CAPÍTULO 10
Henrique olhou para cima e viu que a Margie estava sobre o encosto do sofá e só não caíra porque a Diana a segurava. A mulata tinha conseguido ficar em uma posição em que seu peso ficava apoiado no sofá o que impedia que ela caísse. Ele analisou a situação e começo a dar ordens:
– Solte a Marguerithe que eu a seguro. Depois pegue nossa roupa e venha para cá.
Henrique temia que o peso das duas mulheres fizesse com que o sofá se desprendesse do piso e caísse sobre ele. Diana entendeu a preocupação dele e soltou Margie. Como a distância não era grande, ela caiu nos braços de rapaz e foi aparada. Em seguida ele viu uma trouxa de roupa ser atirada sobre eles e depois os sapatos dele e de Diana e a pantufa que a ruiva estava usando. Ele tateou o ferro frio que o amparava e viu que o aço do costado do iate resistia ao seu peso. Então ele se colocou em pé, ajudou a Diana a descer até onde ele estava e os dois começaram a se vestir.
Só depois de vestido olharam para a Margie que, ainda deitada, os encarava com os olhos arregalados. Diana tomou a iniciativa, puxando a garota e, segurando em seus dois ombros, balançou seu corpo até que ela saísse do estado catatônico em que se encontrava e começou a gritar. Diana a puxou para si e começou a fazer carinhos nela enquanto tentava acalmá-la com palavras tranquilizadoras. O Henrique, enquanto isso, pegou o casaco de pele que ela usava e cobriu o seu corpo nu e depois se abaixou e a ajudou a calçar suas pantufas.
O barco balançava no embalo das ondas e Henrique, sabendo que o mesmo estava condenado, falou:
– Temos que sair daqui.
– Que jeito? – Perguntou Diana antes de falar: – A porta de saída ficou na parte de cima. Como vamos chegar lá?
Henrique olhou à sua volta e não encontrou nada que pudesse ajudar. Pensou mais um pouco e depois, se dirigindo à Margie, falou:
– Nós dois vamos erguer a Diana para que ela volte para aquele sofá. Depois eu ergo você e ela te puxa. Aí vocês procurem por algo que possa me ajudar a subir também.
Essa parte do seu plano foi fácil. Ele olhou apreensivo para o sofá que parecia aguentar firme o peso das duas mulheres. Mas logo veio a má notícia:
– Não tem nada aqui. Como você vai subir? – Falou Diana com voz nervosa.
Um silêncio dominou o ambiente. A única esperança de Henrique era acontecer o milagre de o iate voltar à sua posição normal. Enquanto ele olhava desesperado a sua volta na esperança de encontrar uma saída. Para piorar ainda mais a situação, o vidro de uma das escotilhas deu um estalo e, quando olharam naquela direção viram que o mesmo estava trincado e não resistiria por muito tempo. O não resistiria à pressão da água e isso faria com que a sala ficasse inundada.
Foi nesse momento que, sem consultar ninguém, a Marguerithe se despiu do casaco e o estendeu para o Henrique que falou:
– Esse casaco não vai resistir ao meu peso, Margie. Além disso, a temperatura está baixando e é melhor que você o vista depressa.
Antes que Marguerithe disse alguma coisa, a Diana gritou enérgica:
– Não seja tolo. Isso não é tecido, é pele. – E depois ordenou: – Segure logo que nós te puxamos.
Henrique, sem ter alternativa, pediu para que elas não o puxassem, mas que apenas sustentassem seu peso que ele subiria pelo casaco. Depois deu um salto, mas não conseguiu segurar a roupa. Diana então se deitou no sofá e estendeu o braço para baixo deixando o casaco ao alcance dele. Ele segurou e começou a subir por ele, entretanto, Diana não obedeceu à ordem de apenas sustentar seu peso e começou a puxá-lo para cima até que seu braço ficasse no nível do sofá. Ao perceber que o casaco não era mais necessário, segurou um dos braços de Henrique e pediu para a Margie:
– Ajuda aqui.
A garota também se deitou e estendeu a mão segurando o outro braço de Henrique que logo se juntou a elas em cima do encosto do sofá que, em virtude da posição do braço, se transformara no único apoio que eles tinham. Porém, não houve tempo para ficarem aliviados, pois com a adição do peso dele se ouviu um ranger estranho, indicando que não demoraria em que o sofá se desprendesse do piso e caísse. Como se para confirmar que ele estava certo, o sofá se inclinou levemente indicando que os pés da parte da frente estavam seriam os primeiros a se soltarem.
Sem perdeu um minuto sequer, Henrique foi para a extremidade do sofá e passou para a poltrona que havia ao lado do mesmo. Em situação normal, essa poltrona ficaria um pouco a frente do sofá, mas como o barco tinha adernado, ela um pouco acima. Diana, parecendo entender a intenção dele, pediu para que a Margie esperasse e fez a mesma coisa com a poltrona que estava do outro lado. Agora os dois podiam alcançar as duas últimas poltronas que, na posição em que ficavam, permitiria que eles alcançassem a porta.
Não foi o que aconteceu. Apenas ele conseguia alcançar a porta e, por sorte, a fechadura ficava ao seu alcance. O problema é que a porta estava trancada e ele não tinha a chave. Ficando em pé sobre a poltrona, ele se apoiou na cortina que estava estendia a poucos centímetros de sua cabeça e começou a escalar. Nesse momento, com um ranger de ferros arrepiante, os dois pés do sofá que ficavam do lado por onde ele havia alcançado a poltrona se soltou e o mesmo ficou pendurado, todo retorcido. Olhou desesperado procurando por Marguerithe que tinha ficado no sofá e viu que a garota estava em pé no encosto do sofá do lado que ainda se mantinha preso e era puxada por Diana que, sem dar tempo a ela para pensar em nada, a empurrou para cima fazendo com que ela alcançasse a outra poltrona que estava ao lado dela.
Essa atitude de Diana foi providencial, pois assim que a garota foi içada para cima, os dois pés que ainda estavam presos e o sofá caiu. Henrique ficou apavorado quando percebeu que, ao cair, o sofá atingira uma das escotilhas e, por azar, exatamente aquele que estava trincado e não resistiu. A visão da água do mar invadindo a sala exigia que ele se apressasse.
Escalando a cortina ele chegou até a porta, porém, quando tentou abri-la se lembrou de que a Diana havia trancado a mesma com a chave. Com urgência na voz, perguntou para ela:
– Onde foi que você enfiou a chave?
Diana não respondeu. Apenas enfiou a mão no bolso da calça que usava e quando a retirou, segurava a chave. O problema agora era conseguir passá-la ao Henrique. A Margie percebeu o impasse e se inclinou para baixo pedindo para que Diana lhe entregasse a chave, ao que a outra falou:
– Você não vai conseguir alcançar o Henrique. Melhor a gente trocar de lugar. Volta aqui.
Como se estivesse avisando que isso não seria possível, a poltrona que Diana estava empoleirada rangeu e deu um leve tranco. Não havia tempo e a Margie falou:
– Me dê a aqui, depressa. Pode deixar que dou um jeito.
Diana obedeceu e a garota, ao receber a chave, se colocou de pé e começou a escalar a outra parte da cortina que pendia sobre sua cabeça. Subiu com alguma dificuldade até que conseguisse passar a chave para o Henrique que, com uma precisão inexplicável, conseguiu inserir a mesma na fechadura na primeira tentativa e depois abriu a porta. Em seguira, ele escalou pala cortina até conseguir se apoiar no beiral da porta que, nesse momento, se transformara em piso e, com um movimento ágil conseguiu escalar.
Analisando a situação ele se deitou no chão e forçou o trilho da cortina o desprendendo, o que permitiu que ele tirasse a cortina. Segurou então em uma ponta e a estendeu para a Margie dizendo:
– Você consegue passar para essa sem cair?
Depois de seu ato de heroísmo, Marguerithe caiu em si e segurava com as duas mãos na cortina enquanto seu corpo oscilava. Seu rosto era uma máscara do mais puro pavor e a única coisa que ela fez foi negar com um movimento de cabeça. Henrique se inclinou mais e ficou com metade do corpo pendurado para dentro da sala. Sua intenção era alcançar a cortina e puxá-la para ele, porém, as duas partes da cortina tinham sido fixadas em trilhos separados, o que impedia que ele fizesse o que havia pensado. Para piorar, de sua posição ele não conseguia alcançar o outro trilho para tentar soltá-lo também.
Sem saber o que fazer ele trocou um olhar com Diana. A mulher entendeu que estavam em um impasse e a situação dela era crítica, pois a poltrona na qual se apoiava começava a dar sinais que também se soltaria e, se ela caísse, teria que começar tudo novamente e havia dúvida se o tempo em que o iate se manteria sobre a água seria o suficiente. Tentando manter a voz calma, gritou para o Henrique:
– Jogue a ponta da cortina para mim. Depressa.
Henrique achou que Diana estava pensando apenas em se salvar, porém, achou que trazer a mulher para cima poderia ser útil, pois depois que ela estivesse em segurança, poderia segurar a cortina para que ele descesse e ajudasse a Margie. Mas não foi isso que Diana fez. A alcançar a ponta da cortina que o Henrique lhe atirou, uniu a mesma com a ponta da outra onde Margie se agarrava e, torcendo para que o nó não se desfizesse, gritou:
– Agora puxe. Assim você vai conseguir segurar as pernas dela.
Sem entender direito o que Diana queria dizer, mas não tendo alternativa, ele obedeceu. A cortina foi ficando na posição horizontal até que ele pudesse segurar os dois tornozelos de Marguerithe e forçou para que ela apoiasse os pés no vidro da porta e ele pudesse alcançar a mão dela. Quase conseguiu, porém, quando faltavam centímetros para atingir o seu objetivo a garota, que já não tinha mais forças para continuar se segurando, se soltou.
Foi a tamanho diminuto de Margie que lhe salvou a vida, pois quando viu que ela iria cair, Henrique segurou firmemente em seus tornozelos e começou a puxar para cima.
Não fosse a gravidade da situação, a cena seria cômica. Aquela diminuta mulher ruiva pendurada de cabeça para baixo com a cabeça coberta pelo casaco de pele que, pela força da gravidade, também caíra e deixara seu corpo exposto. Sem poder admirar a beleza daquele corpinho perfeito, Henrique a puxou até conseguir abraçar suas pernas e depois rastejou para fora da sala a levando consigo. Com muito custo, conseguiu fazer com que ela levantasse um dos braços o que permitiu que ele puxasse seu tronco para cima a deixando em uma posição mais fácil para ele manter o peso dela. Depois disso, foi fácil coloca-la em segurança no corredor.
Ainda faltava Diana, porém, mal ele abandonou Marguerithe deitada, se virou e viu a cabeça da bela negra entrando em seu campo de visão. Ela escalara a cortina e, balançando o corpo para poder alcançar a abertura da porta, conseguiu se apoiar na parede e, assim como fizera o Henrique, içar seu corpo para a segurança do corredor.
Ainda não era a salvação. Todo aquele esforço foi apenas para poderem sair da sala onde estavam, Agora era necessário achar uma saída do iate. Henrique mais uma vez analisou a situação e se lembrou de que, entre ele e o primeiro lance de escada por onde poderiam sair dali, havia mais uma porta de vidro e ele temia que esse vidro não suportasse o peso deles. Andou até onde pode ver o vidro refletindo as pequenas escotilhas que ficavam acima dela e, enquanto pensava no que fazer, viu a Diana passar por ele como um bólido, saltar no ar e atingir o outro lado, demonstrando que a largura da porta não era tão grande. Imediatamente, falou para Margie:
– Agora é sua vez. Vai.
A garota, encolhida na parede ao lado dele, voltou a balançar o rosto em uma negativa. Preocupado com o tempo, Henrique não hesitou e, antes que a garota percebesse o que estava acontecendo, a segurou pela cintura, deu um impulso e atirou o corpo dela no ar. Como se já estivesse esperando por isso, a Diana aparou o corpinho da ruiva no outro lado e depois falou com ela em tom severo:
– Marguerithe, vê se colabora. Você não quer ser um peso para gente, quer?
A garota olhou para ela com os olhos ainda arregalados e ela segurou os dois ombros dela e começou a sacudir. Aquela ação serviu para tirar a ruiva de seu estado de pânico e ela começou a chorar. Diana então falou, dessa vez carinhosamente:
– Vai dar tudo certo. Apenas tente ajudar.
Enquanto isso, o Henrique que também tinha pulado a porta, já estava caminhando em direção à escada, só para descobrir que, ao virar, a carga de provisões e combustível que tinha sido colocado no convés quando pararam em Perth tinha se soltado e impedia a passagem. Agora eles tinham que ir até o final do corredor onde uma porta dava acesso à popa, porém, na posição em que o iate se encontrava, agora era uma saída para lugar nenhum. Para piorar ainda mais, havia mais uma porta de vidro que eles tinham que passar para chegar até lá.
Dessa vez não tiveram problemas, pois assim que a Diana saltou o vidro, a Margie se virou de costas para o Henrique enquanto pedia:
– Me ajude a saltar.
Ele recuou com ela e ordenou que ela tomasse impulso, enquanto segurava em sua mão. Os dois saltaram juntos e ele, ainda no ar, movimentou a sua mão fazendo com que Margie fosse ao encontro do corpo de Diana que já esperava por ela, mas não com a velocidade que o impulso extra que Henrique lhe deu, fazendo com que as duas se chocassem e caíssem no chão. Henrique se abaixou ao lado delas e perguntou:
– Você se machucou Margie? Olha, desculpa, eu só quis ajudar.
– Machucou o caralho. Essa porra caiu em cima de mim.
Quem reclamava era Diana que estava por baixo, provocando um sorriso em Margie. O episódio acabou por servir para acalmar de vez a garota que, a partir desse momento, não deu mais trabalho e passou a fazer tudo o que lhe era ordenado.
Henrique ajudou as duas a se levantar e correram em direção à porta de saída. Mas quando estavam passando pela abertura de uma escada que dava acesso ao deque inferior, ouviram um barulho e quando olharam para dentro dela, viram Na-Hi puxando um fardo grande. Henrique imediatamente foi ajuda-la, mas quando chegou ao que seria antes o topo da escada, Na-Hi começou a dar ordens:
– Vocês duas arrastem isso até aquela porta e voltem para pegar mais. Você vem comigo Henrique.
Henrique seguiu Na-Hi e viu que, na outra extremidade da escada, havia mais dois fardos idênticos aquele e três malas grandes. Então ele reclamou:
– O que é isso?
– São três botes infláveis. Vamos precisar deles.
– E essas malas? Você não acha que isso não é hora de se preocupar com roupas?
– Não são roupas. São coisas que, caso a gente se salve e dependendo do lugar em que formos parar, vamos precisar.
Henrique pegou um dos fardos sozinho enquanto a Na-Hi arrastava o outro. Deixaram no mesmo local que o anterior e viram que Diana e Margie já voltavam. Então os dois voltaram para pegar as malas. Segurou a que era menor pela alça e a levantou enquanto escolheu a maior de todas e saiu arrastando até o local onde deixaram os fardos. Atrás deles, Na-Hi arrastava a última das malas.
Deixando as duas malas no chão, Henrique pegou o último fardo que se encontrava ali, pois Diana e Margie já tinham arrastado o segundo até a porta. Quando cruzou com elas, falou:
– Peguem aquelas malas. Rápido.
– Ainda bem que alguém se lembrou de pegar roupas.
– Não são roupas. – Disse Na-Hi sem dar maiores explicações.
Para surpresa de todos, havia uma corda ali. Mesma estava presa na amurada do iate, indicando que a única saída era subir por ela até a amurada e passar para o lado externo do barco que agora estava na posição quase horizontal, pois já começava a se inclinar indicando que não demoraria muito para afundar de vez. Na-Hi começou a coordenar os trabalhos e disse:
– Você fica aqui e amarre os botes que eu vou puxar para cima.
Dizendo isso ela já segurou a corda com as duas mãos prontas para começar a subir, mas o Henrique a impediu:
– Melhor eu ir. Para mim é mais fácil puxar lá pra cima.
Na-Hi concordou e lhe passou a escada e em seguida se abaixou e começou a prender o primeiro dos fardos com a corda. Quando ela terminou, o Henrique já tinha ultrapassado a amurada e, sob o comando da coreana, começou a puxar o primeiro para cima, o que fez com muita dificuldade. Na-Hi perguntou:
– Está muito pesado?
– Até que puxar até aqui é fácil. O problema é trazer até o local onde eu posso desamarrá-lo.
– Eu vou subir aí e te ajudo. – Propôs Na-Hi.
– Deixe que eu vou Na-Hi. Fique aqui e amarre os outros.
Dizendo isso a Diana praticamente se atirou à corda e começou a escalar. Olhou para baixo e viu a água do mar balançando suavemente o barco.
Com a ajuda de Diana foi fácil puxar os dois barcos infláveis restantes e as malas. Depois foi a vez de Marguerithe se içada e se juntar a eles e finalmente Na-Hi. Depois disso os quatro começaram a transportar os fardos e as malas para o local indicado pela coreana.
Quando finalmente chegaram ao local onde o Ernesto, acompanhado de Pâmela e Milena estavam sentados no aço frio do costado do iate, o Henrique perguntou::
–Onde estão os outros?
Foi Ernesto que respondeu:
– Até agora só nós três. A Na-Hi nos trouxe até aqui e depois voltou para procurar por sobreviventes.
Henrique olhou para Na-Hi que, com uma voz pesarosa, informou:
– O Junior bateu com a cabeça e faleceu na hora. A cozinha pegou fogo e o Pierre morreu queimado. O Edward e o piloto eu não sei. Nem do Capitão.
– O Edward também está morto. O armário se soltou e caiu sobre a cabeça dele. E o piloto eu vi correndo, acho que ele ia em direção à ponte de comando. Ele informou que o capitão devia estar lá.
Ao dizer isso, Milena olhou com uma expressão interrogativa para Pâmela que apenas levantou os ombros, o que todo mundo Entendeu como uma informação de que o Capitão, na hora do acidente, não estava na companhia dela.
– E a Cahya. O onde ela está? Vocês a viram?
Ernesto, pesaroso, apenas balançou a cabeça em uma negativa, mas diante a insistência de Henrique, a Pâmela respondeu por ele:
– A cozinha pegou fogo. O Pierre morreu. Nós não sabemos se a Cahya estava na cozinha ou se já tinha ido para a cabine dela.
Sem dizer uma única palavra, Henrique se virou e saiu apressado, voltando pelo mesmo caminho que usara para chegar ali. A Diana, depois de dizer para a Marguerithe permanecer ali, saiu atrás dele. Quando ela o alcançou ele lhe disse:
– É muito perigoso voltar lá. Melhor você voltar aqui.
– Não. Você pode precisar de ajuda. Vou com você.
– Por que você é tão teimosa?
– Não se trata disso, Henrique. Nós vamos morrer de qualquer jeito. Então pelo menos me deixe tentar.
Dessa vez eles andaram mais rápido, usando as aberturas que tinham feito antes. Só depois que eles passaram da sala onde estavam na hora do acidente é que encontram problemas, porém, eram objetos leves e quando eles se livraram do último tiveram a visão do final do corredor e o coração de Henrique bateu mais depressa. Fora da cabine que era ocupada por Nestor estava Cahya. Ela estava abaixada ao lado de um corpo que, deitado no chão, tinha suas pernas presas por uma enorme barra de ferro e outros objetos. Era o próprio Nestor e ele estava consciente.
Henrique não pensou duas vezes. Ordenou que a Diana levasse a Cahya dali e foi estudar a situação do Nestor, observando que, do quadril para baixo, ele estava coberto de entulhos. A Diana não obedeceu, em vez disso, começou a procurar por algo que ele não sabia o que era e ele gritou com ela:
– DIANA, EU JÁ FALEI PARA VOCÊ SAIR DAQUI E LEVAR A CAHYA.
– Nem pensar. Você não percebe que sozinho não vai conseguir. – Respondeu Diana com voz que não deixava dúvidas de que ela não ia sair dali. Pelo menos não até que libertasse o Nestor.
Diana começou a forçar as portas, mas apenas as que ficavam no nível de seus pés, pois temia que se abrisse as que estavam do lado de cima fosse atingida por objetos que poderiam desabar sobre ela. Na segunda tentativa ela olhou para baixo e viu uma barra de ferro grande cuja ponta estava ao alcance de sua mão e puxou, mas descobriu que a peça estava presa. Mexeu a barra de ferro de um lado para outro e, como ela se moveu, ficou esperançosa e voltou a puxar, o objeto se moveu um pouco para o seu lado e depois voltou a se prender em algo. Ela calculou que a outra ponta da barra de ferro deveria ter alguma coisa que a prendia. Então chamou o Henrique que foi até ela e ao chegar, a ouviu dizer:
– Me ajude aqui. Precisamos dessa barra de ferro.
– Pra que? – Perguntou ele descrente.
– Para liberar o Nestor vamos precisar de uma alavanca. Espero que essa seja forte o suficiente para sustentar o peso daquilo que está prendendo perna dele.
Imediatamente ele passou a ajudá-la, mas mesmo com os dois puxando e movimentando a barra de ferro de um lado para outro, gastaram mais quinze minutos para conseguirem arrancá-la de lá. Mas logo ficou provado que era a coisa certa a fazer, pois com o uso da barra de ferro eles conseguiram levantar a peça que prendia a perna de Nestor e a Cahya o arrastou, libertando-o do que seria uma morte certa.
Um exame rápido por parte de Diana e ficou constatado que a perna de Nestor não estava quebrada, apesar de estar sangrando. Mas ele tinha deslocado o tornozelo e não conseguia andar. Diana e Henrique o colocaram de pé e quando o apoiavam, cada um de um lado, perceberam que a Cahya tinha sumido.
– Mas onde é que se enfiou essa mulher? CAHYA! – Chamou Henrique.
Mal ele acabou de gritar e ela saiu de sua antiga cabine, que agora era um caos, Ela descera até lá e logo voltou trazendo em seus braços dois casacos de couro, um era o de Henrique e o outro era o sobressalente dela, pois cada tripulante tinha recebido dois. Entregou o do rapaz a estendeu o outro para Diana que também o vestiu, agradecendo.
Agora tinha o problema de voltar. Em alguns trechos do corredor que já era estreito, os entulhos impediam que três pessoas andassem lado a lado. Então o Henrique fez o impensável. Tirando o braço de Nestor que estava sobre o seu ombro, ficou de frente para ele, curvou o corpo, encostou o ombro na altura da barriga dele e depois levou a mão até suas pernas o levantando, fazendo com que o corpo do rapaz ferido ficasse sobre o seu ombro. Em seguida pediu para que Diana ajudasse Cahya e saiu andando.
Chegando ao local onde a corda esperava por eles, ele disse:
– Eu vou. Depois eu puxo a Cahya e o Nestor. A Diana vai por último.
– Melhor se apressar Henrique. Olhe para baixo e veja como o nível da água está subindo. – Disse Diana.
Na verdade, não era o nível da água que estava subindo, mas sim o iate que estava afundando. Enquanto o Henrique olhava para a água ameaçadora e gelada, Diana pegou a corda, passou pela cintura da Cahya enquanto falava para o Henrique:
– Está esperando o que? Sobe logo para puxar a corda.
Henrique entendeu o que ela quis dizer com isso, mas antes que ele pudesse fazer qualquer coisa, a Cahya empurrou a Diana, se livrou da corda e, segurando firmemente, começou a escalar. Henrique nem pensou e começou a escalar, mas mal tinha avançado um metro e falou para a Diana:
– Amarre o Nestor e me avise. Eu o puxo para cima.
Diana obedeceu e, como a corda era comprida, usou a parte que sobrava para começar a amarrar o Nestor. Enquanto isso, com uma agilidade não esperada, a Cahya já atingia o topo da corda e passava para a segurança provisória oferecida pelo costado do iate.
O resto foi rápido. Nestor foi içado e depois dele a Diana que escalou a corda sem ajuda e, antes que ela atingisse o topo, olhou para baixo e viu que a porta que eles usaram estava a menos de um metro do nível da água.
Enquanto o Henrique resgatava a Cahya e o Nestor, Na-Hi estava à volta com os barcos infláveis. Como ela precisava de ajuda para que os barcos não escorregassem depois de inflados, pediu ajuda para Milena e Pâmela que, antes de se juntar a ela, pediu para que a Margie cuidasse de seu sogro. A garota estava agachada e o casaco de pele se abriu revelando sua nudez. Ernesto olhou para aquele corpo que, apesar de pequeno, era perfeito e não conseguiu evitar uma ereção. Chateado, ele falou:
– Mas isso é hora?
– Não sei se é hora. Mas eu me sinto lisonjeada com essa demonstração de desejo: – Falou a garota com tom malicioso antes de levar a mão até o pau de seu sogro e fazer um carinho. Depois retirou a mão e falou: – Espero sobreviver para te dar a recompensa que isso merece.
Quando Henrique foi se juntar a eles, dois barcos já estavam prontos e Na-Hi lidava com o terceiro. Ao ver que o Henrique se aproximava, ela pediu para que ele levasse as malas até lá. Ele obedeceu levando duas enquanto a Diana arrastava a última. Quando os dois se juntaram a ela, o terceiro também já estava pronto e cada uma das malas foi colocada em um dos botes. Voltaram até o Ernesto e o Henrique, com a ajuda da Na-Hi o conduziu até um dos barcos, enquanto a Diana e a Cahya ajudavam o Nestor. Quando todos estavam prontos para embarcarem, o Ernesto olhou para o grupo que, e foi nomeando cada um:
– Pâmela, Milena, Margie, Henrique, Cahya, Na-Hi, Diana e o Nestor. Todos os nove sobreviveram.
Milena, que nunca tinha ouvido seu pai comentar sobre o sonho de Ernesto, a garota perguntou do que ele falava e ele fez um gesto com a mão e pediu para que ela esquecesse que não era nada.
– Então vamos gente. – Apressou Na-Hi avisando a todos que o iate logo seria coberto pelas águas.
– Vamos sim. Só não sei para onde. Afinal de contas, estamos no meio do nada.
– Nunca se sabe. Vamos ver. – Disse Ernesto e depois perguntou a Na-Hi: – Você acha que tem a chance de ter mais sobreviventes?
– Acho difícil. Além disso, a água já está chegando ao nível da porta que usamos. Se tiver alguém vivo lá dentro e não sair nos próximos minutos, não vai conseguir mais.
A Cahya deu um gemido ao ouvir isso. Ela sentia um pesar muito grande pela morte do cozinheiro. Mesmo sempre comentando que o cozinheiro era intragável, no fundo ela nutria simpatia por ele. Na-Hi nem olhou para ela e continuou:
– Tem o Maurizio também. Eu vi seu corpo no camarote dele. Sua cabeça estava esmagada.
Ernesto voltou a perguntar para Na-Hi se ela tinha certeza de que seu filho estava morto. Ela confirmou que sim e ele olhou para Margie com um olhar de interrogação. A garota não teve receio de confessar:
– Eu não estava com ele Senhor. Estava na sala de TV com a Diana.
– Eu sei. Também sei dessa farsa que é o casamento de vocês.
Margie corou e virou o rosto, preferindo não comentar nada.
Ernesto sentiu um aperto no coração ao se dar conta que o filho tinha falecido. Mas ele sabia que ainda não era hora de lamentar os mortos. Eles precisavam sair dali com urgência para não serem atraídos pelo empuxo produzido pelo afundamento do barco. Então começou a dar ordens.
Os foram arrastados para perto da água que já estava atingindo a borda do iate. Na-Hi, com a ajuda do Henrique, colocou cada um deles na água.
Enquanto Na-Hi e Henrique trabalhavam, Milena que olhava para o horizonte apontou o dedo e perguntou:
– O que é aquilo?
Todos olharam na direção que ela apontava e o Nestor explicou:
– Aquilo é um bloco gigantesco de gelo se deslocando para o norte.
– Um iceberg?
– Não como os icebergs que você conhece. Aqueles só existem no hemisfério norte. Aqui no sul são blocos enormes, muitas vezes do tamanho de uma montanha, que se deslocam e demoram meses até derreterem.
Henrique então falou em voz alta a conclusão que chegou ao ouvir aquilo:
– Então foi isso.
Todos olharam para ele que passou a explicar:
– Conforme vai avançando para o norte o gelo começa a derreter e muitas vezes uma parte dele se solta provocando uma avalanche.
– E daí? Aquilo está muito longe para que isso nos virasse o iate!
– É verdade. Muito longe mesmo. Mas não longe o necessário para que a onda provocada por essa avalanche não nos atingisse.
Todos se calaram até que a Na-Hi, como se já tivesse sido orientada, começou a dividir os sobreviventes informando que cada um dos botes seria ocupado por três pessoas. A Pâmela e ela estariam junto com Ernesto que já estava posicionado dentro dele. Henrique, Cahya e Marguerithe iriam no segundo e Diana, Milena e Nestor no último. Ela informou ainda que o responsável por esse terceiro era para ser o Nestor, mas como ele estava ferido, a Diana assumiria o comando, mas que deveria recorrer a ele em qualquer situação e fazer o que ele mandasse.
Diana não gostou de receber essa ordem, mas ela sabia também que não era hora de criar caso por causa de detalhes. Então apenas assentiu. Foi o Henrique que empurrou o bote de Diana para a água e depois fez o mesmo com o que estava o Ernesto. Depois empurrou o seu e, quando atingiu a água, saltou para dentro dele. Logo os remos que a Na-Hi já tinha levado antes de buscar os botes, dois para cada um deles, foram utilizados para impulsionarem os mesmo para fora da zona de perigo.
Quando os três botes atingiram uma distância segura do iate que a cada momento era menos visível, Na–Hi pediu para que os outros dois se aproximassem e, tirando duas cordas da mala que estava no bote que ela ocupava, pediu para que as mesmas fossem presas nos ganchos que havia na proa de cada um deles e ela prendeu uma das pontas na de seu próprio barco e a outra na popa. Depois explicou que isso impedira que alguma corrente marítima os separasse.
Como se tivesse combinado, depois de prenderem os botes uns aos outros, todos ficaram de pé olhando para o Iate até que, com um barulho de ar escapando, o mesmo desapareceu sob as ondas do mar. Todos pensavam a mesma coisa. Agora eles estavam em um local que ficava a quilômetros de qualquer rota de navio e em condições climáticas insuportáveis e para alguns deles, como Diana, tudo se resumia em esperar pela morte, enquanto Ernesto depositava toda a sua fé de que eles estavam destinados a algo diferente.
Por ser verão, ele não tiveram que se preocupar com a noite. Por sugestão de Henrique, eles pararam de remar. Ele explicou aos outros que não fazia sentido gastarem suas energias remando se não havia um lugar para onde ir e com isso eles ficaram flutuando ao sabor das ondas e a única preocupação de Henrique, que estava com uma bússola, era de não se deslocarem para o sul, pois isso representava morte certa para todos eles.
Mais uma vez o Ernesto gritou para que todos ouvissem, como ele fazia todas as vezes que o relógio que ele usava indicava a hora cheia:
– São doze horas do dia vinte de dezembro de 1976.
E mais uma vez a Diana dizia em um volume de voz que apenas os que ocupavam o barco em que ela estava ouviam:
– Grande coisa, e quem é que quer saber o dia e a hora que vai morrer.
Quinze minutos depois, a própria Diana percebeu algo que ninguém mais notou. De repente, o bote que ocupava começou a desenvolver maior velocidade. Não era nada assustador, mas era um deslocamento que dificilmente eles conseguiriam usando os remos, coisa que eles não faziam. A princípio ela achou que seu bote fora atingido por um movimento anormal das águas, mas quando ela olhou para os outros botes e viu que a corda que os ligavam não estava esticada, entendeu na hora que, não só o dela, mas todos os três botes desenvolviam a mesma velocidade e na mesma direção.
Ela passou essa informação aos outros que ficaram atentos ao que poderia acontecer e como o mar permanecia inalterado e não havia nenhum sinal de animais aquáticos na região, eles não fizeram nada, apenas deixando que os botes se deslocassem ao bel prazer das correntes marítimas, pois essa foi a conclusão a que chegaram.
O dia continuou sem novidades. A única observação foi a de Henrique que, consultando a bússola, informou a todos que estavam se deslocando para o oeste.
Quando o sol estava próximo do poente e o Ernesto anunciou que eram vinte e três horas do dia 20 de dezembro, o dia ainda estava claro, tão claro que, quinze minutos depois Henrique se levantou e ficou olhando para frente, na direção em que os botes navegavam com uma expressão que variava entre a surpresa e o medo. A maioria ficou olhando para ele esperando pelo o que ele ia dizer e apenas a Na-Hi e Margie olharam para a mesma direção que ele olhava. Foi a ruivinha que deu o alarme:
– Meu Deus! O que é aquilo?
Alertado pelo tom de alarme da voz dela, todos olharam para frente e um frenesi de preocupação correu entre os ocupantes dos três botes.
A frente deles ainda distante, mas com os botes desenvolvendo uma boa velocidade, uma nuvem preta cobria o horizonte. Não podia ser classificada como neblina ou sequer uma nuvem de chuva, pois era totalmente negra e, ao contrário de nuvens cúmulos nimbos que atingem grandes altitudes, essa era ainda mais escura e sua altura era de cerca de quinhentos metros, deixando perceber que acima dela o céu estava claro.
Sem que ninguém ordenasse, os remos de todos os botes foram empunhados e aqueles que o seguravam remavam desesperadamente tentando voltar ou, quando muito, mudar a direção. Essa providência de nada adiantou e os botes continuavam se deslocando na direção da escuridão.
Menos de uma hora e os botes estavam chegando à estranha nuvem que, observada mais de perto, era mais densa e escura do que eles pensavam. A Milena, que não remava, começou a chorar enquanto Margie e Diana olhavam com os olhos arregalados naquela direção.
E de repente a noite cobriu os botes. A escuridão era tamanha que o Ernesto não conseguia enxergar seu relógio e nem o Henrique a bússola, mesmo quando aproximava o aparelho dos olhos deixando-os a poucos centímetros.
Ernesto, o mais calmo entre os náufragos, começou a falar alto para tranquilizar a todos. Ele dizia que aquela nuvem logo se dissiparia e eles veriam que não havia nada demais nela. Mas não foi o que aconteceu e ele mudou de tática dizendo que, se fosse para acontecer alguma coisa de ruim, já teria acontecido.
Depois de muito tempo, pois não havia como calcularem o tempo, todos estavam mais calmos. Ernesto sugeriu que, em intervalos de tempos regulares, eles gritassem para serem ouvidos pelos outros e assim todos teriam certeza que estavam bem. Na verdade, ele só fez isso para que cada um se distraísse calculando o tempo que se passava entre uma comunicação e outra. O resultado esperado por ele foi logo sentido, pois ansiosos para ouvirem as vozes vinda outros botes, todos foram se acalmando.
O que ninguém soube é que Na-Hi contava mentalmente. Ela começava em mil e um eia até mil, trezentos e sessenta e calculava cada contagem como sendo o tempo de cinco minutos. Com isso ela pode calcular, com pequena margem de erro, que eles já estavam em meio àquela escuridão a mais de oito horas e estranhou que, apesar desse tempo, ninguém reclamou de sede ou de fome.
Quando Na-Hi havia acrescido mais uma hora e quinze minutos aos seus cálculos, o que significava que, contando as quatro horas passadas antes que eles fossem engolidos pelo denso nevoeiro, eles já estavam no bote há mais de treze horas, o que indicava que já estavam no dia vinte e um de dezembro: Ela estava pensando sobre isso quando ouviu Diana gritar:
– Jesus! O que é aquilo?
– Aquilo o que? Não estou vendo nada, disse a Milena ao lado dela.
– Ali na nossa frente. Parece que tem alguns vagalumes no meio do nevoeiro.
Todos olharam para frente e viram o que chamou a atenção de Diana. Alguns descreveram o que viram como se fosse uma corrente de eletricidade que ocorre com frequência em nuvens e acabam por provocar relâmpagos ou raios e outros diziam que era uma ilusão de ótica. Tinha os que diziam que estar vendo nada. Mas a interpretação mais estranha partiu de partiu de Pâmela que falou com toda a certeza que se tratava de um campo de força, ao que Na-Hi a corrigiu:
– Não tem como ser isso Pâmela.
– E por que não?
– Porque para se criar um campo de força é necessária uma fonte potente de energia. E aonde você encontraria algo que conseguisse produzir tanta energia em tão pouco tempo?
Pâmela preferiu calar-se. Não que o argumento da coreana a tivesse convencido, mas sim por não conhecer o assunto para poder emitir alguma opinião.
E enquanto todos discutiam os botes se aproximavam cada vez mais do local onde Diana afirmava existir as luzes.
Dez metros e a Diana falou:
– Estamos indo diretamente para lá.
Nove metros e o Nestor chamou a atenção de Diana:
– Pare com isso Diana. Você vai deixar as pessoas assustadas.
Oito metros e se ouviu a voz de Cahya:
– Ali. Estar bem ali. Eu estar vendo.
Sete metros e a Milena reclamou:
– Só faltava essa. Mais uma maluca.
Seis metros e novamente Diana gritou, agora com um sinal de urgência em sua voz:
– Por amor de Deus. Desviem esses botes. Vamos ser torrados.
Cinco minutos e a voz calma de Henrique se fez ouvir:
– Por favor, Diana, procure se acalmar. Não vai acontecer nada demais.
Quatro minutos e novamente a Milena agora gritando:
– Parem. Parem. É verdade, eu também vi.
Três minutos e a Marguerithe falou com uma voz divertida:
– Essa Milena é mesmo uma brincalhona. Fica tirando sarro dos outros dizendo que está vendo alguma coisa.
Dois minutos e a voz de Ernesto foi ouvida por todos:
– Fiquem todos calmos. Não vai acontecer nada de ruim.
Um minuto e a voz de Pâmela foi ouvida, chamando a atenção do marido.
– Até você, Ernesto? Assim você mais nos assusta do que acalma.
Zero minuto nove gargantas gritaram ao mesmo tempo:
– Nãããããããããooooooooooooooo…
E uma explosão de luz fez com que todos eles, acostumados com a escuridão fossem obrigados a fechar os olhos.
Um a um os olhos foram se abrindo e a cada um que olhava, a expressão de espanto estava estampada em seu rosto ao mesmo tempo em que diziam sempre a mesma frase:
– Meu Deus. O que é isso?
Menos um. O Ernesto, ao abrir os olhos, disse exultante:
– Aí está ela. Linda e calma como em meus sonhos.
Todos olhavam espantados para a paisagem que aparecia a frente deles ou, ainda mais espantados, quando olhavam para trás e não viam o menor sinal do nevoeiro que tinham acabado de atravessar.
A cerca de um quilômetro deles, uma praia com areias brancas a ponto de ferir os olhos e depois uma vegetação verdejante. No céu limpo o sol brilhava dando um colorido especial à paisagem. Para todos os lados que se olhava o que se via era digno de um quadro criado pelo mais talentoso pintor. Pássaros coloridos sobrevoavam as árvores e no espaço de água que havia entre eles e a praia, golfinhos e mais golfinhos brincavam, brotando da água e, depois de uma acrobacia mergulhava com estardalhaço.
Todos começaram a sentir o suor escorrer em seus corpos por causa da roupa pesada que usavam. Até mesmo a Margie fez isso, não se importando com o fato de não estar usando nada embaixo daquele casaco e sua pele branquinha refletia a luz solar dando a ela um aspecto maravilhoso. E ninguém comentou nada a respeito de ela estar exibindo seu lindo corpinho, parecendo até que isso era normal.
Só o Henrique notou algo que não gostou e disse com voz que revelava sua decepção:
– Ah não. Não pode ser. Lá está o nevoeiro.
O alto da montanha não podia ser visto, pois estava coberto por nuvens densas e negras.
Mas, se aquilo era um problema, eles todos resolveram, sem precisarem combinar, que o mesmo deveria ser estudado posteriormente, pois no momento o que eles mais queriam era chegar até a praia e começaram a remar com toda a energia de que dispunham.
Ao redor deles, como se estivessem a dar as boas vindas, dezenas de golfinhos faziam acrobacias enquanto outros se aproximavam, colocavam a cabeça fora da água e, como se estivessem falando alguma coisa, ficavam emitindo o barulho característico de golfinhos.