Camilo já estava achando que a coisa não era bem como ele estava imaginando antes de ouvir o depoimento de Laura, no entanto, ele ia continuar confrontando-a, pra ver se suas percepções batiam com alguma coisa.
Relato de Laura.
No dia seguinte, Marli e Núbia falaram comigo e apoiaram totalmente minha atitude. Nenhuma de nós esperava que aquilo pudesse acontecer. O elo entre nós era mais forte que imaginávamos.
Vieram as férias e na semana que antecedia o início das aulas, soubemos que Raimundão havia trancado a faculdade. Tinha comprado uma moto e já havia iniciado um curso de mecânica no SENAI. Com isso, Samara também não apareceu mais. Bel tinha viajado para a Paraíba nas férias, porém, quando começou o semestre ela estava na Grécia. Foi passar duas semanas e levou quatro meses. Foi outra que não voltou mais.
Osório estava mudado. Mal falava conosco e começou a faltar aulas. Passou a agir estranhamente. Vocês tentaram continuar a banda, mas ele disse que não queria mais. Foi o próximo a deixar. Daí tive quase a certeza que minha atitude no bar naquele dia que simulei um mal-estar, havia quebrado algum encanto, não sei. Acabou sobrando os casais.
No semestre seguinte estávamos rumando para a parte final do curso. Os pais de Núbia se separaram e ela ficou muito mal, perdia a concentração fácil e ficou muito depressiva. Vendo que ia perder o semestre, resolveu trabalhar junto com Zé Pedro num buffet que este tinha herdado. Ele a acompanhou e saíram da faculdade. Por fim, Manoel montou uma loja de games e material de informática e Marli o seguiu. Só sobrou nós dois.
Essas últimas coisas que falei e as que vou contar, você já sabe. Osório virou um ninfomaníaco inveterado, só vivia em puteiros. Sumiu e soubemos bastante surpresos do seu falecimento. Bel, que já era pirada, destrambelhou de vez. Passou a seguir uma religião oriental e só falava disso, ficou insuportável. O que você não sabe é que os negócios montados por nossos colegas vieram do dinheiro da filmagem. As viagens de Bel, a oficina de Raimundão, tudo isso.
Camilo: e o que você fez com seu dinheiro??
Laura: ajudei a montar nosso consultório. Falei que era dinheiro de minha avó, mas era da filmagem. 15 mil reais naquela época era muita grana. O salário-mínimo quando recebemos esse valor, era de 240 reais. Então, corrigindo monetariamente pra hoje, dá quase 60 mil reais. Quando já estávamos trabalhando, utilizei um pouco pra dar entrada naquele celta que eu tive, meu primeiro carro. Apliquei o que sobrou num fundo de investimento. Logo após, casamos, tivemos nosso filho, e a vida seguiu.
Camilo: não entendo, Laura, como você e nossos amigos se submeteram a uma coisa dessas! É apavorante!
Laura: Ai é que está a questão... Nas fotos e nas filmagens não são “nossos amigos”. Tenho uma teoria sobre o que aconteceu, só não sei se é convincente. No dia da primeira suruba, estávamos todos animados e creio eu que a libido de todos foi evoluindo de forma simultânea. Deve ter ocorrido alguma equivalência energética, uma isonomia de desejo que culminou numa forte energia que se conectou a todos. Só pode ter sido isso. A nossa animação era gigante, estávamos carregados de doses cavalares de dopamina. Por isso aquela entrega desmedida, puro hedonismo, curtição em alta voltagem. Estávamos desprendidos de qualquer virtude ou valor moral. E por isso a adulteração de personalidades. Raimundão estava rindo a toa; Manoel, um possessivo, estava indiferente às ações de Marli; Núbia, conservadora e moralista, estava insensata; Zé Pedro, preguiçoso e desligado, estava ágil e desenvolto; Marli, uma mimadinha e esnobe, estava alegre e amigável; eu, inteligente e centrada, fiquei radiante. Todo mundo estava diferente, invertido, todos agindo diferente do que a sociedade e elas mesmas esperam. Então não eram nossos amigos, eram corpos em busca do puro prazer carnal. Ali ninguém se reconhecia, nem reconhecia os outros. E é por isso também que as lembranças daquela noite não causavam repulsa. Nossas mentes estavam muito alteradas, não tínhamos senso moral nem cognição ali pra nada. Então as recordações eram toleradas, porque ninguém teve juízo naquela noite para raciocinar por meio de princípios básicos de moralidade e assim compreender direito o que havia se passado. Por esse motivo, ninguém entrou numa crise existencial ou sofreu conflitos psicológicos. Se tivéssemos o mínimo de discernimento aquela noite, alguém chamaria nossa atenção, que estávamos exagerando, e muita coisa não rolaria. Por isso também que não discutimos sobre isso, pois poderia haver discussões, acusações de atrevimento, e nada acabaria bem. Eram os corpos que sentiam as sensações, sabíamos que tinha sido muito gostoso porque a satisfação sexual era grande. Até pensei em estudar astrologia pra ver se naquela noite ocorreu algum fenômeno universal, algum alinhamento planetário, essas coisas. Porém, Cam, desconfio que tem alguma coisa por trás, não sei bem...
Camilo: Bom, mas a filmagem foi planejada. Se foi algo premeditado, as coisas não fluíam tão naturalmente assim. E quem planejou aquilo foram meus amigos! E não esses seres fudedores ai! Eles eram meus amigos naquele dia da festa surpresa, eu fui enrolado por eles!
Laura: Admito que sim, mas ali todo mundo foi surpreendido, o convite para a filmagem perturbou todo mundo. Sei que foi cruel pra você aquilo, fiquei bem chateada também de terem levado você na conversa, mas a força que nos unia era muito contagiante, isso deve ter os corrompido. E também, acredito, que a proposta fez com que todos passassem por um processo transitório de personalidades contrastantes. Cam, a primeira suruba não abalou nossas convicções e valores, mas a proposta mudou tudo. Tínhamos noção de que estabelecemos um outro tipo de vínculo. E que se nos juntássemos, o entusiasmo daquele dia ressurgiria. Eu não queria aquilo de novo, mas fui captada por essa conexão que nos arrebatou naquele dia da festa surpresa. Daí, acho que tem alguma coisa naquele lugar... Porém, cada um tinha suas impressões desse retorno. Ganância, safadeza, negócio, agir despudoramente de novo, ambicionar ter o poder de curtir ao máximo sem culpa e sem medo. Porque ali todos eram cumplices pra fazer coisas sem julgamentos alheios. E aproveitar individualmente os frutos de tanta diversão. Só que a coisa quase sai do prumo. Por isso, me julgo a mediadora do grupo, eu estava entre a sanidade e a entrega, entre a prudência e a inconsequência. E foi isso que salvou a todos nós naquele dia que fingi passar mal. Fui meio uma Neo, eu era a escolhida entre distinguir a realidade e a Matrix naquele dia. E deu tudo certo. Nunca mais nos encontramos. Fiquei muito aliviada. E cá estamos. Juro a você: desde que sobramos nós dois na faculdade, as imagens dessas surubas foram sumindo gradativamente. Há uns 15 anos não lembrava mais de nada! Naquela época não pensava sobre isso, mas hoje, penso que rolou mais alguma coisa, mas não sei explicar!
Camilo: Até Marli revelar tudo, hein?
Laura: Conversei com Marli depois. Ela estava num nível de estresse alto, sofrendo violência doméstica daquele imbecil do Manoel, endividada, recebendo ligações e ameaças de agiotas. Manoel desviou dinheiro da loja deles, investiu em criptomoedas, levou um golpe. Tudo isso explodiu naquele dia. Quando ela percebeu que um amigo de longa data não ia ajudar, ela enlouqueceu e falou aquilo. A cara de Marli foi exatamente a mesma que ela fazia nas surubas, ela olhava quem a estava comendo com cara de carranca, como que pedindo que o cara metesse mais, com vigor, com vontade. Quando se viu tomando atitudes que não era normal dela, como negociar dívidas e outras coisas, ela disse que recordou da suruba e falou aquilo. Agiu sem pensar. Então aquela Marli que revelou a você aquilo, era a Marli “invertida” que curtia aquela suruba. Como está em um momento desesperador, emergiu aquela inconsequente surubeira pra dizer aquilo. Ela mesma disse que nem lembrava mais de nada. Nem eu! Quando eu falei que não sabia, realmente eu demorei pra me dar conta. Havia se passado 20 anos, era como se aquelas orgias que nós fizemos tivesse ocorrido em outra vida. Contei a Zé Pedro e a Núbia o que Marli havia revelado e ela tomou um susto. Sabe o que ela disse? “Que suruba??”. Pra depois se recordar. Olha, Cam, o que ocorreu no passado parecia um feitiço, no momento que as pessoas passaram a se afastar, não havia mais sentido, porque as sensações e prazeres eram coletivizados. E com muitas pessoas, meu relacionamento era só nesses momentos em que compartilhamos prazer. Bel nunca foi uma amiga confidente, Osório era desapegado, Raimundão, muito introspectivo, Samara era uma dissimulada, Manoel, nunca fui com a cara dele.
Porém, após a revelação de Marli, tudo veio a mente de novo, dessa vez com nitidez, recordei de tudo, cada detalhe, como jamais havia lembrado. Inventamos que não ocorreu nada demais, que foi uma surubinha boba, porque você viu que não podíamos contar a verdade. Parece que meu cérebro estava se preparando pra contar tudo a você, pra lhe deixar a par de tudo isso que estou revelando. Parece que aquela confissão de Marli desencadeou tudo, o universo conspirou e essas filmagens e fotos emergiram e chegaram até você. Pra você ter uma ideia de como isso tudo é misterioso e fantástico. Veja como os números são cabalísticos nisso tudo: Marli revelou a você 20 anos após nossa suruba; 20 anos após eu quebar a conexão naquele dia que simulei estar mal, você descobre tudo. Marli faz a revelação pra você e um ano depois, estamos aqui. São ciclos. Um ano depois da primeira suruba, rolou aquele clima onde eu simulei o mal-estar. Parece que aquela força magnética que nos unia, ou sei lá o que, veio me cobrar, sei lá! Olha, Cam, eu te amo, sempre te amei, desde a faculdade que nossa relação só cresceu, fizemos tudo juntos, nos formamos, abrimos consultório, casamos, tivemos, filhos, construímos patrimônio. Mas parece que algo está me cobrando que eu também me separe da coisa que mais amo, que é a felicidade de estarmos juntos! Como eu quebrei alguma corrente, essa áurea, essa nevoa metafisica, não sei, veio pra me separar, sinto isso...
Camilo parecia mais tranquilo. Ele imaginou algo bem diferente. A história era incrível mesmo, parecia uma fantasia. No entanto, achou a explicação de Laura pertinente, havia plausibilidade no seu relato. Aquela foda na filmagem, a primeira suruba, nada daquilo parecia ser algo natural, tinha algo por trás. O fato de Severino aparecer com isso, e outras coisas misteriosas, pareciam dar conta de que o que Laura havia contado não era tão absurdo assim.
Camilo: Você disse que não recorda mais da suruba, nem você, nem os outros. Mas e o dinheiro conquistado? Não era um sinal de que aquela suruba não seria esquecida?
Laura: Cam, a suruba que gerou o dinheiro, e não o contrário! Não fizemos por dinheiro, era um pretexto, pelo menos pra mim. Algo nos unia além disso. Aquele dinheiro foi capital, gerou outras receitas, Você vai se capitalizando, não necessariamente fica submetido a uma lembrança. O dinheiro que apliquei foi cinco, seis mil reais, logo após fui investindo mais e mais, a origem inicial se perdeu, você sabe que deixei esse fundo pros nossos filhos estudarem fora daqui a uns anos.
Camilo mais uma vez dava razão a Laura. Ele começava a matutar algumas coisas. Aquela galerinha não tinha condições de foder durante toda uma madrugada, até de manhã, como Laura contou, nem ficar três horas numa suruba filmada. Muito estranho. Tinha algo mais e Camilo começava a desconfiar. Quando ele viu aquilo tudo ficou surpreendido. Como mocinhas e caras tão sem sal poderiam colocar atores e atrizes pornô no chinelo? É claro, óbvio, elementar que aquele grupo estava sendo manipulado por algo, mas o que?? O diabo está nos detalhes. Por isso que ele resolveu escutar Laura, agir com lucidez, e não com a mente tomada por transtornos conspiratórios.
Camilo: Laura, me diz uma coisa... você disse que Osório comentou com você que aquela garagem era um clube, é isso?
Laura: Sim, isso. Um “Clubinho da Indecência” onde ele se reunia com Valdão e Celinha e outras pessoas pra curtirem surubas por lá.
Camilo: Me diz o que você sentiu naquela festa surpresa... você disse que decidiu participar ali.
Laura: Camilo, sentia como se não fosse eu totalmente ali. Como falei, aquele lugar tem algum atrativo, o que rolou por lá na primeira suruba, o fato de eu ter aceitado participar foi lá... Aquele lugar talvez tenha um clima, é clube de putaria, não sei bem...
Tava na hora de Camilo revelar algo que aconteceu num passado distante. Quem sabe aquilo não tenha a ver?
Camilo: Laura, tenho algo a te contar.
Setembro de 2002. Os componentes da banda estão num bar.
Osório: Galera, vamos fechar aqui. Tô com umas entradas pra uma casa noturna aí, vai rolar uma noite especial, marquei com umas putas lá da hora!
Camilo: Bem, então vocês vão, divirtam-se, não curto esse tipo de espaço.
Osório: Ah, Cam, qualé?! Vamo lá, cara, tem um monte de bucetinha pra gente.
Camilo: Não tô a fim.
Osório: Você não é homem não, porra? Tem medo de buceta? Até agora você não pegou ninguém lá na faculdade, tá cheio de menininha lá. Vai correr agora? É sua chance de sair da seca,ahahahahahahah
Camilo: Não curto sexo pago.
Osório: Ih.... “não curto sexo pago”, ahahahahahahahahha... deixa de onda, viado, vamo lá!
Começa uma discussão entre eles sobre masculinidade. Até que Osório diz.
Osório: Tá bom, tá bom, não vá! Agora vou te falar... quando eu tiver meu clube de putaria, você vai ser O ÚNICO a não ser chamado. Boiolice do caralho. Vamo galera.
Camilo sentiu que Osório foi bem enfático. Desde que se conheceram, Osório só falava em putaria. Notaram que ele era fissurado em sexo. Ele entrou na banda só “pra pegar mulher”, é o que dizia. Não tinha outro papo, as vezes era até chato.
No dia seguinte, Zé Pedro conversou com Camilo sobre a noite no puteiro.
Zé Pedro: Porra, Camilo, a coisa lá tava até legal, rolou umas meninas, mas Osório encheu o saco. Falou um monte de você. Ele disse que não curte muito seu tipo, todo “almofadinha”, era um cara legal, mas encanado com alguma coisa. Ficamos chateados, pedimos pra ele parar. Tô falando isso porque você é brother, não dá pra ele ficar nessa. Ele acatou nosso pedido, mas disse que não convida mais você pra nada.
Camilo pouco ligou pra isso. Não comentou nada, deixou as coisas seguirem, era o jeitão dele, todo tirado a comedor. Mas apesar do coleguismo e da banda, Camilo e Osório nunca se bicaram. Eram bem diferentes.
Setembro de 2024. Dias atuais.
Laura: Nossa... parece que ele tava rogando alguma praga! Cam, você está insinuando que Osório está por trás disso?? Olha, eu contei isso tudo a você porque prometi ser muito honesta, tava na hora de revelar tudo, e passei todas as sensações daquele período. As lembranças disso tudo estão me surpreendendo, eu nunca tive essa memória toda sobre o fato! Como eu falei, parece uma coisa misteriosa, depois da revelação de Marli, veio tudo assim de vez!
Camilo: Laura... eu sonhei com Osório na noite retrasada. Ele estava rindo de minha cara, perguntei o porquê do riso e ele falou “ela me paga”. Parti pra cima dele, saímos na mão, dei um murro nele, ele caiu, e falou “ela quem vai pagar, mas a conta chegará até você”. E deu uma gargalhada. Nesse dia, as fotos e imagens chegaram até a mim.
Laura: Meu Deus, Cam! Isso... isso é muito esquisito! Ela é quem? Eu?
Camilo: Não sei, mas acho que há algumas coisas. Fiquei doente naquele dia e ele levou vocês ao clube. Rolou tudo aquilo. Ele levou vocês pra lhe apresentar a proposta do vídeo nesse mesmo lugar. Os outros aceitaram, menos você. Depois rolou o aniversário surpresa no mesmo lugar. É ele quem tem o acesso a esse local. Ele me diz naquela discussão que eu era o único que ficaria de fora do clube... Vocês me disseram que ele levou vocês pra casa dele, mas foi pra esse clube. Ele está por trás disso, tenho certeza.
Laura: Meu Deus, Cam... olha, pelas coisas que eu contei, deixei claro que tem algo muito maior por trás de nossas ações. Tive que deixar tudo claro a você pra você ter ideia do que eu pensava na época e o que penso agora. Jamais foi pra zombar de você, que você não havia participado, jamais!! Nunca tive a intenção de participar da filmagem, reitero, mas eu aceitei sem me dar conta que há alguma maldição nesse troço todo, só pode!
Camilo: Essas fotos e imagens chegaram até mim através de uma pessoa que não via há muitos anos, não vou falar agora quem é, não vem ao caso, não é ninguém do nosso convívio. Isso me fez esquecer do sonho e ficar revoltado com você. Achei que vocês haviam montado um conluio pra trepar juntos pelas minhas costas até hoje, fiquei pensando que você me traiu durante as filmagens, não pensava em outra coisa. eu fiquei com muita raiva quando vi tudo isso, fiquei atordoado, pensava coisas completamente diferentes. Minha vontade era pegar todo esse poder integrado que vocês tinham e desintegrar cada um de vocês pra juntos com Osório poderem fuder juntos no inferno pelo resto da eternidade. Me senti um idiota. Parecia que eu era um mendigo numa noite de Natal, vendo vocês onze ao redor de uma mesa farta, comendo e bebendo, gargalhando, até que todos tiram a roupa e fodem em cima da mesa. E eu, excluído, saindo dali sozinho e caminhando pela rua com fome e frio, sem ter pra onde ir. Muito triste eu ficar alheio a tudo isso, ter sido enrolado naquele seu aniversário por aquele que considerei grandes amigos, embora essa união enigmática de vocês possa ter deturpado algumas considerações de convívio. Mas depois de ouvir tudo o que você me falou, tenho uma certeza: ao ficar doente naquela noite, eu tive um livramento. Jamais queria ser envolvido nessa trama toda. Porém, algo me diz que vocês foram influenciados a caírem numa cilada. As coisas que vocês fizeram estão muito além da realidade! Não tenho mais dúvidas. Vocês foram impulsionados a cometer todos esses atos eróticos.
Laura: Cam, estou muito chocada agora. Não podíamos revelar a você nada. Mais uma vez eu falo: aquilo foi incompreensível pra gente, imagina contando pra alguém de fora??? Imagina se contássemos como estou contando agora, lhe pareceria que participamos de um ritual satânico! Olha, Cam, se você me perguntasse se eu queria passar por tudo isso, eu digo que jamais! Não desejo isso pra ninguém. Apesar de lembrar como tudo foi gostoso e proveitoso, maravilhoso, com orgasmos indescritíveis, não trocaria nada pela vida que tive a seu lado. Eu queria mesmo era naquela noite que ficou doente, nós já sermos namorados. Iria ficar a seu lado e não me embrenharia nessa loucura toda.
Mais uma vez Laura tinha razão. Como contar tudo isso que aconteceu? Loucura total. Com certeza, ele se afastaria daquele grupo, seu namoro com Laura provavelmente não aconteceria e todo futuro que passaram juntos. Como ficar ao lado de pessoas que se divertem daquela maneira escrota? Indivíduos com uma vida pacífica, trivial, sem arroubos, se meterem naquilo? E agora, vinha isso tudo a galope, de uma hora pra outra. Aí tinha coisa. E esse sonho com Osório...
Ao se afastar da faculdade, Osório se embrenhou ainda mais na sua vida sexual. Levou tempos morando num hotel. Ficaram sabendo disso quando ele contratou 3 mulheres de uma vez, houve uma confusão, o maior B.O. Ele tentou fugir do local, mas foi detido. Um desvairado sexual frequentador de um clube, que se tornou o ambiente pra rolar uma suruba formidável com seus amigos de faculdade, daquela forma que rolou. Muito esquisito. Camilo e Laura estavam certos que tudo isso tinha a ver com ele. Mas não podiam desvendar. Tinham que encarar. Pra completar o ciclo de datas citado por Laura, fazia 15 anos que ele falecera.
Após toda essa história, Camilo se sentiu ridículo. Ele pensara numa vingança contra Laura e sequer queria ouvi-la. Pensava em trucidá-la. “Ela me traiu com quatro meses de namoro”. Ele tava tão possesso que ele mesmo era alguém que achava que nos seis primeiros meses de namoro podem ocorrer deslizes. Foi de última hora, após visualizar as imagens, que bateu a curiosidade pra ouvir a versão. Laura sempre foi uma mulher leal. E assim, ligou os pontos e perceber o quanto aquilo tudo era muito além da imaginação. É por isso que não devemos fazer pré-julgamentos, tomar atitudes precipitadas achando que, sendo traído, você é o completo dono da razão, condenando a pessoa sem nem mesmo ler os autos do processo. Camilo foi tomado pelo ódio, mas como diz uma música, “mas o ódio cega e você não percebe. Mas o ódio cega...”
Laura: Puxa, Cam, estou me sentindo tão manipulável, puxa! Fomos manobrados por algo que nenhum de nós tinha qualquer controle. Sinto muito, Cam, isso tudo é muito horrível. Lembro que no semestre anterior ao abandono dos outros, fazíamos planos na profissão. Todo mundo planejando o bairro que instalaria consultório, a especialidade seguida, e de repente tudo se evaporou. Nossa, que coisa horrível. Claro que isso não foi natural. Essa doideira toda que nos meteram acabou com tudo, muito triste isso.
Camilo: Laura, não sinto nojo nem repudio de você, apesar dessas imagens e filmagens repulsivas que me deparei. Não podemos escapar de tudo isso que apareceu na superfície. Uma pena. Todo afeto de vinte anos termina aqui. Se você tem razão em tudo que disse, a força que você desintegrou conseguiu destruir os laços que nos uniam como casal. Não nos resta nada. Pelo menos, conseguimos chegar a uma conclusão que Osório tem culpa nesse cartório. Mas só podemos supor. Não há prova de nada. Pelo menos, não cometi nenhuma loucura. Se eu machucasse você, seria um ato insano pior do que vocês cometeram. Se você teve controle em não aderir a essa coletivização doida e quebrar essa espécie de encanto, eu tinha que ser forte e seguir na mesma linha. Mas suportar tudo isso juntos, não creio que seja uma boa medida.
Camilo e Laura se abraçaram, chorando. O que parecia que acabaria em tragédia, acabou num reconhecimento de que Laura e os amigos fizeram parte de uma trama ardilosa, supostamente montada por alguém que não está mais aqui. No fim das contas, não havia condições de continuarem normalmente aquela relação. Era como construir uma casa em meio a escombros. Não se sabe até que ponto ia a ação de forças ocultas a modelar o destino de quem se meteu numa fria pornográfica. Era hora do adeus. This is the end.
Quatro anos se passaram. Camilo observa os trabalhadores da vinícola colhendo belíssimas uvas e produzindo vinhos para exportação. Ele agora administra o negócio, em uma região bucólica do Uruguai, na divisa com o Rio Grande do Sul. Está casado com Alejandra, uma uruguaia dez anos mais jovem. No local ainda se localiza um pequeno haras, onde cuidam de cavalos.
Regularmente, recebe a visita dos filhos. Na mais recente hospedagem, sua filha mostrou a ele uma foto atual de Laura, sua ex. Ela estava um pouco envelhecida, com alguns cabelos brancos. Laura continua dentista, mas atende agora em um bairro popular. Com pacientes de classe mais baixa, seus rendimentos caíram. Agora, é ela quem realiza mutirões para atendimento dos mais necessitados. Mora em um apartamento simples, bem mais modesto que a luxuosa casa que vivia em um condomínio fechado, quando casada. Nas horas vagas, pinta quadros e tem pouca vida social. Desde o divórcio, não se relacionou com mais ninguém. O dinheiro aplicado, ela deixou para os filhos.
Zé Pedro e Núbia começaram a brigar muito e após muitos arranca-rabos, decidiram se separar. Ele trabalha prestando serviço para o cerimonial da prefeitura. Ela, voltou a fazer odonto, mais de duas décadas após ter deixado o curso. Trabalha como autônoma, seja lá o que isso signifique.
Manoel foi indiciado por sonegação de impostos, fraude fiscal, caixa dois, lavagem de dinheiro, o que não faltava era crime. Marli entregou documentos à polícia e ajudou o cretino a ser condenado. Manoel está em liberdade condicional, prestando serviços comunitários. Entrega quentinhas no presídio. Marli não trabalha e voltou a morar com a mãe.
Isabel contraiu uma hepatite C e foi pra Índia buscar uma cura espiritual e lá ficou. Sobrevive vendendo livros numa feira em Calcutá.
Raimundão se afundou nas drogas. Mora nos fundos de sua oficina.
Valdão é doente renal e faz hemodiálise. Vive de benefícios do governo.
Celinha largou Valdão quando conheceu um holandês, indo morar no país dele. Trabalhou anos numa floricultura, mas foi flagrada aos beijos com um cliente, sendo posta pra fora de casa e deportada pro Brasil. Trabalha como diarista e tenta a aposentadoria por conta de uma hérnia de disco que a impede de trabalhar.
Samara terminou a faculdade de nutrição, mas não se especializou, não fez pós-graduação ou nenhum tipo de capacitação. Trabalha como técnica de enfermagem e tem três filhos, cada um de um pai diferente. Reduziu as mamas em função de fortes dores nas costas.
O CLUBE: No local onde estava situada a garagem da primeira suruba, havia, muitas décadas atrás, um clube clandestino, quando aquele bairro era distante e ermo. O clube era destinado aos praticantes de sexo grupal. Todo ato sexual tinha que ser coletivo, era o lema do lugar. Rolava muita coisa por lá. Depois de desativado, funcionou um motel, também especializado em orgias. Com o crescimento do bairro, os novos moradores protestaram a presença de tal estabelecimento por lá. O local foi adquirido por uma famosa, que frequentava as surubas nesse motel, e construiu uma garagem, que depois virou um galpão voltado para atividades sexuais coletivas. Lá, foi criada uma espécie de seita chamada “Os Filhos de Baco”, que reverenciava entidades do mundo antigo. Com o tempo, um dos frequentadores mais assíduos era um estudante de odontologia chamado Osório.
OSÓRIO
Ele se tornou amante da líder do local e tinha muitos privilégios. Arregimentava novos membros e tinha acesso irrestrito ao local. Quando a dona do espaço viajava, era ele quem administrava. Osório sempre foi um conquistador nato, com uma grande lábia para conquistar mulheres. Desvirginava mocinhas inocentes e no carnaval realizava bailes movimentados. Na faculdade, conseguiu levar algumas colegas mais saidinhas. No entanto, ele queria fazer um experimento: e se ele levasse gente desprevenida?
Cansado de levar pessoas experimentadas na prática orgiástica, ele pensou em levar alguns colegas mais... pueris, digamos assim. Já planejava algo do tipo com seus colegas mais chegados. Um dia, antes do show de uma banda na qual tocava, ele ficou sabendo que o vocalista não iria. Deu estalo na sua cabeça. Ele então arquitetou um esquema. Após o espetáculo, levaria esses colegas até o clube pra curtir a noite e ver no que ia dar. No local, havia cultos onde manifestava forças obscuras que incentivavam os praticantes a obterem mais prazer durante os atos grupais. Horas antes, ele deixou o recinto preparado. Ele sabia dos poderes que emanavam naquele local.
Deu tudo certo. Os jovens colegas de Osório foram sendo introduzidos numa conduta desviante que ocasionou uma vibrante orgia e demais brincadeiras extraordinárias. Foi tudo programado. Valdão e Celinha, que frequentavam as festas desse local e trabalharam lá algumas vezes, apareceram, convidados por Osório. Eles não esperavam que aqueles estudantes estivessem lá. Porém, imaginavam que Osório havia esquematizado algo programado e deixaram o clima favorável para uma completa diversão. Era Osório que estimulava os causos contados; Celinha levava a máquina para registros e nesse dia ela estava com a câmera a tiracolo; foi Osório quem a incentivou as fotografias; ele também programava a máquina para as fotos. Tudo articulado por sua mente cruel.
Ele sabia que aqueles colegas, quase colegiais, estariam vulneráveis a corrente energética que interligava cada vez mais os participantes. Naquele dia, essa potência vibratória irradiou em cheio aqueles universitários, a maioria deles pouco maliciosos. Com isso, criou-se aquela irmandade, totalmente dependente das forças ocultas evocadas por aquela alma sebosa, justamente para manter uma constante conexão erótica entre aquelas pessoas. Era justamente o que ele queria: corromper pessoas que levavam uma vida sem graça a se jogar nos profundos subterrâneos da putaria. E conseguiu. Com êxito. A energia que ali rondava, e que passou a acompanhar e guiar o instinto de todos, utilizava os corpos como hospedeiros, os levando a um prazer extremado.
Valdão e Celinha receberam sim uma proposta para uma filmagem amadora. Foi Osório quem convenceu Valdão e Celinha a convidarem a turma, que estava completamente desconectada por vontade própria. Estimulados por aquela grana, o casal aceitou. Ele sabia que muitos daqueles jovens ingenuamente aceitariam. O entusiasmo de participar novamente de uma orgia daquelas superava o amargor de suas vidinhas medíocres e suas mentes frágeis. Com ajuda da fonte inspiradora que regia aquele grupinho, tudo certo.
Mas uma não aceitou. Convictamente. Ele então deu o golpe de mestre. Foi dele a ideia da festa surpresa, do encontro de Valdão com Celinha, tudo articulado. E naquele local. Ele sabia que Laura, uma garota determinada, sucumbiria ao encontro com aquele grupo. Levou-a ao local onde todos aderiram a uma corrente enigmática de puro prazer e assim, fez com que Laura ficasse suscetível, sensibilizada e totalmente indefesa ao estar presente com aquela irmandade, naquele ambiente onde todos se libertaram de suas consciências. Nesse dia, o local estava com uma nevoa magnética que conectava a todos.
Osório queria disponibilizar a filmagem daquela orgia algum tempo depois, pra ver as reações gerais daquela suruba fabulosa, esplendida e irretocável. Também foi ideia dele o registro das fotos para mostrar a um representante do magnata. Ele queria ficar com aquelas imagens, mas Celinha não cedeu a ele. Percebendo que ele queria aquelas fotos, ela escondeu dele embaixo de uma prateleira, enquanto ele discutia com Valdão a posse daquelas fotografias. Completamente irado, ele fez emergir forças da natureza para que aquelas fotos continuassem existindo. Também ficou possesso com a queda do helicóptero. A existência de comprovações materiais daquela orgia, traria consequências praquela galera. Como ficaria aquela turminha desguarnecida? E principalmente ver como agiria o grande ausente disso tudo: Camilo
No íntimo, Osório odiava Camilo. Achava ele devagar, bundão, acriançado, um fidalgo. Chamou-lhe atenção várias vezes do mole que Laura lhe dava, mas dizia que “tudo tem seu tempo”. Camilo já cercava Laura e era questão de tempo os dois se pegarem. Nisso, Osório passou a desejar Laura, queria comê-la, mas ela não dava a mínima bola pra ele. Uma noite na qual Camilo recusou uma farra num puteiro, considerou-o um medroso. Ele fez questão que Camilo ficasse de fora da sua experiencia bem-sucedida com seus colegas. Achava que Camilo brecaria qualquer tipo de avanço. Caiu como uma luva a ausência de Camilo naquela noite. Tava dando tudo certo pra ele. Durante as surubas, enquanto comia Laura, Osório sempre provocava ela.
- tá gostando do meu pauzão, princesa? Quer pica, quer?
- Ai, Osório, mete esse pauzão, me come, fode
Durante as filmagens, ele comia o cu de Laura, metia muito, Laura delirava, ele sentia o corpo dela vibrar. No seu íntimo pensava:
- "CAMILO, SEU OTÁRIO, TÔ METENDO NESSE RABAÇO GOSTOSO DA SUA NAMORADINHA! DUVIDO QUE VOCÊ JÁ TENHA COMIDO ESSE CUZÃO, AHAHAHAHAHAH...A PUTA NÃO PARA DE PEDIR PRA EU ARREGAÇÁ-LA, AHAHAHAHAHAHAH"
- QUE CUZINHO APERTADO, LAURINHA, AI QUE CUZÃO GOSTOSO, GEME GOSTOSO NO MEU PAUZÃO, VAI
- AI, OSÓRIO, METE ESSE CACETÃO, QUE DELICIA, ME COME VAI, ME COME GOSTOSO ASSIM, ME FAZ GOZAR, TESUDO! ESQUECE ESSA ROLA DELICIOSA DENTRO DEM MIM, SOCA!
Foi ele quem movimentou a turma para retornar ao Costela’s após um semestre esvaziado. Queria reunir todos novamente, dessa vez, nos fundos do estabelecimento. Mas lá estava Laura novamente, sempre ela. Sua atitude de impedir que o tesão prevalecesse sobre aquela irmandade forjada, enfraqueceu todas as forças que impulsionariam aqueles jovens a mais uma loucura grupal. Osório não esperava. O que ele queria era que Laura pedisse desculpas ao namorado e conclamasse todos a foderem juntos nos fundos do bar, enquanto Camilo embasbacado não entenderia nada. Logo após, encontraria o “amigo” chorão e iria jogar na sua cara “tá vendo? Até sua namoradinha carinhosa e suas amiguinhas barbie tem mais desejos de extravasar o tesão numa putaria que você!”. Não deu, Osório. Perdeu, playboy.
Vendo que aquele ato de Laura dissipou a turma, Osório fechou a cara para todos. Abandonou as aulas, saiu da banda, e mergulhou ainda mais na vida insana de putarias e orgias. Acabou sendo expulso do clube, ao descobrirem que suas experiencias ultrapassaram todos os limites do bom senso ao expor pessoas que não estavam preparadas para habitar aquele local. E que ele movimentou forças que extrapolaram para além das dependências do clube. Crivado de raiva, se viu perdido e derrotado. Não mediu esforços e amaldiçoou Laura em um rito sagrado. Um dia, ela pagaria por desarticular tudo o que criara. Ainda mais que o amor de Laura e aquele engomadinho do Camilo gerou uma vida matrimonial e profissional. Amor esse que foi capaz de corroer as forças da natureza.
Osório se achou um grande gênio e se perdeu em suas próprias convicções. Morreu em circunstâncias misteriosas, embora as forças ocultas afloradas por ele permanecessem cristalizadas. Como os desejos da irmandade criada por ele só tinham poder quando estivessem em conjunto, todos acabaram com o tempo esquecendo essas surubas e com seu falecimento, nenhum deles passou a ter qualquer recordação. Laura, muito astuta, soube decifrar tudo o que se passou nessas surubas. Só não se deu conta de que ela e outros eram guiados por uma onda que os abrangia.
E assim, anos depois, Marli, em um acesso de raiva, fez com que seu temperamento adulterado durante as orgias ressurgisse, resultando na reconexão de fluidos magnéticos adormecidos, vindo a aflorar as lembranças daquelas orgias na mente de cada um. Mesmo anos depois de falecido, Osório conseguiu. Suas maquinações reverberaram e tudo o que estava submerso chegou ao conhecimento de Camilo. Assim, aquela força agiria para que sua mente também fosse alterada, como os demais nas orgias. Camilo teria tendencias a reagir com ódio e raiva, ao saber que tinha sido traído por seus amigos e então namorada, e brotar um ser cruel que agiria com violência e vingança. Ao saber de tudo, Camilo pré-julgou Laura, achou que ela era uma cínica, demoníaca, filha da puta, dissimulada, adultera, traidora. Jogaria pedra e bosta na Geni, ela dá pra qualquer um, pra todos, MALDITA GENI!!!!Madalena!!!! Ele seria mais um fariseu a atirar a primeira pedra, mortal!
No entanto, após ver as imagens, prevaleceu a curiosidade. Sua boa índole venceu. Ele jamais julgaria alguém antes de saber dos fatos, prestar atenção no que ela tinha pra dizer, antes de ter uma leitura completamente passional e raivosa de tudo. Teria que aguardar as conclusões pra tomar qualquer atitude. É assim que se deve agir, raciocinou, refletiu um controlado Camilo.
Assim que ouviu Laura – até então a gente ruim da história - fez as ligações com outros fatos que ocorreram com ele até chegarem à conclusão de que Osório estava por trás disso, mas não podia provar nada. Eis a verdade que nenhum dos dois esperavam durante todo esse tempo. Laura era mais uma peça naquele tabuleiro erótico, proposto por um sujeito vil.
Mas por que Osório passou tão despercebido nisso tudo? Ora, assim agem as mentes mais pérfidas e doentias. Ele nunca foi o protagonista de nada, agia naturalmente, manso, quieto, comendo pelas beiradas,agindo como apenas mais um, aquele sujeito que aponta o dedo pro inocente e enquanto a horda linchadora pragueja, ele rouba tudo na maior calma e sai de boa. Ao abarcar a garota que era a única que estava naquela sem o namorado, queria expô-la. Ela então seria a sórdida, a cruel, a adultera, traiu o namorado com os amigos na orgia, fazendo com que Camilo agisse como um red pill descerebrado e rompesse com Laura – em todos os sentidos, entenda-se. Laura, a maldita Geni, na verdade foi a algoz de seus planos mais mordazes. Laura evitou que as coisas fossem ainda mais longe.
O clube foi desapropriado e demolido. No local, foi construído uma praça. Agora, o agito daquele lugar era de pessoas se exercitando, passeando, e levando seus filhos pra brincar.
25 anos depois, nenhum dos onze participantes mantém qualquer tipo de contato ou voltaram a se encontrar novamente. As fotos foram incineradas e o vídeo deletado. Não restando qualquer resquício material desses eventos, as lembranças daquelas orgias monumentais desapareceram definitivamente da memória dos envolvidos.
Em uma noite estrelada, Camilo estava sentado na varanda de sua casa, bebendo um vinho e pegou no sono. Sonhou que estava num restaurante chique, sentado sozinho numa mesa grande e rodeado de vários pratos. Passou a comer, quando olhou a vitrine. Lá fora, um sujeito com aspecto faminto, o olhava devorar os pratos. Estava transparente, parecia um fantasma. Após limpar a boca, ele falou com o sujeito.
- Não há nada pra você aqui. A única coisa que há pra você são as profundezes do inferno, seu demente!
Logo após, uma grande chama desintegrou aquele individuo.
Quando olhou para o lado, Estava Laura, vestida de garçonete. Havia sido ela que trouxe aquela comida. Também notou que era o único cliente. Laura havia fechado a porta para que mais ninguém entrasse. Camilo levantou a taça, deu uma piscada marota e sorriu pra ela. Laura sorriu de volta.
FIM
Dezembro de 2003. Valdão e Celinha retornam pra casa após o dia da filmagem.
Valdão: Ah, que dia maravilhoso! Histórico!
Celinha: Ahhhhhhhh, só quero agora é descansar.
Valdão: Que turminha, hein? Quem diria que aqueles filhinhos de papai fossem tão selvagens?
Celinha: Pois é! Pena que não falamos toda a verdade pra eles.
Valdão: Hummm... se eles soubessem que Osório queria a divulgação desse vídeo...
Celinha: Imagina. Osório anda muito mudado. Ele queria aquelas fotos. Pra que? Eu ia jogar tudo fora. Estamos atrelados aquele grupo, essa é a verdade.
Valdão: Ah, mas demos nosso jeito! Você foi maravilhosa seduzindo o piloto do helicóptero. Tava de olho em todos pra ninguém ver.
Celinha: Sou mais eu! Viu como eu servi o suco a ele sensualmente?
Valdão: Levou um senhor empurrão do segurança! E eu não pude fazer nada
Celinha: Ah, valeu a pena.
Valdão: Aquele sonífero é tiro e queda, hein?
Celinha: Ô se é!
Valdão: Vamos ligar a TV pra assistir o jornal? Olha só... Caiu um helicóptero!
Celinha: Nossa, que pena!
Valdão: Hum, que horrível!
Celinha: Pelo visto, o piloto não conseguiu pousar pra tirar uma soneca....