Giovanna marcou comigo em frente seu prédio, já que ela mora perto do shopping me ofereci para acompanhá-la, assim que ela me viu já percebeu que tinha algo de diferente em mim e sorriu de forma sugestiva, ela é uma dessas pessoas que pega as coisas no ar o que é um perigo para mim que guardo tantos segredos, melhor ficar esperto com ela, já contei sobre meu pai e minha rixa com Daniel, se bobear acabo contando a ela sobre o Guigo.
— Oi Raylan, não veio andando hoje — ela diz me tirando.
— Tá engraçadinha né — digo a fazendo rir — podemos ir?
— Claro, enquanto caminhamos você pode me contar que passarinho azul foi esse que você viu.
— Como assim? — Me faço de doido, mas ela é muito esperta para cair nessa.
— Fala Raylan, você não é feliz assim — mesmo que ela tenha falado como brincadeira, não deixa de ser uma meia verdade.
— Você é muito fofoqueira sabia disso — digo — mas se você quer saber estou um pouco mais animado hoje, mas não tem nada haver com o que você está pensando.
— Que bom que está de bom humor, assim você o Daniel podem ser civilizados um com o outro.
— Olha em minha defesa, se ele não fosse tão chato eu seria amigo dele.
— Ata, não foi você que fez bullying com ele esses dias? — Ela está certa, mesmo assim não gosto quando as pessoas ficam defendendo o santo Daniel.
— Vou ficar na minha desde que ele fique na dele, até porque nada pode tirar meu bom humor hoje.
— Então posso saber o motivo de tanta alegria? — Ela insiste.
Penso por um segundo em como seria bom poder contar para pessoas sobre o Guigo e o quanto ele me faz ser uma pessoa mais leve e até feliz, mas não posso fazer isso, não quero ser julgado ou até pior causar esse tipo de situação para minha mãe lembro que no passado ela foi muito julgada, as pessoas podem ser muito maldosas, eles falavam que a culpa era dela, que ela não era uma boa esposa ou pior uma boa mulher.
— Tá vou te contar, mas tem que me prometer não contar para ninguém — digo.
— Prometo, mesmo sabendo que vai ser muito difícil não comentar sobre sua vida com minhas grandes amigas de sala — ela diz com uma ironia hilária, pois ela está bem longe de ser amiga da Bia e das outras.
— Você tem que ser mais humilde, as meninas são legais — digo.
— Não muda de assunto, vai falar logo, estou curiosa.
— Você nem disfarça que é fofoqueira — estou me divertindo com esse lado descontraído da Giovanna.
— Fala sério Raylan, você o Guilherme e o Ciço são meus únicos amigos naquela sala, ou melhor na faculdade, fora que minha vida é mais monótona do que a da minha avó.
— Triste, mas você acha que está exagerando.
— Exagerando, minha avó ganhou um concurso de gafieira sábado passado, ela é tipo a valha mais requisitada como par para dançar no forró dos vei — não queria rir, mas não consigo, estou gargalhando.
— Você devia aprender a dançar com ela — digo, mas ela apenas fica olhando para minha cara enquanto tenta segurar o riso.
— Vai já te contei o ponto alto da minha semana, agora sua vez.
— Seu ponto alto foi sua avó ganhar uma competição de dança?
— Pra você ver como minha vida é triste, agora para de me enrrolar e fala — agora não tem como não contar.
— Eu vi meu pai, passei mal e fui parar no hospital, mas aí ele foi me ver e depois da minha mãe me obrigar tive que conversar com ele — falar sobre isso em voz alta até que foi bom.
— Viu, você parece minha avó, sempre tem um acontecimento — ela diz de forma genuína — desculpa, mas e aí, vocês brigaram, fizeram as pazes, ou algo do tipo?
— Normalmente não falo sobre isso com ninguém, mas vou te contar a história de como ele saiu de casa e aí você vai entender melhor o que aconteceu.
Giovanna fica escutando de forma atenta a minha história, sem me interromper nenhuma vez, quando termino ela está me olhando com dó e é por isso que odeio falar sobre isso, pelo menos ela parece perceber meu incômodo então volta a ser a Giovanna normal e não a pessoa empática e que sente muito pelo meu pai ser um escroto.
— E você vai perdoar ele?
— Minha mãe perdoou, mas não sei se consigo — digo.
— O que você quer? — Ela fez a única pergunta que não sei como responder.
— Eu quero que as coisas continuem como sempre foram, não queria saber dele e nem vê-lo.
— Não acho que seja isso que você realmente quer — ela é boa em ler as pessoas, não posso esquecer disso.
— Não sei, é complicado, mas aí você quer comer alguma coisa? Hoje é por conta do filho da mãe — digo mudando de assunto.
— Pensei que você não quisesse gastar o dinheiro que ele te deu — ela diz com um sorriso.
— Se ele quer comprar o perdão dele, quem sou eu para negar isso — digo.
— Justo, pois sendo assim quero um calzone — por isso ela é minha amiga, Giovanna não me julga por nada.
— Pois pronto, pega uma mesa para gente que eu vou comprar — digo.
Hoje foi um dia que começou estranho, mas que foi melhorando, enquanto espero meu calzone tenho uma ideia meio maluca, primeiro mando mensagem pro Guigo perguntando como ele está, ele deve está trabalhando porque responde na mesma hora.
“Oi, estou com saudade” — ele responde.
“Eita que drama, como está seu pai?”
“Melhor, só que está internado, ele teve uma febre, mas minha mãe é muito dramática, o médico disse que é normal e que ele vai ficar bem”
“Espero que ele melhore logo” — digo.
“Obrigado e você está fazendo o que?”
“Estou no shopping, vem terminar o trabalho” — digo.
“Ah sim, já terminei o meu, vou enviar mais tarde, André ficou de dar uma olhada, estou esperando ele dizer que pode mandar” — ele ficou com André e Ka.
“Você está trabalhando?” — Perguto.
“Tô, mas vou dormir com meu pai hoje, estou só esperando minha mãe chegar com o carro ai vou pro hospital”
“Se precisar de algo me fala” — digo.
“Quero um beijo” — ele é muito fofo.
“Tá certo” — digo e mando uma foto minha fazendo bico para ele.
Entro no aplicativo de entrega de comida, coloco o endereço dele, vejo um lanche que não demore muito para ficar pronto e mando faço o pedido, se ele está trabalhando e ainda vai para o hospital não deve ter comido nada e se eu conheço bem ele só vai pensar em comer algo mais tarde quando as opções forem poucas.
Nisso meu pedido fica pronto, passo o olho pela praça de alimentação para achar Giovanna, quando a encontro vejo que Daniel já chegou também, respiro fundo e vou ao encontro deles, vou ficar na minha como prometi, mas se esse merda falar algo vai levar, afinal quem procura acha.
— O que ele está fazendo aqui — esse palhaço deve tá me tirando.
— Oi para você também, Daniela, eu faço parte do grupo também, não sei se você se lembra — digo com deboche só para irritá-lo..
— Raylan você prometeu se comportar — Giovanna se meteu.
— Ele quem começou, mas tudo bem parei.
— Tá que seja — ele diz com sua arrogância natural.
Giovanna pega seu computador e começa a abrir nosso trabalho, mas antes que possamos começar vejo Ciço se juntando a nós, ele trás lanche para ele e para o Daniel, esse encostado depois reclama que eu vim para reunião, mas o Ciço que nem do grupo é ele não diz nada, esse cara é muito folgado mesmo puta que pariu.
— Desculpa a demora, e ai Raylan, tudo bem Giovanna?
— Oi Ciço — Giovanna o comprimenta e eu faço o mesmo.
Mesmo Ciço não sendo do grupo ele até que nos ajudou bastante, mas a melhor parte vou ver a cara do Daniel incrédulo depois de ler minha parte, ele ainda teve a audácia de sugerir que Giovanna tinha me ajudado, eu sei que fiz um bom trabalho e por mais que esse merdinha não queria admitir ele ficou surpreso, valeu a pena ler tantos artigos afinal.
Demorou um pouco, mas conseguimos um consenso e enfim enviamos para a professora, só espero não ter que fazer grupo com esse palhaço de novo, Ciço foi com embora com ele, mas até aí nenhuma surpresa, com certeza esse encostado deve ter pedido uma carona pro meu amigo, depois que eles saem levo Giovanna até em casa, tem uma parada na frente do prédio que é onde pego onibus para ir para casa normalmente.
— Mesmo que o Daniel não acredite eu fiquei orgulhosa de você, tipo sua parte ficou mesmo boa.
— Você duvidou? — digo fingindo estar ofendido.
— Talvez eu tenha duvidado um pouquinho sim — ela admite.
— Não te julgo, normalmente não sou o cara que costuma surpreender os outros — digo.
— Você é muito mais incrível do que pensa — ela diz me pegando de surpresa.
— Tá certo — digo levando o que ela disse na brincadeira.
— Raylan, você é um cara inteligente, mesmo que se esforce para não parecer, você é um otimo amigo, observador, esforçado, porra você passou dias indo e voltando da faculdade a pé.
— Não é nada de mais e como te falei não sou tão inteligente assim — estou sem jeito, não estou acostumada a receber elogios.
— Você se cobra muito, acho que você só precisa dar uma chance para sua felicidade e relaxar um pouco — meu primeiro pensamento é em Guigo, ele mandou uma foto muito fofa segurando o lanche que comprei para ele.
— Queria que fosse fácil assim — digo em voz baixa, suas palavras me deixaram tão pensativo que só reparo que ela está bem perto de mim quando sinto sua respiração.
— Deixar alguém se aproximar não vai te matar, você merece ser amado — ela diz isso e avança os últimos centímetros entre nós para me beijar, mas meu corpo reage de imediato e viro o meu rosto, gerando um grande clima de constrangimento em seguida.
— Desculpa — ela se apressa em diz.
—Não, não é você — digo e ela me encara sem entender — você disse que eu tenho que deixar que alguém entre, me permitir ser amado e amar também — ela continua me encarando só que com um pesar nos olhos — Desculpa.
— Ela tem muita sorte — ela diz segurando seu choro, não posso fazer isso com ela, não posso mentir agora.
— Ele — Giovanna arregala os olhos — mas acho que o sortudo mesmo sou eu.
— Você é um idota sabia — ela diz me dando um soquinho no braço — estou orgulhosa de você e é bom esse cara cuidar muito bem de você, senão ele vai se ver comigo — ela diz isso então vira as costas para mim e entra na portaria do prédio.
Giovanna é uma mina incrível, mais meu peito se inflama só de pensar em fazer com ela o que fizeram com minha mãe, não posso ter nada com ela e nem com qualquer outra garota, porque eu gosto de um cara, um cara lindo e muito maravilhoso, nunca vou ter a benção da minha mãe ou dos meus amigos, Guigo e eu nunca seremos um casal comum, mas mesmo assim não consigo mais ficar com outra pessoa que não seja ele, estou me sentindo péssimo, pois sei que ficar com Guigo vai ser uma atitude muito egoísta da minha parte, pois comigo ele nunca vai poder ser livre.
Passei a noite pensando em tudo que tinha rolado e em minha recém descoberta, eu gosto do Guigo e quero ficar com ele, antes estava convicto de que ele iria desistir de mim, agora estou apavorado com essa possibilidade, por outro lado não é justo pedir que ele se esconda comigo no armário, Guigo merece alguém mais normal.
Depois de cochilar — já que dormir mesmo não rolou — a primeira coisa que faço é mandar bom dia para o Guigo, ele deve está tão cansado quanto eu, já que dormir no hospital não é nada confortável, mando uma mensagem para minha mãe dizendo que estou bem também, para ela não ficar preocupada, ela me responde quase que na mesma hora falando que vem para casa hoje a noite, parece que ela vai folgar no feriado de carnaval, isso me lembra que ainda não contei a ela que vou viajar, por falar nisso não tenho muito dinheiro na conta, andei ostentando esses dias.
Pedir dinheiro para o meu pai está fora de questão e pedir para minha mãe vai ser o mesmo que pedir para ele, então não vai rolar, vou dar um jeito de usar o que sobrou na conta, não é que tenha pouco, é só que se o pessoal quiser ficar saindo para comer e beber fora ai vou me foder, agora se só for consumido o que estamos levando então vai dar bom, só tenho que me preocupar em como vou pagar meu ônibus, estou perdido nos meus pensamentos quando sinto meu celular vibrar.
— Oi Guigo, tudo bem?
— Tudo, só queria ouvir sua voz — esse moleque quer acabar comigo desse jeito.
— Para com isso, como tá seu pai?
— Ele vai para casa hoje, o médico disse que ele está se recuperando muito melhor do que o esperado.
— Isso é um alívio — digo.
— Ray, vou comprar as passagens hoje, vou precisar dos seus dados — ele diz casualmente.
— Nem pensar, já falamos disso, eu vou resolver isso — digo.
— Deixa de ser orgulhoso cara, eu quero que você vá — não sei quem é mais teimoso.
— Eu vou, só que do meu jeito — digo colocando um fim na discussão.
— Certo, mas se você mudar de ideia me fala.
— Não vou, me diz uma coisa você vai para aula hoje? — Pergunto, um pouco ansioso pela resposta, pois quero que ele vá, mas não quero deixar isso transparecer.
— Não, tenho que ficar com meu pai até o meio dia hoje, porque minha mãe está resolvendo uns exames dela agora pela manhã.
— Ela tá bem? — Pergunto já meio preocupado.
— Está sim, é só coisa de rotina, ela tem essa neura com a saúde dela porque meu pai tem imunidade baixa — ele diz com um cansaço em sua voz.
— Pelo menos ela está se cuidando — digo tentando ver o lado positivo.
— Então você também não vai para Giovanna? — Pergunto, pois hoje é terça.
— Ela não te avisou? — Claramente não — parece que ela vai sair à tarde, não entendi muito bem, de qualquer forma ela desmarcou, deve ter esquecido de falar com você.
— Tá bom, vou desligar aqui pois tenho que sair para faculdade, eu te passo as anotações depois, se tipo você quiser e puder podemos estudar mais tarde — digo, usando isso como desculpa para vê-lo.
— Pode ser — fico feliz com sua resposta.
— Mas pode ser na sua casa? Não quero minha mãe tendo um ataque por ter gente aqui em casa no dia em que meu pai saiu do hospital, sério Ray tem dias que eu acho que ela vai me enlouquecer.
— Tá bom, a gente se ver mais tarde, te am…adoro! — Quase um te amo saiu de forma natural, meu coração até acelerou.
— Também te adoro — ele responde sorrindo do outro lado da linha, deve ter percebido o que eu quase disse.
Depois desse vacilo termino de me arrumar e vou para aula, até pensei em faltar, mas tenho que pegar os conteúdos pro Guigo, desde que voltei a ir de ônibus tenho chegado cedo e cheiroso, já sou feio, tenho que pelo menos ser arrumado, Ciço e os outros já estão na sala fando bestiera, Giovanna não chegou ainda o que é estranho, ela normalmente é a primeira a chegar e o Daniel também não chegou ainda, quem sabe tenho essa sorte dele faltar.
— Raylan chega ai — Ciço me chama para sentar perto dele.
— E aí Ciço tudo beleza.
— |Tudo em paz, ei te falar, meu pai me emprestou o carro, eu ofereci de levar o Ceser um amigo meu e deixei a outra vaga para você caso ainda queira.
— Porra Ciço, você é pica de mais macho, tu não sabe como isso vai me ajudar, estava pensando já em como ia pagar minha passagem.
— Relaxa, você vai com a gente, mas tem uma coisa que eu quero te pedir — claro que tem uma condição e até já imagino qual seja.
— Cara você tem que parar de chamar o Daniel de Daniela, ele não gosta — parece até que estou ouvindo o Rick falar agora.
— Eu vou ficar na minha se ele ficar na dele — digo.
— Agradeço, sei que o Daniel pode ser difícil, mas ele é legal, você já conhece ele a tanto tempo, não podem ser amigos?
— Eu estava na minha Ciço, já tem anos que eu nem falava com ele, mas aí você mesmo viu, ele mexeu comigo na frente de todo mundo no RU naquele dia, ele quer gastar os outros, mas não aguenta ser gastado.
— Vou falar com ele também, mas por favor vamos pôr uma pedra nisso e sermos todos amigos?
— Tá, por mim está tranquilo, não vou mais falar nada não — digo, já estou acostumado a ter todos defendendo o santo Daniel imaculado.
Foi só falar no diabo que ele chegou, ele vem para perto da gente afinal Ciço deixou o lugar dele guardado, cara eu prometi não mexer com ele, mas não quer dizer que vou bancar o amigo dele, esse babaca esnobe que se foda, levanto pegando minhas coisas e mudo de lugar, Ciço me encara mas no fundo sei que ele entende o que estou fazendo e respeita.
Almocei no RU sozinho depois da aula, Ciço foi para casa com o Daniel, as meninas saíram para comer fora e não queria gastar então fui comer no RU mesmo, depois voltei para casa, no caminho Guigo me contou que não iria poder ir na minha casa, ele pareceu muito estressado o que é bem incomum se tratando dele, as coisas em sua casa não devem está fáceis.
Estou triste de não vê-lo hoje, mas entendo que sua família é complicada, de família complicada entendo bem, meu pai mal apareceu na minha vida e agora quer que todo mundo se junta como uma linda família feliz, é surreal como eles esperam que eu supere isso da noite para o dia, estou cansado disso, pelo menos vou poder passar uns dias longe de tudo isso.
Não tem muita coisa para fazer em casa então acabo deitando para tirar o cochilo — que virou um sono pesado — só que dormi um pouco demais, quem me acordou foi minha mãe quando chegou em casa, ela trouxe nosso jantar pelo menos, a comida chique que ela prepara na casa dos patrões, eles sempre deixam ela trazer uma quentinha para mim.
— Raylan seu pai quer te levar para sair nesse feriado — quase perco o apetite com o cinismo dela de falar isso como se não fosse nada.
— Não vou.
— Filho — ela começa, mas a interrompo.
— Vou viajar com meus amigos, por isso não posso sair com ele — digo usando a viagem como desculpa.
— Viajar para onde?
— Para Aracati, vamos ficar na casa de parentes de uma das meninas lá da faculdade.
— E como você vai? — Às vezes ela me trata como criança, odeio isso.
— O Ciço vai me levar mãe — digo sem paciência.
— Filho não acho bom você ir nessa viagem não, você tem dinheiro para ir? — Ela sabe que não.
— Tenho o que sobrou daquele dinheiro — digo.
— Fale com seu pai, ele vai lhe dar alguma coisa.
— Não vou pedir nada para ele — digo me esforçando para manter a calma.
— Raylan, não sei, nem conheço esse pessoal, acho melhor você não ir — caralho só o que me faltava agora, ela querer usar isso como barganha, para que eu fale com meu pai, odeio isso mas ela não me deu escolha.
— A senhora conhece o Daniel, ele vai — pronto quero ver seu argumento agora, ela simplesmente ama esse moleque, sempre falava bem dele antigamente.
— O Daniel,filho da Agatha?
— Esse mesmo — digo.
— Ah sendo assim fico mais tranquila — inacreditável — fico feliz de você ainda ser amigo dele.
— Tá — digo de forma seca.
— Mesmo assim, melhor você falar com seu pai.
— Mãe, ele só quer forçar uma interação, não quero sair com ele, não quero vê-lo e nem muito menos quero conhecer o Paulo.
— Filho o Paulo não tem culpa de nada — uma risada de sarcasmo me escapa.
— Tá falando serío?
— Raylan, você já é um adulto que tem que começar a se comportar com mais maturidade.
— Mais maturidade mãe, eu fico só nessa droga de casa enquanto a senhora trabalha a anos, eu faço minha própria comida, lavo minha própria roupa, praticamente não lhe peço dinheiro e o único motivo pelo qual não arrumei um emprego ainda foi por que a senhora disse que eu tinha que estudar — meu rosto está ardendo de raiva e tristeza.
— Eu me mato de trabalhar para lhe dar um futuro Raylan, não quero que você desperdice sua vida.
— Não mãe, a senhora se mata de trabalhar porque o seu ex marido nos deixou da noite para o dia e você tinha que pôr comida na mesa — estou quase gritando — a senhora dona Marta, se mata de trabalhar porque foi a forma que a senhora encontrou de superar o fato que seu ex nos abandonou, a senhora não estava aqui porque essa casa estava cheia de lembranças — ela me encara sería, mas não replica pois sabe que é verdade.
— Melhor você me respeitar, pois sou sua mãe — ela diz depois de um tempo em silêncio.
— Vou pro meu quarto, tenho que montar minha mala — digo levantando da mesa de forma brusca.
— Você não vai — ela diz firme.
— Não foi você quem disse que já sou adulto, então eu faço o que eu quiser.
Odeio brigar com ela, mas odeio mais ainda que ela defenda o traidor, na minha vida toda tive que conviver com esse tipo de coisa, as pessoas defendendo outras pessoas e sempre me condenando, estou farto disso, ela não entende o sacrifício que faço por ela, fico no meu quarto o resto da noite, quero falar com Guigo, mas ele já está tão estressado, não quero sobrecarregá-lo com meus problemas também, então mando uma mensagem de boa noite e lhe desejo um bom descanso, depois mando uma mensagem para Rick, já que se não colocar isso pra fora é capaz até de ter um pico de pressão.
“Odeio meu pai, odeio mais ainda o fato da minha mãe defende-lo, porra não quero desculpar ele, não quero ter contato com ele, não posso fazer isso, não depois de tudo que passamos por causa dele, mas por que não consigo parar de pensar sobre isso? Rick ele é um merda e sim estou mentindo para mim mesmo, quero meu pai porra, quem não quer ter a droga de um pai, mas se ele for embora de novo Rick, o que eu vou fazer?”