Eu e minha fiel escudeira Carol tivemos uma manhã regada a exercícios, algumas conversas bem interessantes e boas risadas. Eu juro que se eu pudesse levaria Carol para ser minha assistente pessoal, a gente se dava muito bem e a companhia dela além de ser ótima, já tinha se tornado uma ótima rotina nos meus dias. Eu com certeza iria sentir falta daqueles momentos que a gente passava juntas ali.
.
.
Depois do almoço fui ver minha psicóloga. Tivemos uma sessão relativamente tranquila. Ela basicamente não falou quase nada. Apenas me fez bastante perguntas sobre o que eu pensava e sentia em relação a várias pessoas e situações. Algumas já vividas e algumas que eu estava vivendo. Sobre minha mãe ela falou comigo um tempo e disse que era normal eu não ter esses sentimentos mais aflorados por ela. Eu aprendi a viver sem ela e acabei transferindo esses sentimentos para outras pessoas da minha convivência, como Marina e sua família. Eles me acolheram e me trataram como alguém da família deles. Ali eu me sentia segura e amada. Não tinha nada de estranho eu amar a família que me acolheu e não ter sentimentos pela família que me expulsou da vida deles. Não seria normal se esses sentimentos fossem ao contrário.
.
.
No caso da Michele, ela disse que em primeiro lugar, eu devia falar com o psicólogo dela. Mas disse que eu tinha pensado certo, que a gente podia se ajudar sim, mas era bom eu falar com o psicólogo dela para ver a melhor abordagem. Às vezes a gente pensa algo certo, mas age errado e transforma uma decisão boa em algo ruim. Eu disse a ela que eu iria tentar arrumar o número do psicólogo dela. Minha psicóloga disse que se eu quisesse eu poderia ir conversar com ele pessoalmente. Eu perguntei se ela estava me dando alta. Ela disse que não, mas eu poderia sair e ir ver o psicólogo sem problemas. Que provavelmente eu iria ter alta nos próximos dias porque pelo que ela viu, meu psicológico era muito forte. Que apesar de tudo que passei até o momento, ela não notou nenhum distúrbio, sequelas, ou qualquer outro tipo de problema. Que eu parecia estar muito bem psicologicamente, que na verdade, ela estava até surpresa do meu estado mental. Eu fiquei muito feliz de ouvir aquilo.
.
.
Ela me deu vários conselhos sobre minha visita a Michele, se caso acontecesse. E antes de sair ela disse que estava muito feliz por eu estar entrando na família. Que gostou muito de mim como pessoa, que eu tinha um coração enorme e uma alma boa. Que ela estava me falando como amiga e não psicóloga. Eu agradeci e dei um abraço nela. Ela me ajudou muito depois que eu acordei, eu me sentia segura em me abrir com ela, porque ela me passava confiança. Acho que isso foi fundamental para minha recuperação.
.
.
Quando nos despedimos, ela pediu para eu voltar no outro dia no mesmo horário e eu confirmei que voltaria sim. Sai bem animada dali para retornar para meu quarto. Carol notou minha carinha animada e veio me perguntar o que tinha acontecido. Eu expliquei a ela e voltamos para meu quarto. Logo depois que chegamos, Marina apareceu. Depois chegou a Carla com a Maria e nossa janta. Carol resolveu jantar com a gente e foi até a cozinha do hospital buscar mais um prato. Ficamos conversando um bom tempo depois da janta, mas Maria e Carla tiveram que ir trabalhar. Marina disse que iria ligar para o psicólogo da Michele, se ele pudesse me receber, ela poderia me levar para encontrá-lo no outro dia. Eu disse a ela que se ela pudesse fazer mais esse favor para mim, eu ficaria grata.
.
.
Marina e Carol ficaram comigo até às 20 horas e depois foram para suas casas. Eu fui tomar um banho e depois fui me deitar. Marina me mandou mensagem avisando que às nove estaria aqui para me buscar, que o psicólogo iria me atender. Conversamos mais um pouco e nos despedimos. Eu demorei um pouco para dormir, acho que fiquei um pouco ansiosa para esse encontro com o psicólogo. Mas por fim acabei dormindo. Acordei só no outro dia de amanhã e Carla não estava do meu lado, mas eu pude sentir o perfume dela no ar. Eu tinha certeza que ela estava ali. Passei minha mão sobre o lençol ao meu lado e ainda estava um pouco quente. Logo em seguida ouvi o som da água caindo. Um sorriso brotou no meu rosto.
.
.
Me levantei e fui até o banheiro. Ela tinha acabado de entrar no banho. Ela estava de costas para mim. Eu tirei minha roupa, fui até ela e abracei seu corpo. Ela levou um pequeno susto e olhou para trás já com um sorriso nos lábios. Ela virou de frente e meu deu um beijo delicioso.
.
.
Aline: Bom dia meu amor! Porque você não me acordou?
.
Carla: Bom dia amor! Você estava dormindo um sono muito gostoso e eu estava muito cansada. A noite foi bem estressante por causa de alguns problemas com um paciente. Mas já foi resolvido. Eu preferi tentar descansar também, mas só dormi um pouco, logo acordei e com uma dor de cabeça chata. Tomei um remédio e vim tomar banho para ver se eu melhorava um pouco. Desculpa se fui eu que te acordei.
.
Aline: Sinto muito amor e você não me acordou. Quando acordei você já estava no banheiro. Vamos tomar um banho e voltamos para cama, vou cuidar de você tá bom.
.
Carla: Está bem amor, eu vou aceitar seus cuidados sim. Eu acho que minha tpm que está atacando, eu fico meio chata quando estou assim.
.
Aline: Tudo bem amor. E você não é chata ok.
.
.
Ela estava com uma carinha de menor abandonado que era muito fofa. Acho que o muita chata que ela disse, na verdade significava muito carente. Tomamos nosso banho e voltamos para cama. Ela olhou a hora no celular e começou a digitar algo. Depois deixou ele no criado mudo e disse que tinha mandado mensagem avisando Carol que se ela quisesse vir mais tarde poderia, que a gente ia dormir até depois das oito no mínimo. Eu só dei um sorriso e ela aninhou sua cabeça no meu peito. Fiquei fazendo carinho nos seus cabelos e logo ela dormiu.
.
.
Eu nem consegui dormir de novo, mas amei ficar ali velando seu sono e admirando o quanto ela era linda. Ela só acordou depois das oito e acordou muito dengosa. Carol não tinha chegado ainda, achei até estranho. Só quando nós levantamos que Carla disse que ela tinha mandado uma mensagem avisando que ia vir com a Marina de carona, e as nove elas estariam chegando. Perguntei à Carla onde era a cozinha e ela me explicou. Fui buscar nosso café. Conheci algumas outras partes do hospital que eu nunca tinha ido. Quando voltei Carla estava no banheiro e logo que saiu eu entrei. Depois, tomamos café e Marina e Carol chegaram.
.
.
Eu vesti uma roupa que Marina trouxe para mim. Eu nunca tinha visto ela na verdade. Ela disse que foi das que Michele comprou. Depois que me troquei a gente saiu todas juntas. Chamei Carol para ir com a gente, já que não tinha motivos dela ficar no quarto sozinha, já que eu iria sair. Nos despedimos de Carla no estacionamento e seguimos para a clínica que Michele estava. Foi muito bom rever a cidade de novo. Fazia tempo que eu não via nada fora das paredes do hospital.
.
.
Foi um pouco demorado para chegar até a clínica. O lugar era bem bonito e tinha bastante movimento de pessoas no local. Entramos e depois de falar com a recepcionista, a gente foi para a sala do psicólogo. Ela me atendeu e as meninas foram ver Michele. Pelo que Marina me falou ela trabalhava ali ajudando os funcionários. O psicólogo foi muito simpático comigo e disse mais ou menos o que minha psicóloga já tinha me falado. Para evitar falar coisas que fizesse Michele se sentir mais culpada ainda do que já se sentia, mas que meu perdão com certeza iria fazer muito bem a ela. Ele disse que Michele estava se saindo muito bem, que a única coisa que ainda era um problema era justamente esse sentimento de culpa que ela carregava. Eu disse a ele que iria tentar fazer o máximo para ajudá-la. Que eu também me sentia culpada pelo que houve com ela e queria me desculpar por ter feito dela um alvo para meu irmão. O psicólogo me disse que não concordava com essa culpa que eu sentia, mas que isso poderia ser algo positivo para Michele. Eu disse a ele que no meu pensamento, eu e ela poderíamos nos ajudar e ele concordou.
.
.
Ele me perguntou se eu iria visitar ela naquele dia. Eu disse que eu tinha pensado em me aproximar dela devagar, talvez uma ligação ou mensagens, para depois ver ela pessoalmente. Ele pensou um pouco e me disse que o que eu tinha pensado fazia total sentido, mas às vezes um tratamento de choque dá mais resultado. Ele disse que não podia me contar algumas coisas que Michele contava a ele, porque ele não podia expor o que era falado nas sessões. Mas o conselho dele no momento era para eu me levantar e ir vê-la se eu estivesse preparada para isso. Eu disse que eu estava sim, que para mim não seria um problema. Eu só estava preocupada com ela. Ele me garantiu que isso não seria um problema e para eu confiar nele.
.
.
Eu disse que se ele achava isso, por mim tudo bem. Ele me falou o número do quarto dela e como eu poderia chegar até lá. Eu o agradeci e fui procurar o quarto dela. Eu estava bem nervosa, meu medo era da reação dela não ser boa. Mas se o psicólogo dela disse que não teria problema, eu preferi acreditar nele. Eu não demorei a achar o quarto, quando me aproximei ouvi as risadas da Carol. O papo parecia estar bom. Antes de chegar na porta, eu parei. Respirei fundo, pedi ajuda a Deus e segui. Quando cheguei na porta a Michele foi a primeira a me ver. Seu rosto estava sereno quando ela me olhou, mas assim que me viu ela fez uma cara de espanto enorme. Mariana e Carol olharam na direção da porta na hora e a cara de espanto também surgiu nos rostos delas. Elas não imaginavam que eu iria aparecer ali.
.
.
Aline: Desculpe aparecer assim de surpresa, mas me falaram que eu podia vir. Será que eu posso entrar?
.
.
Michele demorou um pouco para responder, mas conseguiu dizer um sim.
.
.
Aline: Obrigado Mi. E um abraço? Será que mereço um abraço? Estou com saudades de você, já que você não foi me ver eu resolvi te visitar. A saudade apertou 🤭
.
.
Eu falei aquilo com um sorriso no rosto e olhando para ela que ainda parecia não acreditar no que via e provavelmente no que ouviu. Ela se levantou, mas parece que algo a travou é ela não se moveu. Eu vi que ela começou a abaixar o rosto e então eu fui até ela.
.
.
Aline: Ei, estou falando sério. Estou mesmo com saudades de você. Queria muito te ver, te dar um abraço e me desculpar por tudo de mal que eu possa ter causado na sua vida. Eu realmente sinto muito Mi.
.
.
Ela voltou a me olhar e vi suas primeiras lágrimas surgir dos seus olhos. Eu me aproximei mais e fui tentar pegar nas suas mão, mas não deu tempo. Ela se jogou nos meus braços e eu pude ouvir o seu choro direto no meu ouvido. Eu a abracei forte e fiquei fazendo carinho no seu cabelo. Ela me pediu perdão algumas vezes, mesmo atrapalhada pelo seu choro eu consegui entender o que ela dizia. Eu repeti algumas vezes que estava tudo bem, que era para ela se acalmar para a gente conversar, mas disse também que se primeiro ela precisasse chorar, ela poderia chorar a vontade no meu ombro. Na verdade eu também já chorava no dela, porém meu choro era mais contido.
.
.
Eu não sei exatamente quanto tempo a gente ficou ali naquele abraço, mas quando ela se afastou um pouco eu pude ver o quanto seu rosto estava banhado em lágrimas. Eu limpei as minhas e disse que provavelmente a gente iria precisar de uma toalha. Pela primeira vez eu vi um pequeno sorriso no seu rosto enquanto ela tentava limpá-lo com as mãos. Quando olhei ao redor as meninas não estavam. Eu nem vi elas saindo, acho que o suporte da Marina que o psicólogo falou não iria funcionar muito bem não. 🤭
.
.
Perguntei a Michele se ela estava mais calma e ela disse que sim. Ela pediu para eu me sentar. Eu perguntei se tinha banheiro no quarto e ela disse que não. Eu queria lavar o rosto, mas achei melhor deixar para lá. Ela foi até um pequeno armário e pegou um pacote de lenços umedecidos. Eu a agradeci e usei dois deles para dar uma limpada no meu rosto. Ela fez o mesmo logo que se sentou.
.
.
Depois de vários meses e de muita coisa ruim que aconteceu, a gente estava ali de frente uma para a outra. Seria uma conversa tensa se a gente fosse tocar em tudo de ruim. Quando olhei nela o seu rosto me deu pena. Michele não tinha mais aquele sorriso bonito e nem aquele brilho no olhar. Seu rosto estava abatido e ela estava visivelmente mais magra. Naquele momento eu resolvi que às vezes é melhor deixar o passado para trás e focar no futuro.
.
.
Continua..
.
.
Criação: Forrest_gump
Revisão: Whisper