O Único que Ficou de Fora - Segundo Capítulo:"Surubinha Boba"

Um conto erótico de Astrogildo Kabeça
Categoria: Grupal
Contém 4569 palavras
Data: 04/11/2024 23:29:34

...continuando

Que porra é essa, Marli??O... que... suruba??? Mas... que marmota é essa!!

Era um Camilo que fazia uma cara de assustado como alguém que ouve um absurdo qualquer. Marli foi tentar corrigir a merda que falou.

- Me perdoe, Camilo... eu não sei por que eu disse isso... eu ando nervosa ultimamente, eu...

- Olha, não quero saber de nada não, basta. Fora daqui os dois!! Saiam!!

Manoel puxou a mulher e saiu esbaforido dali. Laura queria ser um avestruz, pra enfiar a cara no chão. Camilo olhou pra ela catatônico.

- O que foi isso!!?? O que... no que... o que vocês me esconderam???

- Eu... eu... eu não sei... eu... n...não... é... não sei de nada!

- Porra, mulher! Acha que nasci ontem?? Que desgraça de suruba é essa??! Não me esconda nada! Vi sua cara de espanto, como uma pessoa que foi pega no flagra fazendo algo errado. Ela disse que fui o único, o ÚNICO, que fiquei de fora!

Laura então acusou o golpe. Olhou seriamente pro marido e depois foi fazendo caretas e começou a chorar.

- Porra, Cam, foi um lance lá do passado, pra que remoer isso agora?? Não sei nem o que dizer sobre isso!

- Não sabe??? Então deixa eu pensar... que tal se eu desse uns 20 minutos pra você achar uma saída rocambulesca pra me falar, hein!??

Laura se viu sem saída. Havia um segredo muito bem guardado até então. Vendo-se vexada naquela situação, se saiu com essa.

- Não vou contar nada porque quem tem que se explicar é ela!

Camilo, totalmente transtornado, deu murros e murros na porta. Dava pra o prédio todo ouvir.

- DESGRAÇA, LAURA!!!!VOCÊ NÃO TÁ VENDO COMO AQUELA MULHER ESTAVA COM FOGO NA VENTA E JOGOU UMA VERDADE ESCONDIDA NA MINHA CARA!??

- Calma, Camilo, você está chamando atenção do...

- CALMA, UM CARALHO!! COMO É QUE FICA CALMO NUMA SITUAÇÃO DESSAS!!

- Não... não tô me sentindo bem, Cam... com licença.

Restou a Laura sair correndo também. Camilo ensaiou ir atrás, mas recuou. Uma hora tudo ia ser desvendado, pensou ele num momento mínimo de lucidez. Saiu com todos o olhando, nem perguntaram nada. Parece que era uma briga de casal mesmo, não se sabia o motivo.

Sem cabeça mais pra trabalhar, estava indo pra casa quando Manoel ligou pedindo pra ele ir até o prédio onde morava. Laura estava fazendo um escândalo na rua, em frente ao prédio dele. Ele nem ouviu mais nada. Desligou o celular e foi pra casa.

Cerca de uma hora depois, chega Laura, com expressão cansada. Os filhos ainda estavam na escola de tempo integral. Ela estava mais séria.

- Ok, Camilo. Estou me sentindo uma idiota e não resta mais nada a não ser revelar o que aconteceu.

Camilo já tinha bebido umas doses de whisky, mas não estava bêbado, apenas com torpor alcoólico.

- Não sei se estou preparado pra porra nenhuma. Vem uma bomba nuclear ai e sinto que nada será como antes.

Depois de tudo, Laura parecia no momento mais sereno do dia. Estava disposta a contar tudo.

- Camilo... antes de mais nada quero dizer que... é algo chato, mas não foi tão grave assim, espero que você compreenda. Acho que o que vou revelar aqui vai ser superado, com certeza.

E começou a história.

- O que Marli falou hoje naquela explosão impensada dela, foi algo que ocorreu há exatos 20 anos. Foi após um show daquela banda que vocês tinham. Você ficou doente, lembra agora? Pois então... naquele dia houve o show no Costela’s Bar, que frequentávamos direto, e ficamos por lá. Daí teve roda de violão, todos animados, bebendo a beça, tava um clima legal. Quero frisar aqui que nós não estávamos namorando ainda, nem beijos havíamos trocado! O bar fechou e Osório nos chamou pra encerrar a noite na casa dele. Não era meia-noite ainda e fomos. Lá chegando, as coisas foram saindo um pouco do controle. Muita bebida e ainda apareceram drogas, cocaína, coisas que alguns de vocês usavam na época e apareceu por lá. Ficamos dançando até que rolou uma brincadeira idiota de verdade e consequência e foram sendo revelados desejos de cada um. A coisa foi esquentando quando retomamos a dançar e a Bel – loucona – começou a fazer um streeptease. Você lembra o quanto ela era doida, e nesse dia ela estava totalmente endiabrada. Osório agarrava ela, até que Raimundão e Samara, que estavam no maior amasso, começaram a quererem transar ali mesmo. Eu sei que Bel se juntou a eles, Osório foi junto com ela, os outros cheirando e bebendo e eu comecei a ficar muito excitada com tudo aquilo, havia mais mulheres que homens, pois você não tinha ido. Começamos a dançar aquelas músicas chulas da época, que detestávamos, mas como o clima era de esculhambação, curtíamos. De repente, Marli também estava cheirando, todos acabaram cheirando, dois casais já transavam e aí depois... Bem, quando me vi sobrando, a Núbia me puxou e Zé Pedro me beijou. Daí ela me beijou também e começou uma zona lá. Olha, fiz um esforço danado pra lembrar essas coisas, tem muito, muito tempo e isso já estava mais do que esquecido.

Camilo estava tenso. Ele recorda que no encontro seguinte eles contaram sobre essa ida a casa de Osório, mas a partir daí os detalhes desapareceram. Ele tentou puxar a memória e só recorda que ficaram bebendo e dançando e lamentaram o fato dele não estar lá. Agora estava recordando que muitos mostraram uma certa relutância em falar de acontecimentos mais precisos. Já haviam passado noites assim, inclusive com drogas e dança, mas nada que chegasse próximo daquele nível. A partir desse dia, Laura foi dando mais mole, e começaram o romance.

- Custava a você ter contado isso anos depois?

- Poxa, amor, eu... Foi algo que... olha, tenho certeza que se lá estivesse, você iria adorar participar, e... olha, foi um acontecimento fortuito, uma coisa de momento que achei melhor não contar a você porque você poderia ficar muito chateado, e verdade seja dita, o que aconteceu ali, morreu ali também. Até me lembro Zé Pedro falando que se você soubesse que ocorreu algo assim e você ficou de fora, ia ficar bem puto, porque você sempre gostou de aproveitar todos os momentos que a turma tinha. Se você puxar da memória, o grupo começou a ficar mais disperso, depois voltou a se reunir mais, até que a maioria foi abandonando o curso aos poucos, as coisas entre os casais foi ficando mais séria. Vou falar a verdade verdadeira: eu fui uma das que concordou que você não soubesse. Fui gostando cada vez mais de você, ficando mais apaixonada, e não queria que essa... festinha... atrapalhasse um futuro, e esse futuro aconteceu! E naquele dia rolou essa doideira, eu nunca tinha experimentado drogas, você sabe, e a coisa saiu mais do limite por isso. E todo mundo transando na sala, acho que por estar solteira, eu meio que interagi com os demais... nem lembro agora quem ficou com quem, pelo que lembro, acho que Manoel e Marli não aceitaram muita pegação com os outros não... uma coisa assim que... era pra acontecer naquele dia e lamento muito você não ter participado... Mas depois disso quase todos saíram do curso, outros sumiram... Confesso que foi bem esquisito, mas nada muito avassalador, Osório e Bel e Samara e Raimundão que ficaram aproveitando, trocavam de par, e vez ou outra a gente passava mão, beijava, coisas assim. A Núbia mesmo, a mais certinha, ficou toda envergonhada e arrependida... O que importa hoje é o fato de nós dois ter ido longe, hoje estamos muito bem, os mais estabilizados. Nubia e Zé Pedro, que voltamos a ver mais, sempre reclamam de alguma coisa, mas nós... eu me acho muito fortalecida depois daquilo tudo, porque nosso relacionamento começou e se fortaleceu depois desse evento. E como frisei, eu era livre pra fazer aquilo e apesar da amizade entre todo mundo, esse lance ai acabou foi abalando um pouco a união da turma, eu acho. Não valia a pena você saber e isso, amor, desculpe, você não poderia controlar o que devíamos ou não falar.

- Estou chocado... Olha, Laura, você poderia, nós já com filhos, bem de vida, você poderia ter contado, mulher! E se ocorreu algo mais que você ache que não devo saber? Como vou confiar agora depois que fiquei sabendo desse segredo após um acesso de raiva de uma desequilibrada financeira, junto com o marido babaca? Eu acho que você não está me contando tudo...

- Olha, Cam... Pode ligar pra Zé Pedro e Nubia, e esclarecemos isso mais. Não ocorreu mais nada após aquele dia. Éramos amigos e de repente alguns deles vai e fica transando na frente de todo mundo, aproveitando a embriaguez da gente pra ficar passando a mão e beijando? Ora, depois disso acabou sendo chato. Tínhamos 22, 23 anos, éramos todos destrambelhados, olha o que foi rolar, todo mundo sendo levado por drogas e diversão. Não somos mais aqueles jovens! O tempo passou, e estamos aqui. Me desculpe não ter contado, justifiquei isso, aquilo ficou pra trás, já foi! Veja... se fosse eu a ficar de fora, ficaria chateada se soubesse, preferiria não saber, por ter estado ausente em um dia atípico, quem não quer participar disso quando se é novo e sem muita experiencia como eu??me coloquei no seu lugar! Nada daquilo foi planejado. Se matássemos alguém naquele dia, você acha que tínhamos que chegar a você e contar sobre nosso crime e onde a gente escondeu o corpo? Poxa, Cam, entenda! Desculpe, sinto muito, mas foi algo que rolou, ficamos chapados, assistindo os outros fazer sexo, rimos, mas já passou 20 anos! Poxa, não deixe uma noite mais extravasada atrapalhar nossa vida agora, por favor!

- Tá, mas porque você foi fazer troça na casa de Marli agora a pouco? Manoel me ligou falando. Você acha que se fosse algo bobo, não tão sério, você iria ir lá tirar satisfação com ela?

- Eu fui reclamar com ela da maneira extorsiva como ela lhe tratou! Jogou isso na sua cara pra fazer com que a gente discutisse, brigasse, insinuando que guardamos segredos de você! Sabe por que ela fez isso? Porque ela é pau mandado daquele Manoel. Nesse dia da tal suruba, ela ficou só com ele, se não me engano, já ele ficou sarrando com as outras meninas. Ela é bem bobinha, nos disse depois de um tempo que queria ter aproveitado mais. Olha, Cam... se você considerar que possa ter rolado algo mais do que eu contei, lhe deixo a vontade pra traçar uma linha cronológica onde deixamos alguma evidência que algo a mais do que isso rolou. Eu posso dizer: o máximo que fiz foi trocar uns beijos com Osório e pelo que eu lembre, bati uma punhetinha pra ele dentro da bermuda mesmo. Quando começamos a namorar, ele veio me pedir desculpas e pronto. Morreu aí.

- E por que ter ficado assustada a ponto de chorar? Se foi tão bobo assim, você era pra estar gargalhando e não preocupada como pareceu!

- Porra, Cam, se toca! Quando ela falou isso, parecia que era uma coisa muito mais grave, eu praticamente pensei “o que essa maluca tá querendo dizer com isso???” Ela nem sabe direito o que é suruba, não chegou a tanto, prefiro chamar de “festinha demasiada”. Rolou sexo, rolou drogas, dancinhas sensuais, coisas muito fora do padrão do grupo, e podia ter dado merda! Muitos extrapolaram o bom senso ali, pelo menos acho eu, porque depois de tanto tempo, foi o que pareceu. E chorei também porque a essa altura do campeonato ela vir com um acontecimento do passado misturado com chantagem foi muito sórdido.

Camilo pensou, refletiu aquela noite, mas resolveu seguir em frente. Primeiro, que tinha nome a zelar, ele e a esposa. Segundo, azar dele que não tava naquele dia, ele nem namorava. E terceiro, tinha razão a esposa quando pediu pra ele revisitar algo que parecesse suspeito após esse fato. Não havia. E se ele tivesse participado? Estaria com Laura? Constituiria família com ela? Os outros dois casais daquele dia continuaram juntos, estão até hoje. Assim, deu uma prensa na esposa, comentou com Zé Pedro e Núbia, com quem tinha mais aproximação, e o casal deu a mesmíssima impressão daquele dia, afirmando que não ocorreu nada demais, que foi um dia esquisito, e que depois a noite transcorreu com mais calma. Podia ter sito muito mais chato, porque foi basicamente uns transando na frente dos outros e isso acabou gerando constrangimentos. Então, ele caiu na real que não tava, e aceitou, meio a contragosto, não terem revelado nada. Porém, deixou claro que se aquilo não criaria uma ferida, criou um arranhão. Ele ainda guardaria alguma mágoa pelos amigos, mas principalmente Laura não ter pelo menos contado um pouco mais daquela louca noite. Entretanto, ficou vários dias puto por ter ficado de fora daquele rendez-vous. Seria curioso transar na frente dos outros e com algumas meninas, como a delicinha da Isabel. Coube a Laura sempre reforçar que até a revelação de Marli ela praticamente havia esquecido esse passado, nada muito marcante, tanto que tinha coisas que ela nem lembrava mais. A profissão, os filhos, a família, e o amor por Camilo superaram aquela noite diferente, mas que ficou num passado já distante.

No fundo, no fundo, ele tinha uma intuição de que algo mais ocorrera. Quando Marli revelou abruptamente a ele, parecia que a coisa tinha sido bem mais gostosa do que o relato de Laura. A mesma Laura teve uma reação bem assustada com a revelação, mas contou serenamente, assim como Zé Pedro e Núbia. Porém, podia ser coisa da cabeça dele também, ter ficado de fora e assim estar criando uma teoria da conspiração. Por fim, nesses anos todos não percebera nada desabonador por parte de Laura e dos velhos colegas nos dias, meses e anos pós-suruba, festinha, ou sabe-se lá o que ocorreu. O amor de Laura por ele sempre foi genuíno, nada parecia ter acontecido de mais grave. Marli pediu desculpas e contou uma versão semelhante também, dizendo que naquele dia, todos tavam experimentando coisas diferentes, e que rolou uns lances constrangedores como sexo na frente dos outros. Ela e Núbia tinham namorados e ficaram com vergonha de expor isso. E com raiva por não ter conseguido a grana, ela sacou essa moeda do passado, moeda totalmente sem valor, foi o que disse.

Tanto que uns dias depois, estavam Camilo, Laura, Núbia e Zé Pedro conversando sobre aquela noite.

Zé Pedro: Cara, de boa... não tinha por que falar daquela noite com você, meu velho. Imagine se a gente contasse pra você exatamente tudo. Porra, ia ficar estranho. Acha que eu ia dizer, por exemplo, que minha namorada bateu uma punhetinha pra Osório?

Núbia: Afff, amor, não lembra isso. Naquele dia enfiei o pé na jaca. Estávamos nos conhecendo e acontece aquilo. Aquela noite podia ser o fim de tudo e podia não ser o começo de vocês, Cam. Sabe... como um cara reagiria se a menina com quem ele queria ficar, beijou e deu um sarro com um ou dois caras na frente de outros, sei lá, nem lembro mais o que rolou, como será que você reagiria? A gente não sabia, velho.

Camilo: Olha, gente... Eu não fiz parte daquilo, mas eu não iria ficar chateado... ok, ok... talvez ficasse meio ressabiado de namorar com alguém assim, mas... contar depois? Não via nada demais.

Laura: Ai, Cam, vai começar de novo? Imagine se ficássemos contando tudo o que fizemos antes de um namoro novo? “Olha, fiz boquete no banheiro da escola com um menino chamado Zezinho, depois peguei o vizinho, transei com fulano da academia...”, ai que saco! Não sou assim não.

Camilo: Porra, um, dois companheiros de banda, caras que eu convivia , ficaram com você e você acha isso um saco? Porra, Laura... Tudo bem, talvez você achasse que eu não ia namorar você... mas... porra éramos uma turma legal, poxa...

Laura: Veja bem, Cam... um monte de jovem, que curtia pra caramba, uns começam a namorar, flertar, com 22, 23 anos... Ninguém esperava casamento ali não, meu! Era uma curtição aquilo ali, nada demais. Uma coisa dessas podia rolar, porra, rolou num dia que você não tava! Quer o que? Que voltemos no tempo? Velho, se a coisa vingasse, falássemos com você, acha o que? Que estaríamos fazendo coisas escondidos juntos até hoje, ou tava cada um na sua com outros parceiros, e tal? Vocês tavam namorando a quanto tempo quando rolou essa festinha ai?

Núbia: uns 3 meses, acho... Eu aproveitei aquele momento ali, achei bem esquisito tudo, vendo com a idade que tô hoje, parece não ter sido nada demais. Porém, existe riscos enormes num lance desse.

Zé Pedro: Encarei aquilo como uma experiencia, nada mais que isso. Nossa relação até ficou mais forte depois dali, mas como Laura falou, Camilo, podia ter o efeito reverso ali. Acho que foi uma provação aquilo tudo, você passa a considerar o que é mais importante. Veja os outros colegas. Foram se distanciando, achando que faculdade era só diversão e putaria. Nada, cara. Eu não conclui o curso porque me juntei a Núbia nos negócios da família.

Núbia: Meus pais se separaram naquele período e lembro que fiquei mal, não conseguia me concentrar nos estudos. Eles eram muito unidos e de repente, tudo acabou. Isso pesou, Zé achou melhor eu trabalhar com a família dele, ele se juntou a mim por amor, e aqui estamos.

Laura: Então, Cam... Espero que compreenda melhor que houve aquela doideira de suruba, e nem sei se aquilo foi uma suruba de fato, no limiar da palavra, mas que não teve maiores consequências. Estamos aqui, dois casais daqueles tempos, pais de família e estabilizados. Isso que vale. E aqueles desmiolados do Manoel e Marli ai fudidos, estão ai pra perder casa, carro, perderam loja... Estamos bem, Cam. Mais uma vez, sinto muito por você não saber de mim aquelas coisas, mas taí. Foi uma curtição de uma noite maluca e só. Olha só o risco que aquela desequilibrada da Marli nos colocou. Tive que rememorar uma porra de não sei quantos anos atrás pra explicar que focinho de porco não era tomada!

Camilo: Zé... me diz como você aceitou a Núbia com outro? Não lhe deu ciúmes?

Zé Pedro: Cara, ali tudo foi muito estranho, muita droga, muita bebida, senti a Núbia bem curiosa e deixei ela a vontade. E eu tava doido pela gostosinha da Bel, ahahahahahah... e aí, foi isso, conversamos depois, ela tava bem arrependida... e bola pra frente. Mas vou te dizer uma coisa, amigo. Vi uns filmes de suruba e vou te contar... não classifico o que a gente fez como suruba não, viu? Suruba pra mim é aquelas orgias gigantescas de filme pornô, todo mundo com todo mundo, ninguém é de ninguém... felizmente não chegou a tanto. Se fosse como aquelas do pornô... vixe, nem casava, ahahahaha

Núbia: É o que, seu Zé? Anda assistindo sacanagem agora é? Tarado! ahahahahah

Laura: É o que seu Camilo? Se tivesse lá e já fosse meu namorado, você ia ficar me controlando, papai?

Todos: kkkkkkkkkkkkkk

Laura: Vamos classificar assim então... foi uma “suruba matinê de quinta série”

Núbia: eu prefiro “surubinha boba”

Zé Pedro: Que nada, gente. Aquilo foi um “Chiquititas da madrugada”, ahahahahahahah

Camilo: Beleza, gente, não se pode ter tudo na vida. Fiquei doente e perdi essa noite, mas concordo que cada um pensa uma experiencia dessa de forma diferente. Éramos realmente muito jovens e poderíamos cometer até loucuras maiores.

Núbia: Tin-tin então.

E brindaram o encerramento daquele imbróglio que parecia mais grave do que realmente pareceu pra Laura, e principalmente, Camilo.

2024, um ano depois. Camilo estava entrando num estacionamento e quando saiu do carro viu um homem de meia idade com os olhos arregalados olhando pra ele, como se tivesse o reconhecendo. Esse gritou feliz:

- Chefia! Chefia! É você!

O homem foi falar com ele, mas ele não o reconheceu de imediato.

- Chefia, não tá me reconhecendo, né? Envelheci, mas lembro bem do senhor porque não mudou quase nada. Sou o antigo porteiro da faculdade, vocês me chamavam de “Severino”.

Foi então que Camilo fez aquela expressão de que havia sim recordado.

- Porra, Severino! Lembro sim! Rapaz, como vai?

- Trabalhando aqui agora, nesse estacionamento.

Como dito, ele era o porteiro da faculdade e era sempre falante. Conversava com os alunos sobre futebol e das proezas do fim de semana, arrancando gargalhada de todos. Era o único funcionário que chamava os estudantes pelo apelido e todos acatavam, ele era boa praça de mais, gente fina. O nome dele não era Severino, era uma gozação dos alunos, já que há várias piadas de porteiro cujo nome é Severino (que nem piada de sala de aula, onde todo aluno gaiato é “Joãozinho”). Naquela época, era transmitido um programa de humor no sábado à noite que tinha um personagem porteiro chamado Severino.

- Como vai o senhor? Se formou né? É dentista?

- Sou sim. Eu e minha esposa. Ela também estudou lá.

Camilo mostrou a foto dela no celular. Ele viu, fez um esforço e disse que o rosto não era estranho.

- E você? Continua trabalhando lá? Não mais retornei

- Não, que nada, chefia, sai tem tempo, acho que 2010,ah, por aí... sabe como é... Daí fui cobrador de ônibus, fui arriscando outras coisas, sai de lá, rodei esse país, fui parar num garimpo lá em Roraima. Esses últimos anos rolou muito dinheiro, mas sabe como é, uma bucetinha aqui, outra ali, tava separado de minha mulher aqui... aí já viu? Montei um negocinho, não foi pra frente, aí retornei pra cá e aqui estou. Mas tô pensando em cair fora de novo.

- Ok, Severino. A gente se vê. Vou atender perto daqui por uns dias. Meu consultório está reformando uma parte e apenas minha esposa está lá, por enquanto. Ah, falando nisso... estou organizando um mutirão pra tratamento dentário. Não quer passar lá não? A quanto tempo não vai ao dentista?

- Uhhhhhhhhhhhh, tem anos, doutor, anos! Mas vou lá sim, quando vai ser? Posso levar minha filha? Acho que ela precisa mais do que eu.

Camilo acertou detalhes de dia e lugar. Eis que Camilo ajustou muita coisa na dentição de Severino, deu um senhor trato. A filha, a mesma coisa, colocou até aparelho na menina.

- Doutor, que trabalho é esse? Nem parece que sou eu, ahahahahahah.... Não sei nem como agradecer, chefia. Ficou perfeito. Se eu fizesse pela prefeitura, ia levar uns seis mês pra fazer.

- Ah, isso ia, viu? Por isso esse mutirão. Poder público é muito lento, muita gente também pra atender.

Quase um mês depois, Camilo estaciona no mesmo lugar e Severino vem falar com ele e praticamente lhe deu um forte abraço. Camilo não entendeu aquele gesto.

- Chefia, tenho que agradecer muito o senhor. Aquele tratamento em mim e minha filha ia valer o olho da cara pra mim, me falaram. Pois então, um pessoal convidou minha filha pra fazer umas fotos, parece que é ensaio fotográfico né, e disseram que os dente dela tava lindos. O senhor mesmo viu como era os dente dela, tudo torto, faltando... Então, por causa disso, ela fez umas fotos de propaganda ai e ganhou um dinheirinho bom! E vai fazer mais! E tudo isso por causa do senhor, chefia! Obrigado mesmo! De coração!

Mais um abraço. Camilo se sentiu lisonjeado de ajudar uma jovem num trabalho que parecia promissor.

Dias depois, Mais uma vez Severino falou com Camilo no estacionamento.

- Chefia, queria lhe falar uma coisa. Eu tô indo embora daqui, arrumei um terreninho com um amigo, não quero saber desses emprego mequetrefe não, vou morar na roça mesmo, lá tem tudo pra plantá. Minha filha tá grande, quando ela quiser me visitar vai, tô indo. Mas antes, queria deixar uma coisa pro senhor. Mas queria levar um papo antes, pode ser?

Camilo estranhou. O que poderia ser? Convidou-o pra conversar no consultório. Lá chegando, Severino tava bem sério.

- Chefia, é o seguinte... Tinha um vigilante noturno lá na faculdade, naquela época que o senhor estudou, que era o Grandão, cara alto, quase dois metros, um gorila. Como ele trabalhava de noite, não sei se o senhor vai lembrar... Bem, ele foi demitido, acho que em março ou abril de 2003, e com a rescisão ele comprou uma câmera grande, bonita, ele tinha o sonho de ser cinegrafista, essas coisas, e passou a trabalhar filmando casamento, formatura, aniversário, festa, gincana... Ele me chamou pra trabalhar com ele, quando estava folgando, como assistente de filmagem, no fim de semana. Como ele filmava muita coisa, chamaram ele pra filmar um... bom, só mostrando ao senhor.

Severino entregou uma caixa de papelão pequena. Nela continha fotos e um cartão de memória. Camilo ficou intrigado.

- Mas... o que seria isso, Severino?

- Só o senhor vendo com os próprios olhos, doutor...

Curioso, ele logo ligou o notebook, colocou o cartão de memória e previu algo que ia chocá-lo. Dito e feito. Assim que rodou as imagens, ele ficou espantado, abriu uma boca enorme, parecendo um personagem dos Simpsons.

- CARALHO!!! MAS QUE PORRA É ESSA???!!!

- Chefia, acho que o senhor não sabia nada disso. Vou explicar tudo. Veja essas fotos ai.

Nervosíssimo, ele quase rasgou o envelope. Quando viu as fotos, sua mão tremeu. Ele esbugalhou os olhos.

- Meu Deus... isso... isso... ãhn??? O QUE ESSE CASAL ESTÁ FAZENDO AQUI JUNTO COM ELES????

Camilo segurou a gola da camisa de Severino, querendo satisfações sobre aquilo

- ONDE VOCÊ CONSEGUIU ESSA MERDA! FALA!!!

- Calminha ai, rapá! Me solta que conto tudo. Vai me culpar pelo que viu agora? Tô tentando abrir seu olho, porra!

Camilo então soltou e respirava pesado como se tivesse se salvado de um afogamento. Sentou-se na cadeira catatônico, esperando respostas.

- Chefia, vou contar tudo. Mas preciso saber... o senhor sabia disso tudo?

Camilo resolveu colaborar. Parecia que Severino sabia de muita coisa e naquele instante tinha que se acalmar na medida do possível e deixar a verdade aparecer.

- Olha, cara, soube de forma meio inusitada, uma das participantes falou que fui o único que fiquei de fora e aí minha esposa contou mais ou menos o que houve. Nessa época que ocorreu essa festinha, eu ainda não namorava com ela, daí ela não quis me contar. Fiquei puto, mas reconsiderei algumas coisas.

- Então da missa o senhor não sabe a metade! Até se assustou quando viu o casalzinho ai, provavelmente ela não contou essa parte, pelo que tô entendendo.

O casal em questão que ambos estavam se referindo, aparecia nas fotos. Eram registros daquela noite de suruba. Eram Valdão e Celinha, os donos do Costela’s Bar, o local do show daquela noite na qual Camilo esteve ausente. Mas o que eles faziam nas fotos? Eles participaram da suruba também? Apareciam também na misteriosa filmagem que Camilo acabara de ter acesso. Valdão, 39, era mulato, cabelo crespo, forte, cheio de marcas no rosto. Celinha, 36, era negra, cabelo cacheado, corpo esguio, parecia uma passista de escola de samba. Pernas grossas, tudo em cima, os frequentadores babavam por ela. Alguns estudantes sempre quando iam no banheiro, aproveitavam e batiam uma bronha em homenagem a ela.

- Pois bem, chefia, a história é longa, muito longa! Tive que ficar relembrando cada detalhe, do que presenciei, do que ocorreu, e das minhas conversas com o Grandão. Se prepare que o chumbo é bem grosso.

(continua...)

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Comentários

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cara que loucura heinn..

eu estava achando muito estranho a narrativa igualzinha de todos.

todos querendo enganar o cara.

mas agora o bicho vai pegar... kkkk

muito bom

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Caramba q conto top, muito louco tudo isso, mas até o momento não tem traição da esposa, somente a omissão dos fatos passados e anteriores ao início de namoro, ou será q depois aconteceu mais coisas e ela mentiu, traiu e enganou o marido? Q louco

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Acho ótimo quando os contos vão além do erotismo e se propõem a ter narrativas interessantes. As três estrelas são mais do que merecidas.

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Muito bom!!!

Que história!!!

Foda o corno foi o único a ficar de fora e o último a saber!!! Kkkk

Abraço

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