Parte 5 – Encontro inesperado
Comecei o trabalho social no morro, eu pegava os grandes nomes do samba, funk, rap e hip-hop como Cartola, Cidinho e Doca, Racionais e etc e com a criançada eu usava de inspiração, com músicas, rimas, danças e dessa forma ia dando consciência de classe, fazendo eles buscarem leituras, trabalhávamos com livros e filmes, era o meu melhor momento. Eu enfim estava feliz naquele lugar.
Marquei com a Larissa na praia do Recreio, estava sentado em um dos bancos olhando a paisagem do dia que se findava, quando alguém toca meu ombro, reconheci pelo cheiro, era Camila.
- Por favor não foge – disse ela com voz baixa
- Não acredito que a Larissa fez isso comigo, puta que pariu. - respondi me levantando.
Senti como se uma faca atravessasse meu peito, uma angústia tomou conta de mim, eu não sabia o que fazer, o que dizer, não tinha me preparado para aquele momento.
- Eu segui ela, e descobri que estaria aqui, então implorei para me deixar conversar contigo, ela não tem culpa de nada.
- Eu não quero falar contigo, não tenho nada para falar contigo.
- Por favor, eu preciso me explicar, depois você some ou sei lá pra onde quer ir
- O que você quer explicar? Que deu pro meu irmão e sentiu muito ? Que me ama? Que não vai se repetir? Vai dizer que está arrependida, não fode Camila, nem começa com esse papo de mulher arrependida.
Sai andando de volta pro morro, ela correu e me abraçou por trás com a voz chorosa, e insistiu para que eu a ouvisse. Eu queria dar um fim naquilo então eu marquei pro outro dia dando tempo para me preparar.
- Faz o seguinte, me encontra nesse endereço amanhã de manhã – Dei endereço do puteiro da Dona Evandra eu queria que ela soubesse que acabou com a minha vida.
Eu queria que ela sentisse um pouco da dor que eu sentia, queria que ela visse, se sentisse culpada, meu ódio falava mais alto do que minha consciência.
Na manhã do dia seguinte Camila chega ao puteiro e Dona Evandra atende
- O que a madame quer aqui? Veio se aventurar?
- Não ... É que... Eu marquei de ver alguém e ele me deu esse endereço
- Acho que alguém está brincando contigo madame
Camila saia cabisbaixa imaginando que eu não queria ouvi-la e eu gritei lá de dentro.
- É pra mim velha, deixa ela entrar
- Madame, é no fim do corredor, aquele quartinho lá, pode entrar - Dona Evandra fala com um certo deboche, ela sem conhecer sabia de quem se tratava.
Camila passava sobre o olhar das meninas sem entender o que ela fazia ali, eu esperava sentado no quarto. Ela estava visivelmente constrangida de estar naquele quarto minúsculo.
- Eu não quero te ver mais que o necessário Camila, então por favor, me diz logo o que tem para dizer.
Ela se sentou e buscava as palavras necessárias para o que ia me dizer, o clima estava insuportável, ela não parava de apertar as mãos.
- Bom, antes de tudo eu preciso te pedir perdão
- Corta essa, eu não vou perdoar vocês nunca, então pula essa parte e me diz o que tem para dizer - eu falava balançando a perna sem parar
- João, me deixa falar, por favor
Fiz gestos com as mãos pra ela prosseguir
- Eu não planejei nada disso, só aconteceu...
Eu balançava a cabeça em negação e apertava forte a minha mão para controlar a ansiedade
- Eu te amo e sempre te amei, não queria te machucar, mas a nossa vida não era a mesma, você saiu da polícia, estudava o dia inteiro e negligênciava a sua família, estava distante, Jonas aparecia todos os dias e me cortejada, eu cedi, fui fraca, mas eu não queria te magoar, não queria que você sumisse... Acredita em mim por favor... - Camila falava segurando o choro
De cabeça baixa aquela palavras me atravessavam como balas disparadas a queima roupa, era uma dor alucinante que me deixa zonzo.
- Porque ele? – Falei baixo
- O que ?
- Porque ele !? - Gritei e certamente todo o puteiro ouviu
Ela não soube responder, claramente tentava achar uma desculpa, engolia seco
- Eu me apaixonei por ele, eu te amo, mas me apaixonei por ele.
- Porque não me contou ? Não terminou comigo? Porque me fazer de otário ?
- Eu não te fiz de otário ...
- Não fez? Quanto tempo vocês estão trepando ? Na minha casa ? Na nossa casa? Que eu nem consigo entrar e decidi morar num quartinho de puteiro
- Foi só daquela vez, ele disse que seria a última, eu queria me reconectar contigo
- Não minta para mim, não agora, eu já estou fodido, eu vi as passagens, vocês iam fugir
- Não! Você entendeu errado, ele queria que eu te largasse, mas não aceitei, eu não te deixaria e nem a minha filha.
- Mas aqui estamos, e não me disse quanto tempo l
- Um ano, mas dentro de casa foi só aquela vez.
Eu respeitei fundo tentando me reconectar com tudo e comigo mesmo, minha mão sangrava por ter encravado a unha nela buscando sentir algo além daquela dor alucinante que atravessava meu corpo e me fazia ter dificuldade de respirar.
- Porque está aqui Camila? O que quer de mim? Porque não vai viver com o Jonas?
- Eu e Jonas não temos mais nada
- Mas deveriam, ia ser menos humilhante pra mim – cortei ela
- Eu quero seu perdão, quero que volte pra casa e que a gente tente seguir nosso casamento.
- Porra Camila! Que casamento!? Você desgraçou a minha vida, eu não consigo olhar minha família nos olhos, perdi meu emprego, minha casa, tudo!
- Eu não quero isso, acredite em mim, eu estou errada e te fiz sofre...
- Me fez sofrer? Você me matou Camila, destruiu tudo que tinha, me destruiu
Ela chorava, enfim havia sentido o peso das escolhas dela, e repetia que me amava e não queria aquilo.
- Eu também te amo Camila, você foi minha melhor amiga, minha companheira, a mãe da minha filha, das dez músicas que eu amo, 8 eu ouvia contigo, das lembranças que cercam as minhas em todas vocês está, dos 10 lugares que mais amei conhecer, 9 você me apresentou, sei que tive uma vida antes de você, mas eu não me lembro, porque planejei meu futuro ao seu lado, minha família contigo. Não existe uma pessoa nesse mundo que confiei mais do que confiei em você. E você destruiu isso, me destruiu, e eu sinto dor de lembrar. Eu tenho pesadelos, eu perco o ar sabendo que me traiu...
Eu comecei a chorar, tinha colocado tudo pra fora, ela tentou me abraçar e eu empurrei ela na cama, nesse momento Lena e Jéssica abriram a porta e Lena veio me abraçar e me tirar de lá, Jéssica foi expulsando a Camila do Puteiro aos empurrões, eu chorei tudo o que tinha pra chorar naquele dia.
Aquele encontro acabou comigo, ela me destruiu mais uma vez, eu passei dias trancado no quarto sem tomar banho, mal comia, me esforçava para me levantar, sem forças. Até que ouço uma voz.
- Pai
Eu abri os olhos devagar e vi minha filha em pé e triste, aquilo mexeu comigo e voltei a chorar.
Ela me levantou e me colocou com roupa e tudo debaixo do chuveiro, a água gelada me atingia e eu mal sentia, havia marcas por todo meu corpo.
Ainda sentado ela e Jéssica cortaram meu cabelo e minha barba, Jéssica terminou de me dar banho, e me ajudou a me arrumar.
- Pai, você precisa sair dessa, por mim pai, por favor
Aquelas palavras me atingiram em cheio, e eu prometi procurar ajuda, passei a me consultar com um psicólogo, mas naquele dia levei minha filha para conhecer o morro e perguntei se ela aceitaria morar comigo ali ou em outro lugar.
- Pai, eu posso passar uns dias contigo, mas a mãe também tá mal e não posso deixar ela sozinha, você entende?
- Entendo filha, mas então vai passar uns dias comigo ? Promete ?
- Prometo pai, vou conversar com a mãe.
E meu processo de cura passou pelo psicólogo, convívio com a minha filha e o projeto social. Nas sessões de terapia eu entendi que aquela feria ia deixar cicatrizes e sempre que eu olhasse para elas, eu me lembraria, mas que doeria cada vez menos, até se tornar só isso, uma lembrança.
Um dia eu estava com 2N no morro, e me deparei com os papéis na sua mesa e um mapa, passei a ler e estudar aquilo. Liguei na hora para ele.
- 2N? Irmão, ou você esta sendo enganado ou é muito burro
- Que porra tá falando Oz? Vem aqui no barraco.
Levei tudo pra ele e expliquei que o faturamento podia ser muito maior com realocação da boca e serviço de entrega fora do morro.
- 2N se liga aqui, esses pontos são de difícil acesso, e as bocas são muito óbvias, coloca elas aqui e aqui. E faz entrega.
- Como assim entrega?
- Põe serviço de entrega, uns moleques de moto pra entregar pra playboy, mas vai custar o dobro do preço e só em grande quantidade, se for pra correr risco tem que valer a pena.
Colocando a operação para funcionar em três meses ele tava faturando o triplo o que me rendeu o cargo de braço direito do chefe, uma casa linda e o fim do relacionamento com a Lena. Ela não queria namorar com bandido.
Na nossa última discussão eu prometi a ela algo que um dia eu cumpriria.
- Lena, um dia eu vou atrás de você e vou me casar contigo. Agora não posso, mas um dia eu farei isso.
Lena não me queria mas outra duzia de mulheres queria, o posto que eu estava me daria muita notoriedade, mas eu não comia ninguém, diversas vezes tinha uma menina pelada na minha cama, enviada pelo 2N, mas eu expulsava elas de lá.
Ate me aparecer uma passista, moreninha, baixinha de cabelo curto e muito gostosa. Não tive como não me render a ela. Eu via ela sambando na quadra e ficava louco, Ketlen era o nome dela. Ela sambava me olhando, e fazia questão de me seduzir.
Chamei ela para sair e ela aceitou, depois de muito papo, e ela dar me dar muito mole, ela queria mais que eu, consegui levar ela para casa, nos beijamos e passei a mão na coxa dela e subi até a buceta molhadinha.
Dedilhei ela, ela gemia entre os beijos e rebolava na minha mão.
- Vou te fazer gozar na minha mão
Ela começou a tremer, subiu no meu colo e falou no meu ouvido.
- Me fode, eu preciso que você me coma agora
Ela tirou meu pau pra fora e sentou nele, rebolou como nunca vi igual, e gozamos juntos. Ela dormiu comigo e de manhã saiu bem cedo dando de cara com 2N entrando na minha casa.
- Que porra é essa Oz? Comendo a minha irmã filho da puta
Continua...
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