(Mauro)
Quando Paola e eu cruzamos o portão lateral, uma cena congelou meu olhar. Karol estava com um homem mais velho, seu braço envolvendo sua cintura de forma possessiva. O simples gesto me causou uma reação inesperada. Meu estômago se apertou e algo quente subiu pelo meu rosto. Meus punhos se fecharam quase sem perceber, e um impulso de raiva tomou conta de mim.
Apesar de já ter decidido dar um fim à nossa relação, aquele instante foi como um corte na ferida que eu ainda não tinha cicatrizado. Respirei fundo, controlando a vontade de fazer algo impulsivo, e forcei minha expressão a permanecer fria. Olhei diretamente para Karol, sem esconder a indignação. Numa reação quase instintiva, acenei com a cabeça em direção ao homem ao seu lado, sem precisar dizer nada.
Karol percebeu o que eu queria dizer. Seu olhar vacilou por um momento, antes de desviar, e pude ver a leve surpresa e culpa em seus olhos. Num gesto rápido, ela afastou-se do homem, o braço dele caindo de sua cintura com um movimento quase imperceptível, mas suficiente para mostrar que ela estava tentando estabelecer alguma distância.
Evitei olhar para ela novamente. Em um movimento mais lento, virei-me para Paola, puxando-a para mais perto de mim, como se aquilo pudesse fortalecer minha decisão. Meu braço a envolveu de maneira firme, como um gesto de reafirmação, e seguimos adiante, sem que a tensão do encontro transparecesse enquanto caminhávamos, juntos, para longe dali.
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(Karol)
O brilho nos olhos de Mauro se apagou diante de mim, e o impacto disso foi como uma pedra lançada ao meu peito. Meu coração acelerou, e algo dentro de mim se apertou, como se o ar tivesse se tornado denso e difícil de respirar. Sem pensar, afastei o braço de Carlão de minha cintura, tentando me libertar daquele toque que, até momentos antes, não parecia importar. Mas então, o gesto de Mauro me cortou como um golpe: ele se afastou, tomando Paola pela mão, ignorando minha presença.
Ao redor, o ambiente parecia girar levemente, como se eu estivesse fora de sintonia com o que acontecia. O burburinho da festa ficou distante, e, sem querer, meus olhos buscaram as pessoas mais próximas: minha prima e Beth, que observavam à distância. Logo, vi quando Beth se inclinou para sussurrar algo a Bruninho, e ele, com uma expressão firme, levantou-se do grupo e veio até mim.
Com uma suavidade no gesto, ele segurou minha mão e falou baixinho: — Fique tranquila, vou falar com Mauro e sugerir que vocês conversem.
A ideia de falar com ele era algo que estava aguardando a dias. Não queria que minha irmã continuasse se metendo na minha vida, mas naquele momento, não parecia haver outra escolha. Olhei para Beth, que me observava de longe, e vi seu sorriso discreto, mas carregado de apoio. Ela com gesto discreto ergueu sua taça de vinho como se tivesse me convidando para um brinde.
Bruninho me olhou com paciência, esperando minha resposta. Um simples aceno foi o que consegui dar, tentando comunicar a gratidão que palavras não conseguiam expressar. Repeti o brinde silencioso que Beth havia feito, um gesto pequeno, mas que, naquele momento, parecia ser a única forma de criar um vínculo de apoio entre nós.
Ele entendeu, e, com um olhar de incentivo, se afastou em direção a Mauro, pronto para interceder por mim. Fiquei onde estava, tentando manter a compostura, enquanto a festa ao redor parecia distorcida, como se tudo acontecesse em um plano distante.
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(Mauro)
Chegamos à roda de amigos de Paola, e entre eles estava Henrique. Sentado com os outros, ele parecia à vontade, mas algo em sua postura me incomodou. Paola o cumprimentou com um abraço, e eu não pude deixar de perceber que esse gesto durou um pouco mais do que os outros. O beijo em sua bochecha foi mais demorado, e, de repente, meu peito se apertou.
Eu respirei fundo, tentando manter o controle. A raiva e o ciúmes ainda estavam ali, mas eu não queria perder minha racionalidade. Isso era inevitável, eu sabia. O relacionamento deles não era um segredo. Mas a necessidade de manter o controle, de mostrar que Paola estava ao meu lado, era mais forte.
Com um olhar firme, mantive a atenção em Henrique, esperando que ele percebesse minha presença. Esperei o momento certo e estendi a mão para ele.
— Boa tarde, obrigado pelo convite. Sou Mauro — disse com uma voz controlada, sem desviar o olhar.
Henrique hesitou, desviando o olhar rapidamente, um pequeno desconforto visível em seu rosto ao apertar minha mão. A tensão entre nós era palpável. Aproveitei a oportunidade para, discretamente, puxar Paola para mais perto de mim e dar-lhe um beijo, um gesto simples, mas carregado de intenção. Ela correspondeu com intensidade, e, ao apertar minha bunda de forma brincalhona, me fez sentir que ela estava, de fato, ao meu lado.
Olhei para ela com um sorriso satisfeito, entrelacei nossas mãos e, nesse momento, percebi Bruninho se aproximando. Ele pediu licença ao grupo e se dirigiu até mim, e eu já sabia do que se tratava. Pedi a Paola para me aguardar um instante, já que precisava resolver a situação com Karol.
Sabia que, se deixasse para mais tarde, as coisas poderiam sair de controle, e preferi encarar aquilo de frente logo no começo da festa, enquanto todos, especialmente Paola, ainda estavam sóbrios. Deixá-la sozinha naquela festa, já animada pela bebida, estava fora de cogitação.
……
(Karol)
Após Bruninho falar com Mauro, ele retornou para onde aquela mulher estava e falou algo em seu ouvido. Eu fiquei ali, parada, um pouco perdida, sem saber direito o que havia acontecido. Não conseguia entender se Bruninho tinha conseguido convencer Mauro a finalmente conversar comigo ou não. A ansiedade tomou conta de mim, mas eu tentava manter a calma, mesmo que meu coração estivesse disparado dentro do peito.
Meu cunhado me olhou com um sorriso vitorioso, quase travesso, e fez um sinal de positivo com o polegar, confirmando que o plano havia dado certo. Um imenso sorriso instantaneamente surgiu em meu rosto, mas, ao mesmo tempo, senti uma onda de euforia me invadir. Meus dedos estavam trêmulos, e eu quase não conseguia me segurar de tanta ansiedade. O momento que tanto esperava estava chegando, e eu podia sentir meu corpo vibrar com a expectativa.
Mauro não conversou com sua acompanhante por muito tempo, e logo olhou fixamente em meus olhos. O olhar dele foi direto, sem hesitação, e me surpreendendo, fez um aceno com a cabeça, indicando para cima, como se me convidasse a seguir. Meu coração acelerou, e eu respirei fundo para não perder o controle.
Logo após, ele entrou na casa e começou a subir as escadas. Naquele momento, uma onda de emoção me tomou por completo, e não pude evitar que as lágrimas começassem a escorrer pelo meu rosto. Cada passo dele parecia me afastar, mas também me aproximava do momento que eu tanto ansiava.
Decidida, puxei a mão de Xarlaobe e falei com firmeza, tentando controlar a tremedeira na voz:
— Eu vou subir para conversar com Mauro. Fique aqui e não me atrapalhe.
Sem dar tempo para que ela dissesse algo, virei as costas e comecei a andar, com os passos firmes e rápidos, sem hesitar. Minha mente estava só em uma coisa: reaver meu namoro e, finalmente, o grande amor da minha vida. Cada passo na direção das escadas parecia mais decisivo, e não havia mais espaço para dúvida ou arrependimento. Eu sabia o que tinha que fazer.
…..
(Mauro)
Fiquei aliviado por Paola ser tão compreensiva e, inclusive, me estimular a conversar logo de uma vez com Karol. Sua atitude demonstrava uma maturidade que eu ainda tentava entender.
Ela manteve a postura de nossa conversa anterior e, com um sorriso suave, me deu um beijo discreto no pescoço. A sensação do toque de seus lábios na minha pele fez um arrepio percorrer minha espinha, e sua voz suave e sedutora soou ao meu ouvido:
— Espero que resolva logo esse seu problema. Até lá, ficarei na companhia de TODOS os meus amigos.
A combinação da sua voz e o beijo me deixaram momentaneamente sem reação, quase hipnotizado. Mas, ao mesmo tempo, uma leve preocupação se formou em meu peito. Eu sabia que precisava ir até Karol, mas me incomodava a ideia de deixar Paola sozinha, mesmo com os amigos ao redor. Uma sensação de vulnerabilidade, talvez.
Tentei respirar fundo, concentrando-me em retomar o controle sobre minha mente. Não podia deixar que as emoções me desestabilizassem mais uma vez. Uma parte de mim, mais racional, me bombardeava com argumentos de que Paola sempre foi apaixonada por mim, que ela sempre quis algo sério e que, até agora, nunca havia escondido isso de ninguém, inclusive me mostrando com orgulho aos outros. Mas, por outro lado, o lado emocional, mais instável, fazia com que dúvidas e inseguranças rondassem minha mente e coração, como fantasmas que não me deixavam em paz.
Tentando escapar dessa armadilha mental, resolvi, finalmente, focar em resolver o outro problema. Com uma expressão que agora se tornava mais fria e controlada, olhei novamente para Paola e, sem dizer uma palavra, acenei com a cabeça. A mensagem estava clara: eu estava subindo para o local do nosso encontro com Karol. Sem esperar mais, entrei na casa, tentando deixar as emoções e a confusão do lado de fora, como se eu pudesse apagar tudo de uma vez.
Subi as escadas rapidamente, sem hesitar. Cada passo era um lembrete do que eu precisava fazer. O quarto onde encontraria Karol já estava com a porta aberta. Respirei fundo, uma última tentativa de manter a calma, e entrei. Fiquei ali, sozinho, aguardando pacientemente sua chegada. O tempo parecia esticar, mas eu não podia permitir que o nervosismo tomasse conta de mim naquele momento.
…..
(Karol)
Sem nem pensar, tentei enxugar as lágrimas apressadamente, mas elas continuavam a escorrer. Respirei fundo, sem querer deixar que me vissem em fragilidade, e saí andando rapidamente para dentro de casa. Em questão de segundos, já estava subindo os degraus daquela escada, o som dos meus passos ecoando no silêncio do ambiente.
Dessa vez, diminuí a velocidade dos meus passos. Cada um deles parecia mais pesado que o anterior, mas eu precisava me concentrar. Comecei a relembrar, de forma quase automática, como foi naquele quarto que minha história com Mauro começou, onde tudo parecia mais simples e puro. As lembranças tomaram conta de mim, como se eu estivesse revivendo cada momento.
Eu não conseguia esconder o nervosismo que tomava conta do meu corpo. As mãos suavam, meu peito estava apertado, e meu coração batia descompassado. Mas, por dentro, eu sorria igual uma adolescente apaixonada, com o tipo de sorriso bobo e cheio de esperança que só o amor pode provocar. Era como se uma parte de mim ainda acreditasse que o que eu havia feito poderia ser consertado, que eu ainda tinha uma chance.
Eu sabia que tinha errado, e esse erro, eu reconhecia, tinha sido feio. Mas, à medida que subia as escadas, sentia a convicção crescendo dentro de mim. Eu não estava ali apenas por arrependimento; eu estava ali com a certeza de que ainda poderia recuperar o amor da minha vida.
Terminei de subir as escadas e segui pelo estreito corredor até chegar ao quarto de minha prima. O ambiente ao redor parecia cada vez mais distante, e só pensava em Mauro. Quando cheguei próxima à porta, a visão de Mauro, tão perto de mim mais uma vez, fez meu coração disparar. O nervosismo virou uma energia pulsante que me impulsionou a ir até ele.
Sem mais pensar ou me conter, corri em sua direção, com as mãos tremendo, e me joguei nos seus braços. Ele me agarrou, apertando minhas costas com força, me segurando firmemente para evitar minha queda. Nossos rostos ficaram tão próximos que o calor da sua respiração podia ser sentido. Meu corpo estava queimando de desejo e saudade, e eu queria, de toda a forma, surpreendê-lo com um beijo.
Mas, antes que eu pudesse me aproximar mais, ele me conteve com uma leve pressão de suas mãos, evitando o beijo. A sensação de estar tão perto, mas ainda assim distante, me deixou com um turbilhão de sentimentos contraditórios, mas eu não sabia o que fazer a não ser esperar.
…..
(Mauro)
Fiquei alguns minutos perdido em meus pensamentos, tentando organizar a confusão que tomava conta de mim. Mas logo consegui perceber o som dos passos de alguém subindo as escadas. O som parecia mais nítido do que o normal, como se o tempo estivesse desacelerando, e eu me preparei para o que estava por vir.
Fiquei de frente para a porta, com a expectativa de que fosse Karol. E, de fato, era ela. Minha "ninfetinha" entrou, me olhando com aquele sorriso travesso, e sem mais nem menos, se jogou em cima do meu corpo. Foi tão repentino que não tive outra opção a não ser segurá-la com firmeza, evitando sua queda. Ela estava quente e rápida, como sempre, mas eu precisava manter o controle.
Nossos rostos se aproximaram com intensidade, mas antes que pudesse pensar em algo, ela não perdeu tempo e tentou me beijar. Eu, com a mente mais fria do que o corpo quente que agora segurava, evitei aquele beijo com um movimento firme, afastando seu tronco com as mãos. Ela, surpreendida, olhou para mim, e eu a encarei com frieza, como se tentasse transmitir toda a tensão que sentia. Não disse uma palavra, apenas me afastei ainda mais e mandei:
— Fecha a porta.
Ela obedeceu rapidamente, o som da porta se fechando ecoando na quietude do ambiente. Então se sentou ao meu lado na cama. O calor que ela emanava parecia agora fora de lugar, algo que eu não queria mais perto de mim naquele momento.
Com raiva, comecei a conversa, minha voz saindo mais ríspida do que eu pretendia.
— Você não tem o mínimo respeito por mim, não é? Trazendo um de seus amantes para uma festa de sua família. Você queria me humilhar?
Ao ouvir minhas palavras, Karol reagiu imediatamente. Seu semblante mudou completamente, como se tivesse sido atingida por uma onda de vergonha. Ela olhou para baixo, com os ombros curvados, uma postura de total retração, diferente de sua atitude ousada momentos antes.
— Não... Mauro... por favor... eu... — ela tentou falar, mas as palavras pareciam travadas em sua garganta, como se estivesse em luta com elas.
Eu a interrompi, meu tom agora mais exigente.
— Olha para mim.
Ela hesitou, mas enfim levantou os olhos, e algo na expressão dela me fez sentir que algo estava errado. O que quer que fosse, eu tinha o direito de saber.
— Você sabia que eu vinha hoje, não sabia? — perguntei, sentindo uma raiva crescente, mas também uma tristeza que não sabia de onde vinha.
Ela pareceu ser pega de surpresa, como se não soubesse o que dizer. O silêncio tomou conta do quarto, e eu pude ver sua postura cada vez mais tímida, sem reação. Sua boca se abriu e fechou sem encontrar palavras, e a irritação em mim começou a aumentar.
— Você me chamou aqui para conversar, eu estou aqui. Mas, sinceramente, não tenho nada para falar com você. Se você continuar em silêncio ou for desonesta, vou me levantar e ir embora.
Ela me olhou nos olhos, dessa vez mais uma vez cheia de emoção, os olhos marejados. O ar ao redor parecia pesado com o que ela estava prestes a dizer.
— Mauro, esse é Carlão. Ele é amigo da minha irmã. Ela pensou que, trazendo ele para cá, faria você sentir ciúmes e isso me ajudaria...
Eu não consegui responder de imediato. A palavra “ajudar” parecia irônica demais para a situação. O que ela fez? Eu apenas dei uma risada forçada, quase sem som, mas cheia de deboche. Não consegui evitar.
….
(Karol)
Eu já deveria ter previsto que Mauro iria me receber de maneira ríspida. Não era surpresa, mas ainda assim, o impacto da sua frieza me atingiu de forma dura. E ficou claro que, mais uma vez, a interferência de minha irmã poderia me prejudicar profundamente.
Eu sabia que as chances de reconquistar Mauro estavam cada vez menores. O silêncio entre nós pairava pesado, e eu sentia a verdade nua e crua: não restavam mais opções. A única coisa que me restava era falar com honestidade, ou pelo menos tentar.
— Mauro… por favor, me ouça. — comecei, mas logo travei, minhas palavras se perdendo, meu cérebro em um turbilhão. Não sabia por onde começar. Ele apenas me observava com um olhar rígido, mas havia algo em seu semblante que sugeria que ele estava disposto a me ouvir, mesmo que a contragosto.
Respirei fundo e tentei mais uma vez, a tensão no ar tornando cada palavra mais difícil de sair.
— Eu serei honesta com você. Tudo começou no seu ano de faculdade, o meu último no colégio também. Você estava muito ausente por causa da faculdade, e por causa da vaga de trainee que tanto queria.
Eu vi os olhos de Mauro se estreitarem, mas ele não me interrompeu. Ele estava me ouvindo, e isso, de algum modo, me deu coragem para continuar.
— Comecei a conversar mais com minha irmã, Beth. E ela começou a me contar como fazia tudo o que queria com o Bruninho. Disse que isso acontecia com seus amantes também.
A raiva que eu via nos olhos de Mauro não diminuía, mas, ao mesmo tempo, ele não desviava o olhar. Eu sabia que eu estava cavando minha própria cova, mas precisava falar.
— Eu... eu... acabei ficando curiosa. Ela me incentivou a tentar com você. Aos poucos, comecei a puxar a corda, tentando expandir o máximo possível seu limite. Mas, naturalmente, teve uma hora em que você não gostou, e brigamos feio, quase terminamos.
Ele estava parado, com a mandíbula tensa, mas não disse nada, então continuei, o peso do meu arrependimento me esmagando.
— Ela então me incentivou a tentar submeter um amigo de colégio, que sabia que era apaixonado por mim. Eu comecei a sair com ele, apenas para ver até onde ele chegaria. E comecei a me divertir com isso. Eu juro para você, nunca fiz nada mais do que uma punhetinha nele. Já ele... eu o obrigava a me chupar e... e... muitas vezes o penetrava com meus dedos.
Eu parei por um momento, tentando recuperar o fôlego. A vergonha me consumia, mas, ao olhar para Mauro, vi que o rosto dele estava vermelho, os punhos cerrados, e uma expressão de pura raiva tomava conta dele.
Ele parecia imóvel, mas então, com uma calma perturbadora, perguntou:
— Você tinha consciência do que fazia e fez tudo de forma premeditada? Não foi um momento único em que você se deixou levar por causa de bebidas ou outro tipo de coisa?
Eu sabia que ele estava me testando, já que, na verdade, eu já tinha praticamente respondido essa pergunta segundos antes. A tensão no ar era palpável, mas eu sabia que precisava ser clara.
— Sim. Mas eu juro, por tudo que eu mais prezo, eu não sentia nada por ele. Eu só estava tentando me divertir.
Mauro sorriu, mas era um sorriso amargo, cheio de deboche. O olhar dele estava frio, como se o calor da minha sinceridade não tivesse efeito algum sobre ele.
— E quanto a esse homem que está com você?
A pergunta pegou-me de surpresa. Ele parecia se divertir com a minha agonia, mas a intensidade do seu olhar não me deixou fugir.
— Ele se chama Carlão. É um dos "comedores" fixos de minha irmã. Foi como eu te disse... eu ia usá-lo para te fazer ciúmes.
Mauro manteve a risada, mas ela foi curta e desdenhosa. Ele olhou para mim com desprezo e, sem mais rodeios, perguntou:
— Mas você teve relações com ele? Relações de verdade, não essas "brincadeirinhas".
Eu sabia que não havia como mentir agora. O peso da culpa estava me esmagando, e eu não consegui esconder o que havia feito. Com a voz baixa, quase um sussurro, eu finalmente disse a verdade:
— Sim...
…..
(Mauro)
Sinceramente, me surpreendi com a honestidade com que Karol me revelou tudo aquilo. Uma sinceridade que definitivamente não esteve presente em nossa última conversa. Sua voz estava firme, mas a leveza que transparecia em seus olhos me fez questionar o quanto aquilo era genuíno. Uma sensação estranha tomou conta de mim, um misto de alívio e desconfiança.
Respirei fundo e resolvi continuar a conversa, sem deixar que a emoção me desestabilizasse.
— Digamos que eu te aceite de volta… — pausei por um momento, deixando as palavras ganharem peso — Quanto tempo demorará para que sua irmã imponha suas vontades sobre você novamente?
Minha expressão se manteve séria, e meu olhar era tão frio que poderia cortar. No entanto, o olhar de Karol não vacilou. Para minha surpresa, ela respondeu com uma convicção espantosa, sem hesitar.
— Nunca! Nunca mais. Por mim, eu juro que corto as relações com ela ainda hoje.
Sua resposta foi honesta e firme, e, por um instante, eu senti algo parecido com alívio. Mas eu sabia que ainda precisava de mais. Não podia deixar que palavras vazias nos enganassem mais uma vez.
— E quanto tempo até você sentir vontade de se "divertir" novamente e sair por aí me traindo e humilhando? — minha voz saiu fria e calculista, sem espaço para me deixar levar por qualquer emoção.
— Nunca mais, eu juro. — Karol respondeu com uma força que me impressionou.
Fiquei em silêncio por alguns segundos, absorvendo cada palavra, tentando entender o que estava acontecendo entre nós. Resolvi também ser honesto, colocar as cartas na mesa, sem máscaras.
— Neste momento, estou apaixonado e me relacionando com a Paola. Mas, se no futuro não der certo com ela, quem sabe... — disse, enquanto minha expressão se suavizava, ainda tentando medir a sinceridade de minhas próprias palavras.
Karol me olhou com um sorriso que me pegou de surpresa. Algo em seus olhos parecia mais um jogo do que uma reação genuína.
— Você tem certeza que conhece a Paola? — ela perguntou, sua voz carregada de um sarcasmo sutil, mas que me atingiu como uma flecha. — Ela já esteve com quase todos dessa festa e vai viajar com o Henrique no próximo feriado…
Meu coração deu um salto no peito. Aquelas palavras foram como um golpe direto, um aviso que fez minha postura desabar. Pela primeira vez naquela conversa, eu estava perdido. Minha mente estava em um turbilhão de pensamentos conflitantes, e eu mal consegui esconder a confusão em meu rosto.
Resolvi sair daquele quarto e voltar para a festa, sem dizer mais nada e sem olhar para trás.
Continua…
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