CAPÍTULO 06
Henrique e Cahya saíram do hotel barato que estavam hospedados para jantar. Eles tinham conversado sobre a proposta de emprego que ele recebera e a princípio ela não se empolgou e explicou para ele que, ter fugido do lugar onde vivera dos quinze aos dezenove anos era uma coisa, fugir da local que eles estavam para se refugiar em outra cidade já não tinha sido bom para ela, mas entendia que tinha sido necessário. Mas a chance de surgir uma oportunidade de trabalharem juntos os levaria para longe da terra natal e isso a assustava.
Com muita paciência e usando argumentos lógicos e valorizando muito o fato de que ser ele o que estaria empregado resolveria todos os problemas deles. Cahya foi se deixando contagiar com o entusiasmo dele, mas o que fez com que ela decidisse apoiá-lo em sua decisão foi o argumento usado por Henrique de que, mesmo estando longe dos traficantes que os perseguiram, a distância não significava estar livres deles.
Foi o medo de Cahya de ser atacada novamente que a convenceu de vez, pois ela sabia muito bem que, embora preocupados com o que o Henrique viu quando visitou o amigo nas instalações onde funcionava a refinaria já o colocava como alvo entre os traficantes, mas ele podia muito bem ser contratado para trabalhar em um navio, sumir dali e nunca mais aparecer. Isso representava dois fatores importantes para ela. O primeiro era que ela não queria se separar de Henrique e sim viver com ele pelo resto de seus dias e o segundo consistia em ter consciência de que o resto de seus dias seria um período muito curto se fossem alcançados por seus perseguidores. A chance de mandarem assassinos atrás dela era de cem por cento. Afinal, entre os dois, era ela que teria mais informações a dar às autoridades. Não que essa fosse as intenções deles, mas os traficantes não sabiam disso e, mesmo sabendo, não acreditariam.
Ao sair do restaurante eles começaram a caminhar abraçados em direção ao hotel que não ficava longe e logo o Henrique ficou inquieto. Ele percebera que assim que saíram do restaurante um carro preto se pôs em movimento, porém, em vez de acelerar e seguir em frente esse carro andava lentamente e não os ultrapassava. Para piorar, estava com os faróis apagados. Preocupado, ele resolveu tirar a dúvida se estavam sendo seguidos. Parou diante de uma vitrine e agiu como se estivesse olhando um manequim que trajava um vestido de noite comentando com Cahya sobre a beleza da roupa. Ela, demonstrando que era muito inteligente, comentou com ele:
– O que acontece Henrique. Você não olhar só vestido. Você nervoso.
Ele se rendeu à argúcia dela e explicou:
– Aquele carro está nos seguindo desde que saímos do restaurante. Olha só, o safado agora está parado.
Cahya, sem tomar o cuidado de disfarçar, olhou para o carro que, ao ver que estava sendo observado, se pôs em movimento e ultrapassou o casal que, agora sem disfarçar, observaram com atenção os ocupantes do mesmo. Depois que o carro passou e virou à direita na primeira esquina, ele perguntou:
– São eles?
– Eles quem?
– O pessoal que está atrás de nós?
– Não. Não ser eles.
– Como você sabe? O cara que estava no banco de carona me pareceu ser gente daqui do seu país.
– Não ser gente do meu país. Ser diferente.
– Diferente como? – Perguntou o Henrique: – Eles têm o mesmo tipo de rosto.
– Não ser do mesmo tipo. Ser diferente.
– Pois eu acho que são iguais ao povo daqui.
– Você não ser daqui, não sabe diferença.
– E você sabe?
– Sim. Cahya saber.
– E de onde eles são?
– Não saber. Ele parece homem de filme índio.
Henrique riu do jeito que ela falou para se referir ao estranho. Mas ele abandonou esses logo concluiu que podia estar certa e que se tratava de alguém oriundo de um país da América Latina. Enquanto ele pensava sobre isso, cansada de esperar por um comentário dele, ela falou:
– Ter o homem da direção. Ele não ser daqui. Ele ser loiro e alto. E aquele que está na esquina também ser.
Henrique olhou na direção a que ela se referia e realmente havia um homem parado na esquina cuja aparência destoava do local. Isso o deixou preocupado a ponto de ele pensar em voltar na direção de onde tinham vindo, mas ao dar meia volta viu o mesmo carro virando a esquina e vindo em direção a eles. Soube que era o mesmo carro de antes porque, assim que acessaram a rua que ele estava, apagaram os faróis e diminuíram a velocidade. Imediatamente Henrique tomou uma decisão e atravessou a rua enquanto prestava atenção na reação dos homens que estavam no carro e o outro parado na esquina. Não percebeu nenhuma reação neles. Começou a andar mais rápido e seus seguidores não alteraram o comportamento. Só depois de percorrer cerca de cem metros, olhar para trás e notar que o carro ainda os seguia, porém, mantendo a mesma distância de antes, desviou o olhar para onde se encontrava o terceiro homem e notou que ele começava a segui-lo.
Henrique analisou a situação e concluiu que eles estavam sendo seguidos sim, mas pelo menos não havia ninguém atirando neles ainda. Explicou isso a Cahya complementando que provavelmente se tratava de alguém que queria saber onde eles estavam morando para agirem mais tarde. Então se lembrou da proposta de emprego que recebeu e pensou que, com um pouco de sorte, no dia seguinte estaria a bordo de um iate e isso lhe proporcionaria alguma segurança. Conversaria com Cahya a respeito disso, iriam até o local onde ela estava trabalhando onde ela pediria demissão e depois iriam direto para o porto.
Chegaram ao hotel sem nenhum sobressalto, apesar de saber que ainda eram seguidos. Entraram no quarto e se preparam para dormir. Henrique contou para Cahya a respeito da proposta de emprego e ela aceitou no mesmo momento. Aquilo representava tudo o que eles queriam. Os dois trabalhando juntos e fugindo para sempre daquele país. A empolgação de Henrique diante dessa possibilidade era tamanha que eles ficaram conversando sobre isso até serem dominados pelo sono e foi uma das raras noites em que não transaram antes de dormir.
Os homens que surgiram do nada e passaram a seguir o Henrique, como não tentaram nada, deu a ele uma sensação de tranquilidade o que fez com que ele fosse descuidado e dormisse sem fechar a janela de ferro que protegia o apartamento que ocupava e que dava para a rua, mantendo apenas aquela que era de vidro para impedir a entrada do ar frio da madrugada. Eles estavam em pleno verão, mas a umidade trazida do mar por uma brisa leve fazia com que a temperatura baixasse.
Isso provou ser um erro e ele descobriu isso da pior forma possível ao acordar com o barulho de tiros e vidros quebrados. Ficou assustado quando percebeu que os tiros se destinavam a eles. Por sua sorte, o instinto prevaleceu e quando uma segunda saraivada de tiros foi disparada ele já estava no chão. Foi salvo por Cahya que o empurrou para fora da cama e depois caiu sobre ele.
Os primeiros tiros quebraram os vidros da janela, passaram alguns centímetros acima d cama e atingiram a parede que ficava do outro lado. A segunda rajada acertou em cheio o colchão e ambos teriam sido alvejados se não fosse a rápida ação da garota.
Henrique estranhou quando ouviu o barulho da terceira carga de tiros e notou que nenhum deles foi em direção ao seu quarto e, mais estranho ainda, começou a ouvir gritos de pedidos de ajuda indicando que alguém lá fora tinha sido ferido. Mas mesmo assim ele continuou deitado e sua única preocupação era proteger Cahya e por isso cobriu o corpo dela com o seu.
Após a terceira saraivada de tiros o silêncio que logo foi quebrado por uma voz gritando por seu nome. Olhou para a janela e viu o rosto do homem que falava com ele. Imediatamente reconheceu que era o homem com traços latinos que estava no carro que o seguia. O homem dizia em português misturado com espanhol:
– Henrique, pegue tus cosas agora e saia, bamos te llevar para um local seguro.
– Quem é você? – Perguntou Henrique enquanto tentava se recuperar do susto e sabendo que, quando conseguisse isso, ainda teria que lidar com a surpresa de saber que um dos homes que o seguia estava lhe oferecendo proteção.
– Estoy a mando del señor Ernesto.
Henrique se levantou e se aproximou da janela. Ele ainda não estava confiando naquele homem, mas quando olhou para rua e viu três corpos estendidos no chão ficou mais tranquilo. Mas o homem, agora perto dele, falou:
– Apresúrate. Estos hombres te querían muerto y dos de ellos lograron escapar. Pronto este lugar estará lleno de policías. Y no sé si podemos confiar en ellos.
– Eu conheço dois desses homens. São do bando de traficantes. – Falou Cahya que tinha se aproximado sem ninguém notar e se colocara ao lado de Henrique.
A voz de Cahya não demonstrava medo, apenas admiração, afinal, eles foram encontrados muito depressa. Então ela usou esse fato para explicar ao Henrique que eles não estariam seguros naquela cidade e nem em qualquer outra daquele país. Isso fez com que ele, confiando ou não, tinha que obedecer ao homem. Imediatamente abriu sua mochila e começou a jogar dentro dela seus pertences. Quando viu que Cahya fazia o mesmo e ele já tinha acabado, informou a ela que iria pagar a conta do Hotel enquanto ela terminava, mas o homem voltou a dar ordens:
– Deja la cuenta. Pronto alguien se hará cargo de ella. Vamos, sal por la ventana y el coche está cerca de aqui. Te llevaremos al yate del señor Ernesto.
Ao ouvir esse nome, Henrique deu um suspiro de alívio. Não que ele conhecesse aquele homem, mas o fato de, antes de se encontrar com ele pela primeira vez, já o ter visto em seus sonhos e o homem agir como se a mesma coisa estivesse acontecendo com ele já era uma referência positiva. Nesse momento a Cahya já estava ao seu lado usando uma roupa que tinha vestido para cobrir sua seminudez e segurando uma camisa e uma calça jeans na mão para que o Henrique fizesse o mesmo. Mas o homem ordenou que ele se vestisse no carro e ele se limitou a pegar sua jaqueta que estava sobre o encosto de uma cadeira e pulou a janela. Quando se virou para ajudar Cahya a fazer o mesmo, ela já estava sentada na batente da janela e, amparada pelo homem, pulou para o chão.
Em menos de dez minutos de uma corrida maluca pelas ruas desertas da cidade o carro parava. Eles estavam no cais da cidade e pararam ao lado de um iate luxuoso.
Os homens que estavam com ele no carro, em um total de três, saíram antes do carro e adotaram posturas defensivas. Quando o Henrique saiu do carro olhou para o iate e viu que no convés havia dois outros armados com rifles e prontos para atirar enquanto três outros desciam a escada. Isso lhe deu uma sensação de segurança, pois sabia que, se aqueles homens quisessem lhe fazer algum mal já teriam feito, pois oportunidade não lhes faltara.
Dos três homens que desceram pela escada, um se juntou aos três conduziram os jovens até ali e dois outros se dirigiram a eles que nesse momento estavam saindo do carro. Exigindo eles se apressarem, os conduziram pela escada até o convés e em seguida foram praticamente empurrados para dentro de uma sala. Quando Henrique ia falar sobre suas mochilas que ficaram no carro, um dos homens que antes o protegia entrou na sala com elas nas mãos. Um homem que ele não conhecia, com um sotaque italiano, veio até ele e, depois de se apresentar como sendo o secretário particular de Ernesto, lhe deu instruções para que ele ou Cahya evitassem aparecer no convés e permanecerem no interior do iate. Em seguida se dirigiu a um dos seguranças e ordenou que acompanhassem o casal até a cabine que, para espanto do casal, já estava preparada para eles.
Esgotados, mas com os nervos em frangalhos, o casal demorou em dormir e usaram esse tempo para conversar, chegando à conclusão de que o melhor a fazer seria aceitarem a oferta de emprego de Ernesto. Cahya, cujo alívio por se sentir segura era maior que qualquer preocupação, lembrou ao Henrique que, de qualquer forma, eles sempre poderiam se desligar daquele emprego quando estivessem em outro país e longe dos braços da quadrilha que, apesar de perigosa, tinha sua influência limitada ao país.
Quando dormiram, o sol já despontava no horizonte e com isso só foram acordar depois do meio dia. Henrique saiu da cabine para explorar o iate e a primeira coisa que viu foi que, em frente a ela, havia um banheiro que, embora simples, para ele era um luxo se comparado com os que ele estava acostumado a encontrar nos navios que trabalhou antes. Voltou então para a cabine e informou à Cahya da existência do banheiro e que ia usá-lo. Pegou uma toalha e foi tomar um banho.
Quando ele retornou à cabine, encontrou Cahya enrolada em uma toalha dizendo que ia fazer o mesmo e, antes de sair, informou a ele que um funcionário do iate tinha vindo até a cabine e a informado que depois do banho eles deveriam almoçar e depois teriam uma entrevista com o senhor Ernesto. Ele só assentiu enquanto ela fechava a porta do banheiro atrás dela, deixando a da cabine aberta.
Henrique encostou a porta e começou a se vestir e depois ficou esperando por Cahya.
O almoço estava delicioso e a entrevista com Ernesto foi curta. O homem só perguntou se eles estavam dispostos a trabalharem para ele e ao receber a confirmação que sim, apenas pediu a eles seus documentos pessoais para que fossem providenciados os registros e os documentos de saída do país e os dispensou depois de informar:
– A senhorita vai ser a ajudante de cozinha e você Henrique, vai ser contratado como marinheiro, porém, como se trata de um navio de recreio, não fique surpreso se tiver que executar tarefas estranhas à função de marinheiro, porque eu vou precisar que você atue como uma espécie de faz tudo.
Henrique concordou com um aceno de cabeça e os dois se dirigiram à cabine para buscarem seus documentos. Mas não precisou que eles retornassem, pois no momento que saíam da cabine com eles na mão, o secretário estava no corredor esperando por eles, pegou os documentos e saiu dali com seu andar empombado. Cahya, depois que o homem subiu a escada e não podia mais ouvi-la, comentou com o Henrique:
Enquanto Henrique e Cahya permaneciam em sua cabine cumprindo as ordens de não aparecerem no convés, Ernesto concluía o trabalho de seleção visando a completar a tripulação. Não precisava de muita gente. Apenas mais três e o quadro ficaria completo.
A primeira a ser contratada foi para preencher o cargo de arrumadeira e garçonete. A entrevista dela também foi curtíssima e muitos dos cuidados que se tomam nesses casos foram deixadas de lado fazendo com que a mulher ficasse surpresa com a facilidade com que foi aceita. O que ela não sabia é que era uma das pessoas que tinham aparecido nos sonhos de Ernesto que, ao vê-la, soube na hora que ela tinha que fazer parte daquela viagem. Ela teria sido contratada mesmo que sua experiência em trabalhar como garçonete e camareira fosse igual a zero, pois na cabeça de Ernesto a presença dela naquele iate era imprescindível.
O nome dela era Diana Trindade. Contava com trinta e três anos de idade. A cor negra de sua pele fazia com que parecesse uma estátua de ébano e, não bastasse isso, tinha um rosto delicado, com traços suaves e com o acréscimo de dois detalhes que a tornavam linda que eram sua boca carnuda com lábios sensuais e seus olhos verdes. O cabelo comprido e encaracolado funcionava como uma moldura para a obra de arte que era o seu rosto. Seu corpo era o que pode ser chamado de médio. Um metro e sessenta e cinco de altura, seios médios e pesando cinquenta e nove quilos. O que mais chamava a atenção nela era sua bunda grande que era a primeira coisa que homens, e algumas mulheres, observavam ao se aproximarem dela.
Os outros cargos eram o de encarregado de máquinas e de serviços gerais. Ernesto gastou um longo tempo entrevistando os cinco candidatos que se apresentaram para a vaga do primeiro deles. Quando percebeu que não chegaria à conclusão de qual deles deveria ser contratado, enviou-os ao Capitão e deixou a decisão a cargo dele que, com sua experiência, logo conseguiu saber qual deles era o mais capacitado. Tratava-se de um homem de quarenta e seis anos de idade cujo nome era Edward Porter. Nascido na Inglaterra, o homem passara os últimos trinta anos de sua vida navegando de um lado para outro e conhecia todos os continentes. Era difícil citar um país que fosse banhado pelo mar que ele não conhecesse. Era um homem de poucas palavras, mas quando alguém lhe dirigia a palavra, respondia de forma cortês e educada. Ao que tudo indicava, era o tipo de homem bom para se ter ao lado em qualquer situação de crise.
Para o último cargo o número de candidatos foi o maior. Ernesto gastou quase duas horas entrevistando a todos eles e acabou contratando um negro e o que mais influenciou a sua escolha foi a de que o rapaz era brasileiro, o que ajudaria na comunicação com o Henrique que seria a pessoa a quem ele ficaria diretamente subordinado e demonstrou ser muito simpático. Seu nome? Nestor.
Nestor não tinha sido assassinado pelos traficantes. Diante a fuga de Cahya e Henrique ele desconfiou que estava com os dias contados. Os chefes da quadrilha não o perdoariam por toda aquela confusão. Nestor era um sobrevivente e o motivo dele era que tinha essa capacidade de prever o perigo, então ele se aproveitou da confusão e fugiu. Ele nem chegou a tomar parte no assassinado de Bonaparte.
Mesmo sem ter tido chance de planejar sua fuga, conseguiu levar consigo suas roupas e demais bens pessoais, além do dinheiro dos salários que guardou durante todos os meses que passou ali. Ele sabia que com aquele dinheiro poderia viver por vários meses se fosse econômico. Mas para isso, ele não poderia continuar a consumir drogas.
Somente esse fato já foi estímulo para que ele abandonasse o vício. Mas o principal fator foi que ele não precisou demonstrar força de vontade para isso porque ele permaneceu vários dias perdido na selva onde o problema do vício ajudou para que ele não conseguisse chegar a nenhuma cidade. Foram dias e noites horríveis em que ele andava em círculos e se alimentava de frutas quando conseguia encontrar alguma.
Mas Nestor venceu. Conseguiu chegar a uma cidade pequena que, apesar de seu diminuto tamanho, era rota de um ônibus que ele usou para chegar à capital. Então começou a procurar por Henrique e Cahya O primeiro lugar que ele procurou foi na região portuária e não conseguiu obter sucesso, mas sua sorte mudou.
Aconteceu que, quando estava em um restaurante jantando. reconheceu dois homens que entraram e foram ocupar uma mesa próxima a dele. Como estava de costas e os homens não estavam procurando ninguém, ele se manteve quieto e ficou exultante quando os dois falavam sobre o fracasso de três elementos do bando deles que tinham sido derrotados ao tentarem cumprir uma missão. O nome de Cahya foi citado e ele ficou torcendo para que eles falassem alguma coisa que lhe desse uma pista do paradeiro dos dois. E sua espera não foi em vão, pois logo um deles disse ao outro que o casal tinha sido seguido e foram visto embarcando em um ônibus e não foi difícil descobrirem que o destino deles era a cidade de Kuta Beach.
Sem demora ele pegou um ônibus naquele mesmo dia se dirigindo para a mesma cidade onde começou a procurar pelos dois.
Mais uma vez foi beneficiado pela sorte. Ele passara o dia inteiro tentando descobrir onde poderia buscar por Henrique sem sucesso. Então, mais uma vez ele resolveu que a região do porto era a mais indicada. Ele sabia que, cedo ou tarde, seu alvo iria procurar emprego em algum navio e, mesmo não sendo aquela cidade ideal para quem quisesse embarcar em grandes transatlânticos, seu rival acabaria tentando a sorte ali porque trabalhar em navios era o que ele tinha feito nos últimos dois anos.
Depois de ficar andando sem rumo, ele entrou em um restaurante e depois resolveu dormir ali pelo cais mesmo porque, para quem tinha passado tantos dias perdido na selva, uma noite dormindo sob a sacada de algum estabelecimento não seria nenhum problema.
Qual não foi sua surpresa quando, ao ser acordado por um carro chegando a grande velocidade e parar com os pneus rangendo diante de um luxuoso iate. Assustado com todo o aparato de segurança que estava montado para proteger alguém, ele ficou de boca aberta ao ver o casal a quem procurava sair do carro e ser levado às pressas para o interior do iate.
Logo a surpresa deu lugar à preocupação. Nestor não tinha grande inteligência, mas a que ele tinha era suficiente para que toda aquela proteção em torno de Henrique e Cahya significasse que aquela ação poderia ter sido iniciativa dos traficantes. Mas logo mudou de ideia. Ele sabia que os traficantes não precisavam de nada de Cahya ou de Henrique e só queriam ver aos dois mortos, o que também significava que eles seriam mortos assim que os assassinos que tinham essa missão os vissem.
Mesmo assim, isso não era bom, pois era claro que os homens que estavam atrás de Henrique e de Cahya estavam por perto e se estavam por perto e ele não podia ficar dando chance ao azar e ser visto por eles, pois sabia que se isso acontecesse ele também morreria.
Na manhã seguinte, ao entrar em uma espelunca do porto para tomar um café, ele não acreditou no que viu. Grudado em uma parede em péssimo estado, havia um cartaz com oferta de emprego e ele viu naquilo uma chance de escapar dali, pois o acerto de contas com Henrique teria que esperar. Ele não podia ficar naquela cidade sabendo que sua vida estava em perigo. Ele arrancou o cartaz e saiu para a rua começando a pedir informações.
Qual não foi sua surpresa quando descobriu que as vagas oferecidas eram para trabalhar no iate onde o casal que procurava tinha entrado.
Compareceu à entrevista, mentiu muito sobre tarefas que ele não estava acostumado e foi o último a ser aceito. Agora, sua preocupação era não ser visto por Henrique ou Cahya antes que o iate deixasse o porto, pois temia que os dois contassem com a proteção de seu novo patrão. Mal sabia ele que o casal estava fechado em uma cabine com ordens de só saírem de lá depois que o barco zarpasse.
Ainda naquela noite, quando os motores foram ligados, três corações dentro do iate bateram forte e, meia hora depois, quando o ronco do motor se intensificou e o barco começou a desenvolver maior velocidade, Henrique e Cahya em sua cabine e Nestor na dele suspiraram de alívio.