Quando cheguei ao açaí, Brenda me cumprimentou com um sorriso animado e, ao seu lado, estava Lucas. Ele estendeu a mão para me cumprimentar, com um sorriso firme e olhos atentos, me analisando de cima a baixo.
– Então, esse é o famoso Rafael? – disse ele, com aquele olhar marcante, que parecia penetrar mais fundo do que qualquer outro.
– Espero que seja uma fama boa – respondi, rindo para quebrar o gelo.
Ele deu um sorriso de canto e disse, sem nenhuma cerimônia:
– Achei que você fosse mais... "delicado", quando a Brendinha falou que tinha um amigo gay. – Seu olhar desafiador era provocativo, e ele parecia se divertir observando minha reação.
– Hahaha, acredito que sou bem normal – rebati, tentando soar casual e segurando o riso.
– Lucas! – recriminou Brenda, dando um leve tapa no braço dele. – Dá pra não ser tão inconveniente?
Ele levantou as mãos em rendição, ainda sorrindo.
– Relaxa! Só tô tentando entender o que você tanto fala sobre o Rafa, né? – disse Lucas, me olhando novamente.
– Bom, ela só deve ter falado coisa boa, eu espero – acrescentei, tentando me manter calmo, embora sentisse meu rosto esquentando com aquele olhar que ele não disfarçava.
A partir daí, a conversa fluiu melhor. Descobrimos que tínhamos gostos parecidos em música e viagens, o que rendeu boas risadas. Lucas era divertido, cheio de histórias engraçadas sobre o tempo no Canadá e a convivência com gente de toda parte do mundo. Em vários momentos, percebia ele me olhando de lado, quase como se tentasse entender mais sobre mim.
Foi uma tarde leve e agradável, e no fim, Brenda parecia satisfeita por termos nos dado bem. Depois de me despedir deles, segui para a casa de Letícia, passar o resto do domingo com o meu filho.
Quando cheguei, Bruninho estava no colo da sua avó, rindo e sapeca.
– Rafinha! – Ela sorriu ao me ver
Peguei-o no colo e o abracei com força, aproveitando aquele momento. Letícia se aproximou, sorrindo, e fomos para a sala. Logo, ela começou a falar sobre o aniversário de um ano do Bruninho, que seria em fevereiro.
– Então, o que você acha da ideia de fazermos uma festa grande? – perguntou Letícia, com aquele brilho nos olhos. – Sei que você não é muito fã de comemorações, mas é o primeiro aninho dele... Acho que ele merece, sabe?
Suspirei, balançando a cabeça. – Sei que você quer o melhor para ele, e eu também. Confesso que a ideia de uma festa grande me assusta um pouco, mas… é pro Bruninho. Vamos fazer do jeito que você acha melhor.
Ela sorriu, satisfeita. – Vou pensar num tema. Talvez algo com bichinhos? Ele ama animais! E também precisamos montar a lista de convidados, ver o local...
– Certo. O que precisar de ajuda, me fala. Vou estar aqui pra organizar tudo com você – respondi, querendo que Bruninho tivesse um aniversário especial, mesmo que isso fosse contra minha preferência por algo mais discreto.
Passamos o restante da noite trocando ideias sobre o aniversário e fazendo planos para a festa. Quando saí de lá, já era quase 21h, e fui direto para casa. Deitado na cama, comecei a refletir sobre as mudanças na minha vida, a faculdade, Bruninho… e Lucas.
O rosto dele veio à minha mente, e me peguei lembrando do sorriso, da postura confiante e daquele jeito provocador que me chamava atenção desde o primeiro instante. O celular vibrou, e vi uma notificação: uma solicitação de Lucas para me seguir no Instagram. Aceitei, e a curiosidade me levou a explorar o perfil dele.
As fotos eram um misto de lugares e momentos que ele claramente curtia. Em uma das primeiras fotos, ele estava no Canadá, com uma jaqueta grossa e aquele sorriso característico, olhando para a câmera como se soubesse exatamente o efeito que causava. Em outra, estava na praia, de sunga, com o corpo bronzeado e a expressão relaxada, parecendo alguém totalmente à vontade consigo mesmo. Ele era forte, parrudo, com aquele ar de quem chama atenção onde passa.
Vi também fotos com Brenda, sorrindo em momentos felizes, e algumas com um cachorro enorme, que ele segurava pelo pescoço como se fosse um velho amigo. Aquele lado carinhoso, divertido, só fazia ele parecer ainda mais irresistível.
Fechei o Instagram com um sorriso, ainda com o rosto dele na minha mente. Sabia que algo em mim tinha mudado naquele encontro.
Terminei a última prova do semestre e finalmente estava de férias da faculdade. A sensação de alívio era tão boa que eu quase podia sentir o peso saindo das costas. Já estava planejado um churrasco na casa de um dos colegas para comemorarmos, mas antes, resolvi manter a tradição que eu e meu pai, Silas, criamos nos últimos oito meses: almoçar juntos pelo menos uma ou duas vezes por semana.
Esses encontros viraram um espaço especial pra gente. Com o tempo, nossa relação se fortaleceu, e tínhamos criado o hábito de compartilhar nossas histórias. Ele me contava detalhes de casos médicos, e eu, quando sentia que podia, dividia um pouco da minha experiência como calouro de medicina, as inseguranças e os desafios que vinha enfrentando. Aos poucos, nosso laço foi se aprofundando, e esses momentos entre pai e filho se tornaram quase uma rotina sagrada.
Naquele dia, como de costume, nos encontramos no restaurante. Logo que sentamos, ele começou a contar sobre um caso médico complexo.
– Então, Rafael, você não vai acreditar. Peguei um caso complicado semana passada – ele começou, com aquele tom sério que reservava para histórias que ele realmente considerava desafiadoras. – Homem de 55 anos, já com histórico de hipertensão e diabetes descontrolados. Ele chegou com sinais claros de insuficiência renal aguda.
Franzi o cenho, atento. – Ele já tinha alguma condição renal pré-existente?
– Bom, inicialmente, não sabíamos. Mas os exames mostraram uma nefropatia hipertensiva, possivelmente não diagnosticada por anos. Quando fomos investigar, descobrimos uma GFR de 25 mililitros por minuto… – Ele balançou a cabeça, com uma expressão frustrada. – Esse paciente provavelmente já estava numa fase 4 de doença renal crônica e nem sabia. Ele veio parar no hospital porque a creatinina chegou a 6,5. A situação estava bem crítica.
– Nossa, fase 4 já? Isso é… quase irreversível, né? – perguntei, tentando absorver cada termo que ele mencionava. Conhecia alguns, mas era fácil me perder nas explicações detalhadas dele.
– Exatamente. Estamos falando de uma lesão de múltiplos anos que só piorou por falta de controle. – Ele fez uma pausa, tomando um gole de água. – O problema é que ele estava com uma acidose metabólica grave e níveis alarmantes de potássio. Fizemos uma gasometria arterial que mostrou um pH de 7,2 e bicarbonato de 16 mEq/L. E, além disso, o potássio estava em 6,8.
– Peraí, um potássio desse nível… ele não estava em risco de parada cardíaca? – arrisquei, já meio nervoso só de imaginar a situação.
– Exato, filho. O risco era iminente. A primeira coisa que fizemos foi administrar gluconato de cálcio para estabilizar a membrana miocárdica. Depois, utilizamos insulina com glicose para empurrar o potássio de volta para as células, e também administramos bicarbonato de sódio. Mas mesmo assim, o quadro não estabilizava como esperávamos.
– E… vocês fizeram hemodiálise emergencial? – perguntei, tentando lembrar o que tinha lido sobre tratamentos de casos críticos assim.
– Chegamos lá, sim. A hemodiálise era nossa única opção, especialmente com o nível de potássio e a acidose descompensada. Mas ele teve uma reação à heparina usada para anticoagulação durante a hemodiálise… – Ele suspirou, e o olhar dele ficou sombrio. – Tivemos que interromper e partir para uma filtração lenta contínua, na tentativa de aliviar a sobrecarga sem agravar a situação.
Fiquei pensativo, tentando visualizar o processo todo. – E agora, ele está estável?
– Relativamente. Conseguimos baixar o potássio para 5,1 e o pH está um pouco mais equilibrado, mas ele ainda tem um longo caminho pela frente. Agora, precisamos de um controle rigoroso da pressão arterial e dos níveis de glicose para tentar preservar o que resta da função renal. Além disso, ele precisa de educação intensiva sobre mudanças de estilo de vida. Infelizmente, muita gente só entende a gravidade quando chega num ponto desses.
Assenti, absorvendo cada detalhe. – É… realmente complicado. E lidar com pacientes que só chegam quando estão em situação crítica deve ser frustrante. Dá pra perceber o quanto a falta de acompanhamento acaba agravando tudo.
Ele me olhou, com um sorriso de lado. – E é por isso que a medicina exige mais que conhecimento, filho. Cada caso traz seus próprios desafios, e muitas vezes precisamos ir além das condutas para tentar chegar no paciente como ser humano, especialmente em casos como esse, onde cada decisão é fundamental.
– Nossa, pai, eu sinceramente acho nefro muito complexo. Apesar de ter entendido um pouco do que você explicou, não sei se eu me daria 100% bem. Parece uma área muito difícil – comentei, ainda assimilando tudo.
Ele riu, com um olhar carinhoso, e assentiu.
– Sim, filhão, nefro é desafiadora, não vou negar. Mas, sabe, foi justamente por isso que me apaixonei. Eu sempre gostei de me desafiar, de usar a cabeça, de lidar com situações complicadas. Quando comecei a faculdade, achava que ia fazer residência em radiologia ou anestesia. Mas, no decorrer do curso, foi a nefro que me conquistou. Esses desafios que você vê como difíceis agora, pra mim, se tornaram um propósito.
Ele fez uma pausa, como se escolhesse as palavras com cuidado, antes de continuar.
– Então, deixa eu te dar um conselho: tenta não se prender muito a uma área específica agora. Aproveite cada matéria, cada estágio, e experimente tudo. Vai ter muita coisa que você talvez não suporte estudar, mas também vai encontrar áreas que vai amar de verdade. O importante é se permitir viver essas experiências pra ver o que mais se encaixa com você, o que mais faz seu coração bater forte. Esse é o caminho pra encontrar sua área.
Assenti, absorvendo cada palavra. Ele falava com uma paixão e clareza que eram inspiradoras. Eu sabia que o conselho dele vinha de um lugar de experiência e, acima de tudo, de muito amor pela profissão. Essa conversa me fez ver a medicina de outra forma, um caminho onde, mais do que o desafio, era necessário encontrar um propósito.
Meu telefone vibrou em cima da mesa, e vi que era uma notificação do Bernardo. Dei uma olhada rápida na tela, mas hesitei em abrir. Meu pai percebeu e levantou a sobrancelha.
– Não vai abrir? – ele perguntou, casualmente.
– É mensagem do Bernardo. Não sei o que ele quer... – respondi, tentando parecer indiferente.
– Pode ser algo urgente – disse ele, incentivando.
Suspirei, abrindo a mensagem. Ele queria saber se eu estava livre hoje à tarde.
– Não é nada demais – expliquei, guardando o celular no bolso.
– Como vocês estão? Está tudo bem? – perguntou meu pai, lançando um olhar curioso.
– Sim, estamos de boas. A gente terminou faz tempo. Ele chegou a namorar o Caio, mas parece que não deu certo e terminaram. Agora, ele quer se encontrar comigo hoje à tarde, mas, sei lá, não estou muito afim – respondi, dando de ombros.
Meu pai sorriu e lançou uma provocação leve:
– Se tem dúvidas, é porque você cogitou.
– Ah, pai, eu gosto do Bernardo, mas... a gente simplesmente não funciona. Ele é ciumento, meio... cínico, sabe? É complicado te explicar.
Silas deu um sorriso, mas dessa vez meio contido, hesitante.
– Bernardo é... irresistível, eu diria. Digo isso porque... bom, acho que já não faz sentido guardar esse segredo de você. Espero que não fique chateado, mas... eu já fiquei com o Bernardo – ele disse, com uma expressão constrangida.
Fiquei boquiaberto, sentindo o rosto esquentar de surpresa.
– O QUÊ? Como assim, pai? – perguntei, atordoado.
Ele respirou fundo, tentando organizar as palavras.
– É complicado... E eu sei que você e seu tio... bem, eu sei que vocês já ficaram algumas vezes...
Fiquei ainda mais vermelho, sem conseguir esconder o constrangimento.
– Co-como assim, pai? – gaguejei
Ele deu uma risadinha, mas continuou, mais sério:
– Calma, filho. Vamos lá. Você sabe que, na nossa família, a gente sempre foi... bem próximo, todos nós. Vou te contar uma história. Primeiro, deixa eu deixar claro: eu não sou gay, nem acho que seja bi. Mas, quando era mais novo, fiquei com alguns caras. Seu tio e eu morávamos na fazenda, e isso era comum entre a gente, sabe? Com primos, com funcionários... Tinha um primo nosso, o Raul, que meio que abriu essa porta pra nós. Naquela época, era algo meio... descomplicado. Nunca foi sentimental, era só por prazer. Seu tio e eu, por exemplo, já ficamos algumas vezes.
Pisquei, tentando processar tudo aquilo. Ele fez uma pausa, e eu pude ver que essa revelação não era fácil pra ele.
– Então, alguns anos atrás, eu estava na fazenda, e o Bernardo já era... grande. Ele tinha aquele jeito... peculiar, e a coisa acabou rolando entre nós. E rolou mais algumas vezes. Uma vez, a gente estava na cachoeira, e o seu tio nos flagrou no ato, e ele teve a certeza que o Bernardo era gay. Ele veio falar comigo depois, dizendo que achava injusto, que o Bernardo era jovem, filho dele, blá blá blá... Discutimos feio. Mas, no fim, eu disse que não seduzi o Bernardo, que ele tinha me procurado. Foi algo natural.
Meu pai deu um suspiro antes de continuar.
– Depois de um tempo, você surgiu... e, quando o seu tio ficou com você, foi meio por vingança. Ele me contou, esperando que eu tivesse a mesma reação que ele teve quando soube de mim e do Bernardo. Discutimos, é claro, mas a gente acabou se entendendo. Entre nós, nunca foi forçado, e, no fundo, era só... curtição entre homens. Foi assim que a gente sempre lidou com essas coisas.
As palavras do meu pai foram um choque. Era tanta coisa pra assimilar que mal conseguia formular uma resposta. A imagem que eu tinha dele e do meu tio, e até do Bernardo, parecia se misturar e se desfazer ali, como se as peças não se encaixassem mais do mesmo jeito.
Meu pai continuou com um olhar mais sério, como se estivesse tentando me explicar algo importante.
– Olha, o meu primo Raul, ele teve chegou a transar com o meu pai, seu avô, mas nunca houve uma conversa aberta entre meu pai e seu tio sobre isso. Hoje vejo que essa conversa poderia ter sido útil, entende? Por isso estou falando com você. A nossa família tem esse histórico incestuoso, e eu e o seu tio nos damos bem com isso, mas vejo que você e o Bernardo têm sentimentos mais profundos, o que pode complicar as coisas. Eu e o seu tio seguimos nossas vidas cada um com sua mulher, e sim, eu tive algumas experiências com homens mesmo casado, porque o sexo oral com macho, é algo diferente e gostoso, um homem chupa melhor que uma mulher. Mas não é algo que eu quero o tempo todo. Eu sou feliz com sua mãe e não fico pensando sobre isso. Quando digo que eu não julgo o que você e seu tio fazem, é porque entendo. Quero que você também entenda esse meu lado.
Eu estava surpreso com tudo o que ele estava dizendo, mas ele parecia querer ser honesto comigo.
– Pai, sinceramente, eu não esperava ouvir isso, e... como foi essa história com o Bernardo, vocês só ficaram aquela vez?
Ele respirou fundo, como se soubesse que a resposta não seria fácil de ouvir.
– Olha, talvez você fique chateado, mas aconteceu em outros momentos, sim. Lembra da vez na fazenda, quando você deu aula pra Zoe? Pois é, naquela época, a gente acabou transando. E teve outra vez quando a Yves viajou e você deu aula em casa. Eu e o Bernardo acabamos transado de novo, mas, enfim, aquela foi a última vez.
Eu fiquei chocado. Tudo parecia tão complicado.
– Puxa, eu não sabia disso. Naquele dia, ele estava brigado comigo... Eu realmente não gosto do jeito dele, ele tem esse cinismo que me irrita tanto.
Meu pai pareceu entender o que eu estava sentindo.
– Eu entendo, filho. Mas você também passou por uma situação parecida, né? Ficar com o seu tio enquanto estava com o Bernardo.
Eu não podia negar, mas a situação era bem diferente.
– Sim, não nego, mas a grande diferença é que eu nunca fiquei me fazendo de "fiel", com aquele discurso. Essas coisas do Bernardo que me irritam profundamente, é isso que me fez ficar com raiva dele.
– A relação de vocês é bem complicada, né? Talvez se o Bernardo tivesse sido mais aberto, e você também, as coisas poderiam ser diferentes. Mas, olha, tenta não ficar com raiva, porque já passou. O meu conselho é que, se puderem, sejam sinceros um com o outro. Assim como você cometeu erros, o Bernardo também teve suas falhas. Talvez, se vocês conversassem com mais clareza, as coisas poderiam se resolver de outra forma.
Eu respirei fundo, tentando processar tudo.
– Eu tenho muito ciúmes do Bernardo, e sei que sou um pouco egoísta, porque é como se eu pudesse ficar com outras pessoas, mas a ideia de saber que ele fica com outros também me incomoda muito. É difícil lidar com esse sentimento de posse, e eu sei que não é certo, mas não sei como mudar isso em mim.
Meu pai me olhou com compreensão, e então falou com calma.
– Filho, você está sendo egoísta. Quando se trata de um relacionamento, é preciso haver um entendimento mútuo, né? Por exemplo, eu estou casado com sua mãe, e se eu decidisse ser infiel, seja com homem ou mulher, eu não poderia exigir dela que fosse fiel sem me abrir, sem ser transparente. E, claro, eu não vou ficar anunciando que vou me envolver com outra pessoa, mas se eu fizer isso, ela tem todo o direito de fazer o mesmo. E eu não posso cobrar algo dela, pois já teria agido de forma inconsistente. A melhor forma de resolver isso seria ter uma conversa franca. Abra o jogo, se expresse, e se o Bernardo também se abrir, talvez vocês possam encontrar uma forma de se entender e tentar algo que funcione. Entende?
Eu refleti por um momento, entendendo melhor o ponto de vista dele.
– Sim, sim, o senhor tem razão.
– Então, tudo vai ficar bem entre a gente depois de todas essas revelações? – perguntou meu pai, com uma expressão preocupada.
– Sim, pai, confesso que fiquei surpreso no começo, mas já estou mais tranquilo agora.
– Que bom, então. A partir de agora, não vou esconder mais nada de você. Já te falei tudo o que eu podia, não tenho mais segredos, já te mostrei todos os meus lados, do mais obscuro até o mais sacana, então é isso.
– Obrigado, não sabia que ter um pai seria assim tão bom... – ao dizer isso, seus olhos se encheram de emoção.
– Eu que agradeço, filho. Gosto muito de você e fico feliz quando você fala assim.
– Te amo – falei meio sem jeito.
– Também te amo, filho.
– Então quer dizer que o senhor e o meu tio... não esperava por isso... posso contar com ele que sei de tudo ou é melhor mantermos em segredo?
– Você e seu tio são bem próximos, né? Pode comentar com ele, não vejo problema nenhum.
A conversa foi se encerrando, meu pai pagou a conta, e conversamos sobre outras coisas mais triviais. Fui para casa me arrumar para o churrasco. Confesso que ainda estava um pouco surpreso com as revelações do meu pai, mas aquela conversa abriu portas para que eu pudesse falar mais abertamente sobre esses assuntos com ele. Também comecei a entender um pouco mais sobre a nossa família e esse lado incestuoso que a gente tinha, e percebi que nossa familia era envolta de segredos, por exemplo, eu transava com meu tio e acháva que ninguém sabia, mas meu pai sabia. Meu pai e o Bernardo transavam, eu não sabia, mas meu tio sabia. Tudo sempre foi mantido em sigilo, e todos mantinham esse segredo pra si, e era assim a nossa família, a família dos carneiros, entre segredos e segredos, acho que essa seria a melhor definição., no fim, foi uma conversa importante. Acho que agora conheço meu pai de uma forma mais completa, e fiquei satisfeito com o que aprendi.