Sei que a maioria espera sempre as cenas de sexo, mas essa parte é mais pragmática, uma parte de contexto e revelações. Encaixar uma cena aleatória, apenas “porque tem que ter”, seria mais enrolação do que o necessário. Cenas melhores virão, integradas e importantes para a história. Boa leitura a todos. Divirtam-se.
Revisão: Id@.
Fabiano:
Eu olhei para Malu, confuso.
— Onde está Geovana?
Ela hesitou antes de responder.
— Ela ... decidiu não vir.
Resolvi me fazer de desentendido.
— E por quê?
Malu sorriu fracamente, visivelmente desconfortável com a situação.
— Ela me entendeu e aceitou meu pedido.
Seu sorriso forçado me divertia.
— Mudou de ideia? Simples assim?
Malu não tinha uma resposta convincente. Seu silêncio foi revelador.
Achei melhor diminuir um pouco a pressão, não deixá-la muito desconfiada.
— Tudo bem, amor? Você parece distante. — Perguntei, preocupado.
— Estou bem, só estou cansada. — Ela respondeu, evitando meu olhar.
Seu tom não me convenceu, e de qualquer forma, eu consegui meu objetivo. O clima estava definitivamente quebrado. Malu pediu:
— Podemos ir para casa? Não estou me sentindo bem. Prometo que compensarei você.
Ela estava muito abatida, cabisbaixa, como se realmente se sentisse fisicamente mal.
Voltamos para casa, e como o bom marido que sou, cuidei da Malu. Fiz uma canja caprichada, dei um analgésico para a dor de cabeça e ainda dormi de conchinha, acariciando seus cabelos.
A semana seguinte transcorreu tranquila, sem incidentes. Malu voltava cedo para casa e até me convidou para almoçar em dias alternados, um gesto raro. Nos dias que não me convidava, fazia chamadas de vídeo para conversar enquanto comíamos. Parecia querer provar que havia retomado o interesse pelo nosso casamento e que não estava se encontrando com ninguém.
Sua atitude estava mais intensa. Ela estava ainda mais carinhosa, carente e atenciosa. Nossas noites se tornaram intensas, com Malu mostrando uma paixão selvagem e mais altruísta, como se buscasse reacender a chama entre nós. Chama essa que jamais se apagou. Uma dúvida persistia: era sinceridade ou estratégia? Eu sabia muito bem em qual delas acreditar.
Dois meses antes:
Finalmente, o dia que eu mais temia chegou. Eu encarei o homem sentado diante da minha mesa, no silêncio do meu escritório. Ele me entregou uma pasta.
— Encontrei algo … — Disse ele, sem rodeios.
Folheei os documentos, meu rosto crispado. Cada linha era uma facada. Ter certeza é diferente de suspeitar.
— Isso é só o começo … — Continuou ele.
— Quero saber mais sobre todos eles. Como começou, quem deu o primeiro passo, se foi rápido, se demorou …
Eu tentava controlar a ira dentro de mim. Ele hesitou, com o olhar cauteloso.
— Estou trabalhando nisso, Fabiano. Mas é perigoso, tem mesmo certeza? Você está preparado? A repercussão pode ser muito prejudicial.
— Não me importo com riscos. Quero a verdade. Saber o porquê — interrompi, de forma grosseira. — Quero saber mais sobre as conexões dele e por que faz isso.
O silêncio foi quebrado pelo telefone na minha mesa:
— Sr. Fabiano, seu próximo compromisso chegou.
O homem se levantou, já deixando minha sala.
— Me dê uma semana. Não deve demorar. Já sei o que preciso fazer e com quem tenho que falar.
Ele saiu, me deixando com mais perguntas, mas também com a resposta que eu mais queria. Eu precisava me recompor; o expediente estava apenas começando. Meu dia seria longo.
3 meses antes:
Meu dia estava desmoronando. Chuva torrencial, obra atrasada e os funcionários em assembleia. Meu celular vibrou e eu atendi. Era um número desconhecido.
— E aí? Curtindo a vida liberal? Opa, desculpa … me enganei. Vida liberal é só a da Malu, né? Você é um homem mais tradicional, um corninho conformado … ou seria mais correto dizer … enganado? — Uma voz feminina, cheia de deboche, ecoou.
— Quem é você? — Respondi, irritado, tentando controlar minha raiva.
— Conhece o ditado: "Ne nuntium necare"? Não mate o mensageiro? É bem por aí … — Seu tom era cruel.
Fui direto:
— Fala logo! O que quer? Por que está tentando difamar minha esposa?
Ela pausou, deixando o silêncio pesar.
— Você sabe por que sua esposa pediu para abrir o casamento? Digo, o motivo verdadeiro?
Ela fez uma pausa estratégica.
— Eu sei. Quer descobrir? Encontre-me hoje à noite, às dezenove horas no bar do Hilton.
Meu coração gelou. Malu não faria isso. Seria loucura.
— Por que eu acreditaria em você? — Minha voz tremia.
— Vou mandar uma prova por mensagem. Você decide se vem ou não ao meu encontro.
— E como eu vou te reconhecer?
— Eu estarei à sua espera, sei quem você é.
Ela desligou. Minutos depois, uma foto chegou. Era Malu, uma foto recente, com outro homem. Não era Rafael. A tatuagem nas costas dele ... era familiar, mas eu não conseguia me lembrar.
Meu mundo desabou.
{…}
Geovana:
Eu me aproximei do bar, onde sabia que Reinaldo estaria. Um rico empresário, conhecido por sua habilidade em fechar negócios e conquistar mulheres. Eu estava determinada a ser a próxima. Já estava de olho nele há meses.
Ao entrar, meu olhar encontrou o dele. Reinaldo era ainda mais atraente do que nas fotos. Seu sorriso confiante me desarmou. Me insinuei e não demorou muito para ele se interessar.
— Aceita tomar um drink comigo? O que você deseja beber? — Ele se aproximou.
— Um martini, por favor. — Respondi, sorrindo, mostrando que o interesse era mútuo.
Enquanto ele pedia minha bebida, não pude deixar de notar o brilho em seus olhos. Ele estava muito interessado.
— Aqui está. — Ele me entregou o drink. — Eu sou o Reinaldo.
— Geovana. — Respondi, estendendo minha mão. Seu aperto foi firme, elétrico.
Conversamos sobre negócios, política e vida. Eu o encantava com minha inteligência e beleza. Antes de perceber, estávamos sozinhos no bar, rindo e nos conhecendo.
Ele se levantou, me deixando confusa.
— Preciso ir, tenho um compromisso. Mas … — Ele estava pensativo. — Quer jantar comigo amanhã?
— Sim! — Respondi, dando meu melhor sorriso sedutor.
Eu sabia que tinha conseguido meu objetivo inicial. Primeira batalha vencida. Mas o que eu não sabia era que estava apenas começando um jogo perigoso.
O jantar foi perfeito. Reinaldo era charmoso e atencioso, e eu estava completamente sob seu encanto. Conversamos sobre tudo, desde nossos sonhos até nossos medos.
Ao final da noite, ele me levou para casa.
— Quer entrar? — Perguntei, olhando nos seus olhos.
Ele sorriu e respondeu com um beijo. Foi intenso, apaixonado.
Eu sabia que estava perdida. Tentando me dar bem, garantir um futuro estável, acabei seriamente impressionada e possivelmente apaixonada num futuro muito próximo.
Nos dias seguintes, Reinaldo me levou para lugares incríveis, me presenteou com joias e roupas caras. Eu me sentia como uma rainha. Mas então, ele falou sobre seu estilo de vida.
— Eu não acredito em compromissos. — Disse ele casualmente, logo após uma transa incrível. — Eu gosto da minha liberdade.
Eu hesitei, mas meu desejo por ele era mais forte.
— Eu entendo. — Eu disse, tentando ser esperta. — Isso vale para os dois lados?
Reinaldo sorriu, aliviado.
— É justo que valha. Não sou um xeique árabe. Se pensasse assim, seria apenas hipocrisia.
As coisas saíram de controle rapidamente. Mesmo que ele me tratasse como sua companheira, uma espécie de namorada, eu me perguntava se havia cometido um erro. Ele começou a sumir por horas, depois dias, sem explicação. Eu sentia ciúme, insegurança. Mas quando estávamos juntos, tudo parecia perfeito.
Até que, alguns meses depois, eu descobri sobre Malu ...
Reinaldo chegou ao meu apartamento com um sorriso misturado com uma expressão séria.
— Geovana, preciso falar com você sobre algo.
— O que é? — Perguntei, sentindo um pressentimento ruim, que estava prestes a levar um fora.
— Conheci alguém … — Ele pausou, avaliando minha reação. — Malu. Ela está trabalhando para mim em um projeto de marketing.
Meu coração afundou.
— E daí?
Reinaldo pausou novamente, olhando para mim com um olhar intenso.
— Ela é casada. Mesmo assim, eu quero conquistá-la.
Fiquei atordoada, confusa.
— Você quer que eu o ajude a conquistar uma mulher casada?
Reinaldo assentiu, calmo, como se seu pedido fosse a coisa mais normal do mundo.
— Sim. Você é a única que pode me ajudar. É perfeita para isso.
Senti uma onda de raiva e repulsa.
— Você está pedindo para eu ajudá-lo a destruir um casamento?
Reinaldo deu de ombros.
— Não é assim que eu vejo. É apenas uma questão de desejo.
Eu não podia acreditar. Mas também era uma oportunidade.
— E o que eu ganho com isso?
Reinaldo sorriu, entendendo minha intenção.
— Você continua sendo minha. E eu farei qualquer coisa para mantê-la feliz. Não é isso que você deseja?
Tentei me passar por puritana, fingindo me ofender.
— Você acha que eu sou uma mercadoria que pode ser comprada?
Reinaldo não respondeu. Seu silêncio foi resposta suficiente. Eu sabia que precisava tomar uma decisão. "Mas qual seria o preço da minha escolha?". Pensei. Eu já amava Reinaldo e não queria perdê-lo. E principalmente, colocar em risco a boa vida que ele me proporcionava.
Me convenci de que era apenas mais um capricho de Reinaldo. Ele tinha uma história de conquistar e descartar mulheres. Malu seria apenas mais uma. Pensava que ajudá-lo seria uma maneira de manter meu lugar ao lado dele.
Além disso, eu não via Malu como uma ameaça real. "Ele vai se cansar dela em uma semana". Pensei, mas enquanto ajudava Reinaldo a cortejar Malu, quando tudo se concretizou, quando ela entrou definitivamente em nossas vidas, comecei a notar algo diferente. Ele estava realmente obcecado por ela.
Aquilo não era normal do Reinaldo. Ele começou a se ausentar mais tempo, a se encontrar com Malu em segredo. Eu sentia muito ciúme, inveja até, mas ainda achava que era apenas uma questão de tempo até que ele se cansasse dela.
A realidade me acertou com tudo quando os dois começaram a me excluir. Viagens para Paraty, encontros no horário do almoço … a cada semana, eles passavam mais tempo sozinhos, me convidando menos para participar.
Numa tarde em que eles se lembraram de mim – pedido da Malu, por estar com saudade – após uma transa deliciosa, Reinaldo mostrou sua verdadeira face.
Eu observei, sentindo um nó no estômago, enquanto Reinaldo sorria para Malu.
— Seu problema é simples de resolver: convença Fabiano a abrir o casamento, meu amor. — Sua voz era suave, mas persuasiva. — Não precisaríamos mais nos esconder. Poderíamos ser livres para estar juntos, sem medo de sermos descobertos.
Malu hesitou, olhando para mim com um lampejo de culpa.
— Eu não sei se posso fazer isso …
Reinaldo se aproximou dela, acariciando seu rosto.
— Você é capaz de fazer isso por mim, não é? — Ele perguntou, com seu olhar sedutor. — E pense em Geovana ... ela também tem muito a ganhar com isso. Podemos usá-la.
Ele se virou para mim, com um sorriso astuto.
— Geovana, você pode ter o que deseja: Fabiano. Você me disse que ele é o tipo de homem que a atrai. Ele estará disponível, e você pode ... consolar ele.
Senti um arrepio, novamente raiva e repulsa. Não consegui me segurar.
— Você é nojento.
Reinaldo apenas riu.
— Sou apenas pragmático. Assim todos saem ganhando.
Malu olhou para mim, depois para Reinaldo.
— Eu vou tentar — Disse ela, se rendendo finalmente.
Reinaldo sorriu e a beijou:
— Eu sabia que você faria o que é certo.
Eu senti náuseas. Essa era a verdadeira face do Reinaldo: um homem sem escrúpulos, que usava as pessoas para seus próprios fins.
Eu saí da sala, me sentindo usada e manipulada por Reinaldo. Eu merecia, de qualquer forma. Me aproximei dele por interesse e acabei perdendo a aposta. Ele nunca mudaria. Sempre seria o mesmo homem egoísta e manipulador. E Malu, pobre Malu, estava presa em sua teia.
Eu precisava encontrar um jeito de escapar daquilo. E o único que podia me ajudar era Fabiano. Ele era a chave para desvendar a verdade sobre Reinaldo. E, talvez, para me vingar.
Eu precisava esperar até que Malu convencesse Fabiano a abrir o casamento. Mas eu não podia esperar muito. Reinaldo não era de confiança. Eu precisava agir, mas na hora certa. Tudo aquilo já durava mais de um ano e eu era cada vez mais escanteada.
Foi quando eu descobri uma informação de extrema importância e que mudaria tudo. Eu precisava usá-la a meu favor. Precisava usar qualquer meio possível em meu benefício próprio.
A maneira como Reinaldo olhava para Malu ... Era algo que eu nunca havia visto antes. "Ele está apaixonado. Se eu não fizer alguma coisa logo, perderei minha galinha dos ovos de ouro”. Meus pensamentos começaram a se tornar sinistros e, de repente, eu me senti ameaçada. Talvez Malu não fosse apenas mais uma conquista passageira.
Bolei um plano e o coloquei em ação rapidamente.
Algum tempo depois:
Fabiano entrou no restaurante, olhando em volta. Seu olhar encontrou o meu e eu acenei. Ele se aproximou, confuso.
— Desculpe, estou procurando … Eu nem sei …
— Sou eu quem você procura. Foi por isso que eu acenei. Geovana, prazer — Eu disse, estendendo a mão.
Fabiano apertou minha mão, confuso e desconfiado.
— Por favor, sente-se. — Eu indiquei a cadeira.
Ele se sentou, olhando para mim.
— O que é isso? Foi você que ligou para mim?
Eu confirmei, com um aceno positivo.
— Por quê? — Ele perguntou, começando a ficar arisco.
Respirei fundo e parei de enrolar.
— Precisamos falar sobre Malu …
O rosto de Fabiano mudou.
— O que tem a Malu? Você vai continuar com isso ...
Minha voz tremia. Eu começava a ficar nervosa. “Corno manso? Sério?”. Pensei.
— Eu só quero abrir seus olhos. A foto não foi prova suficiente? Eu tenho muito mais.
Fabiano empalideceu.
— O que você sabe?
Eu continuei, mesmo que cada palavra fosse dolorosa para ele.
— Eles estão tendo um caso. Há mais de um ano …
O silêncio foi pesado. Fabiano se levantou, como se fosse sair, mas então se sentou novamente.
— Pode provar? Uma foto não é suficiente. O que mais você tem?
Conversamos por quase uma hora. Fabiano murchava em dor.
— Então, por que acreditar em você? Até agora, são só acusações; de concreto, só a foto.
Eu fui para o tudo ou nada. Precisava convencê-lo.
— Você já recebeu a foto. Não reparou em mais nada?
Fabiano empalideceu.
— Sim ... Onde você conseguiu aquilo? Você estava presente?
— Não importa. O importante é que você sabe agora e parece não ter notado o mais importante: a tatuagem.
Fabiano olhou para mim, seus olhos procurando respostas. De repente, sua expressão mudou.
— Eu sei quem é ele … desgraçado! — A dor em seus olhos, sua voz quase inaudível.
— Claro que você sabe … — O encorajei.
— Meu patrão ... Reinaldo — Fabiano concluiu.
Ele estava transtornado:
— A tatuagem ... nas costas dele … a mesma tatuagem do homem na foto …
A atmosfera era pesada, quase nos esmagando. Fabiano se levantou, cambaleando.
— Preciso sair daqui …
Eu não o detive. Assisti enquanto ele saía do restaurante, devastado. Eu sabia que a revelação havia destruído sua vida e não tinha certeza se ele conseguiria se recuperar. Ele precisava de tempo e, se preciso fosse, eu o ajudaria a melhorar. Devia isso a ele, após destruir seu mundinho perfeito.
{…}
Fabiano:
Eu saí do restaurante sem rumo, meu mundo desmoronando. A imagem da Malu com Reinaldo não saía da minha cabeça. “O que fazer?”. Eu não sabia. Rodei sem destino, até que encontrei um bar que costumava frequentar. Entrei e pedi um whisky. E outro. E mais outro. O álcool não ajudava a apagar a dor, mas pelo menos amortecia.
O atendente, conhecido meu, me olhou com preocupação.
— Fabiano, você está bem?
Eu não respondi. Ele me ajudou, vendo que eu não tinha condições, e chamou um táxi.
— Vá para casa, Fabiano. Você não está em condições de dirigir. Mandarei entregar seu carro depois.
O táxi me levou para casa, onde tudo me lembrava da Malu. Ela estava viajando, sorte dela.
Ainda bebi mais, quase meia garrafa de whisky, apagando no chão da sala, incapaz de arrancar aquela dor que dilacerava o meu peito.
Acordei com dor de cabeça e o coração pesado na tarde do dia seguinte, quase às quinze horas. Estava estirado no chão da sala. O dia anterior parecia um pesadelo, mas a realidade era cruel.
"Malu me traiu". Pensei, sentindo um aperto no peito. Não conseguia acreditar. Nossa relação sempre foi intensa, apaixonada. Por que ela precisou de outro? Além do mais, Reinaldo, meu patrão. O homem que eu respeitava.
Agora, tudo fazia sentido. "Abrir o casamento era apenas uma forma de justificar suas ações”. “Abertura da relação, cansada da rotina, explorar novos caminhos, não quero perdê-lo …" dissera ela. Eu não entendi na época. Ela queria liberdade para estar com ele.
A dor era intensa. Além de traído, eu me sentia humilhado. Pensei em confrontá-la, mas para quê? A verdade se revelou, eu não podia mais confiar na minha esposa. Nossa relação estava morta.
Eu precisava encontrar forças para seguir em frente. Mas como? Eu ainda não sabia. Só sabia que precisava sair daquela escuridão e encontrar a luz novamente.
Meu celular tocou, quebrando o silêncio e me despertando daquela letargia dolorosa. Era Malu. Joguei o aparelho do outro lado da sala, na poltrona de canto. Ela insistiu mais algumas vezes e, não conseguindo falar comigo, finalmente desistiu.
Levantei do chão, me recompondo. Tomei banho, deixando a água morna levar um pouco da minha amargura. Eu precisava pensar de forma realista, organizar os pensamentos e pensar nos próximos passos.
Peguei o celular e vi que, além de chamadas perdidas, Malu deixou algumas mensagens também … O celular tocou novamente, mas não era Malu, e sim aquele número desconhecido que destruiu a minha vida.
— Geovana? O que você quer agora? — Atendi.
— Quero saber se você está bem. — Disse ela.
— Estou tentando … — Respondi.
— Eu entendo … — Disse Geovana, com a voz melosa. — Eu também estou sofrendo.
Eu não disse nada. O que poderia dizer? Ela continuou:
— Fabiano, eu quero me vingar do Reinaldo e da Malu …
Meu coração pulou uma batida.
— Como? — Perguntei, ansioso, sentindo meu corpo ganhando uma nova energia.
— Juntos … juntos podemos fazer algo — Disse Geovana. — Reinaldo não pode continuar fazendo isso com as pessoas. Malu não é a primeira. Ela também merece pagar.
Pensei por um momento.
— Eu estou ouvindo.
— Vamos nos encontrar e criar um plano. Bolar uma estratégia para lidar com os dois. — Sugeriu Geovana.
Hesitei, mas algo dentro de mim queria justiça.
— Está bem. — Eu disse, sem muita convicção. — Vamos fazer isso.
Antes da Geovana falar qualquer coisa, eu tinha dúvidas:
— Geovana, o que você ganha com isso? — Questionei, tentando entender melhor suas intenções. — Reinaldo está enganado você também?
Ela estava menos confiante:
— Não é que ele tenha me enganado, mas ele me usou, me manipulou … Eu quero que Reinaldo pague pelo que fez comigo. — Ela disse, sua voz firme.
— Mas por que você precisa de mim? — Insisti.
— Você é a prova viva do que Reinaldo é capaz de fazer. Juntos, podemos fazer com que ele pague.
Eu não estava convencido ainda.
— Vamos apenas usar um ao outro para vingança? Será que eles merecem tanto esforço?
Geovana pausou por um momento, mas respondeu.
— Sim, estamos usando um ao outro, mas quem disse que não podemos nos divertir no processo?
Sua honestidade me surpreendeu.
— Eu preciso pensar …
— Você não tem muito tempo. — Ela disse, nervosa, com a voz em desespero. — Reinaldo não vai parar até destruir mais vidas. Ele já está indo atrás de outras mulheres, esposas dos seus amigos …
Aquilo me deixou com raiva, nervoso. Eu não podia agir por impulso, tinha muita coisa a considerar.
— Me dê um dia … dois, no máximo. Preciso organizar as ideias, pensar no que é melhor para mim. Entrarei em contato em breve. — Desliguei o telefone, ainda indeciso.
No silêncio de casa, inconformado com tudo o que descobri, comecei a refletir:
“Malu e Reinaldo nunca se conheceram realmente. Ele não participava das festas da empresa, e os dois nunca se encontraram. Ele é uma figura furtiva, um sócio de bastidor, mais investidor do que ativo nas decisões. Por que ele foi atrás da minha esposa? Por que ela cedeu?”.
Minha cabeça doía, precisei buscar um analgésico. Meus pensamentos estavam a mil: “Será que essa não é a primeira vez? Cecília, Rafael … será que eles já estavam envolvidos antes de ela me pedir para abrir a relação também?”.
Numa decisão impulsiva, fui até a mesa de Malu no nosso escritório em casa e peguei seu iPad. Ele provavelmente estava sincronizado com seu smartphone. Vasculhei cuidadosamente cada mensagem, e-mail e fotos, mas não encontrei nada que a incriminasse, nenhuma prova de traição.
A única coisa que me chamou a atenção foi uma série de mensagens antigas com Cecília sobre assuntos profissionais. Tive a certeza de que elas não estavam juntas em Paraty, meses atrás, quando ela disse que tudo começou. Ela estava com Reinaldo, provavelmente. Algumas mensagens trocadas com Rafael também. Mas nada de Reinaldo ou Geovana.
“Como eles se comunicavam quando não estavam juntos?”. Pensei.
Analisei os outros aplicativos e descobri uma segunda conta de serviços de telefonia. Provavelmente, ela deveria ter um outro aparelho, exclusivo para falar com Reinaldo e Geovana.
Eu precisava ser inteligente e me preparar para o futuro. Após uma pesquisa rápida na internet, escolhi um investigador particular.
Mesmo sabendo da traição, tendo a certeza, era melhor obter provas concretas, me resguardando para um confronto contra Malu e também para um processo, se possível, contra o Reinaldo.
Também tive a certeza de que naquele momento ela estava mentindo para mim outra vez. Ela não estava em uma “viagem de trabalho”, mas sim com Reinaldo novamente.
Me encontrei com o investigador dois dias depois, em seu escritório. Em mais quinze dias, ele me trouxe os primeiros resultados, descritos mais acima.
Na nossa segunda reunião, dez dias depois, ele me trouxe revelações bombásticas, dignas da pequena fortuna que ele me cobrou por seus serviços.
A farra de Reinaldo e Malu estava com os dias contados …
Continua.