Oi, pessoal. quero desejar um FELIZ NATAL para todos vocês.
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Neste Natal, que a paz, o amor e a esperança se renovem em cada coração. Que possamos celebrar as conquistas do ano, fortalecer os laços com quem amamos e semear bondade ao nosso redor.
Que o espírito natalino nos inspire a ser luz na vida uns dos outros, valorizando os momentos simples e a beleza da união.
Desejo que sua casa seja cheia de risos, abraços calorosos e alegria verdadeira. Que a magia desta época traga novos sonhos e forças para realizá-los.
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Segue o capítulo de hoje:
Às vezes, a vida na estrada pode ser tediosa. A paisagem passando pela janela, os mesmos sons do motor, o mesmo ritmo repetido de dias que parecem se misturar. Mas há algo que sempre quebra essa monotonia: descobrir mais sobre as pessoas ao meu lado. Afinal, cada parada, cada conversa e cada experiência juntos tornavam a viagem única.
Na maior parte do tempo, o Beto ficava ao meu lado como copiloto. Ele tinha um jeito tranquilo, quase hipnotizante, de observar tudo com curiosidade, como se estivesse absorvendo cada detalhe do mundo ao nosso redor. Quando passamos pela capital do Uruguai, Montevidéu, decidimos explorar o mercado público e experimentar a famosa parrillada uruguaia. Era a primeira vez do Beto com aquele estilo de churrasco, e ele ficou encantado. Era fácil notar como ele se apaixonava pelas pequenas coisas — um sabor diferente, um novo ambiente, até o jeito como o fogo dançava sobre a carne.
Ficamos dois dias na cidade. Infelizmente, nenhum camping da região estava disponível, por esse motivo estacionamos o Leopoldo em um famoso supermercado de Montevidéu. Eu amei a energia desse lugar. Para descansar, fomos em uma famosa boate, a Lotus. O ambiente estava muito divertido e pudemos extravasar um pouco.
Sabe quem se deu bem? O Benê. Ele beijou umas 10 meninas naquela festa. Não vou julgar, se eu tivesse a chance faria a mesma coisa. Porém, fiquei acanhado por causa do Beto. Ele também me pareceu ser uma pessoa que não curtia muito festas.
Após uma ressaca colossal, deixamos o último dia para dormir, pois os próximos passos seriam primordiais para o sucesso da viagem. A fronteira com a Argentina estava próxima e nada poderia sair do controle.
— Alguém quer mais café? — meu irmão perguntou, levantando e indo em direção a cozinha. Quem guiava o Leopoldo era o Beto.
— Eu aceito. A minha cabeça está rodando. — afirmei, jogado no banco do passageiro ao lado de Beto. — Desculpa por ontem. — pedi. — Eu sempre perco a linha.
— Tudo bem. — ele disse. — Depois que você vomitou no carro daquele taxista ficou mais calmo. — rindo.
— Deus do céu! — coloquei a mão no rosto e fingi um choro.
Naquela noite, pernoitamos em Colonia del Sacramento, uma cidade de ruas de pedra e casas lindas no estilo português. Era como voltar no tempo. Aproveitei para lançar o drone e capturei imagens incríveis: a luz dourada do pôr do sol refletindo nos telhados de cerâmica e nas águas tranquilas do Rio da Prata. Enquanto isso, Benê encontrou um amigo inesperado — Beto, claro. Descobriram que ambos eram flamenguistas e, sem surpresa, passaram horas falando de futebol. Não entendo muito de esporte, mas gostei de ouvir os dois. É engraçado ver como o Benê se transforma, gesticulando e rindo como se conhecesse o Beto há anos.
Outra adição que amei neste grupo maluco foi o Piccolo. Ele era um gato muito carinhoso e adorava dormir perto de mim. O problema era quando o Benê se mexia na cama, ou seja, sempre havia arranhões no meu irmão, que tinha um sono pesado e não sentia os ataques do gato.
Numa segunda-feira de muito frio, começamos uma organização e arrumação do Leopoldo. A próxima etapa da viagem era pegar o Book Bus, um ferry que transportaria o Leopoldo para Buenos Aires. Poderíamos ter seguido por outro caminho, mas, segundo Benê, essa rota pelo mar seria muito mais emocionante. Ele estava animado como uma criança prestes a entrar em um parque de diversões.
Antes de embarcarmos, Benê resolveu fazer um mistério. Ele foi até o porta-malas e voltou com uma caixa. Tanto Beto quanto eu trocamos olhares curiosos enquanto ele fazia suspense, sorrindo como se guardasse o maior segredo do mundo.
— Pronto, guris, olhem só o que temos aqui. — meu irmão imitou o sotaque de Beto, enquanto colocava uma caixa em cima da mesa.
E lá estava: o "kit de sobrevivência" para a Argentina. Extintor de incêndio, dois triângulos, cambão ou cabo de aço de 1,5 a 2 metros... e, para nossa surpresa e desconforto, até um saco de necrotério.
— Sério, Benê? Um saco de necrotério? — perguntei, tentando não rir.
— Regras são regras, meu caro! — ele respondeu com uma autoridade teatral. — Não quero arriscar sermos parados por causa de algo que falta.
Beto balançou a cabeça, segurando o riso. Era típico do Benê: transformar algo simples em um grande espetáculo. E, de alguma forma, essas pequenas loucuras que ele trazia faziam a viagem ainda mais memorável.
— Inclusive, a passagem pelo Uruguai foi rápida. Acha que dava para ficar 1 semana em cada lugar. — falei, chegando meus documentos.
— Verdade, acho que na Argentina a gente pode pegar mais leve. Conhecer mais lugares e pessoas. — ressaltou Benê. — Quem sabe a gente não solta o Piccolo? Ia ser irado vê-lo se transformando em um gato selvagem. — Piccolo se aproximou de Benê e o arranhou na perna. — Não começa.
— Ei, piá! — exclamou Beto, pegando o gato nos braços. — Tá na hora de você se comportar. O Benê é amigo. Você sabe que a gente está de favor na casa dele, né?
— "O humano deveria se ajoelhar aos meus pés". — soltei, criando uma voz grossa e rouca para Piccolo.
Carta verde, passagem da balsa e nossos passaportes em mãos, atravessar a fronteira foi surpreendentemente tranquilo. Nem sequer abriram o Leopoldo para inspeção. Confesso que senti um alívio; sempre fico tenso nesses momentos.
O Beto assumiu a responsabilidade de dirigir o Leopoldo para dentro da balsa. Eu jamais teria habilidade para algo tão preciso, e o Benê, então? Nem pensar. Ele é ótimo para muitas coisas, mas manobrar um motorhome em espaço apertado não está entre elas. Assim que estacionamos, uma equipe nos orientou a subir para as cadeiras no nível superior da embarcação, enquanto a travessia acontecia.
Aproveitamos o tempo no convés para almoçar no restaurante da balsa e tirar algumas fotos do mar agitado. Foi quando me perguntei: seria essa a emoção que o Benê tanto descreveu? Mal sabia eu o que viria a seguir.
Logo comecei a me sentir estranho. Não queria parecer fraco na frente deles, mas o enjoo tomou conta. O cheiro salgado da maresia parecia cada vez mais intenso. Benê também não estava nos seus melhores dias, mas, para mim, a situação escalou rápido. Tentei resistir, mas, antes que percebesse, desmaiei por alguns segundos. Quando voltei a mim, estava apoiado no ombro do Beto, que, com calma, me levou até uma cadeira próxima.
— Melhor descansar, Quim. — disse ele, preocupado.
— É... acho que o almoço não combinou muito com a travessia. — murmurei, ainda zonzo.
Passei quase toda a viagem no banheiro. Enquanto isso, Benê tentava disfarçar o incômodo com o balanço do barco, e o Beto, claro, era o único que parecia imune ao caos da travessia.
Finalmente, após cerca de uma hora, a balsa atracou em Buenos Aires. Respirar ar fresco foi um alívio imediato. Descemos para seguir até o posto de controle de fronteira. Agora, sim, estávamos oficialmente em solo argentino.
Para nossa surpresa, os oficiais foram extremamente simpáticos. Tiraram fotos do Leopoldo, comentaram sobre a viagem, e uma das funcionárias se encantou com o Piccolo, que, como sempre, roubou a cena. Ele até ganhou um sachê de ração.
— Olha só, o reizinho da atenção! — resmungou Benê, cruzando os braços. — Comigo é só patada e garras.
— Carinho seletivo, meu amigo. — brinquei, guardando os documentos depois da inspeção.
— Pois é, né? — Beto entrou no motorhome, fechando a porta atrás de si. Ele se virou para nós, sorrindo: — Estamos na Argentina!
Eu, por outro lado, só queria descansar.
— Desculpa, gente. Eu sei que deveria estar emocionado, mas vou dormir. Esse remédio me derrubou. — avisei, indo direto para a cama. Não demorou muito para que o Piccolo pulasse ao meu lado, ronronando como se nada tivesse acontecido.
Enquanto eu me ajeitava, ouvi Benê se sentando no banco do passageiro, ao lado do Beto.
— Então, ciclista, tá contigo agora. — disse ele, batendo no ombro do Beto. — Já coloquei as coordenadas do camping no navegador.
— Tem certeza de que o Quim tá bem? — perguntou o Beto, olhando para trás.
— Claro que tá. Esse aí é cheio de frescura! — Benê respondeu alto, com aquele tom de provocação que só ele sabe usar.
— Teu cú! — retruquei, jogando uma almofada na direção dele.
Acordei sentindo o corpo um pouco mole, mas o enjoo da balsa já havia passado. Ao meu lado, encontrei um bilhete do Benê e do Beto:
"Fomos ao mercado fazer compras. Aproveita pra descansar mais um pouco, já voltamos. – Benê & Beto."
Olhei para o Piccolo, que estava aninhado aos meus pés, como sempre um gato leal. Passei a mão em seu pelo macio antes de me levantar. Peguei uma garrafa de água na pequena geladeira e dei alguns goles enquanto observava o ambiente pela janela do Leopoldo. O céu já estava escuro, um breu absoluto. O inverno argentino fazia a noite chegar mais cedo, e o clima frio cortava o ar, mesmo dentro do motorhome.
Senti um misto de irritação por ter sido "abandonado", mas sabia que minha saúde precisava vir em primeiro lugar. Aproveitei a oportunidade para explorar o camping. O lugar era bonito, com árvores altas e caminhos bem cuidados, mas o frio me pegou de surpresa. Encolhido dentro do meu casaco, logo decidi que seria melhor voltar e me aquecer.
Antes de entrar, liguei o cabo de energia para poupar as placas solares e também ativei a antena de internet via satélite. Resolvi tomar um banho quente, algo necessário depois do caos da travessia. A água quente me trouxe um alívio imediato, como se lavasse não só o corpo, mas o cansaço acumulado do dia.
Claro que aproveitei para bater uma, eu não sou de ferro. Sabe quem veio à mente? Beto. Puta merda.
Quando terminei, ouvi vozes animadas do lado de fora. Era a "duplinha dinâmica", como eu costumava chamá-los, retornando. Benê entrou com duas pizzas gigantes nas mãos, enquanto Beto carregava sacolas cheias de alimentos.
— E aí, feio adormecido? — Benê perguntou, com um sorriso travesso. — Perdeu altas aventuras no supermercado.
— Altas aventuras? — perguntei, desconfiado.
— As gatinhas da Argentina, mano! — ele respondeu, rindo. — Ah, e o Beto foi paquerado por várias mulheres. Até ganhou um chocolate de uma delas.
Senti uma pontada de ciúme, mas logo sacudi a cabeça, lembrando a mim mesmo que não havia nada entre nós.
Com tudo organizado, nos sentamos para comer as pizzas enquanto assistíamos a um episódio de MasterChef. Virou uma espécie de ritual para nós; eu era apaixonado pelo programa e, sem querer, acabei viciando os dois.
— Guria burra! — exclamou Benê, antes de colocar uma fatia de pizza na boca. — Queijo canastra é ótimo para fazer uma quiche. — soltou entre uma mastigada e outra. O garoto parecia um leão comendo uma presa.
— Claro, Benê. — soltei. — A moça tem 10 minutos para tirar um prato do rabo. Acha que ela vai escolher uma coisa elaborada? Tenho certeza que omelete é mais fácil. Vai nessa irmã. — falei como se a competidora estivesse me escutando.
— Omelete é uma boa, Quim. — Beto concordou comigo.
— Omelete é uma boa, Quim. — Benê imitou Beto.
Enquanto os jurados discutiam o prato de um participante, começamos a planejar os próximos quatro dias em Buenos Aires.
— Eu soube que tem uma boate incrível aqui. A entrada lembra um prédio do Corpo de Bombeiros dos Estados Unidos. — Benê comentou, empolgado, enquanto mexia no celular.
— Jura? — perguntei, me inclinando para ver a tela. — Caraca, parece incrível!
— Vamos reservar uma noite pra isso. Só uma, hein! — disse Beto, levantando-se para lavar a louça.
Decidi levar meu copo até a pia, mas acabei me encostando nele sem querer. Foi um toque breve, mas senti um calor subir pelo corpo, como se um pequeno choque tivesse percorrido minha pele. O cheiro de sabão e shampoo que emanava dele só tornava tudo mais difícil de ignorar. Disfarcei rapidamente, desviando o olhar, enquanto ele continuava a lavar os pratos como se nada tivesse acontecido.
— Preciso transar. — balbuciei.
— Oi? — Beto questionou virando-se para mim.
— Preciso deitar. — disfarcei. — Eu preciso deitar. — espreguicei e bocejei. — Muito sono.
Do outro lado, Benê estava distraído, tentando pegar mais um pedaço de pizza. No entanto, a fatia escapou de suas mãos e caiu no chão. Antes que ele pudesse se abaixar para pegar, Piccolo já havia entrado em ação.
— Ei! Deixa pra lá, fica com a pizza! A pizza é tua! — choramingou Benê, levantando as mãos em rendição, enquanto o gato devorava o pedaço como um verdadeiro rei.
Decidi. Vou transar com um argentino. Eu tenho sonhos com o Osmar, que conheci no Brasil. E agora quem aparece é o Beto. São sonhos quentes e que me deixam molhado. Quando deitei na cama, abri o 'Vrinder', o aplicativo de pegação e comecei a olhar os perfis. Será que vai rolar?