Meu príncipe, meu irmão - Capítulo 03: Harry Potter

Um conto erótico de Th1ago-
Categoria: Gay
Contém 2553 palavras
Data: 21/12/2024 16:15:27

Aquele dia foi o primeiro em que percebi que meus irmãos tinham ciúmes um do outro. Eu ainda não sabia o porquê, mas mais para frente eu ia descobrir.

Quando Eduardo e eu chegamos em casa, o clima parecia diferente. Talvez fosse o jeito como Gustavo evitava olhar diretamente para mim, ou o tom mais contido de sua voz enquanto nos cumprimentava. Ele estava na sala, deitado no sofá, com o controle remoto na mão, fingindo interesse em algum programa qualquer que passava na TV.

Eduardo passou direto, deixando a porta bater devagar atrás de nós, enquanto eu hesitava, tentando captar algo no ar.

- Voltaram? - Gustavo perguntou, sem tirar os olhos da tela.

- É, voltamos - eu respondi, tentando soar casual, mas ele não fez mais perguntas.

Segui Eduardo até o quarto, onde ele deixou seus sapatos de qualquer jeito no canto e deitou na cama, visivelmente cansado. Eu queria terminar a conversa, arrumar as coisas entre nós.

- Almoço já tá quase pronto, Léo. Vai lá ver se a mãe precisa de ajuda - ele disse, jogando um travesseiro no rosto, como se quisesse tirar um cochilo antes de comer.

Eu concordei com a cabeça e fui até a cozinha. Minha mãe estava lá, colocando a mesa com pratos e talheres, enquanto o cheiro de arroz fresco e carne assada se espalhava pela casa. Às quintas-feiras, tínhamos uma tradição de almoçar todos juntos. Meu padrasto, que geralmente estava no escritório, tirava o dia para ficar em casa e garantir que aquele fosse um momento em família.

- Que bom que chegaram. Vai lavar as mãos antes de comer, tá? - minha mãe disse, sem nem olhar para mim, concentrada em servir a salada em uma tigela grande.

Fiz o que ela pediu e, ao voltar para a sala de jantar, encontrei todos se ajeitando à mesa. Meu padrasto já estava sentado na ponta, folheando o jornal enquanto esperava o almoço ser servido. Gustavo sentava sempre do lado esquerdo da mesa, e Eduardo, do direito. Meu lugar era entre os dois, o que normalmente não era um problema, mas, naquele dia, parecia um pouco... estranho.

Sentei-me e, por um momento, houve um silêncio desconfortável. Gustavo mexia no garfo sobre a mesa, olhando de soslaio para Eduardo, que estava distraído com o celular. Minha mãe trouxe os pratos principais e colocou tudo no centro da mesa, enquanto meu padrasto abaixava o jornal, ajustando o óculos e começando a falar sobre alguma notícia de política que ninguém estava ouvindo realmente.

- Então, o que fizeram hoje de interessante? - ele perguntou, olhando ao redor da mesa.

- Eu saí com o Léo. Fomos tomar um sorvete - Eduardo respondeu casualmente, mas notei que Gustavo parou de mexer o garfo e o encarou rapidamente antes de desviar o olhar.

- Ah, que bom. Fazia tempo que vocês dois não saíam juntos, né? - minha mãe comentou, sorrindo enquanto servia arroz no prato do meu padrasto.

- É, fazia mesmo - Eduardo disse, mas não parecia haver nenhum tom oculto em suas palavras. Ele simplesmente continuou comendo, como se aquilo não fosse nada demais.

Gustavo, no entanto, ficou em silêncio, apenas empurrando a comida no prato. Eu percebi que ele estava quieto, mas não quis comentar. Achei que era só impressão minha, então me concentrei em comer.

- E você, Gustavo? Fez alguma coisa interessante hoje? - minha mãe perguntou, tentando puxar conversa.

- Não, só fiquei em casa. - Ele deu de ombros, a voz saindo um pouco mais baixa do que o normal.

O silêncio voltou, mas dessa vez parecia mais pesado. Meu padrasto tentou puxar outro assunto, falando sobre os planos para o final de semana, mas eu estava distraído demais tentando entender o que estava acontecendo.

Eduardo, por outro lado, parecia alheio a tudo, comendo seu prato como se nada estivesse fora do lugar. Ele até brincava com minha mãe, dizendo que ela deveria ter feito um doce para acompanhar o almoço, enquanto Gustavo apenas olhava para o prato, com o garfo imóvel em sua mão.

Foi quando eu notei algo estranho: sempre que Eduardo falava comigo, Gustavo fazia algum movimento. Ele mexia na cadeira, balançava o pé ou ajeitava o guardanapo no colo. Era quase imperceptível, mas eu estava atento o suficiente para perceber.

- Gustavo, você está bem? - perguntei, finalmente, quebrando o silêncio que parecia crescer a cada segundo.

Ele levantou o olhar rapidamente, como se eu o tivesse pego desprevenido.

- Tô, por quê? - ele respondeu, mas o tom era defensivo, quase como se estivesse tentando esconder algo.

- Sei lá, você tá meio calado hoje.

- Só tô cansado, Léo. Nada demais.

Minha mãe lançou um olhar rápido para ele, mas não disse nada. Meu padrasto continuou falando sobre como o trânsito na cidade estava insuportável, tentando manter a conversa leve, mas eu sabia que havia algo por trás daquele comportamento de Gustavo.

Quando terminamos o almoço, Gustavo foi o primeiro a se levantar. Ele levou o prato até a pia, murmurou um "obrigado" para minha mãe e saiu da cozinha sem olhar para ninguém. Eduardo ficou na mesa comigo por mais alguns minutos, mas logo também se levantou, dizendo que precisava resolver algumas coisas no computador.

Fiquei sozinho na mesa, olhando para o prato vazio à minha frente, sentindo que algo havia mudado naquele dia. Eu não sabia o que era, mas sentia que, de alguma forma, eu estava no centro de tudo aquilo. Era estranho perceber como duas pessoas que eu amava tanto podiam, de alguma forma, ter algo contra o outro por minha causa.

Era um sentimento novo, desconfortável, e eu não sabia o que fazer com ele. Eu só sabia que, mais cedo ou mais tarde, iria descobrir o motivo por trás de tudo aquilo. E, quando descobrisse, sabia que isso mudaria tudo.

Quando terminei de ajudar minha mãe na cozinha, subi para o quarto, sentindo o peso do clima estranho daquele dia. Assim que empurrei a porta, vi Gustavo sentado no chão, encostado na cama dele, segurando o controle do videogame com os olhos fixos na TV. A luz do entardecer iluminava o quarto, criando sombras suaves nos móveis e destacando o cabelo castanho bagunçado de Gustavo.

Ele estava jogando o jogo de sempre, aquele de futebol que ele adorava, mas seu rosto não tinha a expressão relaxada de costume. Em vez disso, parecia sério, com os lábios apertados e os olhos fixos na tela.

Caminhei até minha cama e me joguei sobre o colchão, virado para ele. Não falei nada de início. Fiquei apenas observando-o, tentando entender o que se passava. Gustavo não era de ficar tão quieto assim perto de mim. Normalmente, ele falava alguma coisa, nem que fosse para reclamar que eu estava atrapalhando sua concentração.

Mas, naquele momento, ele continuava a jogar, ignorando completamente minha presença. O som das teclas do controle e os ruídos do jogo preenchiam o quarto, tornando o silêncio entre nós ainda mais gritante.

- Gustavo, o que tá acontecendo? - perguntei, finalmente.

Ele não desviou os olhos da tela, apertando os botões com mais força do que o necessário.

- Nada - respondeu seco, quase como um sussurro, mas carregado de birra.

Revirei os olhos, me sentando na cama.

- Nada? Sério? Você tá assim o dia todo e vai me dizer que é "nada"? - retruquei, tentando não soar irritado.

Ele continuou jogando, ignorando minhas palavras.

Levantei, caminhando até ele. Abaixei-me e apertei o botão de pausa no controle. A imagem do jogo congelou, e Gustavo finalmente olhou para mim, com uma expressão de surpresa que logo deu lugar a um olhar irritado.

- Ei, que foi? Tava jogando! - ele reclamou, tentando pegar o controle de volta, mas eu segurei firme.

- Você prometeu que estaria sempre aqui pra mim, lembra? - eu disse, olhando diretamente nos olhos dele. - Então me diz a verdade, Gustavo. O que tá acontecendo?

Ele hesitou por um momento, desviando o olhar para o chão antes de soltar um suspiro pesado.

- Eu me senti mal hoje, tá bom? - ele respondeu, cruzando os braços.

- Mal? Por quê?

- Porque você me deixou sozinho na saída da escola.

Fiquei surpreso com a resposta.

- Mas você foi convidado! Eu até chamei você pra ir, e o Eduardo também! Você que não quis.

Ele bufou, virando o rosto.

- Não é só isso, Léo.

- Então o que é?

Ele ficou em silêncio por alguns segundos, apertando os lábios como se estivesse decidindo se devia ou não dizer o que realmente estava sentindo.

- Eu... fiquei com ciúme, tá bom? - ele finalmente admitiu, a voz mais baixa do que nunca.

Fiquei em choque por um momento.

- Ciúme? Do Eduardo?

- Sim, Léo! - ele disse, levantando a voz e me olhando nos olhos com uma intensidade que me fez recuar. - Você não lembra como ele te deixou pra trás antes? Você ficou mal, e eu fiquei do teu lado o tempo todo! E agora ele aparece, te chama pra sair, e você vai correndo com ele, como se nada tivesse acontecido.

Aquelas palavras me atingiram como uma onda inesperada.

- Ele é meu irmão, Gustavo. Assim como você é! - retruquei, sentindo o rosto esquentar.

- Eu sei disso! Mas... não é fácil pra mim, tá? Eu me importo com você, Léo. Eu não quero que você fique mal de novo.

Por um momento, tudo que consegui fazer foi encará-lo. Gustavo raramente era tão direto sobre o que sentia, e ouvir aquilo me deixou desconcertado.

- Eu sei que você se importa - respondi, mais calmo. - Mas você não precisa ter ciúme. Ninguém vai tomar o seu lugar.

Ele riu, sem humor.

- É o que parece.

- Gustavo... - comecei, mas ele já havia pegado o controle novamente.

- Deixa pra lá, Léo. Tá tudo bem.

Sabia que não estava. Ele apertou o botão para retomar o jogo, mas o clima entre nós continuava pesado. Suspirei e voltei para a minha cama, me jogando sobre o colchão. Fiquei encarando o teto, tentando encontrar as palavras certas para quebrar o silêncio, mas elas não vieram.

Gustavo continuou jogando, mas de forma automática, sem a energia de sempre. Depois de algum tempo, ele desligou a TV e foi para a cama dele, sem dizer mais nada.

O silêncio voltou, mas agora parecia maior, mais denso.

Deitei-me de lado, olhando para a parede, enquanto Gustavo fazia o mesmo do outro lado do quarto. Nenhum de nós disse mais nada. Era estranho pensar que aquele era o primeiro dia em que dormiríamos assim, obrigados a lidar com o silêncio de uma discussão.

Foi a primeira vez que dormimos brigados. O peso das palavras não ditas parecia estar presente no quarto, como uma terceira pessoa. E, naquela noite, o sono foi difícil de chegar

Agora, aos 28 anos, enquanto escrevo neste caderno, percebo algo que nunca havia notado antes. Todas as vezes que Gustavo e eu brigamos - e olha que foram muitas -, era sempre ele quem se aproximava primeiro. Mesmo em silêncio, ele achava um jeito de quebrar a distância antes que ela se tornasse insuportável. Nunca passamos mais de 24 horas brigados, exceto pelo dia em que tudo deu errado. Mas essa é uma história para depois.

Naquela primeira briga, não foi diferente. Quando acordei no fim da tarde, ainda meio sonolento, senti o peso familiar de Gustavo ao meu lado. Ele estava na minha cama, me abraçando, com a respiração calma e regular contra o meu ombro. O quarto estava tomado por uma penumbra suave, enquanto os últimos raios do sol se infiltravam pelas frestas da cortina.

Aquele abraço silencioso era mais eficaz do que qualquer palavra. Era o pedido de desculpas dele, a garantia de que, apesar das diferenças e dos ciúmes, ele ainda estava ali, do meu lado. Suspirei, sentindo um calor no peito. Não importava o motivo da briga; com Gustavo, as coisas sempre voltavam a ser como antes.

Mas o momento foi interrompido quando a porta do quarto se abriu com um rangido abrupto.

- Vocês ainda estão dormindo? - Eduardo apareceu, cruzando os braços, olhando para nós com um semblante difícil de decifrar.

Levantei a cabeça, meio confuso, enquanto Gustavo continuava agarrado a mim, ainda dormindo profundamente. Eduardo permaneceu parado na porta por alguns segundos, seus olhos demorando um pouco mais em Gustavo antes de se voltar para mim.

- Mãe tá chamando. Vamos ao cinema hoje - ele disse, o tom mais seco do que o normal.

- Cinema? - murmurei, tentando acordar de vez.

Eduardo apenas assentiu, sem entrar no quarto. Quando Gustavo finalmente abriu os olhos, notou Eduardo ali e se ajeitou, sentando-se ao meu lado.

- Que filme? - perguntou Gustavo, ainda com a voz rouca de sono.

- O último do Harry Potter - Eduardo respondeu de forma breve, como se quisesse sair dali o mais rápido possível.

- Sério? - Gustavo despertou completamente, um brilho de empolgação surgindo nos olhos dele.

- É, mas mexam-se. Mãe não vai esperar vocês pra sempre. - Eduardo saiu sem mais nada dizer, fechando a porta atrás de si.

Fiquei olhando para a porta por alguns segundos, sentindo algo estranho no jeito dele. Gustavo, no entanto, parecia completamente animado, como se não tivesse percebido nada.

- O último de Harry Potter! - ele exclamou, pulando da cama com energia renovada. - É hoje, Léo! O fim de tudo!

Sentei-me na cama, sorrindo com a animação dele.

- O fim do quê? - provoquei, já sabendo a resposta.

- Do Voldemort, das Horcruxes, de Hogwarts... Tudo!

- Ei, spoiler! - brinquei, jogando um travesseiro nele.

- Como se você não soubesse de tudo, nerd! - Gustavo riu, jogando o travesseiro de volta.

- Sabia que eu li os livros quatro vezes? - retruquei, fingindo orgulho.

- Sim, eu convivo com isso todos os dias - ele respondeu, revirando os olhos com um sorriso.

Enquanto trocávamos de roupa, Gustavo não parava de falar sobre teorias do filme, o que me fazia esquecer completamente a tensão inicial com Eduardo. Mas, no fundo, havia algo incômodo no jeito como ele nos olhara.

Descemos juntos para encontrar a família, onde o cheiro de pipoca estourando já dominava a cozinha. Minha mãe, animada, organizava lanches, enquanto o pai de Gustavo, que raramente estava em casa às quintas, conferia algo no celular. Eduardo estava ao lado da minha mãe, com uma expressão neutra que ele quase sempre usava para esconder o que realmente sentia.

No carro, Gustavo e eu dividíamos o banco de trás, nossos ombros se encostando de tempos em tempos enquanto ele falava sem parar sobre o filme. Eduardo estava ao meu lado esquerdo, mas, ocasionalmente, olhava para Gustavo, lançando olhares rápidos que pareciam mais julgadores do que curiosos.

- Você acha que o Neville vai ser o grande herói? - Gustavo perguntou, completamente absorto na conversa.

- Neville? - perguntei, tentando segurar uma risada.

- É! Tem uma teoria... - Ele começou a gesticular, explicando com paixão, enquanto eu apenas ouvia, sorrindo.

Eduardo suspirou, parecendo um pouco impaciente.

- Vocês dois conseguem falar de outra coisa além desse filme?

- Não - Gustavo respondeu imediatamente, lançando um sorriso travesso para ele.

Eu ri, mas algo no tom de Eduardo ficou preso na minha mente. Não era só impaciência; havia algo mais ali, algo que ele não queria dizer em voz alta.

Hoje, depois de tudo que aconteceu naquele fatídico dia em que tudo deu errado, sei que o que Eduardo sentia era sim ciúmes, não de uma forma romântica, mas por medo do que eu poderia passar. A verdade é que Eduardo sempre foi um irmão maravilhoso, mas talvez seu maior erro tenha sido se preocupar tanto comigo, a ponte de me magoar.

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Comentários

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Ai to amando essa história, atulaiza logo, faça capitulos de 100 mil palavras, n demoraaaaa pffff

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