Sou supervisor regional de uma rede nacional de lojas e franquias. Nesse cargo, acompanhei de perto a montagem, inauguração e primeiros passos de três filiais, numa determinada capital do Nordeste. Em função dos constantes contatos e encontros, ficamos amigos; os gerentes de cada estabelecimento: Lenita, uma mulher descolada, tagarela e simpática, já passou dos trinta e de alguns relacionamentos – ninguém sabe ao certo se ela está com alguém agora, ela é brincalhona e sempre dúbia em relação a isso e a sua vida sexual; Pedroca, gay extravagante, super descontraído, respira purpurina, muito inteligente, mantém a autoridade dos comandados com leveza, mas sem abrir mão de sua alegria; Janaína, ou Jana, é uma mulher trans, mais reservada, um pouco tímida, pouco sorri, veste-se elegantemente, de forma sóbria, casada (bem casada, realça sempre) e bem resolvida sexualmente (diz).
Periodicamente acontecem convenções regionais ou mesmo nacionais, em que supervisores e gerentes se encontram para troca de experiências e realinhamento de estratégias. O que quero enfocar aqui foi o primeiro com a participação dos três gerentes das novas lojas, por isso fui encarregado de acompanhá-los. Cidade linda, paradisíaca, natureza exuberante, hotel requintado. A regional anfitriã ofereceu a cada grupo uma delicada caixa de madeira, com exemplares de cachaças aromatizadas, produzidas na região. Depois do dia de trabalhos, reuniões e plenárias, combinamos (nós quatro) promover a experimentação do apetitoso presente, no meu apartamento.
Por volta das oito da noite, estávamos todos reunidos, distribuídos na ampla sala acarpetada, de acordo com o perfil de cada um: Pedroca e seus trejeitos e risadas exagerados, vestia uma ligada calça de lycra e uma blusa tomara-que-caia, de malha – esparramava-se pelo chão, apoiadas as costas no sofá, sobre o qual reinava, serena e compenetrada Jana, em seu elegante vestido prateado, brilhante. Lenita badalava, falando e rindo sem parar, enfiada em uma elegante bermuda de tecido e uma discreta blusa de malha preta, ocupava a outra ponta do sofá, enquanto eu me acomodava numa poltrona em frente ao grupo – eu era o de vestes mais despojadas (passara o dia todo metido em terno e engravatado). Ao lado, a tão ansiosamente esperada caixa de cachaças.
Enquanto falávamos sobre tudo e sobre nada de importante, ríamos e experimentávamos aquela boa camaradagem de colegas de trabalho, em que minha autoridade de supervisor ia aos poucos se diluindo nas sucessivas doses da aguardante de que nos servíamos continuamente – o álcool tem esse democrático poder de horizontalizar as verticalidades, além da conhecidíssima capacidade de soltar a língua e libertar as ousadias de seus usuários.
Lá pelas tantas doses, uns mais outros menos “altos” (Lenita parecia ser a mais resistente), não sei bem em que assunto estávamos, que Pedroca, em meio ao seu natural espalhafato (agora intensificado etilicamente), falou em desejos secretos e deu o exemplo, dizia que tinha um enorme de me beijar. Não me impactei, até porque eu de há muito olhava com inveja para aquela alegria e inteligência constantes, e sentia uma atração boa (ainda que platônica) pelo gerente gay. O álcool me fez rebater a bola imediatamente: “Não seja por isso!” – falei, sorrindo, e já me dirigindo a Pedroca, segurando-lhe no rosto e beijando avidamente sua boca (beijo de novela mesmo, só que nada técnico). Enquanto isso, Lenita grasnava, excitada, que também era filha de Deus e não aceitava ficar só olhando; Jana apenas observava, se remexia inquieta.
Após a deliciosa demonstração de afeto (como beija bem esse puto!), Pedroca extravasando sua libido, quase em transe, não voltei para minha poltrona, mas me coloquei entre as duas que estavam no sofá. Lenita não parava de falar e rir, agora tendo por tema o inusitado beijo que presenciara. Noutro rompante de coragem, virei-me enfaticamene para ela, peguei-a também pelo rosto e calei sua tagarelice com minha boca, que, de imediato, foi invadida pela ansiosa e lépida língua da mulher – e logo suas mãos caminhavam pelas minhas pernas e mesmo tocavam meu pau, por sobre a roupa, as minhas fazendo o mesmo caminho pelo seu corpo. Mas o beijo terminou e nos jogamos, extasiados sobre o amplo sofá, caras felizes de quem realizara reprimidas vontades.
Entretanto a minha mais recôndita vontade parecia inatingível. Em todo o tempo que nos conhecíamos, sempre me atraiu a misteriosa discrição de Jana. Como seria aquela mulher presa num corpo masculino? Como seria seu beijo? Como seria, no furor do sexo? Ela permanecia entre séria e serena, embora os movimentos involuntários do corpo denotassem sua agitação interior. Dirigi meu olhar lascivo e pidão para a trans, e antes que eu insinuasse ou dissesse qualquer coisa, ela foi dúbia, copo de cachaça molhando os lábios carnudos: “Ah, se eu não fosse casada!” Entendi que não poderia ser um simples e silencioso ataque, que mesmo com as várias doses de cachaça no cérebro, este mantinha-se dono e comandante rígido de seu corpo e de sua vontade. Era preciso parlamentar...
Foi Pedroca que iniciou a argumentação, com seu característico desbundamento: “A vida é uma só, mulher! Esta noite, estão valendo todas as emoções! Vivamos, querida!!!” E rodopiava pelo chão, feito um moleque. Lenita concordava com o colega, e acrescentava: “Além do mais o que acontece num apartamento de hotel, entre doses de cachaça, vai ficar por aqui! Ninguém precisa saber!” – ela própria procurava se resguardar, e, indiretamente, pedir a discrição dos demais membros do grupo.
Notando a evidente agitação de Jana, principalmente depois das palavras de incentivo dos colegas, senti que era minha vez de agir. Dirigi-lhe o olhar e a palavra, falando sério: “Eu sempre fui a fim de conhecer sua boca, Jana!” Meu coração disparava, esperando a reação: “Sabe do que mais, vocês têm razão! Não é por causa de uma convenção social besta que eu preciso sufocar meu desejo...” Falou e veio para mim, igualmente tomando meu rosto entre suas mãos e colando seus lábios aos meus. Pude então sentir todo o vigor daquela trans e a energia que emanava daquele corpo que tanto era reprimido.
Enquanto nos beijávamos freneticamente, por bem mais tempo que os outros dois (que bebiam novas doses, entre gritinhos e aplausos de aprovação), fui impulsionando meu corpo para a frente, avançando sobre o de Jana, que foi derreando sobre o confortável sofá, e o meu por cima dela. Eu largara sua boca e passava a língua em seu pescoço, arrepiando-a e fazendo-a gemer, enquanto involuntariamente ia abrindo as pernas, o vestido subindo coxas acima.
Minha mão desceu por baixo do tecido, e, ignorando completamente os outros dois que ali estavam, encontrei um volume pronunciado e rígido sob a roupa, que passei a acariciar, terminando por libertar o falo, punhetando-o suavemente: os gemidos de Jana avolumavam-se; fui cautelosamente levantando sua roupa e em seguida caindo de boca numa vara tesa linda e grossa, pulsante dentro da minha mão, que a envolvera. Ao sugá-la, o corpo da gerente sacudia-se e se rebolava sinuosamente, buscando aproveitar aquela carícia ao máximo. Lenita e Pedroca já eram plateia atenta ao espetáculo, cada um já se acariciando discretamente (em pouco tempo, não mais tão discretos), enquanto eu descia minha calça e me fazia nu, para, em seguida, subir ao colo de Jana e, aos poucos, sentar na sua pica. Senti seu cacete invadindo minhas carnes, sob meu cuidadoso comando, e, uma vez plenamente acomodado, passei a cavalgar freneticamente, meu próprio falo apontado e vibrando à frente; Jana, finalmente liberta de sua sisudez, diluía-se em pornofonias escabrosas e gemidos insanos.
Pedroca, a essa altura já totalmente despido, enfiou-se entre eu e Jana, catou minha rola e passou a sugá-la avidamente, enquanto se masturbava sensualmente. Outro corpo nu, o de Lenita, passou por sobre o recosto do sofá, e catou a boca de Jana, beijando-a com ardor, enquanto seus seios balançavam-se a minha frente, a exigir-me carinhos – no que foram de imediato atendidos.
Eu estava a ponto de gozar na boca de Pedroca, mas queria prolongar esse momento, principalmente porque a buceta de Lenita, pingando de encharcada, me deixava à beira do desespero. Então desentalei meu cu da rola de Jana, o que fez com que os companheiros de foda se rearrumassem, e sem que ninguém falasse nada, o quadro se recompôs. Lenita, agora de joelhos, entre as pernas de Jana, sugava seu pau com avidez, siriricando-se com competência e empinando a bunda pra mim, que penetrava sua xoxota quente, com firme suavidade, quando senti a rola de Pedroca enfiando-se lépida no meu buraquinho, alargado pela recente presença de Jana dentro dele.
Assim sincronizamos nossos movimentos, e entre gemidos e palavrões, Jana foi a primeira a esturrar um gozo fenomenal na boca de Lenita, que também gozava malabaristicamente em seus próprios dedos; em seguida, senti os raios de prazer chegarem ao meu pau, que retirei da buceta e deixei-o regar em profusão as amplas nádegas da mulher, enquanto sentia com nitidez as explosões e os jatos de Pedroca em meu interior.
Quatro corpos nus, ofegantes, suados e melecados, pairavam sobre o sofá. Quando reunimos as forças, dirigimo-nos ao banheiro, os quatro, meio que agarrados uns aos outros, para mútua sustentação, e nos precipitamos sob a ampla e quente ducha que caía sobre nossos corpos ainda sensíveis a toques e carícias. Lavavamo-nos mutuamente, com um carinho imenso, que só competia com a intensidade do prazer que sentíamos.
Os demais apartamentos não foram usados naquela pernoite.