Essa é uma história de traição.
Eu sei, a humanidade não tem feito um grande trabalho quando o assunto é fidelidade conjugal e há muitas histórias circulando por aí sobre o tema, mas essa não será como as demais, eu prometo, pois essa é também uma história de amor.
Afirmo isso porque, embora haja muito sexo envolvido, a traição mais contudente nessa trama versa sobre a cumplicidade de um casal ou, melhor dito, como uma pessoa é capaz de foder com a cabeça de quem a ama. Então, vamos ao conto…
Léo e Bia, um casal jovem e lindo, ambos loiros e de corpos atléticos, viveram o sonho de se conhecerem ainda na escola, foram rei e rainha na festa de formatura e namoraram durante toda a faculdade. Foi nessa época em que, depois de tantas carícias íntimas trocadas durante anos, perderam juntos a virgindade.
Sobre isso, vale comentar que o ato foi toda uma cena meticulosamente calculada por Bia, a qual foi sendo aperfeiçoada à medida que ela amadurecia ao lado de Léo.
Ocorreu num fim de semana prolongado em que reservaram uma suíte pequena e charmosa numa pousadinha em meio ao friozinho da serra, junto ao lago. Durante o jantar, abriram com duas taças de espumante, passaram para o vinho branco enquanto degustavam um risoto de peras com gorgonzola e fecharam com fondue de morangos ao chocolate. Tudo num restaurantezinho rústico e acolhedor à luz de velas.
De volta à suíte, a expectativa de Léo era enorme e Bia mal conseguia conter-se de tanta ansiedade por aquele tão sonhado momento. Apesar de sempre ter imaginado as piores safadezas em sua primeira noite como um homem, surpreendentemente, Léo se portou como um verdadeiro cavaleiro romântico em respeito à sua amada.
Enquanto se beijavam abraçados junto à cama coberta de pétalas de rosas, crescendo pouco a pouco a intensidade de seus gestos em preparação à uma verdadeira entrega mútua, Léo afastou as alças do vestido diáfano que Bia trazia e este escorregou por seu corpo suavemente, revelando a princípio um par de seios pequenos e rijos, de mamilos quase tão transparentes quanto a brancura de sua pele.
Léo não podia apreciar aquele esplendor juvenil porque mantinha os olhos fechados enquanto seguia entregue aos beijos intensos de Bia, mas se pudesse provavelmente restaria boquiaberto com aquela barriguinha lisa ostentando um pequeno e perfeito umbiguinho ao centro, com quadris largos de ossos pontudos sobresaltados na cintura e adornados pela beleza de um sexo especialmente depilado para aquela ocasião, que se desnudava com o simples cair do vestido, posto que Bia propositalmente não vestira calcinha naquela noite.
Bia e Léo já haviam se experimentado, manipulando ou mesmo sorvido o sexo um do outro, conheciam cada detalhe de seus corpos entre si, de maneira que agora só lhes faltava mesmo consumar o ato. Talvez por isso nem se dedicaram às preliminares, afinal, nesse momento, todos os anos que passaram juntos pareciam uma grande preliminar.
Um pouco afoita por consumar sua primeira vez, sendo beijada e abraçada com desejo por Léo, Bia buscou o feixo da calça do namorado, abriu-o e com mãozinhas ávidas e suaves buscou ali dentro aquele membro que estava destinado a possuí-la, invadindo seu sexo e rompendo seu hímen, enfim, fazendo dela uma mulher de verdade.
Encontrou a Léo totalmente teso, constatou com gosto que o namorado seguia de olhos fechados e gemia enquanto ela manipulava seu pênis e o acariciava, aproveitando para acercar sua cintura, provocar e ficar passando a cabeçorra inchada daquele membro entre os lábios de seu sexo, umedecendo-o para o serviço a ser prestado.
Com extrema delicadeza, Léo percebeu que o momento tão esperado enfim chegara. Deitou suavemente a Bia de costas sobre a cama, sempre beijando-a enquanto se inclinava sobre seu corpo totalmente arrepiado e posicionava o membro em caminho ao destino prazeroso que o aguardava.
Bia suspirou profundamente ao sentir a carne tesa e quente de seu amado abrindo caminho por entre suas pernas e introduzindo-se em sua pequena amiga depilada - e já eriçada pelo tesão da espera.
Quando atingiu aquele ponto de resistência a ser rompido, Léo titubeou com receio de provocar dor à sua namorada, mas ela estava decidida que esse era o instante definitivo com o qual tanto sonhara, então segurou as nádegas do namorado, afundando ali suas unhas compridas pintadas de bege e trazendo-o mais para si, de forma que seguisse avançando e consumasse o ato de uma vez por todas.
No exato instante em que perderam a virgindade, Léo abriu finalmente os olhos pela primeira vez e pode apreciar a expressão de dor e êxtase que provocava em Bia ao ser comida por ele daquela maneira romântica cuidadosa - e isso viria a marcar o relacionamento sexual entre os dois dali por diante.
Foi uma noite linda, os dois se dedicaram uma ao outro com paixão e amor, nunca em ritmo frenético ou usando posições absurdas: os sentimentos trocados já eram por si tão intensos que não lhes faltava mais nada, além de seguirem amando-se naquele quartinho aconchegante da pousadinha na serra sobre a cama coberta de pétalas de rosa.
Quando voltaram à rotina de faculdade e estágios, enquanto Léo suspirava pensando que Bia era mesmo a mulher para estar a seu lado pelo resto da vida, Bia se via encantada com o que acontecera no último fim de semana, tudo correra conforme o planejado e foi muito romântico, tal qual ela sonhava, mas…
A pegada do Léo podia melhorar, só um pouquinho. Tudo bem, aquela foi só a primeira vez, eles se conheciam há muito tempo, havia muita expectativa e ansiedade no ar e Léo provavelmente se intimidara com tudo aquilo. Enfim, fazer sexo era gostosinho, mas não parecia ser tudo aquilo que diziam, então Bia se conformou com o passar do tempo e os dois seguiram naquela relação sólida e inquebrantável que construíram.
Passado um par de anos mais, Léo e Bia se formaram e, apesar da obviedade, casaram-se justo quando começavam suas carreiras profissionais, ele advogado e ela nutricionista.
Até porque já se conheciam intimamente há anos, o casamento sofreu uma transição mais rápida ao cotidiano do que costuma acontecer e, quando se viram na famigerada vida à dois, aquilo rapidamente foi perdendo o viço e os tons fortes de um relacionamento de recém-casados para dar lugar à rotina de uma vida tradicional de casal, ou seja, muito carinho, atenção, amor e companheirismo - e menos sexo do que ambos imaginavam.
E, por falar em sexo, este se tornara mais um problema na equação conjugal.
Presos àquela primeira vez juntos exageradamente romântica que tiveram na pousadinha da serra, ambos bem gostariam de ousar mais e fazer algumas loucuras para quebrar a rotina e sair do marasmo matrimonial, mas um sempre terminava achando que isso não agradaria ao outro, ou que seria meio vergonhoso pedir uma coisinha diferentona, enfim, nenhum dos dois tomava uma atitude real e assim eles seguiam só no sexo convencional e esporádico de quem tem muitos anos de casado - e reparem que eles ainda nem haviam completado doze meses juntos!
Visto desta maneira, até parece natural que Bia, buscando atribuir uma razão mais profunda ao casamento, desejasse antecipar alguns planos e partir diretamente para os finalmentes, ou seja, a maternidade. Sim, muito embora Léo preferisse planos de viagens românticas ao exterior e visitas ocasionais aos motéis da moda para reacender a chama erótica, Bia enfiou na cabeça que eles teriam um filho - e que isso não poderia esperar muito.
Foi um inferno. Depois de quase um ano tentando engravidar com incansáveis trepadas mensais monótonas sem que conseguissem um resultado positivo, Bia passou a insistir que fizessem exames para ver se tudo estava normal e, uma vez vencida a resistência absurda de Léo contra este assunto, finalmente saiu o fatídico resultado: Léo possuía um sêmem de baixíssima qualidade, clinicamente caracterizado como “espermatozóides preguiçosos”.
Segundo o médico que os atendeu, a probabilidade de que engravidassem pelos métodos normais era de menos de um por cento e, nestes casos, recomendava-se enfaticamente a fertilização artificial. Após novas resistências sem sentido por parte do marido, veio o golpe final: o procedimento era muito caro e o plano de saúde fajuto que tinham não cobria tais custos sem uma interminável briga jurídica.
E o inferno então piorou. Desconsolada, Bia entrou em depressão, mal comia e não tinha nem disposição para sair da cama. Sentindo-se culpado por não poder ter filhos, Léo passou a perder a confiança em si mesmo e já nem tentava comer sua jovem mulher, com medo de que sua infertilidade se tornasse uma impotência irreversível.
Vendo seu casamento falir magistralmente, o marido ainda voltou à clínica de reprodução para refazer os exames, numa tentativa de obter resultados diferentes - o que não ocorreu. Depois voltou mais um par de vezes, buscando negociar um desconto ou melhores condições para pagar a reprodução assistida - o que também não conseguiu. E esse era o fundo do poço, daí as coisas não poderiam piorar mais - ou ao menos ele assim pensava.
Quando saiu pela última vez da clínica, uma jovenzinha da recepção com um crachá escrito “Belinda”, uma morena baixinha e com uns peitos ótimos quase saltando pelo decote do uniforme, o interpelou dizendo que acompanhava seu caso e que lamentava muito por tudo o que deveriam estar passando.
Olhando para os lados como se averiguasse não estar sendo observada, disse quase num sussurro que sabia bem dos preços exorbitantes praticados pela clínica e que, se Léo estivesse interessado, haveria uma maneira alternativa de resolver tudo aquilo, que era satisfação garantida e que Bia o agradeceria pelo resto da vida caso ele se decidisse a tomar aquela iniciativa.
Tomado de surpresa, Léo nem teve chance de responder ou questionar, tão sorrateiramente como se aproximou, a atendente gostosinha colocou um cartão em seu bolso e saiu às pressas, ainda com aquela atitude suspeita de quem está escondendo algo. Somente no estacionamento foi que Léo conseguiu processar tudo: provavelmente era uma clínica mais baratinha, popular - e a atendente deveria ganhar algum pixulé com estas indicações.
Puxando o cartão do bolso, pôde ver que ali apenas constava um número de telefone celular e um título enigmático: “Personal Impregnator”.
De início, a julgar pelo cartão, Léo julgou que aquilo deveria ser um negócio fajuto desses que extorquem os clientes incautos a troco de nada, uma clínica clandestina onde as pessoas se arrependem de haver ido, e por isso não quis chamar. Contudo, quando chegou em casa encontrou Bia abatida, chorando baixinho na cama com o rosto enfiado nos travesseiros. Aquilo lhe encheu de culpa, estraçalhando seu coração em mil pedaços.
Escondido na varandinha do pequeno apartamento em que viviam, Léo tomou coragem em meio a sua desesperança, digitou os números do cartão no telefone e esperou pacientemente quase vinte toques até que uma voz masculina um tanto grossa e rouca respondeu do outro lado.
- Alô. Quem incomoda?
- Eh… Desculpe, mas é que me passaram esse telefone e…
- Quem te passou meu número? Quem é você? - Questionou a voz um tanto rude.
- Eu sou Leonardo Matosinhos, advogado - respondeu Léo, tentando se impor. - Recebi um cartão com esse telefone numa clínica de reprodução, mas acho que é um engano, sei lá.
- Qual era o nome da pessoa que lhe deu o cartão? Você lembra?
- Era uma tal de Belinda. Acho que esse era o nome no crachá.
- Belinda? Deixa eu ver… Ah, sei sim, a Belindinha, uma gostosa pequenininha dos peitões maneiros, não é? Legal, eu sei quem é. E qual é o seu problema, mano? Tu é broxa ou a tua porra é que não presta pra merda nenhuma?
- Hein? Como é que é? Broxa? Como assim? Aqui não tem nenhum broxa não, meu irmão! Em que tipo de clínica você trabalha? - Questionou Léo já ficando vermelho e nervoso com a petulância daquele homem.
- Clínica? - respondeu aquela voz entre risos altos. - Mano, acho que você não está entendendo. Eu sou tipo um freelancer, não trabalho em nenhuma clínica não. Eu sou o que diz aí no cartão que você recebeu.
- Personal Impregnator? Mas afinal, que porra é um Personal Impregnator?
- Eu sou um profissional da reprodução assistida, é isso. Trabalho com uma variedade de clientes que não conseguem ter filhos. Possuo os insumos e as técnicas mais avançadas e, se tua patroa tem um útero que anda ovula, eu garanto que vamos fazer ela pegar barriga.
- Pegar barriga? Olha isso está muito estranho, eu não estou gostando nada do seu jeito.
- E eu não estou nem aí para o que você pensa, seu “Leonardo advogado”. Quem tem um problema nos países baixos é você e eu tenho a solução, assim que eu falo do jeito que me der na telha, entendeu? - protestou a voz masculina, dessa vez ainda mais rude.
Nesse momento, através da porta de vidro da varandinha, Léo viu Bia passar só de pijama arrastando os pés pela sala até a cozinha americana, pegar um copo de água e ficar olhando pensativa para o vidrinho de antidepressivos, para em seguida recolher um, tomar e voltar para a cama. Aquilo estava piorando, era como se ele pudesse adivinhar os pensamentos da esposa ao olhar para o frasco de remédios e aquilo não era nada bom.
- Desculpe, meu caro, acho que nós começamos com o pé esquerdo seu… seu…. Como é que o senhor se chama mesmo?
- Mano, se eu quisesse que os outros soubessem meu nome, eu tinha posto no cartão, não é? Pode me chamar só de Impregnator, assim tá legal.
- Certo, certo. Seu Impregnator, você falou em insumos e técnicas avançadas de inseminação artificial. Como é que isso funciona, pode por favor esclarecer?
- Mas é claro, seu Leonardo advogado. Meus insumos são os melhores do mercado, foi comprovado cientificamente. Minha porra é grossa, espessa como se fosse baba de quiabo, fiz um exame disseram que eu tenho uma tal síndrome de hiperesparmatozoidia, ou seja, uma porra da boa. Além disso, meus nadadores parecem que são campeões olímpicos, os bichos nasceram para furar óvulo, é batata.
- Mas… mas… Você tá mesmo falando em usar o seu material genético para engravidar minha esposa? É isso?
- Mas é claro que sim! Eu tomo litros de cerveja preta já faz anos, isso fez da minha porra uma das melhores que existem, coisa fina - e é por isso que eu garanto que vamos embuchar a tua mulher. Ou você achou que eu ia usar essa babinha rala aí que tu produz?
- Você está passando dos limites! E como você sabe que a minha porra não é melhor que sua? Hein? Hein?
- Ora, meu caro, se tu não é broxa como disse, então é porque tua porra é uma verdadeira merda líquida!
- Humpft…
- Mano, não fica assim, isso é mais comum do que parece. Eu já atendi um monte de gente com esse problema. Vai por mim, vamos usar a minha porra e tudo vai dar certo.
- Olha, eu não sei, ainda tenho muitas dúvidas. Quanto é que custa, posso saber?
- Engravidar alguém doando a minha porra supervitaminada custa cincão, mano. Considero isso uma missão social, tipo a minha contribuição à humanidade, então cobro baratinho.
- Tá doido? Cinco mil por um potinho de porra?
- E quem falou que vai ser um potinho? Mano, quando eu gozo é uma coisa poderosa, entendeu? Eu praticamente sou um chafariz de sêmen, aposto que tua mulher nunca viu tanta porra assim na vida dela! Quer dizer, a menos que a patroa seja chegada numa suruba… Mas se fosse assim, ela provavelmente já teria engravidado, não é?
- Olha, seu Impregnator, você é muito desrespeitoso, está entendendo? Vamos parar por aqui, mesmo porque preciso conversar melhor com minha esposa sobre isso.
- Tá legal, seu Leonardo advogado, você é quem sabe. Se precisar dos meus préstamos, estamos aqui cheios de porra da boa para servir. Se não precisar, pode ir à merda que eu tô pouco me fudendo! - O homem disse rindo ao bater o telefone.
Léo dormiu mal à noite, repassando a conversa nada agradável que tivera com o Impregnator. A arrogância e a desfaçatez do homem ao telefone foram desmedidas, assim que o marido, apesar da situação deplorável em que se encontrava Bia, decidiu esquecer aquela história e pensar numa viagem ou coisa assim para superarem aquela crise que já se arrastava por meses sem fim.
Enfim, amanhã seria um novo dia - e a gente nunca sabe o que pode acontecer, não é?
CONTINUA, ESSA É A PARTE 1/3