Achávamo-nos apaixonados. Saímos uma vez. Algum tempo num motel, em que gozamos por nossos próprios meios, siririca e punheta respectivamente, foi suficiente para deixar bem claro que nos havíamos enganado. Nem paixão, nem tesão. Fechamos a noite com um pacto de amizade sem sexo, mas com muito carinho – assim pensamos. Mas, seguiu o baile da vida, pouco nos encontrando, pouco nos falando, por isso carinho rareando também.
Certa noite, nos vimos num evento qualquer. Falamo-nos como conhecidos, sentamo-nos lado a lado, trocamos opiniões sobre a palestra a que assistíamos. Nem falamos sobre nossas vidas além do socialmente esperado. Disse-lhe que estava morando sozinho agora, disse-me que havia acabado mais um namoro chato e enfadonho. Falei que ultimamente estava mais homo que bi, disse-me que finalmente beijara uma mulher – e gostara. Rimos. Em pouco, amigos meus e amigos dela naturalmente nos separaram, e a perdi de vista.
Final do evento, eu já me despedira da galera e caminhava para a saída, quando ela me aparece à frente – pequena ruga de preocupação no rosto. Disse que havia combinado com uma amiga dormir na casa dela (ela mora em outra cidade), mas acontecera uma emergência médica na família e o pouso gorara. Ela estava literalmente na rua, brincou. Perguntou se poderia dormir na minha casa. Claro que sim, se não se importar com minha nudez. Minha conquista de morar sozinho tinha a ver também com o fato de poder viver sem roupa. Sem problema, ela falou.
No trajeto, atualizamos nossas mútuas novidades e rimos. Entramos no pequeno apartamento, meu pequeno reino nudista. Fui logo mandando a real: não sei ser anfitrião, não costumo receber visita, então você não é visita – fique bem à vontade de verdade. Mostrei-lhe a cozinha: se quiser comer alguma coisa, mexa aí nos armários, veja o que lhe agrada, prepare e bom apetite. Mostrei-lhe o banheiro e as demais dependências, deixei-a na sala, absorta num livro que encontrara sobre uma cadeira: “Éramos três”, de Brigitte Bijou. Sabia que Brigitte Bijou é o pseudônimo de um conhecido humorista, já falecido? Depois te conto essa história.
Dirigi-me ao quarto, livrei-me das roupas e me dirigi à cozinha, para mordiscar algo. Ela, ainda com o livro na mão, levantou os olhos, constatando minha nudez, sorriso meio sem jeito talvez: “Já?” Claro, já estou em casa, não há por que ficar vestido. Se quiser, fique à vontade também. Se precisar de um tempo, tudo bem. Se preferir pode ficar vestida. Você que sabe! Fique de boa.
A peculiaridade da situação produzia um clima meio esquisito, mas completamente assexuado. Eu não sentia o menor tesão em estar sozinho, num apartamento, sem roupa e na companhia de uma mulher. Na verdade, ela parecia meio inquieta, mas procurei não valorizar a situação, e mudei de assunto. Como estava ainda com o livro na mão, comentei que esse romance erótico fora escrito pelo Paulo Silvino, no começo de sua vida, quando ainda estava no exército, e que acabou vendendo os originais para um sargento amigo dele, que gostava de ouvi-lo contar piadas. Anos depois, Silvino surpreendeu-se ao encontrar o livro exposto na vitrine de uma livraria, como sendo dessa tal Brigitte Bijou. Minha hóspede riu do inusitado relato. Largou o volume e dirigiu-se ao banheiro – em pouco, ouvi o barulho da ducha.
Liguei o computador, para atualizar algumas demandas. Concluído o banho, ela apareceu na sala, de calcinha e soutien; senti meu pau se mexer discretamente, mas nossa conversa aleatória fê-lo voltar ao descanso. Encorajada pela minha descontração, já se sentindo confortável no ambiente e motivada pelo estômago, foi à cozinha e preparou sanduíche e café. Voltou à sala ainda com a fumegante caneca nas mãos. Ficou acompanhando minhas ações finais de atualização e o subsequente desligar do computador.
Levantei, dei uma bicada rápida no seu café e fui para o banheiro. Uma chuveirada rápida me refrescou, e, quando voltei ao quarto, ela estava só de calcinha – os belos seios finalmente livres da tortura do soutien. Notando que só havia uma cama – nem sofá eu tinha –, perguntou, mais curiosa que qualquer outra coisa, onde iria dormir. “Sugiro a cama: já que o chão é duro pra caralho, e as cadeiras desconfortáveis” – respondi, divertindo-me. “Tá bom”, ela disse, descendo rapidamente a última peça de roupa que a cobria, exibindo uma buceta rosada e depilada. Enfiou-se sob a felpuda coberta, enquanto falava sobre algo qualquer.
Fui checar o apartamento, apagar as luzes e voltei ao quarto, deixando-o também na escuridão, finalmente deitando-me ao seu lado, sob o lençol. O leve e inevitável toque em sua pele macia e fresca foi enrijecendo meu mastro, mas procurei não dar a isso importância maior, para não a constranger. Ela se virou para mim, beijou-me rapidamente nos lábios e aninhou-se em meus braços, agora seu corpo todo junto ao meu. Ela fingia não perceber a dureza de minha rola; decerto também estava excitada, caverna vaginal a derreter-se encharcada. Mas apenas remexeu-se, em busca de uma posição confortável, que encontrou ficando de costas para mim, minha rola rígida enfiada entre suas coxas, finalmente sentindo o aguaceiro que brotava de sua buceta.
Apesar da lubricidade do momento, do evidente tesão que tomava conta de nós, permanecíamos como que fieis ao propósito de apenas dois amigos numa cama. Eu evitava, a custo, qualquer movimento que denotasse insinuação sexual. Tudo que eu menos queria era retomar uma relação romântica e convencional com ela, o que já se mostrara inviável no passado. Tê-la como amiga íntima era muito mais completo e desejável. Acho que esse pensamento também povoava seu cérebro, porque, em momento algum, de sua parte, aconteceu qualquer movimento mais insinuante.
O silêncio, a penumbra, o gostoso do aconchego dos dois corpos juntinhos, tudo isso foi dando um soninho bom, e fui me entregando a Morfeu. Em instantes, comecei a ouvir um discreto barulho molhado, que foi gradativamente aumentando: ela se masturbava. Meu pau cresceu novamente – busquei me conter. Ela intensificava a siririca, em pouco gemia baixinho e se remexia discretamente, roçando meu falo ora com sua bunda, ora com suas coxas. Até explodir num gozo vigoroso, a gemidos mais graves e convulsos impulsos do corpo. Enquanto ela retornava ao normal, passei meus braços por baixo dos seus, catei seus seios, agasalhei-os com as mãos e apertei seu corpo contra o meu. Ela foi ficando molinha e se aninhou. Assim adormeceu. Assim adormeci também.
Dia seguinte, acordamos nossos corpos largados, meio por cima do outro. Despertei primeiro, catei o celular para as primeiras atualizações do dia. Ela acordou, sorriu e estremeceu de frio, enrolando-se no lençol e pressionando meu corpo, em busca de calor. Larguei o celular, depositei um cheiro em seu pescoço (“Bom dia, linda!”) e fui me afastando, aos reclamos manhosos do seu corpo. Levantei-me, fui ao banheiro. Quando estava sob a ducha, ela entrou, usou o sanitário, abriu o box e se enfiou ao meu lado, debaixo da água quente.
Procurando demonstrar naturalidade, passei a ensaboar seu corpo, deixando para ela apenas a limpeza íntima, que sempre é melhor realizada pela própria pessoa. Em seguida foi a vez de ela fazer percorrer o sabonete pelo meu corpo; buscou também passar espontaneidade e indiferença ao encontrar meu pau endurecendo ao seu toque. Ainda nos abraçamos fortemente, sob a água, numa sincera demonstração de carinho e de amizade.
Após o banho, tomamos nosso café – cada um tendo preparado o seu. Vestimo-nos tagarelando sobre as atrações de último dia do evento, programadas para dali a pouco, e chegamos ao local felizes e de bem conosco mesmos. Cada um foi em busca de sua turma e somente nos reencontramos ao final, despedido-nos com um abraço fraterno.
Depois disso, vez em quando, quando precisa pernoitar por aqui, vai para o meu apartamento, e tudo acontece mais ou menos como da primeira vez, com mínimas variações. Estamos cada vez mais íntimos, sem no entanto nos vermos com frequência nem nos comermos. Uma relação bastante peculiar, eu diria.