Por mais que ele parecesse falar buscando um entendimento, eu notava nas entrelinhas que ele parecia obter permissão da minha parte, algo que eu não estava disposto em ceder. Acabamos nos sentando na sala, mas um silêncio reinou absoluto, enquanto eu tentava absorver suas palavras e entender tudo o que vinha acontecendo. Logo, ouvimos a porta da minha suíte se abrir e a Sophie surgiu andando apressadamente em direção à cozinha, agora vestindo uma camisola preta, mais comprida que o baby doll, mas em compensação, com vários recortes e transparências que deixam uma minúscula calcinha fio dental transparente à mostra. Aliás, quem a olhasse com um pouco mais de cuidado, certamente veria os pentelhos pelas transparências do tecido. Olhei inconformado na direção do Celão que apenas fez um movimento de mão para mim, como se dissesse “fica calmo, fica calmo…”.
Na verdade, naquele momento, eu já tinha a quase certeza de estar sendo traído, mas me faltavam provas. E eu faria questão de obtê-las em breve.
[CONTINUANDO ]
Não lembro quantos dias passaram, mas a minha insegurança crescia a cada dia e já gritava alto dentro da minha cabeça, mas tão alto que, num certo dia, decidi ir para casa bem antes do horário do almoço na esperança de dar um flagrante neles. Inventei um mal estar qualquer no escritório e fui dispensado pelo meu patrão, de quem gozava boa confiança. Rumei para a minha casa, estacionando alguns bons metros antes da minha casa. Ali no carro ainda tive dúvidas se estava fazendo a coisa certa, mas eu precisava me livrar dessa dúvida que me consumia, aliás, dúvida não, porque eu já tinha plena certeza de que vinha sendo chifrado pelos dois. Entrei sorrateiro, pé ante pé, tentando fazer o mínimo possível de barulho. Decidi, como da outra vez, entrar pela cozinha, mas a surpresa acabou sendo minha, pois dei de cara com a Sophie, de cabelos molhados e enrolada numa simples toalha e nada mais. Ela ficou atônita, branca como se tivesse visto um fantasma e após breves segundos, disse:
- O que que… que você está fazendo aqui a estas horas, amor? E antes que comece com algum discursinho sobre roupas, só vim aqui buscar uma calcinha…
- Assim, praticamente nua!? - A interrompi, mostrando o óbvio com as minhas mãos.
- É que… que… - Ela coçou a cabeça e desviou o olhar por um instante: - Você sabe que sou complicada. Se não tenho calcinha e sutiã para colocar, prefiro ficar nua a colocar uma roupa. Então, acabei vindo pegar uma calcinha aqui, é isso.
- Tem um homem de fora dentro da nossa casa e você acha normal andar assim?
- Amor, o homem em questão é meu tio e seu amigo íntimo. Além do mais, eu não vivo vestida assim, só aconteceu hoje. Foi só uma coincidência.
- Coincidência, sei… - Disse e fui entrando em casa, em direção a área dos quartos.
A Sophie passou a me acompanhar, conversando, falando pelos cotovelos, literalmente tentando evitar que eu entrasse na minha própria casa. Lógico que estranhei e fiquei ainda mais desconfiado. Quando ela segurou o meu braço, pouco antes de eu alcançar a porta da nossa suíte, aí sim eu vi que algo estava errado e a encarei bravo:
- O que está acontecendo, Sophie? Me solta!
- Amor, o que está acontecendo, pergunto eu! Fala comigo.
- Vou pegar um documento no meu criado mudo, só isso! Agora me solta.
- Na nossa suíte?
- É óbvio, né! Onde mais poderia ser?
Notei que ela arregalou brevemente os olhos e mordeu os lábios em sinal de tensão, ficando sem saber o que dizer. Aproveitei um momento de distração dela e me desvencilhei de suas mãos, indo então até a suíte. Bem quando estava entrando, com ela atrás de mim novamente falando algo, vejo o Celão saindo pela porta, com uma toalha enrolada na cintura e nada mais. O clima que já não estava bom, ficou horrível, constrangedor, quase insustentável. Desviei o meu olhar dele e encarei a Sophie, com sangue nos olhos e pronto para brigar, mas o Celão foi mais rápido:
- Desculpa, sobrinho, é que o chuveiro do banheiro social queimou. Daí, como havíamos chegado agorinha da academia, a Sophie me deixou usar o banheiro da suíte de vocês. Espero que não se importe…
Nada respondi naquele momento, pois estava tão irado com a traição que se descortinava cada vez mais às claras que apenas balancei negativamente a minha cabeça e o empurrei ligeiramente para o lado com uma das minhas mãos enquanto entrava na suíte. Rapidamente, analisei todo o ambiente: a cama estava uma bagunça só, mas era normal isso acontecer, pois a Sophie normalmente só a arrumava pouco antes ou durante o preparo do almoço. Fui margeando a minha própria cama, olhando os lençóis bagunçados, até chegar ao meu criado mudo. Ali peguei uma carteira velha, com alguns documentos pessoais meus, a justificativa que eu havia dado para a Sophie, enquanto ainda olhava para os lençóis, tentando encontrar alguma prova “líquida” dos meus chifres. Como nada vi, levantei-me sob o olhar atento da Sophie e me encaminhei para a porta da saída. Antes de efetivamente sair, entrei no banheiro, onde me tranquei.
Eu suava frio, enquanto tentava me acalmar, sentado no vaso sanitário. Cada vez mais os indícios indicavam algo que eu não queria acreditar que estivesse acontecendo debaixo do teto da minha casa e isso estava fazendo eu me sentir paranoico. Tive um “insight” e fui olhar o cesto de roupas sujas. Peguei as roupas de treino dela, especialmente a calcinha, mas nada havia, além de um pouco mais de umidade e um cheiro mais forte, que poderia ser decorrente do suor. “Camisinha usada.”, pensei e fui olhar o lixinho do banheiro. Nada novamente. Frustrado, confuso, irado comigo mesmo, dei uma descarga e saí. A Sophie estava sentada na beirada da cama, me aguardando, usando um vestido floral simples e já meio surrado:
- Amor, a gente precisa conversar.
- Sobre o quê?
Vi ela abrir e fechar a boca umas duas, três vezes, sem emitir som algum, enquanto entrelaçava e soltava os dedos sem parar. Como ela nada dizia, disse eu:
- Tenho que trabalhar. Pense no que quer me dizer e conversaremos mais à noite.
Saí do quarto e encontrei o Celão sentado no sofá da sala, vestindo uma bermuda e uma camiseta de mangas simples. Ele me olhou e sorriu amigavelmente, mas eu sentia uma imensa falsidade em seu sorriso que obviamente escondia algo de mim. Quando eu já estava saindo, a Sophie me alcançou:
- Estou fazendo aquele refogado de carnes e legumes que você adora. Você vem almoçar, né?
- Vou tentar. - Foi a única coisa que consegui dizer, antes de sair.
A situação constrangedora ficou ainda pior porque, ao sair, um golpe de vento forçou a porta na mesma direção em que eu saía. Resultado: a porta deu uma pancada das boas, ecoando forte ao longe. Se a impressão que eu queria deixar era de que ficara extremamente chateado com o que vira, acabara de coroar com êxito redobrado.
Não voltei para almoçar e não foi porque eu não quisesse, mas porque se eu voltasse a situação viraria uma discussão, com certeza. Como eu estava “descansando”, dispensado pelo meu patrão, fui almoçar num shopping da região central e quem eu encontro lá? O meu próprio patrão. O Alberto era um homem maduro e de poucas palavras, e assim que meu viu, fechou a cara e quis saber o que eu fazia ali. Sem ter com quem falar e precisando me justificar, acabei resumindo a minha situação para o meu próprio patrão. Ele me ouviu atentamente e foi cirúrgico nas palavras:
- Você podia ter me contato antes, Arnaldo, não precisava ter enfrentado essa situação sozinho. - Concordei com um meneio de cabeça e ele continuou: - Agora, falando profissionalmente, você só tem suspeitas; provas mesmo, nenhuma.
- E como vou conseguir provas? Eles não são bobos e se estão realmente me traindo, estão disfarçando muito bem.
- Exatamente é essa a questão: será que eles estão realmente te traindo? Você é casado há quanto tempo, Arnaldo, 5, 6 anos, no máximo? Alguma vez, ela te deu motivos para duvidar da honestidade dela? Olha só, cara, eu não gosto de ignorar a intuição, mas eu só trabalho com provas. Sem elas, tudo fica muito incerto.
- Eu já não sei mais o que fazer?
- Por que você não compra umas câmeras espiãs? Hoje tem umas bem pequenininhas que funcionam por wifi. Instala umas pela sua casa, dá corda para eles se enforcarem e fica fiscalizando de longe. Se um dia você pegar algo de verdade, aí você decide o que fazer.
A ideia era ótima! Ficamos ainda conversando por um bom tempo sobre como agir e ele até me indicou um investigador, amigo seu, que poderia me orientar ainda melhor. Por conta disso, acabei voltando ainda mais tarde para casa, por volta das 21:00, após uma consulta com ele. Assim que abri a porta, dei de cara com uma movimentação rápida da Sophie sobre o sofá, segurando o controle remoto da televisão, enquanto o Celão estava sentado na outra extremidade, com as pernas meio encolhidas e uma almofada sobre o seu colo:
- Onde você estava, amor? Quer que eu… esquente a sua comida? - Perguntou-me a Sophie, enquanto se levantava para me receber com um beijo, como sempre fazia.
Entretanto, o que me chateou de vez, foi o vestuário que ela utilizava, um curto e nada discreto “baby doll” de cetim. Embora não fosse transparente, era curto demais, justo demais e revelava demais o que não precisava ser mostrado para uma “visita”. Celão, por sua vez, continuava vestido com a mesma bermuda e camisa de quando eu saí. Corri o meu olhar por ambos e segui para o meu quarto. Sophie deve ter imaginado que eu iria tomar um banho para jantar e não estava enganada, pois era a minha rotina.
Entretanto, quando saía da minha suíte, após uma rápida olhada no espelho de canto, notei um pequeno brilho aos pés da nossa cama, refletindo a luz do quarto. Olhei com mais atenção e me aproximei do local. Abaixei-me e peguei então um pequeno pedaço de papel plastificado. No ato, eu reconheci como sendo parte de um pacote de preservativo de uma marca conhecida e como eu e a Sophie não usávamos entre nós, só podia ser de uma pessoa.
Eu já tinha tudo o que precisava e agora iria desmascará-los, mas lembrando das orientações do meu patrão, respirei fundo e decidi me controlar. Aliás, decidi mais. Vesti então uma calça jeans, uma camiseta mais nova, meus tênis e passei um perfume. Então, sai em direção à sala, andando suavemente. Antes de lá chegar, ouvi eles cochichando entre si:
- Isso ainda vai dar merda, Sofi.
- Nunca imaginei que ele reagiria assim.
- Mas você não disse que ele tinha mente aberta, que ele queria ir no swing e tudo?
- Foi, mas acho que enfiei os pés pelas mãos. Eu deveria ter conversado direito com ele e não feito o que…
Nesse momento, eu tentava me aproximar mais para ouvir melhor a conversa, mas, numa pisada em falso, atingi um vaso de flor que me denunciou a posição. Quando enfim entrei na sala, ambos estavam em seus cantos, em silêncio, mas agora me olhando:
- Já… Já esquentei o seu… Aonde você vai à essas horas, amor!? - Perguntou-me Sophie.
Olhei para ambos e da forma mais seca possível, falei:
- Vou sair. Preciso espairecer e não vou conseguir isso se ficar aqui.
- Amor, pelo amor de Deus, para! O que está acontecendo?
- “That is the question, honey!”: Que merda está acontecendo nessa porra de casa!? - Retruquei em voz alta e puto da vida, peguei o pedaço de envelope de preservativo e joguei sobre ela.
Ambos arregalaram os olhos ao verem aquele plastiquinho. Um silêncio mortal surgiu naquele momento em que ambos apenas olhavam o plastiquinho, sem coragem de me encarar. Sophie ficou mais branca que o normal, com olhos marejando. Ela levou uma mão à boca, olhando incrédula para a prova definitiva. Celão apenas olhou para o outro lado da sala, suspirando profundamente e balançando sua cabeça em sinal de negação:
- Bem… Se ninguém tem mais nada para dizer, dito está! Melhor eu sair e deixar o casalzinho sozinho para aproveitarem bem a putaria que já devia estar rolando solta pelas minhas costas.
Sophie então me encarou com uma expressão que só posso definir como sendo de pânico, mas nada disse, ou se disse, eu não ouvi, pois saí imediatamente porta afora, entrando no meu carro e partindo.
Sem ter para onde ir, fui até um hotel na região central, onde me hospedei e poderia pensar em paz. Logo, o meu celular começou a tocar e mensagens a se acumular. Silenciei o aparelho, mas deixei que as mensagens continuassem chegando, afinal, poderia ser a confissão que eu tanto esperava. Após sei lá quantas horas, a paz finalmente reinou.
No dia seguinte, fui ler as mensagens da Sophie que, de uma forma geral, diziam que ela me amava mais do que tudo no mundo e precisava conversar comigo, se explicar sobre situações bastante complexas. A surpresa veio por parte do Celão que dizia precisar conversar comigo também e que estaria a disposição para quando e como eu quisesse fazê-lo.
Passei o final de semana todo no hotel, só saindo para comer e para comprar algumas roupas, não que eu precisasse, pois passei os dias de cueca, estirado sobre a cama, sem conseguir chegar a conclusão alguma.
Na segunda-feira, retornei à minha casa decidido a me divorciar da Sophie. Eu já havia escancarado as minhas dúvidas e achava ter todas as provas de que eu precisava da sua infidelidade, nem mesmo uma confissão dos traidores eu achava necessária.
Cheguei em casa e assim que entrei, ouvi passos desordenados vindos da cozinha. Logo, a Sophie surgiu com uma cara preocupada e bastante inchada, certamente de lágrimas de sua culpa. Veio em minha direção e começou a dar murros no meu peito. Primeiro, intensos, rápidos e até dolorosos, mas que foram perdendo potência, quantidade e passaram a ser lentos até que ambas as mãos repousaram junto com o restante do corpo no meu peito. Ela então se derreteu em lágrimas. Esperei que ela chorasse tudo o que tinha para chorar. Quando enfim ela se acalmou, fui direto:
- Tem alguma coisa para me contar? Se tiver, conte agora. Não me deixe descobrir sozinho.
- Vou contar o quê? Que você saiu de uma hora para outra sem explicação ou sem me dar chance de explicar? Que ficamos eu e o tio sem reação? Que estou desesperada desde a sexta-feira sem conseguir falar com você!? - Começou a chorar novamente, só voltando a falar algum tempo depois: - O que você quer saber, enfim?
- Certo! Já que estamos sendo transparentes, lá vai: você está me traindo com o Celão, não está?
- É claro que não! Eu te amo, seu burro, idiota, cafajeste… - E voltou a me dar soquinhos, sem quase nenhuma intensidade agora.
- Qual é, Sophie!? Eu achei até embalagem de camisinha em nossa suíte, caramba! Será que pareço ser tão idiota assim?
- Meu Deus, Arnaldo… - Ela resmungou, escondendo a face nas suas duas mãos e me encarando logo após: - Fica aqui, eu já volto. Não sai daqui!
Ela então me deu as costas e foi para a nossa suíte, retornando rapidamente para a sala com um frasco nas mãos que me entregou. Então, antes que eu pudesse identificar o conteúdo, falou:
- Era sim plástico de uma embalagem, mas não de camisinha. Era desse lubrificante aí.
- Ah, tá bom… - Desdenhei, sorrindo de forma debochada: - E para que isso, se nós nunca usamos? Aliás, você fica bem molhada quando a gente transa, então para que?
Ela balançou negativamente a sua cabeça e antes que me respondesse, eu comecei a jogar todas as provas e evidências que eu tinha sobre ela. Expliquei então tudo o que eu vinha observando acontecer bem debaixo do teto da minha casa. Ela me ouviu de olhos arregalados, mas sem interromper uma vez sequer, aliás, às vezes, notei que ela se surpreendia um pouco mais, pois sua expressão de surpresa aumentava, mas ela nada falava. Quando terminei de falar, surgiu um silêncio quebrado por ela pouco depois:
- Por que… você… não falou… isso comigo… antes? - Ela perguntou pausadamente: - A gente já teria conversado e se entendido, amor!
- Porque… Porque… Sei lá, porquê! Eu só via acontecer e até tentei reclamar algumas vezes, mas você sempre tinha uma desculpa pronta para tudo, dando a entender que nada estava acontecendo.
Sophie colocou uma mão na testa, como se medisse a própria temperatura e respirou profundamente. Enfim falou, mas agora sem me encarar:
- Eu não estou entendendo… Vamos supor que tenha acontecido algo entre mim e ele, ok? Por favor, só supondo… Não era isso que você havia me proposto há algum tempo atrás?
- Do que você está falando?
- Daquele negócio de vida liberal, swing, etc. e tal.
- Você lembra qual foi a sua resposta quando eu te propus aquilo? - Falei e tentei imitá-la da forma mais caricata possível, inclusive requebrando: - “Você está louco, Arnaldo!?”, “Sou uma mulher de família, católica, séria!”, “Só pode ser desculpa para você voltar para a gandaia!”, “Isso nunca irá acontecer comigo, está entendendo? Nunca!”, “Se quiser viver essa vida, me avisa logo e arruma outra, porque comigo não vai rolar.”
- Foi! Mas as pessoas mudam, amor. Eu talvez só precisasse de um tempo para pensar melhor.
- Está me dizendo que vocês…
- Não! Eu nunca te traí! Para de ficar imaginando essa besteira. Nunca fiz ou farei nada para deixar de te amar. Simplesmente, eu só me divirtia com a presença do tio aqui. Só isso! - Frisou.
O pior é que ela acreditava piamente no que me dizia. As suas expressões, as falas, a postura, o olhar assertivo e objetivo, tudo indicava que ela falava a verdade. Ainda assim, eu não conseguia acreditar e tive a ideia de confrontar os dois. Como advogado, eu sabia que numa acareação dificilmente ambos conseguiriam manter a mesma história por todo o tempo:
- Cadê o Celão? Ele também deveria estar participando da conversa…
- Foi embora.
- Como assim?
- Ele foi embora! Ele disse que não queria ser causador de uma crise entre a gente e simplesmente foi embora hoje cedo.
- Mas foi para onde?
- Eu não sei. Só sei que foi.
Fui até o meu quarto e me vesti, saindo para trabalhar. No escritório, conversei com o meu patrão sobre os últimos acontecimentos e ele insistiu na tese de que eu só tinha indícios, presunções, mas nenhuma prova de traição alguma. Além disso, ele insistiu na tese do investigador. Como eu já tinha conversado com a pessoa por ele indicada, acabei contratando-o que se incumbiu de acompanhar os passos da Sophie por 15 dias.
Os dias passaram arrastados. No final de cada semana, eu me reunia com o investigador que me entregar relatórios, fotos e vídeos da Sophie, todos negativos, pois a rotina dela se mantinha fixa entre nossa casa e a academia. Tive a ideia de pedir que ele ampliasse a investigação, também seguindo o Celão e o resultado foi o mesmo: nada! Ele também tinha uma rotina fixa de pensão, curso e bar com os colegas.
Parecia que eu e a Sophie não iríamos mais nos entender. Entretanto, após o último relatório conjunto do investigador, dando conta de que eles não se encontravam, numa noite, embalados por um vinho e uma pizza, acabamos transando, sem muito entusiasmo da minha parte, mas bastante da dela e nos dias seguintes, ela parecia querer se entregar ainda mais para mim e deixou isso claro:
- Pede o que quiser. - Ela falou, caprichando na voz rouca e sensual.
- Já está bom assim.
- Não! Estou falando sério. Peça o que quiser, que eu topo.
- Não sei. Anal?
Ela se colocou de quatro e pediu que eu pegasse o lubrificante no seu criado mudo. Besuntei o seu anelzinho e tivemos uma transa deliciosa. Depois, deitados, com ela sobre o meu peito, ela insistiu:
- Quando eu disse qualquer coisa, estou falando sério.
- Como assim, Sofi?
- Tudo, tudo, tudo… Se você ainda quiser ir na casa de swing, a gente pode ir, mas já vou avisando, para a gente se relacionar com alguém, só se pintar um clima mesmo. Não quero nada forçado.
Falei que pensaria a respeito e a vida seguiu. O nome do Celão simplesmente desapareceu do nosso vocabulário nesses dias e isso me fez pensar que talvez poderíamos superar aquele momento difícil em nosso relacionamento, mas aí veio o último flagra.
Num dia, nem me lembro qual, durante a tarde, tive que ir despachar com um juiz no foro central e depois fui até o escritório de um colega, buscar alguns documentos para terminar um parecer conjunto que finalizaria um acordo entre clientes em comum. Quando já estava dentro do meu carro, dando a partida, vi, não muito longe, uma figura bem conhecida caminhando calmamente na calçada, indo na direção de um shopping próximo. Era o Celão, eu não tinha dúvidas, afinal, ele era um baita negão de quase dois metros de altura, com cabeço raspado, barba bem cheia e forte igual um touro. Ele estava vestido com um jeans azul e uma camiseta branca, bem básicas e seu inseparável coturno.
Naquele horário, ele deveria estar no curso. Então, imaginei que devia estar indo encontrar algum colega ou um rabo de saia. Eu estava certo, porque rapidamente vi uma loirinha de corpo escultural sair de dentro de uma loja e correr para grudar apaixonadamente em seu braço. Aquela bunda e curvas eu conhecia bem, era a Sophie.
Desliguei o meu carro e decidi segui-los a pé, mantendo uma certa distância. Logo, entraram no shopping. A forma como agiam me deixou extremamente incomodado. Claramente havia mais do que amizade entre eles, era quase uma intimidade que não deveria existir entre tio e sobrinha, afinal, ambos eram casados e com pares diferentes. Até um selinho trocaram e eu, num ímpeto, saquei o meu celular, mas não consegui registrar esse flagra. Entretanto, discretamente passei a tirar fotos e fazer vídeos curtos deles, andando pelos corredores, parando em frente a vitrines, até dentro de uma loja de moda íntima, com ela colocando alguns sutiãs por cima dos seus seios enquanto ele opinava.
Quando eu já imaginava desmascará-los em público, fazendo o papel do corno injustiçado, recebi uma ligação do meu patrão, perguntando o porquê do meu atraso. Contei onde estava e o que estava fazendo, ele entendeu e me deu um único conselho:
- Traga provas! Não faça justiça com as próprias mãos porque se você fizer, perderá a razão. Desmascará-los em público poderá ainda te dar dor de cabeça. Traga apenas as provas e deixa que eu cuido do resto.
Desligamos e quando voltei a minha atenção para os dois, eles haviam sumido. Andei por alguns corredores, mas nem sinal deles. Então tive uma ideia boba, mas potencialmente funcional: liguei para a Sophie. Ela ainda demorou um pouco para me atender:
- Oi, amor. Que surpresa! - Ela me disse.
- Qual a programação para hoje, Sofi? - Perguntei.
- Sabe que eu não pensei em nada. Tem alguma sugestão?
- Não. Eu até pensei em… - Calei-me por um instante, ouvindo sons de vozes e falei: - Ué! Você não está em casa?
- Estou sim, por quê?
- Estou ouvindo barulhos, vozes…
- Ah, é a televisão! Eu estou assistindo um filme.
- Sei… Bom, então tá! Vou trabalhar e nos vemos mais tarde.
- Tudo bem. Ah! Amor, vou para a academia daqui a pouco e devo voltar bem tarde, tá bom? Vou participar de uma maratona com alguns novatos e talvez consiga uns novos aluninhos para dar um “up” em nosso orçamento.
- Ótimo, amor. Espero que dê tudo certo.
Enfim, ela cometeu uma falha, pois eu conhecia todos na sua academia, já que treinava lá também. Liguei para o meu chefe e expliquei a minha ideia para ele, sendo dispensado de retornar ao escritório. Fui para casa e me troquei, indo para a academia. Ali fiquei de tocaia, esperando a sua chegada e, como eu esperava, ela não apareceu. Cheguei a perguntar sobre o tal dia dos novatos e a atendente disse que seria no dia seguinte. “Eureka”, sorri para mim mesmo.
Voltei para casa quase às 20:00 e somente as 21:00, Sophie apareceu, com sua roupa de treinamento e uma baita cara de cansada, certamente de uma “maratona”, mas não na academia e sim em algum motel fuleiro. Eu não precisava de mais nada, já tinha todas as provas. Decidi que o meu martírio acabaria ali. Levantei-me do sofá para confrontá-la:
- Ora, que moça mais prendada. - Falei sarcasticamente e depois perguntei, sorrindo: - Estava até agora na academia, amor?
- Nã-não. - Falou com uma voz meio trêmula.
- Ué!? Mas você não tinha um treinamento para novatos e não sei o quê?
- Eu me confundi. Eu… não estava muito bem hoje e… - Suspirou profundamente e me olhou entristecida: - Bem, não tenho porque esconder isso de você. Acabo de vir do hospital, amor. Eu passei mal, vomitei na minha outra roupa, enfim, foi um horror. Fui levada para lá e… - Suspirou novamente, desviando o olhar por um segundo, mas voltando a me encarar rapidamente: - Eu estou grávida, amor. Nós vamos ser pais.
OS NOMES UTILIZADOS NESTE CONTO E OS FATOS MENCIONADOS SÃO TOTALMENTE FICTÍCIOS E EVENTUAIS SEMELHANÇAS COM A VIDA REAL É MERA COINCIDÊNCIA.
FICA PROIBIDA A CÓPIA, REPRODUÇÃO E/OU EXIBIÇÃO FORA DO “CASA DOS CONTOS” SEM A EXPRESSA PERMISSÃO DO AUTOR, SOB AS PENAS DA LEI.