Me leva para casa 5

Um conto erótico de R. Valentim
Categoria: Gay
Contém 4719 palavras
Data: 09/11/2024 17:25:55
Assuntos: Amigo, Beijo, Gay

É um pouco louco pensar que Guigo está de cueca no meu quarto e que acabei de transar com ele, tem algo nesse moleque que me destrava e isso é assustador, não sou gay — sei que já disse isso antes — mas com ele é como se as coisas parecessem certas, quer dizer ele é lindo, inteligente e por algum motivo parece interessado em mim.

— Desculpa pela camisa — digo com sua camisa em minhas mãos.

— Relaxa, posso dar uns pontos em casa e consertar os botões.

— Deixa, eu faço — ele sorri com minha atitude.

— Tem certeza?

— Fui quem quebrou os botões, nada mais justo — digo.

— Você sabe costurar? — Ele duvida das minhas capacidades de dono de casa.

— Claro, minha mãe passou a maior parte da minha adolescência trabalhando fora, isso até hoje se for pensar um pouco, não gosto de deixá-la trabalhar muito quando está em casa, então aprendi a me virar.

— Quanto mais te conheço mais você me surpreende — Guigo se aproxima e me beija levemente na boca.

— Para com isso — não sou de ter vergonha, mas fiquei um pouco agora.

— Se importa se eu trabalhar um pouco, é que com a viagem de carnaval tive que pegar um freela a mais esses dias.

— Pode trabalhar sim, mas vou te emprestar uma bermuda minha, tenho umas folgadas de jogar bola que podem servir, só vai ficar um pouco apertado — ele parece ainda mais animado que eu, com toda a situação.

— Está com medo de não resistir ao meu corpo semi nú? — Guigo diz todo convencido.

— Não gostosão, é só que a vizinha tem a chave aqui de casa e não quero ter que explicar um cara de cueca dentro de casa sozinho comigo — ele me olha confuso.

— Por que sua vizinha tem sua chave?

— Porque os carcereiros sempre têm a chave da cela, mas brincadeiras à parte, já moramos nessa rua há uns mil anos, todo mundo se conhece e essa vizinha é amiga da minha mãe desde que elas brincavam na rua.

— Sei como é crescer em um lugar assim, onde todos sabem da sua vida e tem livre acesso à sua casa — isso parece incomodá-lo ainda mais do que a mim.

— Também tem muitos fofoqueiros na sua rua? — Pergunto.

— Pior, só moram parentes na minha rua, pior é que quando meu pai, mas precisou ninguém da família dele ajudou muito mesmo morando a metros de distância da gente, minha mãe teve que cuidar dele sozinha — isso até que explica sua antipatia pelos vizinhos.

— Sinto muito — é tudo que consigo dizer.

— Obrigado — devo ter dito a coisa certa já que ganhei outro beijo.

Bem meu quarto é uma caixa e diferente de mim Guigo não está acostumado com o calor então voltamos para sala, só que agora ele está usando uma bermuda minha que fica muito melhor nele com suas coxas malhadas, ligo a tv e colo uns clipes para distrair enquanto costuro de volta os botões da sua camisa e ele sentou no chão para apoiar o notebook na mesa de centro, ele é muito talentoso com esses negocios de edição, tipo estou vendo ele trabalhar e Guigo faz parecer fácil, porém sei que não é nem um pouco.

— O que foi? — Ele me pergunta quando começo a rir sem motivo.

— Nada — digo segurando uma risada sincera.

— Fala, não me deixa curioso — ele insisti já rindo também.

— É que parecemos muito um casal de velhinhos casados a muito tempo, vendo tv e ainda estou costurando sua camisa enquanto você trabalha no seu computador.

— Gosto da fantasia em que você é meu esposo cuidando de mim enquanto estou trazendo nosso sustento — ele deita a cabeça no sofá e me inclino para beijá-lo.

— Só nos seus sonhos que vou ficar costurando suas cuecas rasgadas — digo arrancando mais uma risada boa dele.

— É, com certeza depois de hoje você não pode mais negar, somos oficialmente seu ficante prêmio — ele diz rindo ainda mais da minha cara.

— Você não perde mesmo uma oportunidade de atacar.

— Sou artilheiro, o que posso fazer além de tentar? — Ele segue na minha metáfora.

— Não podemos ter nada sério, Guigo — digo com um pouco de pesar na voz.

— Não precisamos ter essa conversa agora, lembra que o combinado foi viver os dias com calma e sem cobrança? — ele tem razão.

— Nesse caso vou te contar meu maior segredo agora, se contar para alguém vou negar até a morte.

— Agora fiquei interessado — ele diz todo animadinho.

— Eu escuto pop internacional e tem umas três músicas k pop.

— Estou chocado — ele diz fingindo surpresa.

— Vai brincando, é muito difícil ser hetero e ouvir Hyuna.

— É k pop é fora da minha realidade, mas não o julgo por gostar, já que uma das minhas bandas favoritas é uma boy band — agora é minha vez de ficar chocado.

— Vai me dizer que você gosta de One Direction? — Pergunto ainda cético.

— The Wanted — nunca adivinharia — mas também gosto do One Direction, mas sempre achei que os caras do The Wanted tinham mais caras de homens, os carinhas do One Direction são meio moleques, sei lá.

— Tá falando sério — não consigo rir.

— Jamais brinco quando o assunto é boy band baby, inclusive fiquei muito triste quando Tom morreu de câncer em 2020.

— Sinto muito — digo.

— Foi muito complicado pros fãs, a vida é uma merda às vezes — ele diz pensativo.

— Você tem medo de morrer? — Pergunto de forma espontânea.

— Tenho medo de ficar como meu pai e não ter alguém para cuidar de mim — sendo no chão ao seu lado e deitei minha cabeça no meu ombro.

— Eu tenho medo de estragar as coisas, tipo passar a vida inteira sendo um merda que nunca fez nada de bom na vida — ele me encara e nos beijamos, mas não com luxúria, foi diferente dessa vez, porém meu telefone toca e interrompe nosso momento.

— Tenho que atender, é minha mãe — digo.

— Melhor atender então.

— Oi mãe, ele é um amigo da faculdade — me adianto, pois sei bem porque ela está me ligando uma hora dessas.

— É o mesmo de ontem? — Ponto pras fofoqueiras.

— Sim senhora e não não estamos bebendo — reviro os olhos enquanto Guigo seguro o riso.

— Tá certo.

— Era só isso mesmo — perguntei incrédulo.

— Marlene disse que passou e viu vocês na sala.

— Pois é, eu emprestei uma toalha e um calção meu para ele porque nossa casa é muito quente, a senhora quer saber o que estamos vendo na tv também? — Perguntei meio sem paciência.

— Só liguei para saber quem era, você sabe que não gosto de bebida na minha casa e a Marlene disse que viu vocês chegando com bebida ontem — dois a zero pras fofoqueiras.

— Era só um vinho mãe e não ligamos o som.

— Tá, mas não quero você bebendo em casa — ele insiste.

— Certo, na próxima vou ficar morto de bêbado na rua se isso te faz mais feliz — digo já puto por ela sempre me fiscalizar.

— Nem pense nisso senhor Raylan.

— A senhora tem que decidir se posso ou não beber em casa?

— Não é pra beber de jeito nenhum — ela argumenta.

— Aí a senhora já está querendo demais, tchau, ou a senhora quer falar com o Guilherme também? — Digo com impaciencia.

— Raylan, Raylan — ela usa seu tom de mãe ameaçador comigo, por sorte estamos longe.

— Mãe, a senhora tem que entender que não sou mais criança poxa vida.

— Ta filho, depois a gente se fala, está tudo bem ai? — Ela diz querer bancar a apaziguadora agora.

— Estava até a Marlene ir fazer fofoca pra senhora.

— Filho.

— Tchau mãe, te amo — vou encerrando a ligação por que não quero ouvir ela defendendo nossa vizinha fofoqueira — te falei, minha carcereira já bateu o relatório para minha mãe.

— Foda, sua vizinha é quase tão ruim quanto minhas tias — ele diz.

— Tá acho que no seu caso ainda é pior, porque se seus parentes forem que nem os do ex marido da minha mãe, então posso até ter uma noção, os irmãos daquele merda ainda vinham dizer que minha mãe tinha que entendê-lo.

— Foda, mas não vamos falar disso, se for melhor para ti posso ir embora — ele diz, mesmo que em seus olhos esteja implorando para ficar.

— Fica aí, deixa essas fuxiqueiras falarem o que quiserem, nem estamos falando nada.

— Ainda — ele arqueou as sobrancelhas dando um tom insinuativo para sua fala.

— Nem pense nisso, já fizemos muita bobagem por hoje — digo, mas por dentro até que queria repetir.

— Se você diz.

Ficamos conversando e se curtindo o resto da tarde toda, quando estou com ele não consigo me controlar, a vontade de beijar sua boca é demais para mim, ele ainda compramos pão em uma padaria aqui perto de casa e fiz um café pra gente ainda dele ir embora, dessa vez ele foi para casa do ônibus, deve ter gastado muito dinheiro recarregando minha carteira de estudante, ele não devia ter feito isso, mas de qualquer forma pelo menos o acompanhei até parada de ônibus e esperei com ele.

— Você mora do outro lado da cidade — digo meio que com pena dele, porque ele vai passar mais de uma hora dentro de ônibus até chegar em casa, até porque ele ainda vai ter que pegar um uns três ônibus até chegar em casa.

— Tranquilo, valeu a pena vim te ver — não gosto quando ele diz essas coisas, pois fica mais difícil não me apegar tanto a ele.

— Me avise quando chegar em casa — digo assim que seu ônibus finalmente chega e ele vai embora.

— Pode deixar.

Guigo foi me mandando fotos dele durante sua trajetória para casa, a primeira foi logo que subiu no ônibus com a legenda “saudades”, a segunda foi no primeiro terminal de ônibus que ele teve que descer para pegar o próximo, depois uma foto no segundo ônibus, aí mais uma no segundo terminal, a penúltima no terceiro, isso tudo pelo decorrer de uma hora e vinte, para finalmente receber uma foto dele em seu quarto com a camisa aberta e olhar de cansaço no rosto.

“Cheguei” ele mandou uma mensagem informando.

“Rápido até” mando para provocá-lo.

Trocamos mais algumas mensagens noite adentro, mas depois do jantar tive que dormir, pois tinha que acordar cedo, pelo menos graças a ele, não iria precisar levantar antes do sol, já que meu problema com as passagens já foi resolvido, parece até um sonho poder dormir até às seis e meia de novo.

Na manhã seguinte acordei no mesmo horário de sempre — afinal costume é foda — pelo menos pude ficar na cama mais um tempinho e também posso tomar meu café da manhã sem presa, estou vivendo minha manhã com muito mais calma do que vinha fazendo nos últimos dias e a melhor parte com certeza é chegar na faculdade sem está suado ou morto de cansado.

As aulas foram um porre hoje, mas nem isso me desanimou, talvez ficar meio longe do Guigo na sala, mas nada que eu não consiga lidar, é melhor ficarmos na nossa, não quero que ninguém suspeite de nada, afinal é só somar um chupão com o outro para se ligar que não teve mulher envolvida, só é foda ver a Tati em cima dele o tempo todo e o pessoal achando que eles ainda estão ficando.

— Ei vim no carro do pai hoje, tava pensando em irmos comer naquela padaria hoje — Diz Mário.

— É uma boa, eu topo — André é o primeiro a animar.

— Tô dentro, mas vai caber todo mundo dentro do carro — Diz Bia rindo.

— Vou levar o Dan na moto — Ciço diz, já justificando que não vai poder dar carona.

— Faz o seguinte, leva as meninas e a gente pega um carro de aplicativo então — Guigo deu a ideia e o pessoal acatou.

Normalmente não iria para essas coisas, mas estou com o dinheiro que a mãe me deu na conta e agora que não estou precisando de passagem, acho que posso gastar um pouco no almoço hoje, afinal foram muitos dias de economia, um dizinho não me matar também, com a logistica das caronas em ordem seguimos o grupo poto para padaria, Marío levou Bia, Ka, Tati e Mari de carro, Ciço levou Daniel na moto e André, Guigo e eu fomos de carro de aplicativo.

Eles escolheram um lugar caro, mas nada fora do possível, como disse uma vez na vida não tem problema, pelo menos não para mim, mas para o Daniel é inacreditável que nada está bom para esse cara, tipo ele veio com o Ciço e ainda sim está com uma puta cara de bunda, ele deve se achar muito especial mesmo para não querer comer conosco — estou tentando manter meu bom humor, porém Daniel e Tati parece que se juntaram para arruinar meu humor hoje.

— Gui você paga meu almoço, que depois te pago — Tati diz da forma mais cínica e provocativa possível.

— Pago, mas não precisa se preocupar em me pagar não — ele diz sendo gentil.

— Vai dispensar mesmo Guilherme? — André o questiona.

— Ele só está tímido gente, depois ele vai querer um chá com certeza — Tati brinca e o infeliz do Guigo não desmente ela e quando acho que não pode piorar Ciço pega a comanda do Daniel se oferecendo para pagar para ele.

— Pega o que você quiser Dan — Ciço está praticamente adulando o cara.

— Olha aí não sabia que o Ciço ia pagar o almoço — digo com tom de sarcasmo — aqui minha comanda também — digo rindo e provocando a risada dos outros.

— Sai daí, nem to te comendo para pagar comida para ti — Ciço responde fazendo os caras riram mais ainda.

— Pois é, eu não to te dando, mas parece que a Daniela está.

— E tu por acaso está com ciúmes? — Ciço responde e me vejo mais uma vez de volta à escola, com Rick protegendo o Daniel.

Depois disso me calo e vou atrás de algo para comer, tem um self service bem completo, aproveito para fazer meu prato sem dizer mais nada, percebo Guigo querendo se aproxima, mas me afasto dele, ele que vá atrás da Tati para receber seu chá, palhaço nem para negar, ele deve mesmo está ficando com ela ainda e só quer me fazer de bobo, ou está me fazendo ciumes, mas nem ligo, ele que se dane junto com ela.

Mas foda se também, ele, o Daniel e todo o resto, Guigo é livre para ficar com quem ele quiser, não temos nada, assim como também posso ficar com quem eu quiser, No fim não devia mesmo ter vindo, já que nem deveria está gastando esse dinheiro sem saber antes se ele veio daquele lixo mesmo ou não, só o que me falta agora é descobrir que minha mãe mentiu.

Depois do almoço o pessoal começa a se despedir, meus olhos só faltam virar para trás ouvindo tati falar de uma forma muito irritante que vai está a tarde toda sozinha em casa, ou seja ela está convidando Guigo para ir para casa com ela, mina oferecida, ela é tipo a Soraya que estudava comigo, ela dava para geral, até pro Rick ela deu, mesmo que ele morra negando até hoje, acho que nem o Daniel deve saber que o Rick comeu ela no banheiro lá de casa, a safada até quis dar para mim e pro Rick ao mesmo tempo, mas jamais faria algo assim com meu amigo, ia ser muito estranho.

— Valeu galera — Ciço se despede da gente enquanto Daniel só faz um aceno de cabeça, esse merda se acha muito e isso me tira do sério.

— Vamos Gui — Tati diz enquanto se agarra nele.

— Não posso Tati, tenho que ir para casa — ele diz.

— Meu namorado vai me buscar, posso levar três comigo — Bia diz.

No fim ficou decidido que Bia vai levar Tati, Mari, ka e o Mário nos deu carona até a faculdade para de lá cada um seguir seu caminho. Quando chegamos me despeço dos caras e vou indo para a casa da Giovanna, afinal hoje é quinta e temos grupo de estudo, Guigo vem logo atrás de mim, ele já percebeu que estou puto e ainda sim tenta falar comigo.

— Espera Ray, o que eu fiz?

— Deixa de ser sonso Guigo, vai lá tomar seu chá — digo irritado.

— Eu estou aqui indo estudar com você — ele diz se defendendo.

— Engraçado que quando ela disse que vocês ainda estão juntos você não disse nada né — digo tentando manter meu tom de voz baixo.

— Mas a gente não está mais ficando, ela disse aquilo só de brincadeira, a gente é só amigo.

— Não me importa o que vocês são Guigo, por mim você pode fazer o que quiser com quem quiser — digo distraído de tanta raiva que começo a passar na rua com sinal de pedestre ainda vermelho, chegando a quase ser atropelado, por sorte ele me puxou de volta para a calçada.

— Cuidado macho — ele diz respirando fundo — escuta Ray, não estou ficando com ninguém mais além de você, já falei que quero ter algo com você, mas você disse que só quer ficar.

— Não quero mais ok, não quero mais ficar com você e nem faço questão de ser seu amigo — digo puto agora atravessando a rua e ele vem atrás.

— Ray para com isso, você não precisa ter ciumes — essa palavra só me deixa ainda mais puto — sério cara, não vamos ficar assim, por favor.

— Olha Guigo, faz o que você quiser, só fica longe de mim beleza — digo desviando o caminho da casa da Giovanna, não vou ficar a tarde toda perto do Guigo.

— Para onde você está indo? — Ele me pergunta.

— Não é da sua conta, talvez eu esteja indo atrás de alguém para me dar um chá.

A parada fica em frente a entrada do prédio da Giovanna, ele ainda vem para perto de mim, mas aproveito o ônibus que chega e entrei o deixando para trás — nesse ponto todos os ônibus vão para o terminal então posso pegar qualquer um — Guigo faz merda e depois o errado sou eu? Tá eu sei que peguei pesado, mas não é ciúmes, ele disse que não está ficando com ela e mesmo assim não a desmentiu naquela hora.

Envio uma mensagem para Giovanna dizendo que passei mal depois do almoço e por isso fui direto para casa, me desculpo mais uma vez afinal tínhamos marcado a aula, nem sei se o Guigo vai, ou se vai aproveitar para ir tomar seu tau chá, Giovanna me responde dizendo que está tudo bem e me deseja melhoras, ainda me manda uma foto dela e do Guigo em seu apartamento dizendo que ele também deseja melhoras.

Apago a foto porque não quero ficar olhando para ele, mas ele acabou de me mandar mensagem perguntando se pode ir para minha casa depois de estudar com a Giovanna, quero dizer não, mas meus dedos me traem e mandam um emoticon de joinha, depois de escrever e apagar diversas mensagens para ele, apenas desligo meu celular e enfio no bolso.

Assim que chego no terminal vejo meu ônibus — menos mal — corro para dar tempo de pegá-lo antes de sair, até consigo um lugar na janela, agora com sangue mais calmo e pensando um pouco melhor, fiz besteira em não ter ido estudar, porque estou mesmo precisando desse grupo de estudo, é que quando se trata do Guigo não consigo me controlar e nem me entender, quando estou sozinho com ele sou totalmente diferente, mas aí vejo ele com a Tati e quero arrancar ela de cima dele, porém não posso fazer isso, pois foi por minha causa que ele continuou amigo dela e que todos acham que ele está solteiro, queria que fosse mais fácil, queria ser normal.

Estou olhando para janela pensando em como posso ter estragado tudo e que agora Guigo quer vir na minha casa para me dar um pé na bunda, porém nem temos nada, como que se perde algo que nunca nem foi meu? Bem não sei, mas sei que estou mal por causa disso agora, distraído em meus pensamentos, porém sou atingido por uma imagem do lixo que nos abandonou dentro de um puta carro, ele está na direção sua janela bem de frente com a minha, não consigo nem respirar e nem me mover.

Ele se foi e minha mãe ficou, ela o perdoou, mas eu não, não poderia, não depois do que vi naquela manhã, ainda lembro dele fazendo suas malas enquanto minha mãe chorava no meu quarto me abraçando e dizendo que tudo iria ficar bem e agora olha para ele, enquanto minha mãe trabalha a semana inteira para ter nos garantir um pouco de dignidade ele está em um carro importado parado no sinal bem na minha frente.

O sinal abre e é nesse momento em que por puro instinto ele olha para mim e nos olhos se encontram por meio segundo até o ônibus partir, meu coração está a mil por hora, estou me tremendo, tudo que sinto nesse momento em meu peito é mais raiva, porque ele tem tudo enquanto minha mãe não tem nada? Isso não é justo, nem um pouco.

Quando chego em casa finalmente ligo meu celular, preciso falar com alguém se não vou explodir, mas não tenho com quem falar, não quero falar sobre isso com Guigo, não posso perturbar minha mãe no trabalho, não tenho nenhum amigo com quem posso falar sobre isso, quero chorar, mas não tenho lágrimas, estou com tanta raiva, que mau consigo ver que meu celular está vibrando, na tela tem um número desconhecido, porém sei exatamente quem está me ligando e não vou atender, pois não quero nem ouvir sua voz, não quero nada que venha dele, meu pai está morto, ele morreu no dia em que saiu de casa e nos trocou pela sua nova vida.

Me sinto tão perdido, vou pro banheiro ligo o chubeiro e deixo a água cair sobre mim, molhando minha roupa todo, pois estou sem força até para tirar a camisa, já tinha anos que não o via e isso ainda tinha que acontecer logo em um dia de merda como esse, deve ser o cara mais azarado do mundo, não consigo lidar com isso, queria muito que Rick estivesse aqui, ele iria saber o que dizer.

Quando finalmente consigo me erguer saio do banho, troco de roupa, e busco meu celular, vejo que tem uma mensagem do lixo dizendo que quer conversar comigo, nem abri consegui ler pelas notificações mesmo, quero apagar a mensagem e bloquear ele, talvez até mandá-lo se fuder, mas não consigo, não tenho forças nem para clicar na mensagem.

Me deito no sofá e ligo a tv na intenção de conseguir me distrair, mas não consigo tirar a cena de vê-lo da minha cabeça, preciso esquecer isso, mas não sei como, meu amigo também não teve sorte com o pai dele, até foi expulso de casa e ainda por cima perdeu tudo, celular e até acesso a internet — não que fosse muito fácil de se ter essas coisas na época.

Lembro que costumava mandar mensagem para ele pelo face mesmo sabendo que ele nunca iria responder, uns anos depois consegui falar com ele por telefone, um primo dele foi visitar a família no interior e emprestou o celular para que Rick me ligasse, na época ele me disse que a casa em que estava morando nem energia elétrica tinha, nós falamos sobre como a vida estava uma merda sem ele por perto, ele até chegou a perguntar pelo Daniel no fim da ligação, mas não me importei, com isso, mas pensando agora Rick perdoou Daniel pelo que aconteceu, assim como minha mãe perdoou seu ex por ter nos abandonado, talvez o problema esteja mais comigo mesmo no fim das contas.

Pensar nisso tudo meio que me deu uma nostalgia tremenda, abro meu face pelo celular mesmo e busco nas mensagens o contato do Rick, sua conta ainda está lá, com a última postagem feita dois dias antes de sua vida desmoronar completamente, reler as mensagens em que trocamos é estranho, ainda mais quando chego na parte em que ele para de me responder, estou relendo tudo e isso meio que consegue distrair minha mente, mas sou pego totalmente de surpresa quando começo a ler uma mensagem em que estou falando do Daniel.

— Não lembrava disso — digo para mim mesmo em voz alta.

Não sei por que exatamente esqueci disso, mas por muito tempo estava dando relatórios sobre o Daniel para o Rick, nas mensagens digo que estou de olho nele e isso até que me lembro, cheguei a defender aquele merda de sofrer bullying de outros caras e acho que ele nem sabe disso, mas não fiz isso por ele, fiz pelo Rick, sei o quanto o Daniel era importante para ele, talvez isso é o que mais me irrita, o cara tem pessoas que estão dispostas a serem amigas dele mesmo ele sendo do jeito que é e ainda sim insiste em ficar em seu pedestal.

Depois de pensar um pouco, resolvo mandar uma mensagem, eu sei que ele não vai me responder mesmo, mas isso talvez ajude, so de pensar que essa é uma maneira de falar com ele isso me dá alguma paz no coração, começo falando sobre ter visto meu pai, depois conto sobre o Guigo.

“Pois é estou ficando com um cara, ele é lindo, inteligente e muito gente boa, até me lembra você um pouco, não que eu queria ficar com você, Deus não, que nojo, dá até vontade de vomitar agora kkkkkk, você é o cara, mas somos só irmãos pode ficar tranquilo, na verdade estou muito confuso irmão, não gay, não posso ser, minha mãe não merece passar por isso, eu já tinha beijado um cara numa festa antes, mas tipo estava muito, mais muito bêbado e nem lembro direito o que foi que eu fiz e nem porque fiz, passei dias em pânico total que alguém tivesse visto ou que conhece o maluco, foi horrível, porém com Guigo é diferente, não fico surtando quando estou com ele ou quando penso nesse e isso é ainda mais assustador, o que eu devo fazer irmão?”

Estranhamente isso realmente ajudou, mesmo que ele não responda me sinto mais leve por ter falado sobre isso tudo com alguém, Rick faz muita falta, agora entendo porque mantive esse hábito de mandar mensagens para ele por um tempo, talvez volta a fazer isso em breve, quem sabe isso não me ajude a pensar nas coisas de forma com mais clareza, bem só vou saber tentando então é isso eu acho, bem antes de sair do face mando mais uma mensagem para ele, só para não perder o costume.

“O Daniel tem um novo trouxa agora, Ciço é um cara legal, uma amiga minha diz que eles estão fodendo, bem não tenho certeza, mas se estiverem o Daniel como sempre continua tendo a bunda virada para lua, nunca vi ninguém para ter tanta sorte que nem esse merda, desculpa, é que ele andou me irritando, mas nem se preocupe, Ciço está defendendo ele muito bem, parece até você.”

Depois de mandar essa mensagem agora sim volto minha atenção para tv e minha mente está mais clara, e sim fiz merda brigando com Guigo, ele não tem porque mentir, se ele diz que não está ficando com ela é porque não está, mas sou um idiota inseguro e a pior parte é que mesmo que ele estivesse ficando com ela ainda sim não posso reclamar, pois sou um covarde que nunca vai conseguir assumi-lo.

Me perco em novo pensamentos sobre Guigo e nem vejo a hora passar, quando escuto ele me chamar no portão, respiro fundo e vou abrir, ele claro está com uma cara séria, mas deu um sorrisinho quando me viu, abro o portão em silêncio e ele entrar também sem dizer nada, mas assim que fecho a porta puxei ele para um beijo e ele retribui de cara, em momento algum ele me nega, pelo contrário, Guigo me beija e me abraça com força.

— Desculpa — falamos os dois juntos com nossas bocas ainda coladas.

— Não estou errado, não posso ter ciúmes de você, não fui nem um pouco justo contigo — digo.

— Mas eu provoquei, era para ter cortado a Tati quando ela falou aquilo, me desculpe — é impossível ficar com raiva dele agora então o beijo de novo.

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Comentários

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Depois de Dan e Ciço, a história de Gui e Raylan tá demais!!!!

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Shippo muito Raylan e Guigo, é compreensível essa insegurança de Raylan, é tudo muito novo pra ele, mas acredito que ele vai amadurecendo ao longo desse spin off e deixar certos preconceitos para trás..

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Olha só como o Ray conseguiu fazer a sua "terapia"! Achei genial, Rafa. Ainda bem que ele concluiu que fez merda, esse turbilhão de sentimentos aí tá deixando o cara doidinho. Mas com um Guigo assim...quem não ficaria? Hehe

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Fico sempre ansioso esperando a notificação de nova postagem e sempre me deparo com um capítulo que supera minha expectativa. 👏👏👏👏👏

E esse Rick????? Quando a história dele será contada?????

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Você sabe como eu fico te vendo assim todo envolvido, né? 😜

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