Júlio ajeitava o capuz do moletom enquanto encarava o imponente edifício da nova Universidade de Ciências Comportamentais. O convite que recebera prometia um pagamento generoso por sua participação em um "projeto de pesquisa inovador". Para alguém como ele, com contas acumuladas e poucas opções, era uma chance que não podia recusar.
Ao entrar no saguão de mármore impecável, foi recebido por uma jovem mulher vestida com um jaleco branco, com um sorriso profissional que não revelava nada além de cordialidade.
— Júlio, certo? Por favor, siga-me. Estamos ansiosos por sua contribuição — disse ela, conduzindo-o por um corredor silencioso.
Eles chegaram a uma sala de reunião iluminada por luzes suaves. Havia outros jovens ali, todos nervosos, como ele. Júlio notou que os olhares deles evitavam se cruzar, mas algo nos gestos, um leve cruzar de pernas aqui, um braço repousando de forma delicada ali, chamava sua atenção. Ele não soube dizer por quê.
No centro da sala, uma mulher elegante estava posicionada. Ela tinha uma presença magnética. Vestia-se em um terno perfeitamente ajustado, mas sua maquiagem impecável e os lábios vermelhos contrastavam com a formalidade de sua postura. Ao vê-la, Júlio sentiu um arrepio que não conseguiu explicar. Era como se aquela mulher pudesse enxergar através dele.
— Sejam bem-vindos ao programa. Vocês devem estar curiosos sobre o que faremos aqui — ela começou, com um sorriso intrigante. — O estudo que estamos conduzindo é único no mundo. Vamos explorar os limites da transformação física, psicológica e emocional. Vocês serão desafiados a experimentar algo que poucos têm a coragem de aceitar.
Ela fez uma pausa estratégica, olhando para cada um dos presentes.
— O objetivo é simples: descobrir como é possível transcender as barreiras do gênero e abraçar uma identidade completamente nova. Aqui, vocês aprenderão a serem delicadas, femininas e, acima de tudo, submissas.
Júlio sentiu o ar desaparecer por um momento. As palavras ecoaram em sua mente. Ele abriu a boca para perguntar, mas a mulher continuou, como se esperasse a reação.
— Antes de continuar, quero deixar claro: a escolha é sua. Se decidirem seguir, estarão aceitando um treinamento rigoroso, composto por aulas de postura, etiqueta, estética, e... sim, algumas lições mais íntimas. Mas o resultado será extraordinário. Vocês não serão mais os mesmos.
Um silêncio pesado tomou conta da sala. Júlio viu um dos rapazes levantar e sair sem olhar para trás. Outros ficaram paralisados, mas não se moveram. Ele sentiu uma mistura de fascínio e pavor. Algo em suas palavras o atraía, como um chamado que ele não podia ignorar.
— E então, quem fica? — perguntou a mulher, com um olhar quase desafiador.
Júlio respirou fundo. Seus olhos vagaram pela sala. A promessa de pagamento passava pela sua mente, mas havia algo mais. Ele era bissexual, sabia que havia algo em sua sexualidade que ainda não compreendia totalmente, algo que o fazia questionar os limites que a sociedade lhe impunha.
— Eu fico — disse ele, com a voz firme, mas com as mãos suando.
A mulher sorriu, desta vez com um brilho quase predatório no olhar.
— Excelente. Bem-vindo ao primeiro passo da sua transformação, Júlio. Ou devo começar a chamá-lo de Giulia?
Ele sentiu o coração acelerar. Não sabia o que esperar, mas sabia que não havia mais volta.
