar mais e com outros caras, preciso usufruir de toda minha potencialidade. – disse ele, me fazendo chorar.

- Com isso você acaba de confirmar que eu não te satisfaço, que meu amor por você não lhe basta. Eu não sei o que fazer, estava achando que te fazia feliz, mas vejo que não. – devolvi choroso

- Sou feliz ao seu lado, mas quero experimentar novidades, isso não vai diminuir o que sinto por você.

- Então experimente, Mario! Procure o que te satisfaz, mas eu não vou te acompanhar nessa aventura. Eu não vou me entregar a outros caras só para você se sentir completo, já que não o consegue ser comigo. – retruquei, enxugando as lágrimas, pois as estava desperdiçando diante da irredutibilidade dele.

- É isso? Está me dispensando só porque quero sair da rotina?

- Não, Mario, não estou te dispensando, é você que chegou ao final da linha e só não tem coragem de admitir. Se acha que devemos rever a nossa relação, é essa a hora. Tome sua decisão, seja o cara dominante que é e enfrente as consequências. – devolvi. Ele juntou algumas coisas numa mala e partiu naquela mesma noite, dizendo que voltaria em alguns dias para fazer a mudança, e deixando um rombo no meu peito que ainda não parou de doer.

Não era apenas isso que estava me sufocando enquanto me aproximava de Aceguá, havia ainda toda aquela longa história do passado que, ao que estava me parecendo, também não havia cicatrizado.

Ao cruzar a porteira da estância, as lágrimas desceram pelo meu rosto, incontroláveis. O sobradão de pedras parecia brotar do vasto campo que o cercava, sua aparência austera sempre me lembrou uma daquelas fortalezas medievais, resistindo através dos anos aos fortes ventos que fustigavam aquela região. Tinham o pomposo e temerário nome de minuanos, em referência aos genoas-minuanos, índios patagônicos que originalmente habitavam o sudoeste do Rio Grande do Sul, noroeste Uruguaio e nordeste da Argentina. Estacionei em frente à entrada, porém minhas pernas não me ajudavam a descer do carro. Fiquei a examinar a construção, continuava sólida, mas estava bem mais decrépita do que antes. Estava criando coragem para bater na grossa porta de madeira chumbada à parede por fortes dobradiças de aço, quando ela se abriu e o rosto mais envelhecido a amistoso da Nana Jo surgiu à minha frente. Os olhos que eu havia acabado de secar voltaram a se encher de lágrimas, bem como os dela. Abracei-a com força e choramos. Choramos a tragédia, choramos a ausência, choramos a dor, enfim, choramos por tudo. A Nana Jo e a lembrança da minha mãe eram as únicas coisas boas que guardei desse lugar.

- Meu menino! Meu menino lindo e doce! Você se tornou um homem lindo como era de se prever. Deixe-me tocá-lo! Seu rosto, seus olhos, a candura deles continua tão viva como sempre. – dizia ela, enquanto suas mãos acariciavam meu rosto.

- Nana Jo! Eu sinto tanto a sua falta! Pensei que nunca ia conseguir sobreviver sem você! – exclamei soluçando, ao ver aquela mulher que fez de um tudo para suprir a falta da minha mãe na minha vida.

- Tive medo que não viesse! – exclamou, encaixando-se sob meus braços como fazem os pintinhos ao se esconderem sob as asas das galinhas.

- Não fossem as obrigações das circunstâncias, eu jamais teria voltado a pisar nessa casa. – afirmei.

- Eu sei, meu menino, eu sei! Nunca o censurei por isso, sei o que sofreu e quanta dor esse lugar não deve te fazer recordar. Mas, eu tinha que te avisar, não por ele, mas por você, pela paz que precisa reencontrar consigo mesmo e com esse lugar. Tudo agora é seu e, apesar da situação, você tem direito ao que sempre lhe pertenceu.

- É tão grave assim?

- Não sei exatamente quanto, mas sei que é bastante. Os credores cansaram de esperar e ajuizaram um pedido de confisco para o pagamento das dívidas. Nos últimos anos ele não fez mais nada, foi mandando os empregados embora, abandonou os rebanhos, deixou as dívidas com os bancos se acumularem. Abriu mão de tudo, inclusive da própria vida quando se viu só, sem ninguém se importando com ele. – revelou ela.

- Não foi exatamente isso que ele sempre fez com todos? Fez ainda pior, afastou as pessoas, fez da vida delas um inferno aqui na terra, deixou a mamãe definhar nesse lugar sem sequer ouvir suas súplicas, me escorraçou como se eu fosse um bicho, sem dó nem piedade. Teve o que mereceu, e eu jamais vou me sentir culpado ou arrependido pelo que quer que seja. – retruquei.

- Ninguém nunca poderia pedir isso de você! Foi a maior vítima dele, a que não podia se defender sozinha, a que não teve o amparo de ninguém. – sentenciou ela, conhecedora de toda a história. – Eu devia ter feito mais por você, mas na época o Estevão não me deixou intervir mais do que eu já vinha fazendo, alegando que éramos os elos fracos da corrente e que seriamos nós a pagar por tudo no final das contas.

- Você fez o que pode, não fosse isso talvez eu nem estaria vivo hoje. Você e seu marido foram a razão pela qual ele não me matou naquele dia, seriam as testemunhas do crime e ele sabia que jamais ficariam calados acobertando-o.

Mas, vamos entrando, temos muito a conversar e fiz aquela torta de mirtilos da qual você tanto gosta, ou gostava, se bem me lembro. Entre meu menino, entre, não tenha medo, nada mais aqui vai te fazer mal. – disse ela, ao me arrastar consigo para a cozinha.

- Nunca mais comi uma torta com as tuas, Nana Jo! Nas vezes em que me vi frente a frente com uma torta de mirtilos me vieram as lágrimas e não as consegui comer. – revelei.

- Não vai precisar chorar mais, meu menino, nunca mais! Sei que nunca vai esquecer o passado, porém precisa sepultá-lo no fundo da sua memória e não deixar que ele te assombre. Você tem muito a viver, e a amargura não te permitirá ter a vida feliz que merece. – aquela mulher baixinha e atarracada era um poço de virtudes no qual me abasteci quando não tive mais ninguém a quem recorrer. O amor que eu sentia por ela, transcendia qualquer entendimento, foi dele que vivi, ou talvez melhor dizer, sobrevivi.

Ficamos conversando por horas, havia muito a se dizer de ambas as partes, os assuntos remetiam ao passado em sua grande maioria, e era onde morava o que mais me trazia recordações tristes e dolorosas. Choramos por diversas vezes. Temendo entrar em depressão, resolvi mudar de assunto e perguntar sobre a atual situação da estância, uma vez que acabara de me tornar dono dela.

- Como você tem sobrevivido, Nana Jo? Precisa de alguma coisa, posso lhe pagar um salário e, se por acaso eu resolver me desfazer da estância, vou indenizá-la por todos os anos em que você e o Bastião trabalharam nessas terras?

- Não meu menino, não preciso de nada. Nesse aspecto não tenho do que reclamar do seu pai .... – eu a interrompi bruscamente na mesma hora.

- Ele não é meu pai! Foi ele mesmo quem disse isso no dia em que enxotou dessa casa e mandou que nunca mais voltasse. A partir de hoje, esqueça que tem um pai, pois não gerei uma aberração como você. Foram as palavras textuais dele que jamais saíram da minha mente. Portanto, peço o favor de nunca mais se referir a ele assim. – pedi.

- Está bem! Eu entendo a sua revolta! Bem, mas como eu ia dizendo, o Sr. Álvaro pagava mensalmente a aposentadoria do Bastião e minha junto com os salários. Graças a isso é que vivo hoje em dia, dessa aposentadoria e da pensão do meu marido. Você sabe que sou uma mulher simples e econômica, tenho o bastante para ter uma velhice confortável. – esclareceu ela.

- Me alegra saber que pelo menos isso ele fez de bom, vocês dois sempre foram mais do que meros criados nessa casa. – devolvi. – E os demais empregados, ele foi justo com eles também?

- Com alguns sim, mas a maioria não chegou a ver a cor dos salários atrasados. Uns entraram na justiça, mas você sabe o poder e a influência que ele tinha por essas bandas. Os infelizes além de não receberem nada, ainda foram ameaçados pelo juiz e partiram para terras mais distantes. - revelou ela

- É bem o feitio daquele homem! Fico imaginando quantas vítimas esse sujeito não fez ao longo da vida. – ponderei. – Vi que havia algumas ovelhas no pasto, não é você quem está cuidando delas, não é, Nana? Você não tem mais idade para esse serviço pesado!

- Não, meu querido, não sou eu quem cuida delas e do pomar onde também há uma criação de abelhas. É o Martín quem cuida disso.

- Quem é Martín? Não me recordo de nenhum empregado com esse nome.

- Martín é um sujeito que apareceu por aqui há uns cinco ou seis anos, pedindo emprego para o Sr. Álvaro quando ele já havia dispensado quase todos os funcionários. É um argentino que ninguém sabe ao certo de onde e porque veio para cá. Ele tem talvez uns poucos anos mais do que você, é um homem forte e reservado, trabalhador, fala pouco e tenho a impressão de que seu passado também não foi dos melhores. – afirmou ela

- O que te faz pensar assim? – questionei curioso

- Instinto de velha! Sabe como é, os anos nos ajudam a compreender as pessoas, mesmo aquelas que não falam muito de si. O Martín é assim, mas eu gosto dele. Temos nos dado muito bem desde que chegou aqui. O Sr. Álvaro se aproveitou da situação do rapaz que não tinha para onde ir, deixando-o morar na casinha onde o Bastião e eu morávamos, e pagando-lhe um salário de miséria. A situação dele devia ser desesperadora, pois ele aceitou o acordo e desde então é o principal responsável pelo que restou da estância.

- Certamente mais um que sentiu a “bondade” daquele homem. Ele sempre soube como explorar os outros.

- Certamente! Porém o Martín nunca se queixou, nem mesmo exigiu mais pelo tanto que trabalhava. Na cidade dizem que ele matou um homem no vilarejo em que vivia na Argentina, alguns até mencionam dois e uma amante; mas você conhece esse povo daqui, se não tem nada para dizer, inventam, criam estórias. Ele vai pouco à cidade por conta dessas fofocas. Numa ocasião, poucos meses depois que chegou aqui, deu uma surra em dois desses contadores de estórias quando ficou sabendo o que falavam dele. O delegado veio até a estância quando apresentaram queixa, mas o Sr. Álvaro botou o delegado para correr e o assunto foi esquecido. – revelou ela.

- Parece ser um sujeito perigoso! Não tem medo de morar sozinha com ele aqui por perto?

- Quem, o Martín? Pelo contrário, ele me transmite muita segurança. Precisa conhecê-lo, é um doce de criatura, tenho certeza que vão se dar muito bem. – retrucou ela. – Falando nisso, eu fiquei de o chamar quando você chegasse para que também lanchasse conosco, pois é outro fã ardoroso das minhas tortas. Se o deixar, ele devora uma inteira quando as tiro do forno. Acabamos falando tanto que até me esqueci dele. Vou chamá-lo para que se conheçam! – exclamou, levantando-se para chamar o sujeito.

- Deixe que eu faço isso, Nana! Não precisa sair correndo e, quero deixar bem claro, você não é mais a minha babá, nem uma criada dessa casa. Vamos encontrar alguém bem mais jovem para todo esse serviço, e você vai descansar e ser apenas a minha companhia, entendido? – ela fez uma careta, sorriu e veio me beijar.

- Meu menino, nunca vou deixar de cuidar de você! Pode me pedir tudo, menos isso! – retrucou carinhosa. – Então vá! Ele deve estar em casa a essa hora, já escureceu e eu nem reparei. Diga que tem um pedaço de torta esperando por ele, que ele vem correndo! – disse, rindo.

Estava mesmo escurecendo, o restante de luminosidade estava mais para a noite do que para o dia quando me dirigi à casinha que ficava ao lado do pomar e atrás do celeiro. A cada passo eu revia algumas cenas do passado pelos locais por onde passava. Lembrei-me de como era gostoso vir colher as frutas da estação com a minha mãe. Ela trazia um cesto oval de vime que, na volta, vinha cheio de frutas e pesado, eu a ajudava a carregar até a cozinha, onde ela depois, com a ajuda da Nana se punham a cozinhar as geleias. Cheguei ao alpendre da casinha com os olhos marejados, e fiquei ali um tempo, parado, secando-as e tomando fôlego, para que o Martín não tivesse uma primeira impressão minha naquele estado.

Embora houvesse luz acesa lá dentro, ninguém respondeu quando bati na porta por duas vezes, nem quando chamei pelo nome dele. A porta não estava completamente fechada e eu a empurrei dando um passo para dentro e voltando a chamar. Pensei que talvez tivesse ido para o celeiro fazer alguma coisa de última hora, ou que tinha ido em direção ao sobrado, já que a Nana Jo havia dito que ia chamá-lo quando eu chegasse. Porém, pouco depois, quando já estava dando meia volta, ouvi algo parecido com um grunhido vindo do quarto. Ele estava em casa. Quem sabe não estivesse a fim de me conhecer, a Nana Jo não disse que o sujeito era reservado?

- Martín! – não pus muita empolgação na voz, em respeito à privacidade que ele parecia apreciar.

No entanto, fui até a porta do quarto que também estava entreaberta e o vi sentado recostado na cama masturbando vigorosamente um cacete colossal. Ele usava apenas uma camiseta regata que ressaltava os ombros espadaúdos e os braços musculosos, estava de olhos fechados, tinha jogado a cabeça para trás e soltava o ar por entre os dentes cerrados usufruindo do prazer que estava sentindo. Vez ou outra, lhe escapava um grunhido mais alto e rouco e ele intensificava a punheta. De repente, urrou e o caralhão se transformou num chafariz que expelia jatos e mais jatos de porra leitosa que iam caindo sobre suas coxas musculosas e peludas. Ele arfou profundamente uma última vez, os jatos finais caíram sobre a mão com a qual estava se punhetando, lambuzando-a com o creme esbranquiçado. Quando abriu os olhos, me viu parado através da fresta da porta, era tarde demais para correr, era tarde demais para negar o que tinha acabado de presenciar e; ademais, nem mesmo as minhas pernas queriam sair dali.

- Quem diabos é você? O que faz aqui? Quem lhe deu permissão para invadir uma propriedade particular? – explodiu ele em perguntas, com um forte sotaque castelhano.

- Eu .... eu ... eu ... bem ... isto é .... quer dizer ... eu ... eu sou Lucas. – consegui finalmente dizer, sem conseguir desviar o olhar daquela coisa enorme que ainda estava dura no meio das coxas dele quando veio na minha direção. – Me perdoe a invasão, eu não queria .... Isto é, eu não ..... eu não esperava te encontrar assim ... quer dizer .... fazendo .... – as palavras simplesmente não saíam porque aquele macho grande e vigoroso estava cada vez mais perto de mim e com aquela pica que continuava muito excitada balangando de um lado para o outro como um pêndulo pesado.

- Não! Sou eu quem precisa se desculpar. Eu só estava .... bem, você viu o que eu estava fazendo, não tenho nenhuma explicação para isso. Eu só estava .... deixa para lá! Já foi, você já viu, não adianta disfarçar! – ele estava ligeiramente encabulado e, não sei por que motivo, eu o achei ainda mais sexy tentando dar uma explicação para uma punheta fenomenal como aquela. – Lucas, não é? A Sra. Joana me disse que você chegaria hoje. – ele quis me cumprimentar estendendo a mão, mas, à meio caminho, lembrou-se que estava toda melada de esperma e desistiu. – Desculpe o mal jeito! Nem sei bem o que estou fazendo, desculpe! – ele voltou a ficar encabulado, e mais sexy quando minhas narinas começaram a sentir o cheiro viril daquele sêmen.

- É exatamente por isso que estou aqui! A Nana Jo me pediu para te avisar que tem um pedaço de torta de mirtilo esperando por você. – consegui finalmente dizer, quando parei de olhar fixamente para o cacetão dele e mirei seus olhos castanhos expressivos. – Soube que, como eu, é fã das tortas dela. – emendei para disfarçar, pois senti que meu rosto estava em brasa e ele estava me encarando sem mais nenhum resquício de vergonha por ter sido flagrado se masturbando.

- Se ela não me impedisse, eu comia uma inteira! – exclamou, agora com um discreto sorriso contornando aqueles lábios carnudos e úmidos.

- Bem, estamos te esperando na cozinha! – devolvi, ao mesmo tempo em que disparava porta afora, ainda abismado com a sensualidade daquele homem e com aquele jorro de sêmen fenomenal.

Recomposto e de banho tomado, ele adentrou a cozinha pouco depois. Os cabelos ainda estavam molhados e ele estava ligeiramente encabulado, o que não combinava com sua estatura e toda aquela estrutura forte. Era um homem bonito, mal cuidado, mas bonito por baixo da cabeleira vasta e desalinhada que havia perdido o corte e da barba também crescida além da conta e carecendo de uma aparada para refazer o contorno.

- Anda homem! O que faz aí parado feito uma estátua? Sente-se e sirva-se da torta. – instigou a Nana Jo diante do retraimento dele. – Vocês já se conheceram, por isso vou dispensar as apresentações. Meu menino não é lindo, Martín, do jeito que eu te falei? – continuou ela. Ele apenas balançou a cabeça concordando, depois do imenso pedaço de torta que enfiou na boca, feito um lobo faminto.

Ele estava sentado de frente para mim e me encarava como se estivesse comprovando a afirmação da Nana Jo, o que me fez corar, algo que há muito não acontecia comigo. O olhar dele me deixava nervoso e acabei esboçando um sorriso que ele imediatamente retribuiu, como uma espécie de cumplicidade pelo que eu tinha presenciado na casa dele.

- Do que estão rindo? Pelo visto já se enturmaram! – observou a Nana Jo com sua perspicácia aguçada. – Eu não disse que ele come feito um leão? Também pudera, para manter todo esse esqueleto em pé, haja calorias! – emendou troçando dele, enquanto acariciava seus ombros num gesto de carinho quase maternal.

- É que eu adoro tudo que você cozinha! – exclamou ele, beijando uma das mãos que o afagava.

- Você não passa de um bajulador, seu safado! Me agrada porque sabe que faço tudo que você gosta, mas isso vai mudar um pouco agora que o Lucas voltou, porque terá que dividir a minha atenção com ele. – disse ela.

- Será um prazer dividir as coisas com ele, não se preocupe! – respondeu o Martín. – Mas antes me esclareçam uma coisa, por que ele te chama de Nana Jo? – quis saber

- Essa é uma história engraçada! Conta você, Lucas! – respondeu ela

- Quando pequeno, não sei bem a idade .... – a Nana Jo me interrompeu.

- Três, você estava com três! – esclareceu ela

- Então, nessa idade eu ainda tinha a língua pesada, como se tivesse com uma batata na boca e a chamava apenas de Nana que era como me soava o nome dela quando o pronunciavam. Minha mãe começou a me corrigir e, toda vez que eu a chamava de Nana, ela acrescentava, Jo, é Joana que se diz meu filho. Eu então repetia, Nana Jo e fazia todos rirem. Dali em diante, ficou Nana Jo para mim, e é como sempre será. – esclareci

- Desistimos de tentar corrigi-lo quando percebemos que era a forma carinhosa que ele encontrou de se referir a mim, meu menininho que nunca saiu do meu coração. – acrescentou ela.

- Então estou vendo que vai ser mais difícil de competir com ele pela sua atenção! – exclamou o Martín.

- Não seja ciumento! Nem cabe ciúme para um homão do seu tamanho! – retrucou ela

- Os brutos também amam! Nunca ouviu esse ditado? - perguntou ele, voltando a me encarar com aqueles olhos que pareciam estar penetrando fundo em mim.

Passei as duas primeiras semanas após a minha chegada sem sair da estância. Fiquei conferindo a grau de degradação a que a propriedade chegou e o quanto seria preciso fazer para lhe devolver o esplendor de antes. O Martín foi me mostrando em que pé estavam as coisas e o que lhe era possível fazer com a escassez de recursos, como se estivesse se desculpando.

- Eu tentei manter as coisas como foi possível, mas seu pai já não se interessava por mais nada e ia adiando os reparos, os consertos do maquinário, o cuidado e manutenção do rebanho até chegarmos a esse ponto. – afirmou

- Não se referia àquele homem como meu pai! Ele nunca foi meu pai, o fato de ter me gerado não fez dele um pai. – retruquei com certa aspereza na voz.

- Me desculpe!

- Não, quem lhe deve desculpas sou eu! Me perdoe por ser tão incisivo, mas aquele homem me traz lembranças ruins que quero esquecer. – desculpei-me. – Você não tinha obrigação alguma de fazer o que está fazendo pela estância. A Nana Jo me disse que você mal recebia um salário e que estava morando praticamente em troca de seu trabalho, o que não é nada justo.

- O Sr. Álvaro me ofereceu essas condições e eu aceitei, não tenho do que reclamar, já que a escolha foi minha. Eu gosto do que faço e faria mais se houvesse mais recursos. – devolveu ele

- Eu sei que o trabalho é duro e que precisava de mais funcionários para tocar a estância, mas ainda não sei qual é a real situação das finanças e nem sei se vou conseguir te pagar um salário. Por isso, quero deixar claro que pode procurar outro emprego, pois não quero que se prejudique ficando aqui. – argumentei sincero

- Quer que eu vá embora? – a pergunta foi tão enfática que me deixou sem ação.

- Não, Martín, não foi isso que eu quis dizer. Não estou te despedindo, até porque você nem era pago pelo seu trabalho. O que eu quero deixar claro é que não posso te pagar e também não quero prejudicar a sua vida, você tem potencial para ser muito mais do que um simples campesino nessa propriedade falida.

- Não pedi para que me pague nada! Não estou a exigir um salário ou, seja lá o que for. Se não me quiser aqui, fale abertamente! Eu me mudo no mesmo dia. – de alguma forma eu o ofendi sem querer e o tinha deixado zangado, pois ele me deixou falando sozinho me virando as costas.

- Não quero que vá! Fique, preciso de você! Não se zangue comigo! Essa situação toda é nova para mim, nunca cuidei de um lugar como esse, não sei nem por onde começar. Fique, por favor! – gritei atrás dele, até ele parar e se voltar para mim. – Não quis te ofender! Fique, Martín! Me ajude! – ele demorou a esboçar um discreto sorriso como forma de me desculpar.

- Gosto daqui e do que faço! Conte comigo! – afirmou. Eu o abracei e agradeci comovido.

- Do que tem vivido desde que ele morreu, se posso perguntar?

- Vendi algumas ovelhas, levo toda semana algumas caixas de frutas da estação e alguns potes de mel para as mercearias da cidade, e é disso que vivo. – revelou. Sou um homem espartano, não preciso de muito para viver. – emendou.

- Mas não é justo pelo tanto que trabalha! Temos que mudar isso! – exclamei, enquanto ele ainda me segurava junto a si. – Viu como preciso de você? – acrescentei, quando o calor de seu corpanzil já embotava meus pensamentos.

- Estarei aqui! – devolveu ele, embora me parecesse que queria dizer mais alguma coisa, mas que achou prudente não dizer nada naquele momento.

Nas andanças pela estância, ele notou que eu evitava o celeiro, que ao me dirigir até a casa dele eu fazia um contorno e, que quando quis me mostrar o estado depauperado do maquinário, eu me recusei a entrar no celeiro.

- Por que você evita o celeiro? – questionou sem rodeios, depois de mais uma recusa minha em acompanhá-lo.

- É uma longa história, de muita dor e que ainda não superei. Esse lugar me traz recordações de muito sofrimento, não estou preparado para entrar aí. Não me peça para entrar nesse lugar, por favor, não! – eu tremia da cabeça aos pés quando ele viu minha agonia e veio me abraçar.

- Acalme-se! Leve o tempo que precisar, ninguém vai te obrigar a fazer nada, a entrar no celeiro se não quiser. Não fique assim, você está tremendo e gelado, Lucas! – eu me agarrei a ele, precisava da quentura dele, daqueles braços vigorosos onde procurei desesperadamente por amparo.

- O que foi, Lucas? Está se sentindo mal, meu menino? – questionou a Nana Jo quando se aproximou de nós e me viu nos braços do Martín, a poucos passos do celeiro. Ela logo deduziu o que estava acontecendo e também veio me consolar.

- Já passou, Lucas! Foi há tanto tempo, você precisa esquecer e superar. Ninguém mais vai te fazer mal, estamos eu e o Martín aqui para que se sinta seguro. Vem comigo, vou te fazer um chá de camomila e passiflora, e você vai superar tudo, meu menino. – ela sempre curava as pessoas com seus chás desde que me lembro. Não sei se as pessoas melhoravam por conta dos chás ou da maneira como ela as acolhia e escutava. – Deixe-o comigo, Martín! Outra hora ele te conta a história desse celeiro e do porquê de tantos receios. – disse ela dirigindo-se ao Martín que ficou sem entender nada.

Passadas as duas primeiras semanas, fui à cidade conversar com o contador que ajudava o Álvaro com a contabilidade da estância. Caminhar pelas ruas do centro de Aceguá também me trouxe recordações que precisavam ser enterradas no passado. O prédio da escola não mudou nada, algumas lojas e comércios ainda eram os mesmos da minha adolescência, alguns rostos não me eram totalmente estranhos. A conversa com o contador foi decepcionante, os credores haviam pedido o leilão da estância para cobrir as dívidas. Nem que eu vendesse meu apartamento em São Paulo o montante cobriria as dívidas, e isso eu nem cogitava em fazer.

- Se posso te dar um conselho, Lucas, faça como outros estancieiros já fizeram no passado antes mesmo de você nascer formando parcerias num sistema de integração lavoura pecuária. Seu pai nunca me ouviu quando lhe fiz essa sugestão assim que as coisas começaram a degringolar e ele não deu mais conta de pagar as dívidas. Outros estancieiros da região estão colhendo os frutos dessas parcerias até hoje e mantiveram suas terras. É a única opção que vejo para você não perder a propriedade e torná-la lucrativa. – aconselhou ele. – Você tem o homem certo para isso, o Martín sabe do que estou falando e também tentou dissuadir seu pai a mudar o rumo dos negócios. Ele é um sujeito muito capaz e pode te ajudar com isso, além de me parecer bastante confiável, a despeito do que dizem dele por aí. – acrescentou.

- Obrigado! Vou conversar com ele para ver o que faremos.

- Faça isso, Lucas! O quanto antes! Isso vai te dar tempo para renegociar as dívidas sem que a estância vá a leilão. Posso te ajudar no que for preciso! – prontificou-se, o que me deu um fio de esperança.

Nem era por ele que eu queria salvar a propriedade, mas pela minha mãe que apesar de toda dedicação, foi definhando nesse lugar enquanto tentava salvar um casamento que nunca teve salvação. Ela merecia esse cuidado meu, ela e a Nana Jo, e agora o Martín, aquilo precisava sobreviver para eles, por tudo que fizeram e estavam fazendo por essas terras.

O sujeito até parou para me encarar, duvidando do que seus olhos estavam vendo. Não o reconheci de imediato e, quando o fiz, um calafrio percorreu minha coluna. Os quinze anos foram menos condescendentes com a aparência dele, mas era ele, Alceu, um dos amigos do Rogério da turma de marmanjões que implicava comigo no colégio, dos que me chamavam de estranho, dos que bolinavam meu corpo, dos me que chamavam de veadinho pela exuberância das minhas nádegas e pelo pouco traquejo com os esportes ditos para machos. Ele hesitou em me abordar e eu só pensei em fugir, como fazia naquela época assim que topava com algum deles, temendo que me pegassem como vítima de seus abusos. O corpão parrudo estava ainda maior e mais intimidador, mas o rosto tinha uma apatia e vincos de uma velhice precoce. Eu quis passar direto por ele, até desviei o olhar para a rua, mas a calçada estreita acabou nos colocando frente a frente. Minhas pernas tremiam como outrora, mais uma vez era tarde para fugir.

- Lucas? Cara, é você mesmo! Não sabia que tinha voltado para a cidade. Soube do seu pai, e sinto muito. – desatou a falar, enquanto eu tentava engolir a saliva que não passava pela garganta.

- Alceu! Oi!

- Sim, claro, sou o Alceu! Não me diga que se esqueceu de mim, da galera? A gente te aporrinhava o tempo todo, você era muito do veadinho naquela época. Cara, todos nós queríamos comer a sua bunda, lembra? Era tanta testosterona correndo nas veias que a gente só pensava em enfiar a pica na primeira fendinha que desse sopa, a boceta de alguma garota ou o teu cuzinho apertado – o desgraçado continuava a achar graça das safadezas que faziam comigo.

- Estou com um pouco de pressa! Foi legal te rever! – exclamei, querendo continuar meu caminho.

- Espera um pouco, cara! Para que essa pressa toda? Podemos nos encontrar, a galera toda, para tomar umas cervejas e colocar o papo em dia, o que acha? Amanhã à noite, naquele barzinho na entrada da cidade, lembra dele, onde a gente se reunia todo final de semana. – continuou sem notar que eu queria me desvencilhar dele. – E você, casou, tem filhos, ou assumiu a veadagem de vez, conta aí? Cara, a galera vai endoidecer quando souber que você está de volta! Vai ficar muito tempo? Eu casei, fiz dois filhos e já descasei. Estou no páreo outra vez para ver se descolo uma mulher melhor que a primeira. Sabe como é, não dá para ficar só com as putas, tem que ter uma mais firme do lado para dar umas embicadas no pau quando der vontade. – os anos passaram, mas ele continuava o mesmo cafajeste de antes, que me dava asco ao mesmo tempo que o temia como aos outros da mesma espécie.

- Tenho mesmo que ir! Outra hora a gente se fala! Até mais! – nem esperei pela resposta, apressei o passo e sumi das vistas dele, ciente que em breve toda a cidade e principalmente aqueles marmanjos da época do colégio ficariam sabendo da minha volta.

- Porra, cara, tu tá com um bundão mais tesudo do que naquela época! Fala sério! – ouvi-o afirmar enquanto me afastava.

Não à toa, cheguei à estância transfigurado, o velho medo estava impregnado sob a minha pele, reacendido com aquele encontro.

- O que foi, meu menino? Parece que viu um fantasma, você está pálido! – disse a Nana Jo, assim que entrei em casa.

- É que um deles voltou Nana Jo, e está vivinho como antes! – exclamei angustiado.

- Não tem porque você temer nada, Lucas! Você agora é adulto, fez uma carreira, amadureceu e se tornou um homem capaz de enfrentar qualquer dificuldade, não deixe que o passado te assuste. Isso é só passado, nada mais. Essas pessoas não podem fazer mais nada com você, acredite meu querido! – ponderou ela.

- O que aconteceu, por que ele está assim? – perguntou o Martín

- Ele reencontrou uma pessoa do passado e ficou abalado. – respondeu a Nana Jo

- Alguém te ofendeu? Fizeram alguma coisa com você? Fala para mim, Lucas, alguém te maltratou? – questionava exigente, verificando se eu tinha alguma marca de agressão ou algo parecido.

- Não! Não! Eu estou bem!

- Não está mesmo! Está transtornado, isso sim. – afirmou ele

- Vai passar! Não se preocupe, vai passar. – como eu queria acreditar nas minhas palavras.

Fomos à luta. Resolvi seguir a sugestão do contador depois de uma conversa com o Martín, que também topou a ideia de pronto e inclusive mencionou que já havia falado com o Álvaro a respeito, mas que ele rejeitou a ideia. Fizemos alguns contatos com produtores de arroz da região que já estavam fazendo esse tio de parceria com alguns estancieiros e que estavam na busca por mais terras para expandir as culturas tanto de arroz quanto da semeadura de azevém e cornichão para pastagem, e acabamos fechando negócio com três deles. O Martín estava bem mais entusiasmado do que eu, devo confessar. Talvez por conhecer o assunto melhor do que eu e por se sentir como que dono da estância, pois sua dedicação a ela era notável. Isso também nos aproximou, além de fazer planos em conjunto para o futuro, eu o ajudava no dia-a-dia com a lida com o que restou do rebanho de ovelhas e com as frutas do pomar que eram, na verdade, as únicas fontes de renda atuais da estância e com as quais dava minimamente para fazer alguma coisa. Ele também deu uma de mecânico depois que adquiri as peças danificadas dos dois tratores que estavam encalhados no celeiro e, embora precisasse da minha ajuda, não consegui adentrar ao celeiro como se minhas pernas se recusassem a entrar naquele lugar. Quando ele saía de lá todo sujo de graxa dentro do jeans surrado e de uma de suas camisetas regata toda furada com todos aqueles músculos expostos eu ficava encantado, e não duvido que em algum momento tenha dado bandeira de que era gay. Isso se a Nana Jo já não o tinha informado disso.

- O Martín não era muito de vir jantar aqui todas as noites, geralmente ele vinha à cozinha, fazia um lanche rápido e o levava para comer na casa dele. Desde o dia em que você mencionou que ele tinha ficado mais bonito depois de aparar aquela barba desengonçada, que eu inúmeras vezes sugeri que ele cortasse, ele não só se junta a nós no jantar como também vem todo ajeitado, de banho tomado, camiseta limpa e lógico, com aquela costumeira fome de leão dele. – sentenciou a Nana Jo, como que jogando verde para colher maduro.

- E onde você está querendo chegar com essa conversa? – perguntei, ante a cara de quem já estava com a cabeça cheia de caraminholas em relação a nós dois.

- Em lugar algum, ora! Eu só fiz uma observação! – exclamou ela

- Eu te conheço, Nana Jo! Não sou mais aquele menino inocente que você conseguia engambelar com suas estorinhas.

- Mas continua um menino lindo e que merece ser feliz. Eu posso estar enganada, mas nada me tira da cabeça que o Martín já se deu conta disso e se pôs na fila de candidatos. – ela não tinha papas na língua quando queria insinuar alguma coisa.

- Ele se deu conta, ou foi você que deu com a língua nos dentes e contou para ele que sou gay?

- Eu jamais falaria nada a seu respeito sem a sua autorização, não devia duvidar da minha honestidade. – retrucou ela, se fazendo de ofendida.

- Me perdoe, nunca duvidei de você! É que também já notei que ele anda diferente, que fica me encarando com aquele olhar guloso, que gosta de estar na minha companhia e para isso não lhe faltam assuntos para horas intermináveis de conversa e parecer estar sempre a disposição, basta eu propor alguma coisa ou me colocar a fazer algo para ele se prontificar a ajudar. – devolvi

- E você deve estar gostando disso, não é? Ou pensa que também não reparei como olha para ele, especialmente quando está sem camisa, só falta você pular no pescoço dele. – disse ela, caçoando. – Eu fico feliz que estejam se entendendo. A despeito do que dizem dele por aí, eu sei que é um homem bom, que tem um coração sem tamanho e que faria de tudo para te deixar feliz. - emendou

- É, ele até que é bonitão, não vou negar! – retorqui. Ela se pôs a rir quando a fui abraçar, no exato momento em que o Martín adentrava a cozinha para o jantar.

- O que estamos comemorando? – perguntou ele, quando nos flagrou naquela euforia.

- Você! – respondeu de pronto a Nana Jo, me deixando encabulado

- Eu? Como assim? O que fiz para ser motivo de comemoração? – perguntou o Martín.

- Nada, meu querido, nada! O Lucas estava me dizendo o quanto está feliz por você estar aqui e pela sua ajuda, é isso! – respondeu ela. O Martín me encarou e sorriu, sem esconder o quanto aquela informação o alegrava.

Ele apareceu na estância uns três ou quatro dias depois do meu encontro com o Alceu na cidade. Eu já esperava por isso, o que não impediu que ficasse abalado quando o vi na minha frente. Estava ainda mais másculo, o corpão mais desenvolvido, o rosto anguloso e viril quase como havia ficado gravado na minha memória quando estava completamente apaixonado por ele. A Nana Jo foi quem o recebeu e o aconselhou a adiar aquela conversa que ele estava exigindo ter comigo. Ele se mostrou irredutível, alegando que não arredaria pé antes de falar comigo, que o tempo para aquela conversa já estava sendo longo demais. O Martín o flagrou intimidando a Nana Jo e se prontificou a expulsá-lo da estância nem que fosse na base da porrada.

- Deixe, Martín! Acho que chegou a hora do Lucas enfrentar seus fantasmas do passado e esse é um deles. – argumentou ela, para acalmá-lo antes que os dois começassem a brigar.

- Tem certeza que quer conversar com ele? Estarei por perto se precisar! – disse-me o Martín, ao mesmo tempo em que encarava o Rogério de forma belicosa.

- Ele estará seguro comigo, não se meta! – retrucou o Rogério

- Pode deixar, Martín, eu vou falar com ele. Obrigado! – afirmei, tocando de leve sobre o bíceps volumoso dele.

O Rogério e eu saímos caminhando em direção ao lago que distava uns 800 metros da casa e era cercado por um pequeno bosque, em parte da margem, e por taboa com suas folhas longas que ondulavam ao vento noutro trecho da margem, além de uma pequena prainha de areia amarelada próxima de onde o rio, cujo leito era forrado de pedras, entrava nela. Quando meninos ficávamos horas sentados lado a lado conversando sob a areia quente no verão, ou nadando pelados na água fresca e translúcida que permitia ver os alevinos que iam se alimentar nas raízes da taboa aos nossos pés. Voltar com ele àquele lugar não estava sendo nada fácil, uma pressão crescente sobre o peito parecia me sufocar.

- Eu só soube hoje que você tinha voltado! – começou ele, como que se justificando. Eu dei de ombros. – Fui um covarde, eu sei! Nada justifica o que eu fiz, e o que não fiz também! Não que isso sirva de desculpa, mas eu era jovem demais e fiquei alarmado. Covardia, pura covardia! Não faz ideia do quanto me arrependo, Lucas, do quanto tive raiva de mim mesmo por não ter feito nada por você naquele dia. Carrego essa culpa todos os dias que acordo, e ela me sufoca. – continuou.

- Se é meu perdão que veio buscar, não perca seu tempo! Também estou lutando há anos para esquecer aquele dia, e nem a mim mesmo consigo perdoar por ter sido tão ingênuo a ponto de achar que você sentia alguma coisa por mim. – retruquei.

- Eu sentia, Lucas! Juro que sentia! Aquilo que eu achava ser uma bela amizade, vim a descobrir quando você foi embora que era paixão. Também nisso fui um covarde. Eu tinha medo que descobrissem que eu estava gostando de um veado, que a galera caçoasse de mim e achasse que eu também era bicha. Você sabe como eles eram implacáveis, como zoavam com você por te acharem esquisito, muito tímido, desengonçado para qualquer esporte de homens, como ficava olhando para nossas rolas no vestiário do colégio, como se dava bem com as garotas que te tratavam quase como uma igual. Quando eu ficava a sós com você nada disso tinha importância, eu adorava a sua companhia, adorava quando pegava nos meus braços e elogiava meus bíceps. Como você não se escondia nem se reprimia quando tinha vontade de me tocar, eu ficava apavorado só de pensar que você podia fazer isso na frente deles. Eu ia virar motivo de chacota, iam dizer que era tão bicha quanto você.

- Eu me enganei, Rogério, quando achei que você era realmente aquele machão do qual as garotas tanto gostavam, corriam atrás e abriam as pernas sem nenhum pudor para sentir seu cacetão dentro delas. Todas queriam te namorar, todas estavam a fim de trepar com você e você não se fazia de rogado, metia a pica nelas e saía se vangloriando para a galera de babacas que era tão machista quanto você e só pensava em bolinar e trepar com elas. Você tinha orgulho de ser o mais cobiçado, andava para cima e para baixo com a Letícia, a mais gostosa delas e, também a mais rameira. Ela abria as pernas para qualquer um. Todos os teus ditos “amigos” transaram com ela pelas tuas costas. Ela te fazia de corno e você se fazia de namorado apaixonado. Era tão burro que não enxergava nada, só pensava onde e como enfiar a rola. – descarreguei. – Sabe quantas vezes eu senti inveja dela? Foram inúmeras! Eu queria te beijar, eu queria poder te abraçar na frente de todos, eu queria te sentir dentro de mim e te dar todo aquele amor reprimido que me sufocava.

- Naquela época eu não fazia ideia, tinha receio de me transformar num gay.

- E você acha que ia virar gay só de tocar em mim e me deixar fazer carícias em você? Por aí se vê como você é um babaca. Lembra quando me deu um beijo na boca dentro da camionete do seu pai, alegando revoltado que eu era muito do veado e estava pedindo por aquilo, por isso estava me beijando, por pena. Você foi bruto e seco e ficou me encarando, ao mesmo tempo que afirmava que aquilo era nojento. Depois, quando tomei seu rosto suavemente em minhas mãos e colei minha boca na sua, aí sim, dando um beijo em você, um beijo carregado de paixão, um beijo carinhoso, você curtiu cada segundo que ele durou e até enfiou a língua na minha boca de tanto tesão que sentiu. Mas depois, me empurrou para longe, me mandou descer da camionete e me chamou de bicha vadia, me deixando sozinho no meio da estrada. Era assim que você retribuía cada gesto carinhoso meu, sendo um bruto insensível, e procurando me degradar.

- Eu era jovem, inseguro, achava que ia perder a masculinidade me envolvendo com você. Sou um covarde, já afirmei. Porém, não sou mais assim, Lucas. Eu mudei, não preciso mais do aval dos outros para saber quem sou. Depois que você partiu um rombo se abriu no meu peito, e eu constatei o quanto você significava para mim, o quanto ainda significa agora. Eu nunca te esqueci. Nunca esqueci daquela tarde no celeiro quando tive você inteiro para mim, apesar de não ter sido nem um pouco gentil e cuidadoso com você na sua primeira vez. – à medida que ele falava, as cenas daquela tarde passavam como um filme pela minha mente, trazendo dor e sofrimento. Não consegui mais segurar as lágrimas.

- Você tinha 20 anos, Rogério! Faltavam alguns meses para eu chegar nos dezessete. O jovem e imaturo ali era eu, o que era massacrado por todos porque estava descobrindo a minha sexualidade e sentindo pela primeira vez o amor em sua vida. No entanto, fui eu quem pagou e arcou com tudo que rolou depois. – recordei.

- Eu sei! Isso me dói até hoje, ter deixado você lá naquele celeiro sozinho pagando que pelo fizemos.

- Isso hoje não me serve de nada! Eu achava que você sendo o machão, ia me proteger, mas estava tão inocentemente enganado que me senti abandonado à própria sorte, como de fato aconteceu.

- Eu fiquei tão puto com você naquele dia porque ao mesmo tempo em que, tomado pelo tesão eu te desejava, minha mente me dizia que aquilo era uma aberração sem tamanho, trepar com outro cara, trepar com um homem. No meio desse turbilhão de dúvidas você se ajoelha na minha frente, abre a minha braguilha e tira meu pau e começa a chupar. Nem chupar você sabia, me arranhou com os dentes e me deixou ainda mais puto porque eu queria que você me chupasse, estava gostando de sentir a sua boca aveludada engolindo meu pau.

- Eu queria te compensar pelo que tinha acontecido na noite anterior atrás da estação ferroviária de Bagé, para onde a galera se dirigiu para comemorar a entrada do Túlio na faculdade, quando flagrei a Letícia fazendo um boquete em você. Eu vi como você estava gostando, como afagava os cabelos dela, como estava contente de fazer aquilo, e também como ficou zangado quando ela repentinamente parou, te acusou de ser um bruto e te deixou com o pau duro para fora sem ser saciado. Você a xingou, a mandou à merda e a acusou de não saber fazer nem um boquete descente, o que a deixou ainda mais irritada com você. Passei a noite pensando naquilo, sonhei que estava mamando sua rola e, por isso, no dia seguinte, quando estávamos no celeiro, eu deixei a timidez de lado e disse a mim mesmo, eu vou fazer o Rogério sorrir como ela fez e, completamente inexperiente, caí de boca no seu pauzão. Você podia ter me ensinado como se faz um boquete, mas preferiu me dar um tapa na cara quando disse que meus dentes estavam arranhando seu pau. Depois, com a mesma violência, me debruçou sobre aqueles caixotes, arrancou as minhas calças e socou o pauzão no meu cuzinho virgem. Eu tinha sonhado com esse dia inúmeras vezes, mas não daquele jeito, não com toda aquela brutalidade. Você me rasgou todo, eu nunca tinha sentido tanta dor, mas aguentei firme por que achava que era assim mesmo que acontecia e que, se eu queria te deixar feliz, tinha que aguentar aquela dor até você se saciar. Veja a que ponto chegava a minha ingenuidade. Eu só não contava que o Álvaro nos flagrasse no celeiro e te pegasse com o pauzão todo enfiado no meu cuzinho despejando toda aquela porra dentro dele. – rememorei

- Eu fiquei petrificado naquela hora! Pensei no escândalo, pensei no seu pai confrontando o meu, pensei na cidade toda sabendo que eu fui pego transando com um gay, pensei na galera se afastando de mim por achar que tinha virado uma bicha. Tive medo do Álvaro, seu pai era o estancieiro mais poderoso da região, era um homem que todos respeitavam e temiam sem distinção. Eu ia me foder se o enfrentasse, ia foder com toda a minha família. Quando ele me mandou sumir dali eu só pensei em correr, em escapar ileso da fúria dele, e não pensei em você. Sabe que depois disso nunca mais me senti um homem de verdade, me senti um covarde que não assume o que faz, que foge e deixa outro se foder no lugar dele. Eu me arrependo de tudo isso, Lucas. Se fosse hoje, eu nunca ia te abandonar, nunca que ia deixar você sozinho naquele celeiro. Talvez você nunca me perdoe, terei que morrer com essa culpa, e é o justo pelo que fiz você passar.

- Se você ficou com medo, imagina eu. O Álvaro sempre me tratou com distância e severidade, eu o temia. Naquele dia, depois que você saiu correndo, ele pegou um cabresto que estava pendurado numa coluna de sustentação e me surrou sem dó nem piedade com ele. Não consegui fugir, pois a calça embolada nos pés não me permitia. As tiras de couro estalavam sobre minha nudez, deixando vergões sobre a pele. Onde as argolas de metal me atingiram, abriram-se rasgos que começaram a sangrar. Eu caí ao tentar fugir, e ele não parava de me bater dizendo que eu era uma aberração, que estava manchando o nome dele, que era um depravado que merecia morrer. Além da surra, ele começou a me dar socos, um quebrou o meu nariz espalhando sangue por todo meu rosto. Me arrastando pelo chão acabou quebrando os dois ossos do meu antebraço esquerdo. Ele ia me matar não fossem dois empregados o tirarem de cima de mim atraídos pelos meus gritos. Praticamente inconsciente, fui levado ao hospital, onde tive que mentir sobre a origem de todas aquelas feridas. Fiquei acamado por quase dez dias, e quando consegui me levantar, ele me levou até a rodoviária de Bagé com duas malas contendo as minhas coisas, enfiou um pouco de dinheiro no meu bolso e mandou que nunca mais aparecesse na frente dele. Fui escorraçado feito um animal, sem saber o que fazer da minha vida, sem saber como me sustentar. Depois de horas sentado num banco da rodoviária e chorando sem parar, tomei um ônibus para São Paulo, onde morava uma prima da minha mãe com a qual ela mal teve contato. Mas era a única pessoa que eu tinha de parente e onde fui pedir ajuda. Tive que explicar o que eram todos aqueles hematomas pelo meu corpo, aquele braço engessado, os olhos rodeados de manchas arroxeadas. Ela e o marido me deixaram ficar, impuseram uma série de regras, uma vez que tinham apenas uma filha com mais ou menos a minha idade e da qual eu não devia me aproximar, mesmo sendo um veado. O casamento deles estava uma merda, brigavam por tudo, dormiam em quarto separados. De certo modo, a minha vinda quebrou aquele círculo vicioso. E, por longos e torturantes três anos, eu fiz o papel de esposa do marido dela, saciando seus desejos sexuais em troca de um teto e comida. Esse homem usou meu corpo como bem lhe apetecia, eu tinha que aguentar, aceitava tudo resignadamente, me deixava foder até não conseguir sentar sobre o cuzinho arregaçado. Quando finalmente consegui um emprego e dividir as despesas de um quarto com outros rapazes numa casa alugada, me vi livre do assédio dele, o que também acabou por colocar um ponto final no casamento deles, ao se separarem.

- Eu não fazia ideia, Lucas, juro! Pensei em ir te procurar para saber como você estava, mas seu pai tinha sido tão claro dizendo que se eu voltasse a pisar na estância ele acabava com a minha vida. Meu pai quase fez isso quando o Álvaro foi conversar com ele.

- Para ver no que nos levou o amor que eu sentia por você! Eu lutei muito para chegar onde cheguei, até encontrar um cara que também pensei ser o macho dos meus sonhos. No entanto, ele parece que precisa transar com outros para se sentir macho, e eu não posso conviver com homens desse tipo. Bem! Agora sabe a história toda, e talvez até de que a estância está falida e do porquê de eu estar de volta.

- É, os rumores correm por toda região. Se eu puder te ajudar com alguma coisa me avise. Não quero compensar nada daquilo em que fui omisso, pois jamais o conseguiria. Mas, quero poder estar por perto e, se você permitir, me deixar ser seu amigo como antigamente.

- Talvez isso nunca mais seja possível! A nossa chance se foi, não há como consertar as coisas. – devolvi.

Ao entrar em casa a Nana Jo e o Martín me aguardavam numa expectativa aflita, eu desabei no choro no colo da Nana Jo, como se tivesse purgado uma dor que carregava durante anos.

- Isso, meu menino, desabafa! Desabafa, era disso que estava precisando para superar tudo aquilo. Chore o quanto quiser, estou aqui com você! As coisas vão melhorar depois que você colocar todo esse ressentimento e essa dor para fora. – sentenciou ela. O Martín não se atreveu a me tocar, me encarava solidário, como se conhecesse o tamanho daquela dor.

Naquela noite, quando já havia se tornado um hábito o Martín e eu ficarmos conversando após o jantar, ou na sala quando fazia frio lá fora, ou no terraço quando o céu estava limpo e estrelado, eu contei toda a história para ele. Eu estava confiando nele para tantas outras coisas, por que não para isso também. Não fazia sentido deixá-lo a parte da minha vida quando, de certa forma, já fazia parte dela. Ele me abraçou e não disse nada, apenas me apertou em seus braços num gesto espontâneo que falava por si só. Eu, timidamente, o beijei. Era para ser um beijo curto, como um agradecimento por ele estar solidário. Contudo, quando nossos lábios se tocaram, algo explodiu dentro de mim e, creio, que dele também. Foi um beijo intenso, carregado de desejo, licencioso, que instalou um tesão desmesurado. Ele beijava bem, sua boca e saliva tinham a mesma virilidade de sua aparência e seus gestos. A pegada forte não deixava dúvidas do que ele queria e, durante o transcorrer do prolongado beijo, suas mãos começaram a tatear sobre o meu corpo excitando-o a ponto de eu o deixar me levar para cama.

Tirando peça por peça, ele deixar meu corpo nu. Seu olhar de cobiça era doce e compreensivo. Os beijos, chupões e lambidas começaram a percorrê-lo por inteiro, até eu soltar os primeiros e contidos gemidos quando meu cuzinho se revolvia querendo engolir aquele macho. O Martín logo ficou de pau duro formando uma saliência que pulsava dentro de sua calça. Ajoelhei-me entre suas pernas abertas e libertei a gigantesca ereção que praticamente saltou sozinha para fora. Tomei-a delicadamente nas mãos, ela estava quente e latejava. O prepúcio havia-se recolhido expondo quase toda a cabeçorra estufada e roxa. Fui inclinando devagar o rosto para dentro da virilha dele, onde fui agraciado com seu cheiro másculo e almiscarado. Seus olhos não perdiam um lance dos meus movimentos e, quando fechei os lábios ao redor da chapeleta e chupei o melzinho que a lambuzava, ele soltou um gemido rouco, abriu mais as pernas e me deixou brincar com seu sacão alongado. Coloquei uma bola por vez na boca e as chupei, massageando-as com movimentos suaves da língua, saboreando o sacão peludo e cheiroso dele.

- Espero por isso desde aquele dia em que me pegou punhetando minha rola. Vi que havia um brilho especial no seu olhar quando me flagrou e soube que você me queria. Preciso tanto da sua boca, Lucas. Preciso dos beijos dela, preciso das mamadas na minha pica, preciso de você. – exclamou ele, enquanto eu me deliciava mamando devotamente o caralhão pesado e grosso dele.

- Fiquei fascinado quando vi você se masturbando. Um homem como você nunca deveria depender da masturbação, devia ter sempre alguém para acalentar e satisfazer seus desejos e necessidades. – devolvi.

- Seja esse alguém, Lucas! Seja esse alguém que eu tanto procuro! Seja esse alguém que compartilhe a vida comigo! Eu te quero, Lucas! Eu sou apaixonado por você, se ainda não percebeu. – confessou ele, pouco antes de encher a minha boca com seu leite saboroso, que eu engoli até a última gota.

Ele se despiu, tinha a impressão de estar diante de um deus mitológico, exuberante no corpão maçudo e musculoso, atraente com aquele falo gigantesco e com o sacão taurino.

- Você é lindo! – exclamei, lambendo os lábios, o que o fez sorrir.

- Gosta?

- Muito! – respondi.

Ele se inclinou sobre mim, juntou sua boca à minha, meteu vorazmente a língua dentro dela e amassou minhas nádegas. Fui me entregando sabendo que em minutos aquela verga colossal estaria me dilacerando as pregas e entrando fundo em mim, onde eu só pensava em aninhá-la. Ergui minhas pernas e ele as colocou sobre os ombros. Meu reguinho liso estava todo vulnerável e acessível, e ele o percorreu, primeiro com o polegar, e depois, com a língua. Eu gemia e me contorcia, o tesão estava me deixando maluco. Quando a língua rodopiou pela primeira vez sobre as minhas pregas, eu gemi permissivo. Ele as lambeu e mordiscou as bordas do reguinho me preparando para ser coberto e me render submisso à sua dominância.

- Quero foder seu cuzinho, Lucas! – disse ele, inebriado pelo tesão.

- Fode, Martín! Fode meu rabinho. – balbuciei, ao sentir a chapeleta fazendo pressão na minha rosquinha.

Meu ganido ecoou pelo quarto quando o caralhão grosso e enorme dele deslizou para dentro do meu cu distendido até o limite de sua elasticidade e ainda insuficiente para permitir a passagem da tora roliça. Ele esperou eu relaxar e destravar o cu, mas mesmo assim, quando voltou a se empurrar para dentro dele, senti minhas pregas se rasgando e o ardor lancinante se espalhando pela pelve. Puxei o Martín sobre mim e o beijei, precisava do calor e do sabor de sua boca para aguentar o pauzão me rasgando. Ele enfiava com cuidado, gentil e observando meus limites.

- Abre o cuzinho para o teu macho, abre, Lucas! Não quero te machucar, quero que sinta prazer na minha rola. – murmurou ele, me beijando sofregamente e apertando meus mamilos entre seus dedos.

O pré-gozo abundante dele foi lubrificando meu cuzinho e o vaivém facilitado pela umidade só nos enchia de prazer. Eu gemia sentindo dor e prazer se fundindo, enquanto ele arfava e grunhia sentindo a maciez tépida da minha mucosa anal circundando seu falo avantajado. Enquanto ele me fodia, as pontas dos meus dedos afundavam nas costas largas dele. Empalado até o talo, com a verga dele pulsando fundo nas minhas entranhas, eu soltei um gritinho e gozei, desopilando aquela pressão que comprimia meu saco. Ele voltou a me beijar, ávido e num tesão incontrolável. Ele me tinha como desejou desde a primeira vez que me viu, em seus braços, empalado por seu cacetão, entregue e submisso.

- É assim que eu gosto, Lucas! O cara totalmente passivo, me aninhando em seu rabo, agasalhando minha pica, e você faz isso como ninguém, faz com gosto, faz com paixão. – sussurrava ele junto ao meu ouvido.

Ao senti-lo estremecer todo e soltando um urro, percebi que estava gozando, esporrando feito um touro, ele inundou meu cuzinho com seu sêmen denso que escorria quente sobre a minha mucosa anal esfolada. Ele estava todo suado, sua pele colava na minha, como se fosse uma cola unindo nossos corpos saciados. Ele fez menção de se desengatar do meu cu, mas eu o travei apertando e retendo a rola grossa que ainda pulsava dentro de mim.

- Fica mais um pouco! – pedi com meiguice. – Quero te aconchegar, quero que fique aninhado no meu casulo.

- Você é incrivelmente carinhoso, Lucas! Nunca me senti assim com ninguém. – revelou ele, deixando-se cair sobre mim enquanto a cacetão amolecia lentamente nas minhas entranhas.

Não me recordo do momento exato em que adormeci, só de sentir o sono chegando enquanto estava enrodilhado nos braços dele, afagando o redemoinho de pelos entre seus mamilos. Em muito tempo, foi a primeira noite que dormi direto, só acordando com o clarão do sol invadindo o quarto. Me virei e estava só na cama. O travesseiro que ele usou estava fora do lugar e eu o abracei, o cheiro dele estava impregnado da fronha com a mesma intensidade que estava na minha pele. O cuzinho estava molhado e, quando fui secá-lo com um lenço umedecido, percebi que havia vazado porra e um pouco de sangue das pregas dilaceradas. Chamei por ele, achando que talvez estivesse no banheiro, mas não obtive resposta. Queria que ele estivesse ali, queria me encaixar em seu torso e beijar sua boca. Me enfiei sob a ducha e desci para a cozinha.

A Nana Jo passava o café e eu a ajudei a montar a mesa. Ela ficou me olhando de modo enigmático até se sair com essa.

- Ao que parece o acordo de parceria de vocês vai de vento em popa! – exclamou.

- O que você quer dizer com isso, não entendi! – devolvi, sabendo que ela já tinha sacado tudo.

- Lucas, você é inocente e ingênuo às vezes, mas não é burro! Não se faça de desentendido comigo, seu moleque safado. Eu troquei as tuas fraldas e te conheço, melhor do você imagina. – sentenciou ela

- Está bem, o que foi que eu fiz de errado agora?

- De errado nada! Quem falou que você fez algo de errado – retrucou. – Há pouco me desce o Martín com um sorriso de orelha a orelha, praticamente nu segurando as calças nos braços tentando escapulir sem ser notado em direção a casa dele, e agora vem você com esse olhar iluminado parecendo um farol. Não precisa ser adivinho para saber o que andaram aprontando no quarto lá em cima. – acrescentou.

- Foi bom Nana Jo! Não, foi maravilhoso! Ele é demais! – exclamei, entregando os pontos.

- Que bom, meu menino! Fico feliz por vocês dois! Sejam ajuizados, é tudo que peço, mas sejam, sobretudo, felizes!

- Eu te amo Nana Jo! Já te falei isso?

- Já, um milhão de vezes, mas pode repetir mais um milhão! – eu a abracei em nossa velha e profunda cumplicidade. – Agora vá lá chamar o parrudão que deve estar esfomeado a essas alturas.

Fui à cidade resolver algumas questões no cartório e comprar algumas coisas que a Nana Jo havia me pedido. Ao terminar as compras, me dirigindo até onde havia estacionado, passei diante de uma loja de ferragens e vi o Rogério através da vitrine. De início pensei em seguir adiante e evitar o encontro, mas depois percebi que seria uma atitude imatura, eu devia aprender a lidar com meus problemas sem fugir deles. Só havia um cliente na loja e era o Rogério que o atendia, o que me deixou surpreso.

- Oi!

- Oi! O que faz aqui? – perguntei, após o cliente sair.

- Eu trabalho aqui! – respondeu

- Como assim? Eu pensei que você estava ajudando seu pai na estância. – questionei

- Não, não estou ajudando meu pai. A loja é minha, montei depois que retornei da universidade. – respondeu ele. – E você, veio comprar alguma coisa? – perguntou, não querendo continuar o assunto e as explicações do fato de estar ali.

- Sim, a Nana Jo me pediu para comprar algumas coisas para a casa, mas já estou retornando à estância. Estamos cheios de trabalho, procurando recuperar um pouco daquilo que ficou abandonado. – esclareci.

- Você e o tal argentino?

- Sim, o Martín e eu. Na verdade, é ele quem toca tudo, eu acho que mais o atrapalho do que ajudo, não entendo nada sobre como cuidar da estância. – respondi.

- Estão se dando bem então, pelo que parece.

- Sim, muito bem! O Martín é um cara fantástico, gosta do que faz e é muito habilidoso. Acredito que a estância só exista ainda porque ele se dedica a ela, pois se dependesse do Álvaro não restaria mais nada. – afirmei, ao mesmo tempo em que notei que ele não estava confortável comigo enaltecendo as qualidades do Martín.

- Sorte sua então, não é? – questionou, no que me pareceu um desdém. – Talvez possamos sair uma noite dessas, a galera tem falado de tomarmos umas cervejas depois que o Alceu avisou do seu regresso.

- É, talvez! Tenho que ir, o Martín me espera para ajudá-lo a consertar os tratores. – afirmei, cortando a questão de um encontro com a antiga galera a qual eu queria evitar.

Chegando em casa comentei com a Nana Jo o meu estranhamento de encontrar o Rogério atrás do balcão de uma loja de ferragens. Ela, a princípio, ficou um pouco hesitante, mas depois me perguntou se ele tinha explicado o porquê de estar ali.

- Não! Ele não me disse nada. Só disse que era o dono da loja quando lhe perguntei do porquê de não estar ajudando o pai na estância. – respondi.

- Bem! Talvez devesse ser ele a te contar a história, mas vou te adiantar apenas que as terras da família dele não pertencem mais a eles. – revelou ela

- Como assim? Eles venderam a estância?

- Foi mais ou menos isso! – respondeu enigmática.

- Deixe de rodeios Nana Jo, sente aí e me conte toda essa história em detalhes. O que foi que aconteceu?

- Você deveria perguntar diretamente a ele. – devolveu ela

- Não! Eu perguntei para você e, é você quem vai me contar o que não sei. – exigi.

- Depois do fatídico dia, o Sr. Álvaro foi ter uma conversa com o pai do Rogério, contando tudo o que aconteceu no celeiro, e ameaçando dar cabo do Rogério caso ele voltasse a pisar na estância ou a te procurar. Não sei detalhes, mas as ameaças se estenderam para toda a família, e você bem sabe quanto poder o Álvaro tinha naquela época. O Rogério deixou Aceguá e foi cursar a universidade em Santa Maria, só voltando quatro anos depois. Nesse interim eles perderam mais de 70% do rebanho de ovinos deles para a hemoncose que demorou a ser diagnosticada e quando o foi, os animais demoraram a responder aos medicamentos e morreram antes da cura. O que colaborou para os nematoides se espalharem foi uma grande estiagem que aconteceu dois anos depois de você ter saído de casa, prejudicando as pastagens onde as larvas se alojaram. A recuperação da pastagem foi um processo caro para todos os estancieiros da região e como eles haviam perdido praticamente todo o rebanho, não tinham como financiar essa recuperação. Ninguém quis negociar com eles a compra dos animais restantes, pois pairava a suspeita de estarem infectados, no que o Sr. Álvaro se encarregou de alertar possíveis compradores. Em pouco tempo, eles se viram em apuros financeiros, com as pastagens degradadas e sem rebanho para comercializar. Sem crédito junto aos bancos, o Sr. Álvaro se ofereceu para comprar a estância pela metade do que ela valia. Eles não tiveram escolha e assim, o Sr. Álvaro conseguiu a vingança que tanto queria, não só do Rogério, como do pai dele. – revelou ela, me deixando estupefato.

- Quer dizer que as terras deles agora fazem parte da estância? – perguntei incrédulo

- Sim! Toda aquela área ao longo da BR 473 na direção de Sarandi que fazia divisa com a estância agora faz parte dela. – esclareceu.

- Você sabia disso? – perguntei ao Martín, que também ouvia o relato dela.

- Não! Quando cheguei aqui aquela área já fazia parte da estância, eu achei que sempre tinha sido assim. – respondeu ele

- Com o que restou da venda das terras, os pais dele construíram uma casa na cidade e ele abriu a loja que, acredito eu, é que os mantém. – acrescentou a Nana Jo. – O Rogério não deve ter dito nada para você por vergonha, eu acho; pois a família estava relativamente bem antes disso tudo acontecer.

- Sim! Eu me lembro que a casa deles era ampla bem construída e cuidada, os galpões e estábulos também. O Rogério era dos poucos da galera que tinha uma camionete, só dele, com a qual saía pela região à caça das garotas. – mencionei. – Tenho que devolver as terras para eles! – afirmei resoluto.

- Não sei se ele vai aceitar! Você sabe como aquele moleque consegue ser um cabeça-dura quando quer. E homens como ele, com o orgulho ferido, não são fáceis de dobrar. – disse a Nana Jo

- Vai mesmo querer devolver todas aquelas terras? – perguntou o Martín, que conhecia a estância melhor do que eu.

- É claro! O Álvaro as roubou deles, é justo que eu repare esse erro. Nunca vou ter paz sabendo que o Rogério e a família estão nessa situação por conta da maldade daquele homem. – afirmei.

- Tem certeza que é só isso mesmo? – indagou ele.

- Sim, tenho, é lógico! O que mais seria?

- Não sei! Deixa para lá! Faça o que acha certo! – retrucou ele. Eu não entendi bem o que ele quis dizer com isso, mas a Nana Jo sacou onde estava o problema. Desde a aparição do Rogério uma ponta de ciúme se implantou nele.

O Rogério reapareceu na estância dois dias depois, pouco antes do jantar quando o sol do verão tinha acabado de se pôr no horizonte. A Nana Jo sempre gostou dele, mesmo depois do que aconteceu no celeiro, ela compreendeu os temores dele em enfrentar o Álvaro. No entanto, não deixou de lhe passar uma carraspana logo na primeira ocasião em que o reencontrou depois daquilo. No fundo, ela sabia o quanto ele gostava de mim naquela época, e que lutava consigo mesmo, para admitir que estava gostando de um gay, bem como sabia o porquê de ele viver me magoando com seu comportamento bruto e suas atitudes agressivas. Pura insegurança de macho, concluiu ela. Também foi isso que jogou na cara dele assim que teve a chance.

- Duas visitas tão seguidas! Pensei que a conversa do outro dia tinha deixado tudo esclarecido. – jogou a Nana Jo quando o recebeu na porta e o convidou a ficar para o jantar.

- Posso ir embora, se quiser! – devolveu ele, um tanto quanto rude

- Deixa de ser desaforado, seu moleque! Quem disse que não pode nos visitar? E não pense que sou tão boba que não sei o que veio fazer aqui! Vamos, entre, e deixe de cerimonias. Sei muito bem que gostava de ficar enfurnado aqui dentro com o Lucas. Ele está no banho e deve descer daqui a pouco. Venha, vamos para a cozinha, vai me ajudar a colocar a mesa. – ela tinha esse dom de dar ordens a torto e direito e fazer com que parecessem um pedido irrecusável. Ele obedeceu sem pestanejar.

- Oi! – cumprimentou ele, desajeitado quando desci

- Oi! – eu ia perguntar o que veio fazer, mas desisti ao me lembrar que tinha uma dívida enorme a saldar com ele por conta dos desmandos do Álvaro.

O Martín chegou logo em seguida, e o cumprimentou secamente, surpreso de ele estar novamente ali. Não foi um jantar propriamente descontraído, embora as conversas tenham girado em torno de assuntos pouco polêmicos. Enquanto eu lavava a louça, o Rogério me ajudava a secá-la, a Nana Jo com toda sua perspicácia levou o Martín para a sala onde serviu o café.

- Ele janta com vocês todas as noites? – perguntou o Rogério, como quem não quer nada.

- Sim, desde que voltei!

- Acho que ele não fazia isso quando o Álvaro era vivo. Ele não dava muita abertura aos empregados.

- Certamente não! Acontece que o Martín não é um empregado, é quem está me ajudando a reerguer a estância, é mais que um braço direito. – devolvi

- E no que mais ele está te ajudando? – eu entendi na hora onde ele queria chegar.

- Ciúmes, agora, nessa altura do campeonato? É isso, Rogério? – indaguei revoltado. – Não acha estranho isso acontecer agora, quando anos atrás tinha vergonha de estar em público comigo, especialmente quando a galera estava reunida? – questionei.

- Eu sou lá homem de sentir ciúmes de um veadinho? Só estou estranhando essa amizade tão repentina entre vocês dois. – respondeu ele, tentando se livrar da pressão.

- Para você ver, o Martín não tem vergonha da amizade com um veadinho. Ele não dá a mínima para o que os outros acham de ele andar comigo em público. – retruquei

- Grande coisa! Eu muito menos! Posso ter sido um vacilão naquela época, mas isso mudou. É você que parece incomodado com a minha presença e a minha companhia, desde que esse sujeito se engraçou para o seu lado. – revidou ele.

Eu lhe expus a minha intenção de devolver as terras que o Álvaro tirou deles, mas como a Nana Jo havia previsto, ele se mostrou ofendido e foi embora sem ouvir meus argumentos. Já o Martín gostou de vê-lo ir embora sem um acordo, nem tanto pelas terras, mas por ele ter se desentendido comigo. Ao dar – boa noite – à Nana Jo naquela noite, ela me precaveu do problema que eu tinha nas mãos, dois homens ciumentos esperando a mesma coisa de minha parte. Não pensei muito a respeito, ao notar a excitação no olhar do Martín, que consultava as horas de cinco em cinco muitos no carrilhão da sala, ansioso pelo momento de subirmos para o quarto onde ele ia inocular a sua presença a fim de me fazer enxergar suas qualidades em relação ao rival. Quando adormeci enroscado em seu corpo, meu cuzinho ardia e estava tão cheio de esperma que eu o mantinha travado para que não vazasse e me privasse de sua umidade viril.

- Ei, ei, seu moço! Vai ser assim agora todas as manhãs? Onde pensa que vai desse jeito, tentando escapar na surdina? – questionou a Nana Jo quando o Martín escapulia sorrateiro pela cozinha sem querer ser visto.

- Pensei que ainda não estava acordada!

- Pois pensou errado! Sempre levantei cedo e não vou mudar isso depois de velha! E pelo amor de Deus, homem! Vista essas calças que não sou obrigada a olhar para essa coisa enorme entre as tuas pernas. – repreendeu-o quando se deparou com a ereção matinal dele em pleno curso.

- Foi mal, dona Joana! Eu nem reparei que estava .... bem, que estava ..... – perdeu-se ele na explicação.

- Pois está! E, em vez de fugir feito um larapio, trata de ir chamar o Lucas, pelo que sei vocês têm muito trabalho a fazer hoje. Anda, homem, vá acordar o Lucas e não me demorem a descer! Já aprontaram o bastante essa noite! – vociferou ela, começando a rir assim que ele correu escada acima.

- Sim, senhora! – exclamou vexado.

Eu tinha acabado de acordar e estava me espreguiçando quando ele retornou ao quarto com as calças nas mãos e aquela tentação enorme estufando a cueca.

- Fugindo sem me dar bom dia?

- Acabo de levar uma bronca da dona Joana! Ela parece ter olhos até nas costas, nunca vi coisa igual! – exclamou, me fazendo rir.

- Vai me dizer que ela te flagrou com essa coisa enorme e dura?

- Você ri porque não é você que passou pelo vexame! – retrucou ele. – O que você queria que eu fizesse, acordo assim todas as manhãs não tem como esconder.

- Vem cá, vem! Eu tenho um jeito infalível de resolver esse probleminha! – devolvi insinuante, tirando o lençol que cobria a minha nudez.

- Ela mandou a gente descer logo! Disse que não era para aprontarmos mais nada aqui em cima. – avisou

- Ela vai entender! Vem cá, estou precisando de você do jeitinho que está agora! Ela sabe que nunca fui um menino muito obediente. Vem! – ele se atirou sobre mim, e eu o beijei cheio de tesão.

Enquanto ele me chupava um dos mamilos e prendia o biquinho entre os dentes, eu enfiei a mão dentro da cueca e puxei o caralhão para fora. Fiquei me contorcendo sob o peso dele, abrindo as pernas e empinando a bunda para deixá-lo ainda mais excitado. Fui me virando até ficar de bruços. Ele sussurrava na minha orelha, enquanto a mordiscava, que ia me foder. Eu respondia arfando e concordando, ao mesmo tempo que rebolava elevando as nádegas para se encaixarem na virilha pentelhuda dele. Ele foi descendo pelas minhas costas, pousando beijos molhados sobre a pele arrepiada, lambendo as saliências das minha vertebras até chegar ao reguinho estreito e aos glúteos carnudos, que passou a mordiscar até me fazer gemer.

- O cu ainda está todo estufadinho de ontem à noite! – disse ele, ao arreganhar as nádegas e se deparar com meu cuzinho piscando de desejo.

O Martín apontou a cabeçorra bem em cima do montículo estufado e com um impulso firme, pressionou o caralhão para dentro do meu cuzinho fazendo-o mergulhar na poça de sêmen que ele havia esporrado na noite anterior. Eu gani ao ter os esfíncteres trespassados e dilacerados, gemi seu nome e me entreguei quando ele envolveu meu tronco em seus braços e bolinou com meus mamilos, enquanto bombava meu cu quente e macio. Eu me agarrava aos lençóis, ele deslizou as mãos sobre os meus braços até as encaixar nas minhas. A cada estocada profunda um pouco da porra alojada nele vazava lubrificando o cacetão dele e tornando o coito menos dolorido. Sentindo os pelos do peito dele colados nas minhas costas e ouvindo as sacanagens que surrava em meu ouvido eu comecei a gozar.

- Era isso que você queria do seu macho, que ele te fizesse gozar? – grunhiu ele, tomado pelo tesão ao me ver esporrando.

- Ai Martín, meu cuzinho! Estou com tesão no cu! Me insemina, Martín! Insemina meu rabo! – supliquei em êxtase.

Ele grunhiu forte, me apertou com mais força e se despejou todo em mim, beijando minha boca num frenesi impulsivo. Ficamos engatados até o frenesi passar, cada um desabando para um lado.

- Faz tempo que não me sinto tão completo! – disse ele. – Gosto de você, Lucas! Posso te fazer feliz! – emendou, segurando minha mão entre as dele.

- Você me faz muito bem, gosto de estar com você! Gosto de continuar te sentindo dentro de mim depois de cada transa. Estou feliz que esteja aqui, muito feliz! – afirmei.

Quando chegamos à cozinha, a Nana Jo estava furiosa.

- Não mandei descerem logo? Estão gastando as energias na esbórnia em vez do trabalho que os espera. – reclamou. O Martín e eu nos entreolhamos com um sorriso maroto.

- O que é que podia fazer, se o Lucas não me ouviu! – exclamou o Martín.

- Sei! O Lucas! E você é o inocente nessa história! – tripudiou ela, quando puxei o rosto dele para um beijo.

Tomei a iniciativa de procurar os pais do Rogério para lhes devolver as terras que o Álvaro usurpou deles. Eles me conheciam desde a infância, pois éramos vizinhos e minha mãe e a dele, pelo que a Nana Jo me contou, eram amigas. Porém, não posso dizer que tive uma recepção amistosa quando o pai dele veio me atender na porta da casa da cidade onde estavam morando agora.

- Como vai Sr. Lino? – ele só me encarou de cara amarrada. – Será que podemos conversar?

- O que você quer aqui? Já não basta tudo que fez para arruinar nossa família? – perguntou-me a mãe dele que saiu feito um raio de dentro da casa quando me viu.

- Olá, dona Laura, como está? – perguntei intimidado

- Como você acha que estamos? É muita cara de pau vir bater à nossa porta, não acha? – questionou ela.

- Eu vim tentar consertar uma injustiça que o Álvaro cometeu no passado. Podemos conversar? – o pai dele abrandou a expressão do rosto, mas ela se manteve belicosa.

- Entre, Lucas! – disse o pai

- Não seja tolo, Lino! Nada que vem dessa gente presta! Tome cuidado para não ser ludibriado mais uma vez. – sentenciou ela, o que me tirou do sério, uma vez que não merecia aquelas ofensas.

- Sei que estão magoados e não lhes tiro a razão .... – antes de poder continuar ela me interrompeu novamente.

- Magoados? Chama isso de magoados? Nós fomos vilmente enganados, isso sim! – vociferou ela.

- Repito, vim tentar consertar um erro, e não ser agredido gratuitamente pela senhora. Até porque, eu tenho muito mais motivos para não querer contato com vocês. Tudo o que aconteceu também está diretamente ligado ao que seu filho fez comigo. Admito que o que fizemos não dependeu exclusivamente dele, mas não queira se fazer de cega e negar a parcela de culpa que seu filho tem nessa história. Se soubesse da metade do que o Rogério e aquela turma com quem ele andava me fizeram, não estaria aí me culpando por tudo. Eu não estou aqui para recriminar ninguém. – afirmei resoluto, o que a fez se encolher.

- Nós lhe devemos desculpas, Lucas! O Rogério agiu muito mal com você, envergonhou a família toda com o que fez e seu pai estava coberto de razão quando veio tirar satisfações comigo. – disse o pai dele.

- Não é bem assim, Sr. Lino! O Rogério não fez o que fez sozinho. Fazia tempo que eu queria aquilo, eu estava confuso quanto a minha sexualidade e me vi apaixonado pelo seu filho. Não foi como eu havia imaginado, o senhor deve conhecer muito bem o seu filho, para saber o quanto ele pode ser bruto quando quer. Contudo, eu gostei de cada segundo do que aconteceu, por mais que ele estivesse me machucando, eu gostava tanto dele que me submeti aos arroubos dele. – confessei.

- Viu? Aí está! Você culpando o Rogério por tudo quando agora ele mesmo admite que é tão culpado quanto. – intrometeu-se a mãe dele

- O rapaz está aqui procurando uma conciliação, mulher! Se não é capaz de ouvir o que ele tem a dizer com a boca fechada e sem toda essa agressividade, que vá caçar o que fazer. – sentenciou o pai dele, puto com a esposa.

- Pois bem, vou direto ao ponto! Eu lhes quero devolver as terras que o Álvaro usurpou de vocês. Tentei falar com o Rogério, mas ele ficou furioso comigo. Seu filho é orgulhoso demais para admitir certas coisas e se zanga com facilidade, antes mesmo de entender o que se passa. Não quero aqui reclamar dele ou me queixar pelo que ele fez comigo, mas seu filho era uma pessoa quando estávamos sozinhos, gentil, protetor, cuidadoso e, era outra pessoa quando estava cercado daquela turma do colégio que vocês bem conhecem. Ele se juntava a eles para caçoar de mim, zoar e humilhar quando não judiar e agredir com todos aqueles músculos e força que ele sempre teve. Eu sofri muito nas mãos dele e, mesmo assim, gostava dele e o tratava com carinho e respeito. Foi disso que surgiu a nossa amizade, da qual ele gostava quando sozinhos, e da qual também sentia vergonha em público. Bem, mas a questão aqui não é essa. Isso ficou no passado e não tem como ser reparado. Já a questão das terras pode ser resolvida se o senhor aceitar a minha proposta. – comuniquei

- Não temos condições de devolver o que seu pai nos pagou pela estância. Foi pouco, muito menos do que ela realmente valia, mas mesmo assim não temos como lhe pagar. – avisou o pai dele.

- Eu não quero nada, não quero que me devolvam nada do que o Álvaro recebeu de forma injusta. Só quero lhes devolver o que é de vocês por direito. O Rogério não enxergou a questão por esse ângulo, ele acha que estou sendo prepotente e soberbo. – afirmei

- E não está? – questionou a mãe dele.

- Não senhora, não estou! Consigo ver agora com muita clareza de onde vem a insensibilidade e a arrogância do Rogério! Eu vim em missão de paz, mas parece que a senhora não consegue perceber. – revidei exasperado.

- Chega, mulher! Você sabe tão bem quanto eu que o que ele está dizendo é verdade. O Rogério tinha sentimentos pelo Lucas, quais exatamente só ele pode dizer, mas ele tinha receio de ver sua masculinidade sendo contestada. Reconheça que nosso filho não é nunca foi um santo, esse moleque deu muita dor de cabeça quando andava com aquela turma. – descarregou o pai dele.

- Temos um acordo, Sr. Lino? Eu ficaria imensamente feliz se o senhor aceitasse minha proposta.

- Você sempre foi um bom garoto, Lucas! Não foi nem uma ou duas vezes que presenciei como você é carinhoso, e não duvido que o foi com meu filho, e que foi por isso que ele desenvolveu sentimentos por você. – reconheceu ele. – Eu estou tentado a aceitar sua proposta, mas em a aceitando, não teria condições de tocar a estância adiante. É preciso muito investimento para recuperar aquelas terras e, nem mesmo a nossa antiga casa continua lá, foi demolida pelo seu pai. – argumentou.

- Então estamos na mesma condição, Sr. Lino! Eu estou tentando manter o patrimônio que meus avós e bisavós construíram e que o Álvaro arruinou. A estância, não sei se o senhor sabe, está falida e atolada em dívidas. Eu comecei a fazer tratativas que estão bem adiantadas com alguns agricultores da região que estão dispostos a fazer uma parceria num sistema que estão chamando de integração lavoura e pecuária no qual uma rotatividade entre as culturas de arroz e pastagem para engordar gado estão consorciados. É uma forma de obtermos algum lucro com nossas terras sem precisar investir muito a princípio. O senhor poderia fazer o mesmo estando novamente de posse de suas terras. – esclareci.

- Nem sei o que dizer, Lucas! Seu pai deveria sentir orgulho do filho que teve, e não fazer o que fez com você. Eu aceito sim, e espero que possamos enfrentar esse desafio juntos. – disse ele, todo feliz. Eu o abracei com certa cautela, pois conhecia muito bem aqueles homens nada afeitos a homossexuais. A mãe dele havia abrandado a expressão, mas não escondia que seria uma adversária ferrenha caso minha proposta não estivesse sendo sincera.

- O senhor não faz ideia do quanto me deixou feliz. Eu vou precisar muito da sua ajuda, pois não entendo nada sobre como tocar uma estância e o senhor fez isso praticamente a vida toda. Tem muito a me ensinar. Eu conto com a ajuda do Martín, uma pessoa muito dedicada e competente, que se tornou meu amigo desde que regressei a Aceguá. Ele tem muita experiência com o rebanho de ovinos adquirida na Argentina de onde ele vem. – afirmei.

Saí de lá contente, tinha tirado um peso das minhas costas e sabia que tinha feito a coisa certa. A Nana Jo me tomou em seus braços quando lhe contei como tinha sido o encontro com os Borges.

- Fez a coisa certa, sim, Lucas! Você é um menino de ouro! Estou orgulhosa de você e sei que sua mãe também estaria se visse em que pessoa maravilhosa e justa o menino dela se transformou. – disse ela.

- Agora é esperar pela reação do Rogério. Ele vai vir com duas pedras nas mãos e não dou muito tempo para isso acontecer. Ele tinha me proibido de falar com o pai dele. – comuniquei

- Deixa ele comigo! Se, e quando, ele aparecer por aqui, vou botar aquele moleque nos eixos! Ele que me aguarde, se fizer alguma desfeita para você. – asseverou ela, e eu sabia que o Rogério não ia se atrever a enfrentá-la.

Não deu outra, naquela mesma noite, depois de o pai dele ter falado sobre a conversa que tive com ele, o Rogério apareceu na estância. Eu estava na varanda com o Martín, sentados no escuro colados um no outro no banco de balanço pendurado a uma grossa viga de cambará, onde já haviam rolado uns beijos como uma espécie de aquecimento para o que ia acontecer na cama dentro em breve. Inclusive, já fazia um tempinho que o pau dele estava duro e ele repetidas vezes levou a minha mão até ele, na expectativa de que eu mamasse ali mesmo. A Nana Jo ainda estava acordada e eu não queria ser flagrado cometendo uma sacanagem. Tinha aprendido a duras penas que ser flagrado fazendo sacanagem tinha um preço muito alto a ser pago, daí a cautela.

- Esse sujeito de novo? O que pode ser agora? – perguntou o Martín, para quem eu ainda não tinha falado sobre o acordo que fiz com o pai do Rogério.

- Eu devolvi as terras que o Álvaro tirou da família dele. Conversei com o pai dele esta tarde. – revelei.

- E por que não me disse nada?

- Eu percebi que você não gostou quando te falei da minha intenção, mas eu precisava fazer justiça para me sentir melhor comigo mesmo.

- As terras são suas, você pode fazer o que quiser com elas. Eu só não sei se esse sujeito merece toda essa atenção. – era evidente que ele também tinha ciúme do Rogério.

É engraçado constatar como os machos logo vão se achando donos de você depois de meterem suas rolas no nosso cuzinho. Fica parecendo que demarcaram um território e que ele fica proibido para outros machos. Acredito eu que isso tem a ver com o processo evolutivo, um resquício primitivo que impera em todo reino animal onde os machos se apoderam de seus parceiros e se sentem ameaçados pelos outros machos, ficando dispostos até a morrer para assegurar o território conquistado. Era meio que isso que estava começando a perceber entre os dois. Ambos se saciaram no meu cuzinho e agora se achavam donos dele.

- Eu não tinha te proibido de falar sobre a questão das terras com o meu pai? O que foi fazer lá, sem a minha permissão? – foi logo despejando o Rogério.

- Boa noite, para você também! – retruquei de pronto, ao mesmo tempo em que o Martín soltava um rosnado. – Pode me explicar desde quando preciso da sua permissão para fazer alguma coisa? – perguntei, deixando-o mais puto, uma vez que o fiz na presença do Martín.

- Não banque o engraçadinho! Quer o quê, nos humilhar, mostrar que ainda é membro da família mais poderosa e influente da região? – continuou ele.

- Acho melhor você medir suas palavras e se acalmar. Não vou permitir que ofenda o Lucas na minha frente! – interveio o Martín, todo belicoso.

- Não se meta no que não lhe diz respeito! Fica na sua, cara! Meu negócio aqui é com o Lucas! – revidou o Rogério. O Martín se levantou e foi na direção dele feito um leão.

- Epa, epa, epa! Vamos nos acalmar! Podem aquietar o facho, os dois! – exclamei, me posicionando entre ambos antes que começassem a se socar.

- Não vou permitir que esse sujeito fale assim com você! – exclamou o Martín. Eu passei a mão no rosto contraído dele e pedi que tivesse calma.

Atraída pela altercação de vozes, a Nana Jo se juntou a nós, perguntado que balburdia era aquela.

- Ah, você! – exclamou, quando viu a cara furiosa do Rogério. – Espero que tenha vindo agradecer ao Lucas pelo gesto bondoso dele, e não arrumar confusão! – despejou sobre ele

- Não vim arrumar confusão! Por que sempre que apareço aqui você acha que vim fazer confusão? – questionou ele

- Porque eu te conheço, moleque! Você já superou em muito a sua cota de judiar do Lucas, eu não vou admitir que continue a fazer isso com ele, estamos entendidos?

- Estamos! Me desculpe, não vim brigar! – devolveu o Rogério, todo manso.

- Pois então, vamos entrar e, enquanto eu passo um café, vocês três se entendem. Todos só têm a ganhar, lembrem-se disso.

Acabou tudo bem, melhor do que eu esperava para ser sincero. O Martín explicou em linhas gerais o nosso plano para recuperar a estância e o instigou a fazer o mesmo com as terras deles.

- Você está gostando desse cara? – perguntou-me o Rogério, antes de ir embora quando o acompanhei até a porta.

- Sim, estou, ele tem me ajudado muito. Não sei o que faria sem a ajuda dele. – respondi.

- Eu também posso te ajudar, já te ofereci minha ajuda! E, não foi nesse sentido que perguntei, você sabe muito bem!

- Se está me perguntando se transei com ele, sim, eu transei com ele. Não por interesse, mas por que descobrimos afinidades que vão além das questões da estância. – respondi.

- Sei! Eu e você também tínhamos muitas afinidades, lembra. – mencionou

- Não eram afinidades, eu estava apaixonado por você. Foi a minha descoberta do que era o amor, eu te amei com todas as minhas forças, foi minha primeira paixão. – asseverei.

- E eu te decepcionei, não foi? Você ama esse cara? Será que não sobrou nem um pouquinho do que sentia por mim? – indagou

- E você, Rogério, o que sentia por mim? Alguma vez chegou a gostar de mim? Alguma vez, durante as vezes em que brigava e judiava de mim na frente da turma, sentiu alguma emoção por mim, por mínima que fosse? – perguntei, encurralando-o

- Eu sempre te protegi deles! Tentei, pelo menos! Posso não ter conseguido todas as vezes, mas tentei! E fiz isso por que gostava muito de você, só não sabia como lidar com esse sentimento. Meti os pés pelas mãos, meti. Mas nunca mais voltei a sentir o que senti naquela tarde no celeiro quando estava dentro de você, quando se entregou para mim, nunca mais, Lucas. Eu daria tudo para voltar no tempo para poder ficar com você só para mim, tudo Lucas. – confessou

- Infelizmente não há como voltar no tempo! Só nos resta seguir em frente. – retruquei, acariciando o rosto dele, enquanto ele cobria minha mão com a dele e a beijava.

Eu não precisava daquilo naquele momento, eu não precisava que minha cabeça ficasse confusa, eu não precisava que meu coração começasse a se dividir entre ele e o Martín, eu não precisava que meu cuzinho se assanhasse toda vez que um deles chegava junto a mim. O destino é um sujeito muito do sacana que gosta de brincar com o ser humano, que gosta de o ver perdido em conflitos consigo mesmo.

Os meses foram passando e tudo parecia ter entrado nos eixos. As parcerias que firmei com os agricultores estavam mostrando seus primeiros resultados. Onde antes não havia nada além de capoeirão, agora emergiam da terra as touceiras de arroz, cobrindo o campo com suas folhas verdes e tenras. Noutra parte da propriedade, igualmente, crescia a pastagem; e no pomar, que o Martín e eu havíamos redobrado de tamanho tirando as árvores mais velhas e as substituindo por mudas novas de mais variedades, pairava o zumbido das abelhas polinizando suas flores. O clima colaborou, as chuvas vieram na época certa e o solo estava bem adubado. O mesmo estava acontecendo nas terras do pai do Rogério, onde inclusive estavam construindo uma nova casa, pois pretendiam voltar a morar na estância.

O Martín e o Rogério também pareciam estar se entendendo melhor. Não que isso significasse que se tornaram amigos, mas conseguiam trabalhar juntos sem ficarem rosnando um para o outro como dois leões enraivecidos. De vez em quando se provocavam, e o pivô dessas provocações era invariavelmente eu. Nunca me vi em situação semelhante. Em parte, tenho que admitir, como faria qualquer um na mesma posição, ver-se disputado por dois machos atraentes e sedutores com todas aquelas qualidades, era algo que me fazia feliz. Que gay não sonha com machos viris e parrudões cobiçando e disputando a primazia por seu cuzinho? Por outro lado, eu percebia que por trás daquela aparente calmaria, uma tempestade de proporções inimagináveis podia surgir a qualquer momento e por qualquer motivo insignificante. Eu estava pisando em ovos e tomava todas as precauções para não gerar em embate entre os dois, pois gostava deles e, se alguém me perguntasse de qual dos dois eu gostava mais, eu teria que mentir se escolhesse um deles.

Havíamos planejado ir a Esteio na Expointer, uma das maiores feiras agropecuárias da América Latina para nos inteirarmos de novas tecnologias, conhecer outros setores do agronegócio onde poderíamos adentrar num futuro próximo diversificando assim o potencial da estância; mas, principalmente, para adquirir mais uns dois ou três carneiros reprodutores da raça Corriedale para melhorar a genética do rebanho que ainda havia restado na estância. O Martín estava entusiasmado, pois o manejo de ovinos havia se tornado sua paixão quando cresceu numa fazenda na Argentina. Contudo, dois dias antes da nossa viagem, ele contraiu uma gripe muito forte que o restringiu ao leito. Eu tinha abdicado de ir à feira sozinho, preferi cuidar dele. Porém, tanto ele quanto a Nana Jo, me persuadiram a ir, uma vez que o Rogério e o pai dele também estavam indo para lá, e o pai dele era um grande conhecedor da raça e podia me ajudar na aquisição dos animais.

- Tem certeza que eu vá sozinho? Podemos adiar essa compra para o ano que vem, assim você mesmo escolhe os animais. – argumentei

- Com isso perderemos um ano de cobertura, faz ideia de quantos cordeiros deixaremos de agregar ao rebanho? Não podemos nos dar a esse luxo nesse momento em a estância ainda está no vermelho. Eu falei com o Sr. Borges, ele manja do assunto, vai te ajudar. – retorquiu.

- Não entendo nada disso, nunca fui a uma feira agropecuária e nem faço ideia do que se pode aprender por lá. Vou me sentir um peixe fora d’água sem você ao meu lado. Além do mais, não gosto de te deixar aqui acamado, precisando dos meus cuidados.

- Não seja bobinho! É apenas uma gripe que, dessa vez, me derrubou, mas em poucos dias estarei em pé tocando a estância. Não sou nenhum garotinho que precisa de cuidados por conta de uma simples gripe. Ademais, a Nana Jo está por aqui e já está me empanturrando com seus chás e caldos. – ponderou

- Queria eu fazer isso! – afirmei, beijando-o na testa que estava febril.

- No estado em que me encontro e com você por perto cheio de cuidados e dengos para comigo é até bom que não esteja aqui para me deixar de pau duro sem poder te enrabar, e consumir as forças para meu restabelecimento. – sentenciou, enfiando a mão na minha bunda.

- É só para isso que eu sirvo, seu safado? Mesmo febril não consegue pensar em outra coisa que não seja entrar em mim com esse bagulhão enorme? – questionei, ante o tesão dele.

- Já te falei que nunca me senti tão completo desde que começamos a transar com regularidade. Uns poucos dias sem você se afiguram uma tortura, imagina se ainda por cima fico cheio de tesão sem poder te pegar. Quer judiar de mim? – perguntou libertino.

- Tarado! Claro que não quero judiar de você. Gosto demais de você para ser tão cruel. – respondi, afagando o peito dele, uma vez que sua mão decidida não me deixou chegar ao cacetão dele para não excitá-lo sem poder concluir o gozo.

Quem ficou visível e desavergonhadamente feliz com isso foi o Rogério. Aqueles cinco dias comigo longe da presença do rival era tudo do que ele precisava. Já na viagem de ida, ele estava falante e animado. Ainda acabamos sendo surpreendidos por um problema na reserva do quarto do hotel previsto para ser triplo, mas acabaram nos oferecendo um single e um de casal. Não sei qual foi a desculpa que ele inventou para deixar o pai no single e vir se aboletar no de casal comigo. Algo me dizia que até o próprio pai tinha sua parcela de culpa nesse arranjo, dado que, após aquela nossa conversa sobre a devolução das terras e outras posteriores nas quais conversamos mais abertamente sobre os sentimentos do Rogério por mim e meus por ele, passei a notar que ele havia posto a felicidade do filho acima dos preconceitos e, que numa eventual união entre nós dois, teríamos o apoio dele.

Fiquei um pouco retraído na primeira noite quando, cansados de circular pela feira durante todo o dia, me vi tendo que compartilhar a mesma cama com ele. Anos atrás eu estaria nas nuvens, uma única noite que fosse tendo seu corpão másculo a centímetros do meu, teria sido um sonho realizado. Hoje o tesão pela virilidade do Rogério continuava inabalado; porém, havia toda aquela história entre nós, uma situação inacabada, e o Martín a quem eu não queria magoar.

- Por que todo esse pudor em relação a mim? Sempre pensei que estava a fim de transar comigo. – disse ele, ao sair do banho nu como veio ao mundo, desfilando sua masculinidade diante do meu olhar que mal conseguia se desviar do caralhão grosso entre suas coxas.

- Deixa de ser convencido! Quem te disse que estou a fim de transar com você?

- Seu olhar, que não para de curtir minha pica!

- Presunçoso! Não estou nem aí para essa coisa!

- Não é o que parece! Você sempre gostou do meu pau, não negue! Aliás, gostava de tudo em mim, ficava pegando nos meus músculos, não podia me ver pelado quando íamos nos refrescar no lago que logo ficava cheio de chamegos, gostava quando eu encoxava essa bundona roliça. No fundo, sei que continua a fim de mim, dá para ver pelas suas atitudes, ou vai negar que ainda sente o maior tesão por mim? – indagou, se insinuando ao manipular acintosamente o pauzão avantajado.

- Eu gostei de você, não nego! Mas, o que ganhei em troca? Seu desprezo por ser gay. Sua reclamação por não saber como fazer um boquete direito. Aquela foda bruta que tirou minha virgindade e acabou no que acabou, eu sendo quase morto pelo Álvaro e expulso de casa. É um preço alto a se pagar por gostar de alguém, não acha? – devolvi.

- Eu nunca quis te ferir! Precisa acreditar em mim. Já te falei que fui um babaca. Mesmo sendo um babaca eu sempre gostei da sua companhia, da maneira meiga como me tratava, da sua aparente fragilidade que eu queria proteger. Isso não conta?

- Claro que conta! Foram essas coisas que me fizeram apaixonar por você. Depositei tantos sonhos e planos em você, achando que seria meu homem, que seríamos felizes. No entanto, você estava mais preocupado com a sua masculinidade, com o que aquela turma ia pensar de você, com aquelas garotas que não saíam do seu pé só para poderem dar uma mamada na sua rola ou ter suas vaginas preenchidas por ela. Ao passo que eu era tratado com brutalidade. Se ganhava um beijo desengonçado de você, podia esperar pelo empurrão ou pelo tapa para me afastar. Quando mamei sua pica você me esbofeteou, quando me desvirginou me machucou tanto que mal consegui andar com o cu todo arregaçado. – respondi.

- Isso quer dizer que estou fora do jogo? Agora tem o Martín, e ele deve ser bem delicadinho com você. A pica dele deve ser pequena para não te machucar, pois ele seria incapaz de judiar de você, não é? – questionou sarcástico.

- Pelo contrário! A pica dele é bem maior que a sua, ele não me machuca, é gentil, cuidadoso, tem pegada sem ser bruto. Tudo que você nunca foi! – respondi zangado

- É pegada que você gosta? Vou te mostrar o que é pegada, seu veadinho! Agora você vai descobrir o que é uma pegada de macho, depois me fala se o teu namoradinho tem pegada! – retrucou furioso, partindo para cima de mim que, sem o esperar, foi dominado sobre a cama enquanto me debatia para afastá-lo.

Eu não tinha como enfrentar seus músculos e sua determinação. Tive a cueca arrancada, os lábios mordidos, a bunda bolinada até o tesão me fazer perder as forças e a rendição ir acontecendo devagar, até eu estar totalmente à mercê dele. Sua boca molhada e quente foi me dominando à medida que os beijos se sucediam e a língua vasculhava minha garganta. Eu já não o empurrava mais para longe, apertava seus ombros largos, enlaçava seu pescoço vigoroso, deixava as mãos dele amassar e abrir minhas nádegas. No devaneio, tive a impressão de ouvi-lo perguntar se era aquela a pegada que eu queria, mas eu já não tinha ânimo nem forças para retrucar, só queria me perder em seus braços. Em minutos, ele estava com a cara enfiada no meu reguinho apartado, a barba me pinicava, os dentes mordiscavam minha pele, a língua lambia vorazmente meu cuzinho cheio de tesão, me fazendo gemer. Ele me puxou para junto de sua virilha onde o cacetão grosso liberava um pré-sêmen abundante, pincelando-o na minha cara ao redor da boca. Não resisti ao cheiro almiscarado dele e envolvi a chapeleta estufada com os lábios, sorvendo aquele sumo salgado. Eu ia mostrar àquele troglodita que tinha aprendido a fazer um boquete, e que ele ia se arrepender de não ter me deixado treinar na sua rola naquela época. Com a ponta da língua fui colhendo o pré-gozo do buraco largo da cabeçorra, depois voltava a colocar tudo o que cabia dela na minha boca e chupava com zelo e afinco, extraindo os primeiros gemidos dele. Lambendo a verga calibrosa por baixo, fui em direção ao saco, massageei uma das bolas com a língua e depois a abocanhei chupando-a e deixando-o ensandecido. Fiz o mesmo com a outra, ele prendeu minha cabeça e voltou a enfiar a jeba na minha boca, forçando-a garganta adentro até eu ficar sufocado e bater em suas coxas musculosas e peludas. Ele a puxava um pouco para trás, mas sem tirá-la da minha boca, me esperando voltar a chupar.

- Aprendeu a mamar uma rola, não é seu putinho? Pena que fui tão trouxa e não te deixei praticar na minha pica. Você aprendeu direitinho, seu veadinho tesudo, nem a puta da Letícia, que mamava todos os caralhos que encontrava pela frente, chupava tão gostoso. Vou gozar na sua boca, você precisa sentir minha porra para saber que tenho tudo para ser seu macho. – grunhia ele, enquanto se contorcia de tanto tesão.

Eu continuei mamando, queria que ele esporrasse na minha boca, como fazia com as garotas. Como quando eu era adolescente e queria sentir o sabor do leite de um macho, do leite dele. Ao mesmo tempo, eu massageava os ovos maçudos dele. Ele mal se continha, lançava a cabeça para trás e gemia. Seu ventre, onde minha mão estava espalmada, se contraiu em espasmos, o cacetão pulsou na minha boca e ele gozou jorrando o esperma leitoso na minha garganta. Sorvi cada jato até a derradeira gota.

Beijei-o com toda paixão e tesão que sentia por ele, como se aqueles antigos sentimentos estivessem rebrotando em meu peito. Ele me trouxe para junto do tórax, me envolveu carinhosamente em seus braços e afagou suavemente meu rosto com as costas dos dedos. Não era o mesmo Rogério bruto do qual me lembrava, era um homem que sabia dar afeto. Minha mente deu um nó, eu já não sabia mais se meus sentimentos vinham de um sonho antigo não realizado, ou se estava me apaixonando novamente pelo homem que idealizei.

- Quero você, Lucas! Eu tenho tudo que você procura num homem, tenho tudo para te fazer feliz. Volta para mim, volta a me fazer sentir o que eu sentia naquela época. Vamos ser felizes juntos! – propôs ele, apossando-se do meu corpo com suas mãos ávidas.

Ao dar por mim, o Rogério já estava outra vez com o caralhão duro passando a cabeçorra nas pregas do meu cuzinho. Ele encaixou a rola na fendinha e foi afundando no meu rabo, enquanto eu gania procurando relaxar a musculatura que teimava travar meu cu. Sentindo minha resistência, ele me puxou para um beijo prolongado, me fazendo afrouxar os músculos anais e entrando fundo em mim. As carnes do meu cuzinho agasalharam a verga grossa dele num encaixe perfeito após terem sido rasgadas, como se tivessem sido moldadas para lhe dar prazer. Ao sentir a dor aumentando, quis escapar da pica dele, mas ele me reteve.

- Ai Rogério, está doendo! – gani.

Gentil, ele ergueu uma das minhas pernas e a colocou sobre o ombro, esperando eu ficar mais relaxado. Depois, ajeitou o pauzão grosso no meu rabo e o afundou todo dentro dele, me preenchendo, em meio a um ardor quase insuportável. Porém, à medida que nossa ligação se tornava mais íntima e eu gemia em êxtase, a dor foi superada pelo prazer e o alojei carinhosamente nas minhas entranhas. Os pentelhos dele roçavam meu reguinho liso e aberto a cada estocada que ele dava, grunhindo rouco e forte.

- Quero você, Lucas! Fala que sou seu macho, fala que quer ficar comigo! – exclamava ele num transe de prazer sem fim.

Espasmos contraíam meu ventre e rumavam em direção ao saco que formigava. Gemi alto e gozei esporrando jatos de porra para todo lado. Ele me apertou com mais força, contente por ter me levado ao clímax, esperançoso de que isso lhe abrisse as portas do meu coração. Levei mais algumas estocadas vigorosas no cuzinho antes de ele se retesar todo e o caralhão começar a pulsar no meu rabo esporrando e lavando meu casulo anal com sua porra densa e farta. O Rogério arfava no meu cangote depois de lançar seu peso sobre meu corpo ainda estremecendo descontrolado. Permanecemos engatados, trocando prolongados beijos de cumplicidade. Por alguns longos minutos éramos um só corpo, fundido a partir de dois.

- Esperei tanto por esse momento, Rogério! Sonhei com ele a vida toda, sonhei ser seu. – balbuciei, num transe prazeroso que desejei nunca terminar.

- Você pode ser meu, é só permitir! Vou te dar tudo com que sempre sonhou, vou dedicar cada dia da minha vida à sua felicidade. Nunca mais vou fugir de você ou te renegar e, muito menos, ser grosseiro. – sussurrou ele.

Aquela foi apenas a primeira noite em que comungamos todo tesão do qual estávamos tomados, um tesão reprimido por anos. Dei o cu para o Rogério todas as noites em que estivemos na feira de Esteio como se não houvesse amanhã. Minhas preguinhas estavam inchadas, sensíveis, mas bastava ficarmos a sós no quarto e elas começavam a piscar querendo agasalhar o cacetão voluntarioso dele. Pela manhã, eu acordava com o cu encharcado de porra, formigando nas minhas vísceras. Se aquilo era felicidade ou tão somente o resgate de um sonho do passado, eu não saberia dizer. Minha única certeza era a de que não podia deixar a oportunidade passar e, talvez depois, me arrepender pelo resto da vida.

Quando ele me deixou na estância ao final dos cinco dias, a reconexão estava consumada. Não dava para dizer que sentimento era aquele que nos uniu, mas ele estava lá para uma miríade de possibilidades.

- Vai contar para ele que transamos? – perguntou, após me beijar.

- Vou. – respondi

- Ele não vai gostar de saber que você o traiu na primeira oportunidade que surgiu, esteja preparado.

- Transar com você não é trair o Martín! Assim como transar com ele não significa que estou traindo você. Não tenho nenhum compromisso com nenhum dos dois, a não ser o profissional com ele, e o de uma antiga amizade com você. – afirmei

- Eu te enrabei, que era o que você sempre quis! Você procurava por um macho, eu te provei nesses últimos dias que sou esse macho que você tanto quer. Se isso não é um compromisso, o que é? – questionou, insatisfeito com a minha resposta.

- Que fique bem claro, eu nunca procurei por um macho! Nem mesmo quando adolescente e apaixonado por você. Eu queria o seu coração, mais do que esse pauzão enorme, e isso você nunca conseguiu me dar.

- Mas vou dar agora! Não te prometi? Vou te dar tudo o quiser, Lucas!

- É fácil você vir depois de quinze anos, meter o cacetão no meu cuzinho e fazer promessas para que eu volte a ser aquele garoto cheio de ilusões e amores por você, não acha? Eu cresci e amadureci a duras penas, Rogério. Minhas escolhas não se baseiam mais apenas nas emoções. Eu agora procuro solidez numa relação, além dos sentimentos. – afirmei

- Com isso você quer dizer que vai continuar dando o cu para aquele argentino. Não sei se já te alertaram, ele pode não ser o sujeito certinho que você pensa. Dizem que matou um homem de onde veio e por isso precisou fugir. Então pense bem se não está indo para a cama com um assassino. – argumentou, deixando-se levar novamente pelo ciúme.

- O que eu sei é que ele é sincero quando está dentro de mim, e isso me basta. – devolvi

- Vocês gays e as mulheres são todos iguais, basta sentirem uma pica no cu ou na boceta e o sujeito vira um santo. Caralho, Lucas! Você me conhece há muito mais tempo, sabe que não sou um cafajeste qualquer. Ao não me diferenciar dele está cometendo um erro, um erro que pode comprometer a sua felicidade e o seu futuro. – ponderou.

Eu nem precisei abrir a boca quando fui ter com a Nana Jo ao entrar em casa. Ela apenas me mediu da cabeça aos pés, balançou a cabeça, não sei se como sinal de desaprovação ou simplesmente de inconformismo, e não mediu as palavras.

- Não conseguiu se segurar, não foi? Entregou-se a ele, está escrito na sua testa. Tome cuidado com esse joguinho, Lucas! O único perdedor pode ser você. – seu tom de voz era duro.

- Não devia estar me acusando! Você sabe o quanto eu o amei, o quanto o desejei. Não sei dizer se ainda não me sinto vulnerável a ele. Eu precisava descobrir que sentimento represado é esse, acho que tenho o direito de descobrir. – justifiquei

- Só não se esqueça que você também está dando esperanças a uma terceira pessoa nesse jogo, uma terceira pessoa que te ama e que não merece ser magoada. – a Nana Jo sempre foi a minha consciência personificada, e suas palavras calavam fundo na minha alma.

- Eu sei, não vou magoá-lo!

- Então tome cuidado!

- Como ele está?

- Bem melhor. Há dois dias não tem mais febre, está impaciente na cama, esta manhã foi um sufoco mantê-lo dentro de casa. Tive que brigar com ele. – revelou. – Vá ter com ele, está agoniado contando as horas para você voltar.

- Obrigado por cuidar dele, Nana Jo! O Martín é muito importante para mim. – afirmei, pousando um beijo agradecido em sua testa.

- Tenham juízo! Não se esqueçam que ele está se restabelecendo e precisa de suas forças para se curar. – advertiu, mesmo sabendo que isso não ia acontecer.

Ele cochilava quando entrei no quarto. Nem desconfiou que no último chá que a Nana Jo lhe serviu a fim de controlar sua ansiedade pelo meu retorno, havia um bocado de gotas de um benzodiazepínico diluído, que ela usava quando tinha crises de insônia. O bichão era calorento, tinha afastado o lençol que o cobria e seu corpão parrudo metido numa cueca estava esparramado sobre a cama, mais sexy e tesudo do que nunca. Parecia um ursão hibernando. O rosto tinha uma expressão relaxada, seguramente efeito do sedativo, o tórax sensualmente peludo se movia como um fole a cada inspiração e expiração, o pauzão grosso e flácido juntamente com o sacão formavam um volume gigantesco debaixo da cueca. Como a Nana Jo havia me dito que tinha o forçado a tomar o chá havia pouco tempo antes de eu chegar, resolvi deixá-lo descansando e fui tomar uma ducha para tirar a inhaca da viagem, pois o dia havia sido quente e abafado.

Eu estava lavando o xampu dos cabelos quando senti seus braços se fechando ao redor do meu tronco e uma encoxada voluntariosa encaixando sua virilha nas curvas da minha bunda. Não reagi além de empiná-la para o encaixe ser perfeito.

- Por que não me acordou, estava louco para você chegar? – sussurrou na minha orelha, enquanto a prendia entre os lábios.

- Não devia estar descansando ao invés de fazer estripulias? – questionei

- Estou farto de descansar, não fiz outra coisa nesses últimos dias e mereço uma compensação. – devolveu o safado, cuja rolona se enrijecia descaradamente entalada no meu rego apertado.

- Senti sua falta! – exclamei sincero. Não sei explicar porque transar com o Rogério me lembrava a todo momento como era bom estar nos braços do Martín quando ele ficava assim excitado, sedento para me foder o cuzinho.

- Quase morri sem você! – exclamou exagerando. – É bom ter você de volta! Preciso das tuas carícias para me restabelecer. – ao mesmo tempo em que murmurava e me chupava a nuca, esfregava o pauzão nas minhas nádegas para a ereção se completar.

- Você precisa é tomar jeito, seu safado! – retruquei, rebolando para que o caralhão se encaixasse novamente no meu reguinho, e me virando na direção dele para tocar sua boca na minha.

Durante o beijo, enquanto ele prendia meu lábio entre os dentes, aproveitou um momento de descuido e meteu a cabeçorra estufada na olhota do meu brioco, me obrigando a gemer. Felizmente eu tinha acabado de lavar o último sêmen que o Rogério havia esporrado no meu cu, já prevendo que a primeira coisa que o Martín ia fazer era me pegar de jeito e me enrabar para tirar o atraso daqueles dias. Ambos tinham rolas grandes e principalmente muito grossas que dilaceravam as minhas pregas deixando o ânus sensível e ardendo. Mas, não me recusei a aceitar seu falo deslizando fundo em mim. Não foi apenas saudades que senti dele, foi um vazio pela ausência, um vazio que ele preencheu com o caralhão intrépido pulsando nas minhas carnes acolhedoras. Foi um coito curto, menos de dez minutos, uma vez que seus colhões estavam abarrotados e o tesão que o consumia apressar o gozo. Ao terminar de me enxugar, continuava tendo a sensação de estar úmido da tanta porra que ele jorrou no meu cuzinho. Eu não ia ter descanso naquela noite, nem no dia seguinte, até o Martín esvaziar toda a pressão do sacão.

Desde aqueles dias que passei com o Rogério e o pai dele na Expointer, a tensão entre os dois voltou a aumentar. Ter me enrabado por quase uma semana fez o Rogério exercer pressão sobre mim para assumirmos um relacionamento, o que significava me afastar do Martín, o quanto mais distante melhor. Para obter o que queria, o Rogério vinha diariamente à estância, algumas vezes com uma desculpa esfarrapada, outras sem motivo algum, a não ser o de me pressionar. O Martín já estava cabreiro com aquelas aparições e com as minhas conversas com o Rogério longe de suas vistas. Em parte, eu lhe contava sobre o que havíamos conversado, mas não mencionava a pressão para tornar público um relacionamento que ele já julgava como certo. Acabei discutindo com ele.

- Por que dessa relutância em assumir o que sente por mim? É o argentino? Me fala, Lucas, você não quer abrir mão das fodas com o argentino?

- Deixe o Martín fora desse assunto! As minhas diferenças são exclusivamente com você! Não sei se estou pronto para ter um novo relacionamento e quero que pare de me pressionar.

- Se ele não estivesse na parada, eu tenho certeza que você já estaria namorando comigo! Você não contou nada para ele, não foi? Não contou que trepou comigo durante todas as noites que estivemos em Esteio, não é isso? Não contou para ele que gostou de estar em meus braços e sentir minha pica no seu cu, porque eu sei que gostou, não adianta negar. – afirmou convicto e em alto e bom som; tanto que o Martín que se aproximava de nós sem o notarmos, ouviu tudo, me encarou e saiu pisando firme.

- Viu o que você fez? Está contente agora? – questionei, revoltado

- Foi melhor assim! É bom que ele saiba de uma vez que você nunca me esqueceu e que ainda me quer tanto quanto eu te quero. O problema está resolvido! Nada mais te impede de voltar para mim. – argumentou o Rogério, com um ar de triunfo ao ver o rival se afastando abalado com o que descobriu.

- Como vou voltar para você se nunca tivemos nada de concreto, me fala, Rogério? Alguma vez você disse o que sentia por mim? Eu sim, estava apaixonado por você e com a cabeça cheia de sonhos, mas você nunca me enxergou dessa maneira. Sua única preocupação era não ser visto na presença da galera com o adolescente esquisito e tirar o cabaço dele, só para saber como era foder o cuzinho virgem de um gay. Me deixe em paz, Rogério! Você estragou tudo! – berrei alterado. Naquele instante tudo se aclarou na minha mente, eu amava o Martín, não o Rogério, a personificação de uma questão não resolvida do passado. – É o Martín que eu amo! Aceite isso, pois não vai rolar mais nada entre nós. – acrescentei determinado.

Deixei o Rogério e corri atrás do Martín feito um desesperado. Não era dessa forma que eu queria que ele ficasse sabendo da minha recaída com o Rogério; até porque nem eu mesmo sabia se tinha valido à pena. Não o encontrei em parte alguma da estância. Era tarde da noite e eu continuava acordado esperando-o voltar para casa. Amanheceu e eu continuava à espera dele, mais agoniado do que nunca. Ele estava com raiva de mim, talvez nunca mais fosse querer qualquer coisa comigo, mas eu precisava me explicar.

- Você dormiu aqui na sala, Lucas? Que cara é essa? – perguntou-me a Nana Jo quando foi preparar o café.

- Durante a minha discussão de ontem com o Rogério, o Martín descobriu, da pior forma possível, o que fizemos naquela semana que viajei com ele. – revelei

- Isso ia acabar acontecendo, eu te avisei! Esses dois se engalfinhando a toda hora só podia dar nisso! Era você que tinha que pôr um basta nessa situação, só você! – repreendeu-me ela.

- Como, Nana Jo? Como eu podia acabar com essa disputa entre os dois se nem eu sabia o que queria? O destino me pregou uma peça colocando os dois no meu caminho ao mesmo tempo. Eu nem estava pensando em ter outro relacionamento. O que faço agora? É dele que eu gosto, não queria magoá-lo, jamais o iludi! Isso só me fez descobrir que é o Martín que eu amo, só ele!

- Abra o jogo com ele, diga o que sente! Diga que não tinha certeza qual dos dois amava. Eles têm o direito de decidir se querem continuar com você ou não. Cuidado para que no final dessa história não seja você a sair ferido. – advertiu ela.

- Já estou! Você precisava ver a expressão no rosto do Martín, aquilo doeu fundo no meu peito. Mesmo que ele nunca me perdoe, preciso que me ouça, preciso lhe pedir perdão.

- Então vá atrás dele, não perca mais tempo!

- Ele sumiu! Procurei-o por toda parte depois da conversa e o esperei a noite toda, ele não voltou para casa! – respondi, ao mesmo tempo que o choro brotou descontrolado.

Dois dias depois, sem que ninguém tivesse notado nada, vi que as coisas do Martín haviam sumido, tanto da casinha que ele ocupou próxima ao celeiro quanto do meu quarto onde dormiu nos últimos meses. Já não era mais desespero o que eu senti naquele momento, mas um dor profunda que mal me permitia respirar. Eu o perdi para sempre, era só o que se afigurava.

Nesse mesmo dia, o Rogério reapareceu na estância. Foi a Nana Jo que lhe disse que o Martín continuava desaparecido e que tinha levado todas suas coisas. Também deu uma bronca nele por não ter deixado que eu contasse o que aconteceu durante a feira de agronegócios.

- O Lucas estava embromando, o cara tinha que saber! – defendeu-se ele.

- Você, por acaso, já aventou a hipótese de o Lucas não querer mais nada com você? Você o está pressionando demais, impedindo que ele faça sua escolha em paz. Se o destino quiser que vocês fiquem juntos, isso vai acontecer naturalmente. O que não pode é você ficar vindo aqui todos os dias, forçando-o a tomar uma decisão quando sabe que ele está confuso com tudo o que está enfrentando ultimamente. – retrucou ela

- Se eu não der uma forcinha para o destino pode ser que aquele sujeito leve a melhor e tire o Lucas de mim! – revidou o Rogério.

- Da maneira como você agiu, é capaz que o tenha afastado ainda mais de você! Pense nisso.

- Você gostava de mim naquela época, eu sei que torcia para o Lucas e eu ficarmos juntos. Mas agora, parece que me odeia e quer que eu deixe o caminho livre para o argentino.

- Não diga bobagens, moleque! Eu gosto de você, só não gosto do que está fazendo com o Lucas! E, se você o ama como diz, faça alguma coisa para o ajudar a encontrar o Martín. Nem sempre se prova o amor derrotando o adversário. – aconselhou ela.

- Isso é o mesmo que entregar o Lucas de bandeja para aquele sujeito! Ele já jogou na minha cara que ama o argentino.

Eu havia escutado quase toda a conversa da Nana Jo com o Rogério, mas parei de descer as escadas para ouvi-los e para não ter que encarar o Rogério, pois estava puto com ele. Ambos ainda conversavam na cozinha quando ouvi o barulho de um carro estacionando em frente a casa e, em seguida, alguém batendo na porta. Por uma fração de segundos achei que fosse o Martín, embora ele não tivesse motivos para bater à porta, uma vez que era de casa. Corri para abrir e quase caí de costas quando vi a figura do Mario me encarando com um sorriso indecifrável.

- Você? O que faz aqui? – perguntei abismado.

- Oi! Vim te buscar! – respondeu ele, no mesmo instante em que a Nana Jo e o Rogério se aproximavam.

- Como assim, veio me buscar? – questionei. – Quanto mais rezo, mais fantasmas me aparecem! – exclamei perplexo. – É uma péssima hora para você aparecer por aqui, Mario! Uma péssima hora! Ademais, não faz nenhum sentido você me procurar, mais de um ano depois de me propor um relacionamento aberto. O que deu em você, ficou maluco?

- Eu me arrependi de ter feito aquela proposta. Eu ainda te amo, Lucas! O tal relacionamento aberto não funcionou para mim. Ficar trocando de parceiros não é a mesma coisa da paixão e dos carinhos que você me proporcionava. Eu te quero de volta, Lucas! Quero continuar com a nossa vida de antes. – eu estava boquiaberto, não sabia se dava um soco na cara dele ou se soltava os cachorros atrás dele.

- Me faça um favor, Mario, volte pelo caminho que veio! Tudo o que não preciso nesse momento é ouvir que está arrependido por querer transar com meio mundo e meu consentimento, e a coisa não ter dado certo como você esperava. – despejei exasperado.

- Eu viajei 1600 quilômetros e dois dias para vir te buscar, Lucas! Me ouça ao menos, deixe-me pedir perdão, deixe eu ficar e mostrar o quanto ainda te amo. Uns minutinhos em meus braços e alguns beijos te farão mudar de ideia! – insistiu ele.

- É para você dar o fora, cara! Não ouviu, não? O Lucas não tem nada para te dizer, a não ser para dar o fora! – intrometeu-se furioso o Rogério, com a aparição de mais um potencial rival, ao constatar que o Mario era um macho atraente e sensual que podia mexer com a minha cabeça.

- É melhor você ir embora, Mario! Não temos mais nada para conversar. Quais foram mesmo as tuas palavras – para revermos a nossa relação – não foi isso que me disse quando afirmei que não estava a fim de uma relação aberta? – indaguei. – Eu nunca vou voltar com você! Acabou, Mario! Nem que você fosse o único homem nesse mundo eu ia voltar com você. – afirmei.

- Por quê? É por causa desse sujeito? Você voltou correndo para o seu ex da adolescência? Não foi ele o culpado por ter feito você passar por tudo que passou? – questionou o Mario.

- Eu vou arrebentar a cara desse sujeito! Filho da puta do caralho! Quem você pensa que é para vir aqui e me acusar na frente do Lucas? – questionou o Rogério, partindo para cima do Mario.

- Aquietem-se! Os dois! Aqui não é lugar para acertaram suas diferenças! – exclamou em tom autoritário a Nana Jo, detendo-os.

- Vai embora, Mario, por favor! Sem mais confusões! Não estou com cabeça para mais essa aporrinhação! – pedi

- Está tarde e não achei nenhum hotel na cidade. Vai me botar no olho da rua depois de termos vivido cinco anos maravilhoso juntos? – questionou o Mario.

- Você entre! Ninguém vai te deixar ao relento! Mas, é só por essa noite, amanhã você segue o seu rumo. – determinou a Nana Jo, a meu contragosto e deixando o Rogério furioso.

- Esse sujeito não pode ..... – protestava o Rogério, quando foi interrompido pela Nana Jo.

- E você vá para sua casa! Já arrumou confusão o suficiente! – ordenou ao Rogério, que não a desafiou.

- Ele pode muito bem encontrar um hotel em Bagé, não precisamos hospedá-lo. – afirmei.

- Quanto a você, trate de levar algumas roupas de cama para a casinha ao lado do celeiro, é lá que ele vai dormir por essa noite. – sentenciou me encarando daquele jeito que eu sabia ser inútil bater de frente com ela.

- Obrigado, senhora! É muita gentileza! Isso vai me dar um tempo com o Lucas, para deixar tudo esclarecido entre nós. – disse o Mario.

- Vou te abrigar por essa noite, porém nada além disso. O Lucas já tomou sua decisão e não há mais o que discutir. Amanhã trate de acordar cedo, como estamos acostumados por aqui. Vai tomar o seu café e depois entrar nesse carro e seguir seu rumo, estamos entendidos? – quando baixava o ditador na Nana Jo ninguém ousava questionar.

Me despedi civilizadamente do Mario na manhã seguinte, e foi a última vez que o vi ou tive notícias dele.

Minha única preocupação continuava sendo o paradeiro do Martín, a saudade que sentia dele, a falta que me fazia. Não digo isso em relação à estância onde a ausência dele se fazia sentir em cada canto, mas ao vazio que permanecia em meu peito. Por três meses me empenhei numa procura incessante, fui a todos os locais onde havia uma probabilidade de o encontrar, fui a todas estâncias da região e até além, fui à rodoviária, cruzei inúmeras vezes a avenida Internacional, a rodovia Transbrasiliana e a avenida José Gervacio Artigas cruzando a fronteira com o Uruguai para ver se obtinha alguma pista do paradeiro dele. Voltava para casa frustrado e com lágrimas escorrendo pelo rosto. Até que, certo dia, quando estava fazendo compras com a Nana Jo num supermercado da cidade, nos deparamos com uma conhecida dela que acabou fazendo um comentário sobre o empregado argentino do Álvaro. Ela disse que foi se despedir de um parente na rodoviária quando o reconheceu no balcão de atendimento perguntando por uma passagem para o Uruguai. Ela estranhou de ele ter respondido ao atendente que qualquer destino serviria, contando que o ônibus partisse o mais breve possível. Como não havia mais passagens para aquele dia, o atendente sugeriu que ele pegasse carona com algum caminhoneiro num posto de abastecimento que ficava ali perto, e ela o viu caminhando nessa direção.

Eu deixei a Nana Jo de trelelê com a mulher e fui diretamente para o tal posto de combustíveis. Conversei com os frentistas e um deles se lembrou do sujeito cheio de mochilas que pegou carona num caminhão que ia até Treinta y Tres. Meu coração estava aos pulos, levei a Nana Jo para a estância e me meti na estrada cobrindo os 180 quilômetros até a localidade com as esperanças renovadas. Passei dois dias na cidade perguntado por ele, até um sujeito de um restaurante o reconhecer na foto do celular que levava comigo e afirmar que ele seguiu para uma fazenda nos arredores da cidade onde estavam precisando de um gerente. Havia escurecido quando cheguei a tal fazenda, uma propriedade imensa na qual se destacava uma grande construção para o beneficiamento e ensacamento de arroz. Um segurança barrou minha aproximação, mas confirmou que o Martín era o novo gerente e me indicou onde poderia encontrá-lo.

Avistei-o de longe, o coração querendo sair pela boca. Ele estava distribuindo algumas ordens para um pessoal uniformizado que fazia um círculo a sua volta, demorou a me notar. Quando o fez, dispensou os funcionários e veio na minha direção.

- O que faz aqui? Estou no meu local de trabalho, não tenho tempo para conversas! – despejou num tom de voz seco, embora seus olhos tivessem aquele brilho de enfeitiçados.

- Vim te pedir para voltar para a estância comigo, para a nossa casa! Não parei de te procurar um dia sequer desde que foi embora sem dizer nada.

- Não havia o que dizer, você fez a sua escolha! Se precisa de alguém para te ajudar com a estância terá que procurar outro, ou deixar que o Rogério o faça. – ele não se atrevia a me olhar nos olhos, ciente de que não conseguiria manter aquela postura distante e belicosa.

- Não vim atrás de você para me ajudar com a estância! Vim atrás de você porque preciso de um marido! – exclamei, fazendo-o se desconcertar. – Você disse bem, eu fiz a minha escolha! Escolhi a única opção por quem estou apaixonado, você! – declarei.

- Nunca me disse que estava apaixonado por mim. E sua grande paixão do passado, onde ficou?

- Eu sei que errei quando me deixei levar pelas boas memórias que guardava do Rogério e me entreguei a ele. Eu voltei daquela feira disposto a te contar tudo. Porém, assim que você me pegou quando cheguei em casa, fiquei com medo de te perder para sempre. Ensaiei centenas de vezes uma maneira de contar o que tinha rolado entre mim e ele, mas perdia a coragem. Foi horrível a maneira como você descobriu. Pior, foi eu não ter podido ter a chance de te explicar que o que aconteceu entre mim e ele serviu para que eu descobrisse quem eu realmente amava, quem era o homem com quem queria compartilhar a vida. Depois daquilo todas as minhas incertezas e dúvidas desapareceram. É você essa pessoa que ocupa cada canto do meu coração, é você a pessoa a quem quero me entregar e dar todo amor e carinho que tenho guardado dentro de mim. Volta comigo para casa Martín! – ele chutava o chão, hesitava em aceitar minha aproximação, mas dava para ver que era o que mais queria.

Toquei o bíceps musculoso dele, fui chegando perto de mansinho, toquei seu rosto (fazia dias que não fazia a barba), ele já não recuava, continuava parado sem reagir. Cheguei tão perto que podia sentir seu hálito e toquei meus lábios nos dele, provocando-o.

- Aqui não é lugar para resolvermos isso! – exclamou, fugindo do beijo.

- Onde então? Vou para onde você quiser, faço o que você quiser, é só me dizer! Só não me abandone! – pedi, enquanto ele andava em círculos e passava a mão na cabeleira, sem saber ao certo o que fazer.

- Lucas, você é mesmo um veadinho puto do caralho! Você é um homem cheio de atitude, no momento seguinte se transforma num tremendo de um veadinho tesudo querendo pica e, quando um macho enfia a dele no seu cuzinho apertado, você se torna um passivinho carinhoso e irresistível. Tem horas que não sei o que fazer com você! – exclamou, ao partir para cima de mim, me prensar contra a parede e colar sua boca à minha enquanto suas mãos me apertavam com força.

- Me ame! Me penetre! Me deixe ser seu! – devolvi.

- Sabe o que está me pedindo? Não vou deixar nenhuma das preguinhas do seu cu inteira quando te pegar. – grunhia ele, se apossando do meu corpo e metendo fundo a língua na minha boca, enquanto o tesão queimava dentro dele e lhe enrijecia o cacetão.

A Nana Jo veio correndo ao nosso encontro assim que ouviu o carro chegando. Ao avistar o Martín, ela abriu um sorriso largo e nos abraçou.

- Meus meninos! Como é bom ver que se entenderam. Vocês foram feitos um para o outro, nunca se esqueçam disso! Enfrentem as dificuldades juntos, ainda vai haver muitas delas, mas nunca deixem que elas interfiram no amor de vocês. – ela parecia mais feliz do que nós.

Naquela noite, conforme ele tinha proferido, meu cuzinho ardia como se houvesse um tição entalado nas pregas quando o caralhão do Martín estava latejando e esporrando dentro dele. Ele me arregaçou de tal modo que toda minha pelve se ressentia das estocadas. Eu não tinha do que reclamar, ele era meu macho e só quis deixar isso bem claro.

- Você precisa saber de uma coisa a meu respeito. – começou ele, quando eu estava com a cabeça deitada em seu ombro e minha mão acariciando seus bagos. – É sobre o que dizem de mim por aí.

- Não me importo com o que dizem sobre você! Eu sei que você é um homem íntegro, bondoso e trabalhador, e isso me basta para te amar. – afirmei.

- Os rumores de que matei um sujeito não são pura intriga! Eu trabalhava numa vinícola em Mendoza, era o gerente e ele um funcionário. Tivemos uma discussão e me vi obrigado a demiti-lo pelo tanto de coisas que ele já tinha feito. Ele voltou depois de alguns dias, armado, para me matar. Tivemos uma briga diante de algumas testemunhas que tentaram dissuadi-lo da besteira que estava prestes a cometer. Ele chegou a disparar contra um deles, ferindo-o sem muita gravidade. Consegui desarmá-lo durante a briga, mas num golpe, ele perdeu o equilíbrio e caiu de uma altura de mais de oito metros. Quebrou o pescoço quando se estatelou no chão, estava morto. Fui me apresentar às autoridades policiais com as testemunhas e expliquei o que havia acontecido. Houve um inquérito e um julgamento no qual fui absolvido. Dois irmãos dele não concordaram com o veredito e ameaçaram terminar o que o irmão havia começado. Então deixei a Argentina vim para o Brasil, para a estância, onde seu pai me deixou ficar sem pedir mais explicações. – revelou.

Eu me virei sobre ele, tomei seu rosto entre as mãos e o beijei com todo amor que tinha reservado para ele. Asseverei que nada do que sentia por ele mudava depois dessa revelação, e pedi, acariciando seu cacetão grosso e pesado, que o enfiasse em mim para eu poder aconchegá-lo nas minhas carnes úmidas e quentes. Gemi por mais de meia hora antes de ele se despejar mais uma vez dentro de mim e me dizer que me amava.

Dois anos depois, fomos ao casamento do Rogério com uma garota dos tempos da faculdade. Não havia mais mágoas e ressentimentos entre nós. Havíamos superado o passado turbulento encontrando outro caminho para a felicidade.

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