Júlio mal teve tempo de processar a revelação inicial antes de ser conduzido a um corredor iluminado por luzes neon, que tingiam as paredes brancas com um brilho suave. À medida que avançava, ele ouvia o eco de saltos ressoando no piso liso. Seu guia era uma mulher que exalava autoridade e sensualidade: botas de couro, um corpete de látex preto perfeitamente ajustado e um colar choker cravejado com detalhes metálicos. O contraste entre o ambiente clínico e sua figura era perturbador e... inegavelmente excitante.
— Bem-vindo ao seu primeiro dia, Júlio — disse ela, com um sorriso enigmático. — Ou devo dizer... Giulia? É assim que você será chamado a partir de agora. Cada detalhe da sua antiga vida ficará do lado de fora dessa porta.
Júlio tentou protestar, mas antes que pudesse dizer qualquer coisa, a porta se abriu para revelar uma sala ampla, repleta de espelhos, manequins vestidos com lingeries elaboradas, e prateleiras repletas de perucas, maquiagens e frascos rotulados com nomes que ele não reconhecia. No centro, havia duas mesas cobertas por tecidos de cetim, onde outros participantes já estavam sentados, visivelmente nervosos.
— Sentem-se. Hoje, vocês aprenderão o básico: como se transformar visualmente. Não se preocupem, temos todo o tempo do mundo para ensinar o resto — disse a mulher, com um sorriso travesso, enquanto colocava luvas de látex que estalavam no ar.
Júlio obedeceu, incapaz de desviar o olhar das instrutoras que circulavam a sala. Todas vestiam versões diferentes daquele mesmo estilo ousado e provocativo: saias apertadas, decotes profundos e saltos altíssimos. Elas carregavam um ar de domínio, mas havia algo quase hipnótico em seus movimentos. Cada gesto parecia calculado para confundir e fascinar.
Uma delas se aproximou de Júlio, segurando um kit de maquiagem.
— Vamos começar com o básico, querida — disse, inclinando-se perto demais, de forma intencional. Sua voz era doce, mas carregava um tom imperioso. — Primer, base, corretivo... Tudo que você precisa para esconder qualquer traço masculino.
As mãos dela começaram a trabalhar em seu rosto, enquanto ele encarava seu reflexo no espelho. Cada pincelada parecia apagar um pedaço de quem ele era, substituindo-o por algo novo. Algo que ele não reconhecia, mas que, estranhamente, não queria rejeitar.
Enquanto isso, em outro canto da sala, uma segunda instrutora segurava um vestido de seda vermelha e uma cinta-liga preta.
— Esta será a sua roupa hoje, Giulia. Vamos ver como você se sente ao entrar em algo mais adequado à sua nova persona.
— Eu não sei se... — começou ele, mas foi interrompido por um toque firme no ombro.
— Não há espaço para dúvidas aqui. Confie em nós. Vamos guiá-lo. Agora, tire tudo e vista isso — disse ela, entregando-lhe o conjunto com um olhar firme.
Júlio hesitou, mas o olhar de expectativa das outras pessoas na sala e a atmosfera carregada de autoridade o fizeram obedecer. Quando vestiu as peças, sentiu o tecido macio contra sua pele, misturado a um frio na espinha que era ao mesmo tempo desconfortável e excitante.
As instrutoras o cercaram, ajustando a roupa, corrigindo detalhes, enquanto uma delas soltou um comentário provocador.
— Você está começando a se sentir bonita, não está? Aposto que, no fundo, sempre quis explorar esse lado...
Ele tentou responder, mas sua voz falhou. O reflexo no espelho mostrava alguém que ele mal reconhecia. Os sapatos de salto alto pareciam um desafio impossível, mas as instrutoras insistiram até que ele conseguisse se equilibrar, rindo baixinho das suas tentativas desajeitadas.
Por fim, o último passo do dia foi a depilação. Ele foi levado a outra sala, onde uma instrutora explicou o processo enquanto ajustava as luvas.
— A feminilidade exige sacrifícios, querida. Mas prometo que o resultado será impecável. Você vai se sentir... liberto.
Os toques eram firmes, mas cuidadosos, e Júlio não pôde deixar de perceber o tom provocador em cada palavra.
Quando o dia terminou, ele estava exausto, física e emocionalmente. De volta ao dormitório temporário onde ficariam alojados, ele se sentou na cama, encarando suas mãos e tentando entender o que estava sentindo. Havia medo, vergonha, mas também uma excitação inegável, algo que ele não podia mais negar. Pela primeira vez, ele se perguntou se havia, de fato, uma Giulia esperando para emergir dentro dele.