A praça já está começando a lotar, tem uma banda de forró no palco, essa noite de acordo com a programação vai ter piseiro e forró, tendo até uns cantores bem conhecidos, isso por si só animou bastante nossos amigos, menos o Dan, esse claramente só está aqui por causa do Ciço, mas namorado é isso né, conceções.
Demos sorte de encontrar um lugar para estacionar que é perto da praça, dá para curtir sem precisar ficar no meio de todo mundo, hoje também estamos todos meio que sóbrios, eu mesmo bebi pouco hoje a tarde, Ciço nem encostou em nada com álcool e Guigo também quase não tomou nada assim como eu.
— Vamos comprar alguma coisa para tomar? — Dan pergunta.
— Vou pegar uns refris para gente — diz Ciço.
— Vou com vocês, quero comprar uma caipirinha — Guigo e suas caipirinhas.
— Então vamos todos — digo.
— Eu fico por aqui esperando vocês — Dan detesta está no meio de multidões, desde novo ele já era meio anti social.
— Certo amor, já voltamos — Ciço o beija como se fosse uma despedida, eles são muito melosos.
Assim vamos só nós três mesmo, André e Mário ficaram de vim com um pessoal que conheceram e as meninas estão vindo com Bia e Caio, então Daniel acaba ficando sozinho no carro nos esperando, mas não vamos demorar então não tem problema, Ciço comprou os refrigerantes dele e do Dan, ainda pagou uma caipiroska para mim, Guigo comprou sua caipirinha, enquanto nossas bebidas ficam prontas Ciço aproveitou para comprar milho cozido.
— Você está bem? — Guigo me pergunta.
— Estou, a gente não teve muito tempo para se falar hoje — digo.
— Pois tem muita gente por perto, mas estamos bem né? — Ele pergunta ainda com uma certa preocupação.
— Estamos sim, eu me comportei feito um idiota ontem, sinto muito é que — antes que eu termine de falar André e Mario se aproximam de nós.
Perto do pessoal não temos muito como terminar nossa conversa, para variar quando voltamos para o carro as meninas já chegaram e Tati ainda está marcando colado em cima do Guigo, mesmo que agora ele tenha colocado um pouco mais de limite nas interações deles, acredito que ela ainda está nutrindo esperanças, sinto muito por ela ao mesmo tempo que quero arrancar suas mãos de cima dele.
— Não vai beber Ciço? — Bia pergunta, deixando Caio com uma cara de bunda, tipo por ele não tínhamos nem vindo nessa viagem pelo jeito.
— Hoje não, o Danny boy veio então vou me comportar — ele diz deixando Dan com vergonha.
Um cantor de piseiro famoso acabou de subir no palco levando a praça a loucura, o pessoal aqui gosta mesmo de festa, só que na primeira música me vejo entre um mar de casais, Dan e Ciço, Bia e Caio, Mário que do nada começou a ficar com Mari, André está pegando a Ka, não entendo mais nada esses dois amigos dividem até as mulheres com quem eles ficam.
Mesmo que Tati e Guigo não sejam um casal para todos ali ainda rola algo entre eles — inclusive na cabeça dela — então para não ficar sobrando aviso que vou curtir o show mais perto do palco e sigo meu caminho sozinho e sem olhar para trás, deixando de segurar essas milhões de velas, queria está curtindo com Guigo, mas foi minha culpa estarmos nessa situação, se eu não fosse tão orgulhoso poderia ter aceitado ter algo com ele e mesmo que não pudéssemos nos pegar em público como Dan e seu namorado, pelo menos não teria que ver Tati pendurada nele o tempo todo.
Pelo menos minha raiva está sob controle, sei que a culpa disso tudo é minha, Rick costumava dizer que o primeiro passo sempre era entender o que está dando merda, para daí tentar consertar, sinto falta da sua sabedoria desbalanceada — estou rindo sozinho agora lembrando dos concelhos de velho que ele sempre tinha para me dar.
Estou perdido em meus pensamentos ao som de Se não fosse tão tarde em uma versão de piseiro quando sinto uma mão no meu ombro, quando me viro vejo Guigo, ele parece leve, nos encaramos por um tempo, nenhuma palavra precisa ser dita, ele resolveu as coisas com a Tati, ainda tenho medo de que ela descubra que talariquei ela, mas não consigo mais mentir e dizer que não quero ficar com esse moleque.
— Disse a ela que estou apaixonado por outra pessoa — ele diz finalmente.
— E você sabe se essa pessoa também está apaixonada por você? — Pergunto.
— Olha, espero que sim, porque não consigo mais pensar em outra coisa — ele diz com um sorriso safado.
— Se essa pessoa não te der o devido valor você me avisa — digo.
— E você vai fazer o que? — Guigo se aproxima encurtando a distância entre nós.
— Vou ser obrigado a talaricar esse trouxa também — ele tem um magnetismo muito forte, cada parte dele me atraia.
Minha respiração está ofegante só por está perto dele, queria não está tão exposto para poder pular em cima dele, tenho que beijar esse cara agora, então sem pensar muito seguro seu braço e o puxo para um lugar mais tranquilo, ele me segue sem objeção, deve está pensando o mesmo que eu.
O lugar mais tranquilo e longe de olhares curiosos que encontramos é por trás dos banheiros químicos, não é como se fosse dá para transar aqui, mas posso matar minha saudade da boca dele e ele também estava com saudades pois bastou ficarmos escondidos para ele me puxou pros seus braços e colar sua boca na minha, nossas línguas sentindo uma a outra, seus lábios são macios com gosto das caipirinhas que ele tomou.
Estou fazendo cafuné nele enquanto nos beijamos, suas mãos estão envolta do meu corpo me segurando com força, nosso beijo tira meu fôlego, mesmo assim não consigo separar nossas bocas, estou guardado nele de tal forma que consigo sentir sua ereção contra a minha, quando ele chupa meu labio inferior parece que vou gozar de tanto tesão que estou sentindo, ele é um predador, cada movimento seu é calculado para me deixar ainda mais entregue a ele, feito uma presa submissa.
Além do paredão de banheiros químicos nos escondendo, estamos escorados numa árvore e no escuro, mesmo as poucas pessoas que estão por perto não podem nos reconhecer, isso me deixa mais livre para curtir sem medo, Guigo me beija com urgência, um calor percorrer nossos corpos e até quando paramos para recuperar o ar nossas bocas não ficam mais do que centímetros uma da outra.
— Senti tanta sua falta — ele diz com a respiração ofegante.
— Também senti — minha resposta o deixa ainda mais animado, sinto seu pau pulsar de tanto tesão — você é muito safado.
— Você me deixa assim.
— Deixo? — Pergunto com uma das minhas mãos entrando em sua calça.
Sinto seu membro quente e pulsante em minha mão, faço movimentos lentos e leves o massageando, Guigo fecha os olhos se deixando levar, meus olhos estão cravados nele, algo nele parece ainda mais atraente, pequenos gemidos escapam entre seus dentes, não consigo resistir, beijo sua boca com muito desejo e no momento em que nossos lábios se encontram sinto seu pau pulsar e ficar ainda mais duro na minha mão.
— QUE PORRA É ESSA? — Tomo um susto com um bêbado gritando com a gente.
Guigo volta do transe de repente, o cara avança na nossa direção, mas antes que possa encostar no Guigo eu o empurro com toda minha força o fazendo cair, meu coração acelera, esse merda queria avançar na gente sem termos feito nada, isso me inflama de raiva, mas Guigo me puxa para longe dele, porém o bêbado está gritando ofensas para gente, para piorar seus amigos chegam onde estamos e quando o veem no chão um dos cara rapidamente saca uma arma e tenta acertar Guigo com uma coronhada, mas me meto na frente recebendo o golpe certeiro na minha cabeça.
Os caras nos cercam, um deles me chuta, então outro acerta um soco no Guigo, estou sentindo uma fúria crescer dentro de mim, mas a porrada na cabeça me deixou tonto, mal consigo levantar a cabeça, acho até que cortou pois estou sentindo um gosto de ferro na boca e meu rosto parece molhado, estou meio desnorteado, mesmo assim avançou para cima do cara armado para que ele não bata no Guigo.
Não sei em que momento meus amigos chegaram, mas quando vejo André e Maria entrando na briga isso me dá um gás para continuar, quando os filhos da putam percebem que vão levar um pau nosso — até o Ciço e o Caio estão na briga — o que está armado atira conta a gente, mais por sorte ele não acerta ninguém, ainda sim isso é mais do que suficiente para nos fazer recuar com pressa assim como outras pessoas que estavam no local, de repente escuto outro tiro, ao meu corpo simplesmente para de responder, minha vista está ficando turva.
Ainda bem que Guigo está do meu lado, ele me guia até o carro do Ciço, até tira a camisa para por na minha testa a fim de parar o sangramento, meu corpo está gelado, minha pressão deve está em queda, tenho pressão baixa e ultimamente tenho tido muitas crises, ainda bem que nenhum de nós estava bebendo como nos dias anteriores e principalmente estou agradecido por aquele tiro não ter pego em ninguém.
Guigo, Ciço e Dan está todos falando ao mesmo tempo no carro, mas suas vozes soam distantes e difíceis de entender, só consigo entender a parte em que Dan diz que estamos indo para UPA que é basicamente um pronto socorro, não demora muito até chegarmos no local, Ciço e Dan ficam para trás e Guigo entra comigo.
— Moça a cabeça dele está sangrando — Guigo diz para a recepcionista — ele levou uma pancada muito forte na cabeça moça, por favor ajuda ele.
— Calma, ele está consciente? — Ela pergunta.
— Ele reclamou de está tonto, por favor — ele pede mais uma vez.
A enfermeira pede para que ele tire a toalha da minha testa para ver o corte e isso é o bastante para me conseguir uma pulseira de urgência, como ele também levou alguns golpes, também vai precisar de atendimento, então a enfermeira me leva para ver o médico direto enquanto ele fica na recepção para passar pela triagem e cuidar dos seus machucados.
O médico suturou meu corte, durante o processo ele me fez algumas perguntas para verificar se estou consciente e como aqui não tem os equipamentos para um exame mais preciso ele só me receitou remédio para dor de cabeça e pra pressão que de fato está muito baixa, além disso me disse que caso sinta qualquer um dos sintomas listados por ele devo procurar atendimento urgentemente.
Guigo pode ficar comigo enquanto tomo remédio no soro, graças a Deus, ele aproveita para me avisar que nossos amigos estão bem, aparentemente não tiveram vítimas dos tiros que o cara deu na praça, isso tudo é uma grande loucura, ainda bem mesmo que nenhum de nós tomou aquele tiro, não quero nem pensar no que faria se tivesse acertado o Guigo, ou até mesmo se tivesse me acertado.
— Olha compramos para vocês — Dan me entrega o meu e depois do Guigo, mesmo enjoado estou morrendo de fome então como em silêncio no banco de trás do carro.
— Galera, eu fiz uma reserva numa pousada perto da praia, não tinha mais dois quartos, mas tem um colchão de solteiro no quarto além do de casal e sofá cama — Ciço diz de forma solícita.
— Cara valeu, não tava mesmo nenhum pouco animado para voltar para casa hoje — Guigo o agradece.
— Tranquilo, vocês vão gostar do lugar, amanhã a gente amanhece na praia , vai ser bom — Ciço completa.
— Tudo bem por ti Raylan — Dan me pergunta.
— Tudo certo — digo.
No caminho da pousada Dan lembra que preciso comprar umas coisas na farmácia para comprar o remédio que o médico passou e também as coisas para fazer um novo curativo se for preciso, quando paramos em frente a farmácia Guigo diz que vai comigo, sua camisa está suja com meu sangue, estraguei sua camisa, tenho que lembrar de dar uma nova para ele depois.
— Você ainda está com fome? — Ele pergunta quando entramos.
— Um pouco — digo.
— Vou pegar uns chocolates para gente — ele diz.
— Pode pegar um suco ou uma água, o remédio me deixou com sede — digo e ele faz que sim com a cabeça.
Aproveito que ele saiu de perto de mim para procurar o contato do meu pai no telefone, tenho que pedir dinheiro a ele para comprar os remédios, mas Dan me mandou mensagem antes que consigo falar com ele, justamente para me oferecer dinheiro para comprar os remidos, até penso em não aceitar, mas é mais fácil lidar com ele e se meu pai avisar minha mãe ela vai ficar maluca enquanto não chegar em casa.
Enquanto pego o remédio e as cosias para o curativo Dan me encontrar e vai comigo para o caixa, com umas coisas suas também, só que ele está com o cartão do Ciço, isso me deixa um pouco envergonhado, mas não estou em posição de reclamar de nada hoje, todos estão me dando muita força, Guigo estragou uma camisa por minha causa e Ciço fico com Dan por mais de uma hora nos esperando na UPA.
— Eu vou te pagar — digo depois que ele passa o cartão.
— Fica tranquilo Raylan, deixa que me acerto com Ciço depois.
— Cadê as coisas do Ray, eu passo junto com o meu — Guigo diz ao me ver sem nada nas mãos.
— Já passei — digo para tranquilizá-lo.
— Certo, me diz depois quanto foi que eu te dou — ele insiste e Dan começa nos encarar, isso me deixa nervoso, então respondo sem pensar.
— Ja falei que não quero nada de você Guigo, porra — ele parece chateado e me odeio por isso, não queria ser tão instavel assim.
— Não leva muito a sério não Guilherme, o Raylan é meio babaca as vezes, mas é só o orgulho dele por está com ego ferido — Dan diz me repreendendo com os olhos.
— Tô de boas Dan e cara pode me chamar de Guigo, meus amigos me chamam assim — ele diz com um sorriso amigável.
— Não vejo o pessoal da sala te chamando assim — Dan questiona.
— A galera são meus amigos da facul, eles me chamam de Gui, só que meus amigos para além da faculdade me chamam de Guigo — ele diz olhando para mim, pois já o chamo de Guigo há um tempo.
— Tá certo então Guigo — Dan diz sorrindo por ter feito um novo amigo.
. Já na pousada Ciço pega o colchão de solteiro e coloca na sala para gente, também ajuda Guigo a armar o sofá cama, Dan ajuda trazendo o ventilador do quarto, mas com a porta da varanda aberta acho que não vai fazer tanto calor assim, pelo menos é o que espero, quando terminamos de preparar a sala para dormir, Dan e Ciço vão para o banho, segundo eles para poupar tempo.
— Só não vão se comer no banheiro porque ainda vamos usar depois de vocês — digo, mas os safados só acharam graça do que falei.
— Aqui — Guigo me entrega uma escova de dentes lacrada.
— Obrigado — digo com vergonha de ter sido grosso com ele na farmácia — desculpa.
— Ray, você precisa relaxar e baixar a guarda, Ciço e Dan são namorados, você acha mesmo que eles não iam entender a gente?
— Não é deles que tenho medo — digo.
— Então de quem é?
— Não quero falar sobre isso — digo desviando o olhar e agora parece que consegui, Guigo está chateado comigo de verdade dessa vez.
Guigo vai para varanda e fica por todos já terem tomado seus banhos, quando volto tem suco e chocolate para mim, ele só vai para o banheiro sem dizer nada, ele está puto comigo e com razão, pois não é obrigado a lidar com minhas mudanças de humor, sinto que se não fizer nada vou perdê-lo, quando voltarmos para casa ele vai seguir seu caminho e eu o meu.
— Era isso que você queria Raylan, parabéns — digo sozinho abrindo meu chocolate, umas lágrimas escorrem pelo meu rosto, mas a enxugo para que ele não me veja chorando quando voltar do banheiro.
Ele volta me dar um boa noite e vai deitar na rede que tem na varanda, estou pensando em como estraguei tudo, Guigo ficou do meu lado, sendo paciente esse tempo todo e eu o afastei, sou o maior idiota do mundo, mas ele vai ficar melhor sim mim, então melhor deixa-lo quieto, afinal já sabia que esse dia chegaria, vou sofrer um pouco, mas ele vai ficar bem.
O tempo vai passando, mas o sono não vem, não consigo parar de pensar no quanto é ruim está tão perto do Guigo e tão distante ao mesmo tempo, ele nem pediu nada de mais, ele só queria que me abrisse com ele, mas só lhe tratei mal a viagem toda, ele não queria vir como solteiro para essa viagem, sabia que ele terminaria comigo mais cedo ou mais tarde, porém parando para pensar tudo que aconteceu foi causado por mim, direta ou indiretamente.
— Sou um idiota — digo comigo mesmo em voz baixa, depois levanto e vou até a rede em que ele está deitado — Esta acordado?
Ele abre espaço para que me deite com ele na rede, meu coração bate com um pouco mais de esperança, quase consigo ouvir Rick me mandando deixar de ser um otário e esse Rick da minha cabeça está certo, preciso dar um passo na direção do Guigo, ou a distância entre a gente só vai crescer mais e mais.
— Quando era moleque matei aula um dia para jogar videogame, pelo menos era o que eu queria, mas o Dan sempre foi esse certinho chato e convenceu o Rick a ficar para aula, fiquei tão puto com meu amigo, ele sempre fazia o que o Dan pedia, isso era um pé no saco — começo a me abrir e ele fica em silêncio apenas me ouvindo — nesse dia resolvi que iria matar aula nem que fosse sozinho, ai pulei o muro da escola e fui para casa, minha mãe já era doméstica na época e meu pai também passava o dia no trabalho, então era de boa ir para casa.
Mesmo estando só no início preciso fazer uma pausa para respirar fundo, Guigo notou que essa história é difícil para mim então ele me abraça e beija minha testa, acho que ele começou a entender que me abrir não é tão simples assim.
— Não precisa falar se não quiser — ele diz.
— Eu quero — digo — as vizinhas sempre foram fofoqueiras, então tive que entrar em casa bem de mansinho para não ser visto e talvez esse tenha sido meu erro, logo da sala ouvi um barulho estranho no quarto dos meus pais, pensei que fosse minha mãe, mas aí ouvi uma voz que não conhecia e também a voz do meu pai.
— Que merda — Guigo diz.
— Fui até o quarto, esse foi meu segundo erro, porque quando abri a porta tinha uma cara de quatro em cima da cama com meu pai mandando ver atrás dele — estou sorrindo, mas nem um pouco feliz de reviver esse momento da minha vida — na cama da minha mãe, meu pai estava fodendo seu colega de trabalho.
— Sinto muito que tenha passado por isso — Guigo me abraça de novo, com isso minhas lágrimas simplesmente escorrem pelo meu rosto.
— Meu pai ficou pálido quando me viu, lembro que corri para o meu quarto, depois disso meu pai veio no quarto me dizer que não podia dizer aquilo para ninguém, mas estava tão puto com ele, como ele podia ter feito aquilo com minha mãe, com a nossa família — estou soluçando — quando minha mãe chegou contei tudo a ela, bem na frente dele, eles discutiram, depois ele jogou umas roupas numa mochila e saiu de casa.
— Sua mãe se separou dele?
— Não, ele quem se separou da gente, depois que ele saiu passou anos até termos notícias dele de novo, minha mãe se afundou no trabalho para bancar a casa e para não pensar muito no seu casamento de doze anos que tinha acabado, ela nem olhava para mim direito, cheguei achar que ela me culpava por ele ter ido embora, comecei a ficar deprimido e tentei me — meu corpo treme e Guigo me abraça forte me impedindo de continuar a falar.
— Ray.
— Tive problemas de saúde por causa do meu pai, tinha uma febre e dores no corpo que não tinham causa física, isso durou por uns anos, minha mãe fez o que pode para lidar comigo e com seu casamento falido, quem me ajudou mesmo a sair da depressão e tudo mais foi meu melhor amigo Rick, o pai dele era um bosta, mas a mãe dele sempre foi incrível comigo, ela e o Rick cuidaram de mim em várias crises que tive, até que um dia comecei a melhorar.
— Então você se sente assim por causa do seu pai? — Guigo me olha nos olhos.
— Não, minha mãe se fez de forte e ela fez o que podia, mesmo assim a vi chorando varias noites sozinha no quarto, uma vez escutei ela conversando com uma vizinha nossa que é uma das melhores amigas dela até hoje — estou soluçando pois essa é a pior parte.
— Ray, não precisa reviver isso — Guigo se arrependeu de ter aberto essa caixa, mas é bom falar sobre isso, mesmo sendo doloroso.
— Ela disse para amiga dela que não saberia o que fazer caso eu virasse um viado como meu pai e que ela orava a deus todos os dias para ele não tivesse me contaminado também, que para ela seria muito dificil ter um exmarido e um filho gay — Guigo me abraça com toda sua força.
— Não fazia ideia Ray.
— Não posso fazer isso com ela Guigo, eu gosto de você de verdade, mas nunca vou poder te assumir para ela e nem para ninguém, já sofremos tanto por causa dele, não quero faze-la passar por tudo isso de novo, não posso — estou chorando, mas é bom poder dividir isso com alguém, nem para as minhas psicólogas contei essa história, pois contar isso para elas traria o risco de minha mãe descobrir.
Guigo está me abraçando e enchendo de beijos, nele ele sabe o que dizer sobre o que falei, mas me sinto melhor sendo confortado por ele, estanhamente me sinto bem por poder contar a alguém isso que me corroeu por todos esses anos, é como se o fado tivesse ficado um pouco mais leve, pois agora ele pode me entender mesmo que só um pouco melhor.