Antonio chegou no meu apartamento, que alugo partilhado com nudistas como eu, chegou com um desejo enorme de libertar seus desejos, trancados a sete chaves dentro da sua patológica timidez. Entre suas mais fortes vontades estava a de praticar o nudismo social. Entrou em contato, veio e foi meio complicado no começo, para ele se sentir confortável. Mas, no tempo dele, aos trancos e barrancos, terminou conseguindo tirar a roupa. Depois, alguns copos de cerveja e um clima propício, e Antonio avançou um pouco mais nos seus desejos: excitou-se, desejou-me e me fodeu várias vezes. Mas não se permitia ser fodido. Respeitei seu tempo. E o sábado passou assim, ele se soltando, mas ainda não soltando a rodinha.
À noite, saí, fui dar uma volta pela cidade. Até o convidei para ir junto, mas ele preferiu ficar em casa. Estrategicamente, deixei o computador em alguns sites pornôs gays. Quem sabe ele se animava? Eu queria comer aquele branquelo...
Dei uma volta por alguns bares que já conhecia, nenhum me apetecia parar e entrar. Maldita música ao vivo, que coloca o som numa altura que obrigava os clientes a ficarem gritando para se fazerem ouvidos por quem está ao seu lado. Já estava desistindo quando encontrei um com voz e violão mesmo, sem som estridente. E o cara tocava bossa nova – por si, um ritmo já tranquilo. Entrei, bebi, curti a música.
Pensava em “fechar a conta e passar a régua”, quando adentrou ao ambiente uma amiga de alguns anos, que eu nunca mais encontrara. Estava belíssima em sensual decote, que me monopolizou a atenção. Acompanhava um casal, que me apresentou: a irmã e o namorado. “E eu de vela!”, completou sorrindo. “Não seja por isso, estou aqui também sozinho!” – cantei brincando, entendeu a sério. Aceitou. Sentou. Enquanto o casalzinho se aninhava em alguma escondida penumbra, Márcia pediu um drinque, eu outro, e ficamos bebericando, atualizando-nos e com João Gilberto ao fundo.
Mais doses, mais conversas, mais risos, eventuais toques, mais de uma vez flagrara-lhe o bico do seio... Nara nos envolvendo... Não sei bem como rolou, quando dei por mim estávamos pendurados na boca um do outro, nossas mãos atrevidas até o ponto possível do ambiente público: tanto ela me sentia duraço quanto eu a sentia encharcada. Mas eis que a irmã e o namorado brotam do interior do barzinho, pondo fim àquela pequena e deliciosa amostra grátis de foda: precisavam ir. “Que pena!” “Precisamos marcar...” “Deixa eu colocar meu número...” Um abraço apertadinho e demorado, e fiquei novamente sozinho – só que agora excitado a mil.
Ao relaxar um pouco a rola, recolhi o dinheiro que ela fizera questão de deixar para pagar a parte dela na despesa (“Não ouse ser machista comigo!” – disse, no meio de um riso muito sério), chamei o garçom e, agora sim, dei por encerrada a noite.
Enquanto dirigia, com redobrado cuidado e me cagando de medo de uma blitz no caminho, meu corpo pinicava de tesão. Se a estratégia do computador deu certo, vou foder aquele branquinho neste final de noite. Márcia me deixara em ponto de bala.
Frustração, no entanto: ao entrar em casa, Antonio dormia, a sono solto, estatelado, em sua cama de hóspede, descoberto, nu e com o cu pra cima, arreganhado, pedindo rola. [Naturalmente, o leitor está torcendo para ler o lugar comum do cara excitado que começa a acariciar o companheiro dormindo e o fode completamente, sem que ele acorde. Sinto decepcioná-lo. Não houve nada disso – embora vontade não me faltasse, e minha pica estivesse em ponto de bala. Se o acordasse acariciando-o, ele poderia se assustar, trancar o cu e aí “nem mel, nem cera, nem samurá”...] Sorri amarelo, dei de ombros e fui para meu quarto. Uma ducha rápida para me refrescar (e tentar baixar o fogaréu) e afoguei o rosto no fofo dos meus lençois, sonhando acordado, dormindo e sonhando de novo com bucetas e cus.
Um brincalhão mas tímido raio de sol me acariciando a testa me trouxe para o domingo. Acordei de pau duro, claro, que a manhã se mostrava uma tentação. Além do mais, eu ouvia a barulho da água do banho de Antonio, em seu banheiro. “Será que ele ainda me come hoje?” Eu ansiava por mais pica. Demorei-me um pouco mais no banho, desta vez: queria me sentir gostoso, como só uma ducha matinal demorada pode proporcionar.
Ao voltar para o quarto, cacete ainda duro e o corpo úmido de tesão, eis que me deparo com Antonio deitado na minha cama, de bruços, pernas abertas, folheando um livro que eu estava lendo. A cabeça de sua rola dura aparecia por baixo de seu corpo, voltada para trás. Ao me sentir entrando, movimentou-se (um semblante maroto, inédito para mim), sentou-se e me aguardou. Debrucei-me sobre ele e nos beijamos intensamente, enquanto ele tomava conta de minha rola, como fizera no dia anterior e a punhetava delicadamente.
Quando comecei a também acariciar seu pau, ele desligou-se da minha boca, foi roçando pelo meu pescoço, peito, mamilos, barriga (arrepiando-me até a alma), chegando a minha rola, que abocanhou suavemente e passou a sugar com um cuidado e uma delicadeza que quase me fez gozar. Sonoras chupadas e gemidos voluptuosos ressoavam no quarto. Pela primeira vez me sentia tomado pela boca enlouquecedora de meu inquilino.
Então voltou a deitar-se na posição de antes, abriu as pernas e me convidou, só com os olhos. A dureza do meu pau parecia redobrada, ao se depositar sobre o buraquinho que se abria diante de mim. Reconheci-o lambuzado de creme e entendi completamente o que me aguardava. A cabeça da minha rola fez uma leve pressão em seu cu e foi entrando bem devagar. De vez em quando ele pinotava, eu parava, esperava, retomava a penetração... e assim foi até que estava completamente dentro dele.
Iniciei suaves movimentos de vai-vem, ritmados pelos seus suspiros de prazer. E de suspiros se tornaram ganidos e daí a grunhidos, que viravam palavras de tesão, frases de sacanagem, ordens de comê-lo mais e mais. Rebolava cadelamente os quadris, como poucos que conheci na minha devassa vida. A timidez, definitivamente, desaparecera por completo. E naquele clima, mais as lembranças lúbricas da noite anterior, aquele cu besuntado fazendo barulho de buceta encharcada, explodi em delírio, aos intensos jatos há tanto tempo guardados. Eu urrava do mais intenso prazer, sentindo o macio de suas nádegas e o quente de suas costas sob meu peito.
Após o fenomenal orgasmo, tombei ao lado daquele corpo delicioso, arfando, trouxe-o para bem junto de mim, e nos beijamos com frenesi, apertando-nos em um abraço que parecia querer nos fazer um só corpo. E no bem-bom da manhã fria chegante (o raio de sol se recolhera e o chumbo do céu anunciava aguaceiro para breve), adormecemos abraçados por um bom tempo, até sermos acordados pelo toró caindo lá fora.
Nova ducha, novamente ele me comeu (insaciável, o puto!), nos enxugamos e fomos descobrir, na cozinha, o que havia para aliviar nossa fome de alimento, porque eroticamente estávamos razoavelmente saciados.
Ainda transamos algumas vezes naquele domingo. Abstenho-me dos detalhes, para não ser repetitivo – embora sempre rolassem inovações. Mas o dia declinava para a tarde, a estadia exigia check-out e ele precisava viajar. Sobre o que rolara naquele domingo, nenhuma palavra. Não tenho ideia de o que detonou sua timidez e o fez querer ser fodido – os vídeos do computador talvez... não sei... nunca saberei, porque nunca mais o vi, depois que abri o portão e ele entrou no Uber.