Foi tudo muito rápido. Deitamos para dormir e a dor que Júlia sentia se intensificou. Assim que ela levantou para ir ao banheiro, fui atrás, mas, antes que eu chegasse lá, ela já me chamava porque havia uma boa quantidade de sangue em suas roupas. Fiquei com o coração na mão, já temendo o pior. Ela estava tendo uma hemorragia!
— Vamos para um hospital, vou ligar para sua médica — falei.
Juh estava em choque, se contorcia de tanta dor. Ela teria um pré-natal naquele dia, então todos os documentos e exames já estavam separados em uma bolsa. Peguei a bolsa, busquei algumas peças de roupa que estavam em fácil acesso e partimos. As ruas estavam vazias pelo horário. Eu acelerava, ignorando os sinais e radares, mas parecia não chegar nunca.
— Eu estou perdendo nosso bebê, não é? — me perguntou, em lágrimas.
— Podem ser muitas coisas, amor... — falei, passando a mão no seu rosto, mas dentro de mim já existia a certeza de que sim.
Nós chegamos antes da obstetra, e o médico de plantão iniciou o atendimento. Contamos o que estava acontecendo e ele iniciou a ultrassonografia.
— Você está abortando, Júlia. Como a gestação já havia passado das doze semanas, deve ser feito um esvaziamento medicamentoso, mas a sua médica pode te explicar melhor a conduta — disse o doutor friamente.
Apertei a mãozinha dela e encostei meu rosto ao seu. Eu não conseguia dizer nada, e ela também estava quieta. Foi como se o meu mundo desabasse ouvindo aquelas palavras. Mesmo que eu sentisse que o aborto estava acontecendo, ter certeza de que Maya não viria dilacerou meu coração.
Só se ouvia naquele quarto o som das nossas respirações, nosso choro contido e alguns gemidos de dor, que estavam piorando.
A obstetra chegou. Ela monitorou as duas inseminações, estava acompanhando a gravidez e faria o parto, ou seja, já nos conhecia muito bem. Foi extremamente atenciosa e cuidadosa ao conversar conosco, explicou de forma detalhada como tudo ocorreria e deixou claro que poderia ser doloroso e demorado.
— Júlia, você prefere proceder aqui ou lá da clínica? — perguntou a médica.
— Tanto faz, doutora... — respondeu baixinho.
A Dra. Sabrine olhou para mim buscando um apoio.
— Qual a sua sugestão? — perguntei, tentando me reerguer.
Eu não estava nada bem, mas com certeza Juh estava pior, e eu precisava ser não só o seu porto seguro, mas também o seu suporte, amparo e proteção. Pelo menos era o que eu desejava ser!
Ela se aproximou, fez carinho na cabeça da minha esposa e disse que, na clínica, seria mais longe, porém Juh poderia ter um ambiente mais tranquilo e acolhedor. A equipe inteira já a conhecia e cuidaria muito bem dela.
— Amor, tudo bem para você a gente ir? — perguntei, e ela acenou que sim.
Ao levantar, pediu para tomar um banho antes, e eu a acompanhei. Agora ela andava com um pouco de dificuldade. Ela soltou um forte grito de dor e sentou rapidamente na cadeira higiênica. Conforme a água caía, suas lágrimas acompanhavam, juntamente com uma vasta quantidade de sangue.
Eu não consegui dar continuidade, queria muito ajudá-la de alguma forma, não na ducha, desejava não vê-la mais daquele jeito, sofrendo tanto, sentindo tanta dor e perdendo a nossa filha.
Me senti fraca por não conseguir ser quem sempre sou. Uma das minhas maiores características como pessoa é sempre estar lá, não importando o meu estado, apenas estar presente e atuante. A pessoa que se tornou a dona da minha vida, do meu coração, que possui todo o meu amor, mais do que nunca precisava de mim, e eu não era capaz de assisti-la. Fui chamar a enfermeira, mas Sabrine disse que não precisava, que ela mesma ajudaria nisso. Eu apenas agradeci e me sentei para chorar, sem força alguma para os próximos passos.
Eu não tinha condições alguma de dirigir. Mais uma vez, a médica nos ajudou, deixou o próprio carro no estacionamento do hospital onde ela trabalhava e fomos no meu carro para a clínica. Lá funciona 24h e já tinha uma equipe inteira pronta à nossa espera.
O ambiente com certeza era melhor e mais calmo. Estávamos a sós, e o pessoal era extremamente humano no trato. Me posicionei atrás de Juh, ela tomou a medicação oralmente. Fiquei alisando levemente suas mãos e ela correspondia carinhosamente.
— Quanto tempo você acha que vai demorar, amor? — me perguntou baixinho, seu tom de voz choroso trincava o meu coração.
Não sou especialista e estou longe de ser, mas não achei que fosse demorar dias, como sei que pode ocorrer. Eu ia entrar em desespero se demorasse mais do que algumas horas. Eu vi a quantidade e a força com que ela perdia sangue. Se aquilo se prolongasse, com certeza haveria um problema maior.
— Quanto tempo o seu corpo precisar, não se preocupe com isso! — disse uma das enfermeiras, ao observar o meu silêncio.
Com uns 50 minutos, as contrações começaram e foi uma sensação terrível. Juh fazia muita força, mas quase em silêncio, só conseguia ouvir seu choro. Eu só estava ali, tentei ajudar incentivando inicialmente, porém logo também me calei e foquei em tocar o seu corpo de forma que ela me sentisse ali com ela, queria mostrar que sozinha ela não estava. Essa tortura demorou algumas horas. Quando fomos liberadas, já estava próximo das 10h.
Deixei Sabrine no hospital e agradeci demais por tudo que ela fez. Com certeza, foi além do que o profissionalismo exigia; ela foi um anjo em nossas vidas. Ela confirmou e disse que se afeiçoou a nós por já ter vivido uma história parecida com a nossa, mas que isso ficava para outro dia. Nos despedimos e partimos.
Em casa, após um banho, deitei com Juh um pouco. Ela ia precisar de alguns dias de repouso.
— Me perdoa por não ter conseguido te ajudar da maneira certa? — perguntei, ao me aninhar ao seu corpo.
Juh virou-se para mim com uma expressão preocupada, tocou meu rosto e me deu um selinho.
— Não se sinta culpada por nada, você também perdeu a nossa filha hoje — disse-me, deitando sobre o meu peito.
A gente se abraçou, e ela deve ter cochilado uns 30 minutos enquanto eu fazia leves cafunés em seus cachinhos. Despertou e ficou meio pensativa ao colocar a mão sobre a barriga.
— Quer conversar um pouquinho, gatinha? — perguntei.
— Acordei achando que era um pesadelo, mas infelizmente não foi... — me disse, começando a chorar. — Desculpa ter perdido a nossa bebê! — me abraçou forte.
— Não, amor... Você não tem culpa, aconteceu... Você não tinha controle da situação... — falei, fazendo carinho em suas costas.
— Lore, eu não quero tentar de novo... Não quero pensar na possibilidade de ter outra perda dessa... Eu achei que ia morrer junto e eu morreria para que a Maya estivesse aqui nos seus braços agora! — disse-me, desesperada.
— Eu não suportaria viver sem você, amor... E... Eu prefiro deixar essa conversa sobre tentativas para depois, mas já te adianto que eu te pediria a mesma coisa... Não quero te ver nunca mais sofrendo daquela maneira... — falei, enquanto tentava consolá-la.
— Como vamos contar para as crianças? Meu Deus... Ainda tem isso... Eles estavam tão contentes... — disse-me, pressionando seu rosto com mais força em mim.
— Deixa comigo isso de falar com as pessoas, e é melhor a gente parar a conversa por aqui. Não quero que você se preocupe mais ou se estresse. A gente vai passar por mais isso e, como sempre, vivendo o processo. Um passo de cada vez, não vamos antecipar as situações, os problemas... Vamos viver e, quando os cenários se apresentarem, nós vemos como prosseguir, tá bom? — falei.
— Eu te amo muito, você é muito mais do que um dia eu sonhei em ter. Obrigada por tudo que você faz, mas... Eu sei que você também está precisando de acolhimento agora e quero dizer que, mesmo me sentindo destruída, eu estou aqui para você, tá? Você sabe que pode chorar e sentir a sua perda também, não é? — me perguntou.
— Eu sei, gatinha... — dei um selinho nela. — Vamos chorar juntas, para nos reerguermos juntas... Eu te amo também, amor — falei, enchendo o rostinho dela de beijos.
— Conversa com os meninos só quando for buscar eles à tarde, aí, quando eles chegarem, eu também falo algo, só que aí eles vão estar preparados... — me pediu.
— Tá bom. — confirmei. — Sr. Zé disse que ia trazer Kaká hoje. Vou pedir para ele deixar direto na escola amanhã, quando eu for levar o seu atestado, também levo o uniforme e converso com seu pai. — ela assentiu.
Fiz mais um pouco de carinho a fim de que Juh descansasse, mas ela acabou não conseguindo mais; só ficou quietinha, agarrada a mim.
— Dorme um pouco, gatinha — falei.
— Não estou conseguindo, mas tá tranquilo, não se preocupa... — disse-me.
— Vou preparar alguma coisa para a gente comer então — falei.
— Não, não, por favor... Fica aqui comigo mais um pouco — e me abraçou forte.
— Tudo bem, calma... Estou aqui... — a tranquilizei. — Vou pedir algum delivery, o que acha? — perguntei, tentando mudar o foco.
— Pede para você, não estou com fome agora — respondeu-me.
— Nada disso, para nós duas — disse firmemente.
Só levantei da cama para pegar o nosso almoço e foi a nossa última refeição desse dia. Depois, nós dormimos, acordamos, choramos, nos consolamos e permanecemos juntas.
À noite, liguei para Laura, a psicóloga de Júlia, que trabalha comigo. Não expliquei muito, só disse o que aconteceu e perguntei se ela poderia atendê-la pessoalmente pela manhã. Ela lamentou pela Maya e disse que poderia, sim, já que não atenderia lá na clínica naquele dia e não tinha outro compromisso.
Saí no outro dia e deixei meu amor ainda dormindo, coloquei o celular dela para despertar uma hora antes da terapia e deixei uma bandeja com o café da manhã dela. Fui para a escola; quando entreguei o atestado e expliquei o que ocorreu, notei um burburinho e caras feias. Tentei deixar o mais claro possível tudo o que aconteceu e condição física e emocional de Júlia naquele momento. A gestora disse que recebeu uma mensagem de Juh pedindo para que conversassem por ligação e que, assim que tivesse tempo, faria isso.
Fiquei na frente esperando meu sogro chegar com Kaká e o pai de Mih com ela. Queria dar um beijinho neles antes.
Não demorou muito e Sr. Zé chegou, D. Jacira também estava. Meu filho trocou de roupa dentro do carro mesmo e estava todo dengosinho para o meu lado, um grude gostoso que não dava vontade de soltar. Mih chegou e, assim que nos viu, correu para dar-nos um abraço. Entraram juntos e meus sogros já iam embora, mas insisti para irmos a uma padaria que tinha ali por perto. Falei que precisávamos conversar.
— Aconteceu alguma coisa com minha filha? — perguntou meu sogro ao sentarmos.
— Não é tão fácil falar sobre isso para mim, por estar muito recente, então vou dizer de uma vez, mas peço que não se assustem... Infelizmente, Juh perdeu o bebê... Foi na madrugada de sábado para domingo. Aquela dor no aniversário não foi à toa; quando chegamos em casa, percebemos um sangramento e... Foi um aborto espontâneo tardio — finalizei.
— Meu Deus! Como ela está? Por que vocês não ligaram para nós?????? — perguntou minha sogra, se levantando.
— Vamos para lá, ela está sozinha??? — perguntou meu sogro.
Sem conseguir me controlar, lágrimas começaram a rolar.
— Nesse momento, ela está com a psicóloga — falei, ao olhar o horário. — Vou mandar uma mensagem para, assim que terminarem, nos informarem e seguimos para lá — concluí.
— Lore, você deveria ter ligado, a gente vinha ajudar na hora — disse minha sogra, preocupada, fazendo carinho nas minhas mãos.
— Desculpa... Não conseguimos, eu deveria mesmo ter chamado alguém, mas não estava raciocinando muito bem... — desabafei.
Eles ficaram ali comigo um tempo, consegui me recompor e, depois que recebemos a mensagem de Laura, partimos para casa. Combinei para esperarem na sala, enquanto eu ia no quarto falar que os pais dela estavam ali para conversar, e os dois assentiram.
Notei que Juh estava na cozinha, ouvi o barulho forte de água corrente vindo da pia.
— Gatinha, por que levantou? Não era para descer essas escadas... — falei enquanto me aproximava. Achei estranho ela não me responder nem, muito menos, virar.
Quando cheguei ao seu lado, ela estava olhando fixamente para um corte em uma das mãos. Tinha uma faca na outra e o sangue corria longe da água que caía.
Os piores cenários passavam na minha cabeça. Puxei a faca de sua mão sem dificuldade e a chamei: — Amor????
Sem resposta, ela apenas olhava para o corte.
— Júlia??????? — chamei, puxando seu rosto para mim e balançando-a pelos ombros. Só então ela saiu do "transe".
— Me cortei... Sem querer... Estava... Lavando a louça do café... — explicou-me lentamente.
— Tem certeza que foi sem querer, amor? — perguntei, assustada.
— Sim, mas o sangue... Fiquei olhando e lembrei... Lembrei... — ela não conseguiu completar e começou a chorar agarrada ao meu peito.
A abracei até que se sentisse mais calma e informei quem estava na sala.
— Amooor, por que trouxe eles? Não queria ver ninguém ainda... — lamentou.
— Não tive como impedir, gatinha... — disse-lhe.
— Estou sentindo um pouco de dor, melhor eu sentar — me informou.
— Vem, vou te carregar para levar novamente ao quarto... Tá doendo porque você não escutou sua obstetra e nem a mim, óbvio que não precisava lavar nada... — retruquei.
Subi com ela nos braços e chamei Sr. Zé e D. Jacira. Inicialmente, eles fizeram uma oração pela baby Maya, depois por nós e nossa família. Juh já chorava novamente, dessa vez nos braços de sua mãe. A reconciliação delas realmente veio no momento certo, Júlia ia precisar de todo apoio possível e ter o amor da mãe tão próximo era um ponto muito positivo.
Minha sogra disse que ia em casa pegar algumas roupas e itens pessoais e retornaria no outro dia para ficar um tempo e ajudar conforme a gente precisasse. Achei que Juh ia se opor, porém ela permaneceu quietinha e eu fiquei bem contente com aquilo.
Antes do horário de pegar as crianças, saí para conversar com Loren. Precisava aproveitar ao máximo a presença deles, decidi que não ia deixar Júlia nem um sequer minuto sem supervisão.
Quando coloquei os pés para fora, me bati com Lorenzo e já o chamei para participar também. Ele achou que eu tinha alguma novidade boa e entrou extremamente animado. Sentei entre os dois no sofá e comecei a relatar; em segundos, nós três estávamos em prantos. Eles me abraçavam e diziam sentir muito. Lorenzo perguntou se eu queria que ele fosse buscar Milena e Kaique, mas eu neguei e expliquei que ia conversar com eles naquele dia, mas pedi que ligassem para nossos pais. Eu não ia aguentar ficar repetindo e repetindo a história por tantas vezes no mesmo dia.
Eles queriam ir lá em casa ver Juh, mas pedi que deixassem para o outro dia, porque ela estava bem emotiva e já tinha visto "gente demais". Eles concordaram e disseram que, à tarde, passariam lá.
Contei que não queria mais deixá-la sozinha e Lorenzo me passou o número de uma senhora chamada D. Sônia. Ela é formada em enfermagem, mas morre de medo de ter que exercer a função. O tipo de pessoa que não precisa dizer uma palavra para te fazer rir, o jeito dela basta.
Liguei, disse que estava interessada nos serviços dela e perguntei se podia encontrá-la naquele momento. D. Sônia me confirmou e fui para um café indicado por ela. Contei, bem por cima, o que tinha acontecido e que só precisava que ela fizesse companhia, ajudasse a se locomover quando necessário e ficasse responsável por alimentá-la. D. Sônia aceitou e foi contratada. Queria que ela conhecesse pelo menos minha sogra, que podia auxiliá-la melhor, já que passaria algum tempo conosco, então fomos até a casa.
Quando falei, meus sogros acharam uma ótima ideia, mas Juh... Me fuzilou com o olhar! Entendi na hora que ela não gostou e eu teria que ter uma boa justificativa na ponta da língua para convencê-la. Mas eu sabia que, na frente de todo mundo, ela não diria nada. Fiz cara de paisagem e voltei com a senhora para deixá-la em casa e finalmente seguir para a escola.
Meus filhos estavam tão sorridentes, meu coração apertou no peito porque eu sabia o quanto eles estavam felizes pela irmãzinha que viria ao mundo.
— Onde estamos indo? — perguntou Mih ao perceber o caminho diferente.
— A gente vai ter uma conversa importante hoje — falei.
— Estamos encrencados? — perguntou Kaká e eu neguei, tentando sorrir.
Sentei com eles em uma orla calminha. Sempre gosto de ter conversas difíceis perto do mar, é um lugar que me deixa calma e consigo expor o que for preciso em palavras.
— Tenho uma notícia ruim para dar a vocês sobre algo que aconteceu... — comecei. — Lembram da bebê que a mamãe estava esperando? — Eles acenaram positivamente com a cabeça, já tensos. — Infelizmente, a Maya não conseguiu ficar aqui com a gente.
— Ah, não! — disse Mih, triste, me abraçando.
— Por quê? — Perguntou Kaká, ficando entre minhas pernas.
— Como tá a mamãe? — Perguntaram quase que juntos.
— Eu sei que isso pode ser muito triste e difícil de entender, principalmente por não termos uma justificativa... Tudo bem sentir um monte de coisas agora. A mamãe está muito triste também, e estamos todos tentando nos apoiar, porque, às vezes, mesmo quando a gente deseja muito algo, as coisas não acontecem como a gente espera... — falei.
— Vamos para casa logo, precisamos abraçar a mamãe. — falou Mih.
— É, mãe... Vamos correndo... — disse Kaká, me puxando pela mão em direção ao carro.
— Antes, quero pedir duas coisas: se quiserem conversar sobre isso, eu estou aqui, e podemos falar o quanto quiserem... E... Olha, eu sei que vocês dois estavam loucos por mais um integrante, nós também, mas... É bom a gente não falar sobre isso por enquanto, tudo bem? Pedir isso pode doer o coração da mamãe e o meu... — concluí.
Eles assentiram. Tinham o rostinho triste, mas estavam bem preocupados com Juh. No caminho, fui pedindo para ficarem calmos e tomarem cuidado com os movimentos em cima dela, para ficarem só do ladinho e dando bastante carinho. Os dois prestavam muita atenção em tudo o que eu dizia.
Chegamos, eles se encontraram com os avós, que estavam de saída, e pedi que tomassem banho antes. Deve ter sido o banho mais rápido da história; em pouquíssimos minutos, estavam os dois na minha frente pedindo para vê-la.
— Mamãe! — chamou Mih, se aproximando. — Vai ficar tudo bem, a gente tá aqui com a senhora. — Ela tocava o rosto de Juh enquanto falava e começou a depositar muitos beijinhos.
— A gente sabe que tá doendo seu coração, mas vai passar. A gente vai cuidar da senhora, viu? — disse Kaká, do outro lado, abraçando-a.
— Eu amo vocês demais, são os melhores filhos do mundo... — disse, emocionada. Os dois agora enxugavam carinhosamente suas lágrimas.
Eu estava encostada na porta observando a cena, e Juh olhou de forma amorosa para mim e me chamou para que me juntasse a eles. Dei um beijo em sua boca e deitei ao seu lado, com Kaká em cima de mim. Mih estava deitada do outro lado. Ficamos até dar o horário deles dormirem, com muito sacrifício, foram para seus quartos.
— Nós temos muita sorte de ter esses dois como filhos, amor. — disse Juh, deitando sobre o meu braço.
— Com certeza, são verdadeiros tesouros! — confirmei.
— Agora me explica que história é essa de contratar uma pessoa sem me consultar. — disse-me de repente... Eu já havia até esquecido desse fato.
— Amor, eu não vou te deixar sozinha. Hoje fiquei bem assustada te vendo olhar fixamente para um corte ensanguentado enquanto tinha uma faca na mão... Senti que deveria mudar algo para me sentir tranquila. — falei.
— Mas custava me consultar? Você não confia em mim sozinha? — me perguntou, triste.
— Não é isso, gatinha... Fiquei preocupada... — falei.
— Você não confia? — perguntou, quase chorando. — Achou que eu ia fazer uma besteira? Eu te juro que não! — e as lágrimas caíram.
— De início achei que você estava pensando algo do tipo, não vou mentir, a situação em que te encontrei era bem sugestiva... Mas quando você me explicou, eu entendi perfeitamente... É claro que confio em ti, só acho que no momento você precisa de cuidados. Se você não quiser a Dona Sônia aqui, posso passar meus pacientes para...
— Não, não precisa! — ela me interrompeu. — Fico com minha mãe e a Sônia!
— Faz isso, é temporário, vai ficar tudo bem... Eu te amo muito, tá? — falei, após rir da sua reação.
— Eu também te amo muito, obrigada mais uma vez. — disse, se aninhando em mim.
Nisso recebemos uma videochamada dos meus pais que lamentaram a nossa perda e nos fortaleceram com palavras animadoras. Perguntaram quando seria bom nos visitar e Juh disse que quando eles quisessem, mas preferi marcar para a próxima semana, onde tudo estaria mais controlado ao meu ver.
Batidinhas na porta, nossos filhos novamente entraram em cena. Kaique estava com o colchão de Milena na cabeça.
— A gente pode dormir aqui? Colocamos esse colchão do lado da mamãe para não machucar ela à noite. — pediu Mih.
— Pode... — falei, rindo para Juh, que também sorria olhando para eles.
— Yesssss!!! — comemoraram juntos, batendo uma mão na outra e deixando o colchão cair.
Eles ajeitaram o colchão, foram ao quarto pegar cobertores e voltaram com seus anjinhos em mãos.
— Trouxemos os anjinhos para proteger a senhora. — disse Mih, colocando-os na mesinha de cabeceira.
— Quando a gente estiver na escola, os anjinhos vão cuidar de ti, mamãe. — afirmou Kaká.
— Tenho certeza que sim, meus amores. — respondeu Juh para eles.
Dei um beijinho de boa noite em cada um. Milena deu a mão a Juh e dormiram a noite inteira assim (não sei explicar). Eu a abracei e, com certeza, nós finalizamos o pior dia das nossas vidas, cercados pelo sentimento mais poderoso que existe: o amor!
Maya 👼🏽🤍