AXEL: O ATLETA EM BUSCA DE UM PRÓPOSITO
Axel era conhecido por sua superficialidade e, em suas interações diárias, frequentemente mostrava insensibilidade. Sua falta de perspicácia ficava evidente nos relacionamentos mais próximos, e ele se tornava tão trivial que esquecia de suas próprias qualidades. Frequentador assíduo de uma boate, Axel destacava-se pela influência que tinha sobre os clientes compradores de drogas, apesar de não ser usuário. O proprietário da boate, responsável pelos negócios ilícitos, notou essa habilidade e propôs a Axel que assumisse a função de traficante da casa. Axel aceitou prontamente, mas nunca teve contato com o chefe do tráfico, lidando apenas com o dono da boate, que cuidava da logística das drogas.
Axel, que se identificava como bissexual, intensificou com o tempo suas relações sexuais com pessoas do mesmo gênero devido à predominância do público gay na boate. Essa abordagem não passava de uma estratégia de negócios para Axel, que nunca se envolvia emocionalmente com os usuários gays. No entanto, mantinha uma certa esperança para aqueles que flertavam com ele, sem se comprometer. Com seu novo status, Axel tornou-se ainda mais notável na comunidade gay, e seu papel como traficante o levou a rever seus critérios de escolha de parceiros. Antes, Axel avaliava apenas a aparência física, mas com o tempo tornou-se mais arrogante, ignorando as qualidades internas das pessoas.
Com o tempo, o proprietário da boate, preocupado que essa mudança pudesse prejudicar os negócios, acordou com Axel que ele não deveria vender drogas no local, mas em pontos designados. Ficou claro que Axel não poderia vender aos clientes da boate sob hipótese alguma. Relutantemente, Axel concordou com esses termos e suas visitas à boate tornaram-se esporádicas. Mesmo assim, os usuários gays continuavam a procurá-lo. No entanto, Axel, sempre respeitoso com os clientes da boate, recusava suas demandas, mantendo-se fiel ao acordo. Esse comportamento leal reforçou a confiança do proprietário em Axel.
***
O primo de Axel, Léo, carinhosamente chamado de Leleco, o admirava profundamente. Eles se comunicavam de tempos em tempos, e Axel, sempre dedicado ao corpo, costumava telefonar para Léo e perguntar sobre seu progresso nos treinos de jiu-jitsu com o pai. Durante uma dessas conversas, Léo confessou que não gostava muito do esporte; fazia isso apenas para agradar ao pai.
Durante uma dessas conversas, os primos decidiram trocar fotos para comparar os resultados dos treinos. Axel ficou surpreso com a forma de Léo e elogiou seu progresso, dizendo que os treinos estavam valendo a pena. Léo, no entanto, admitiu que o corpo de Axel era mais bem trabalhado, o que o deixou um pouco constrangido com a comparação. Para mudar de assunto, Léo sugeriu que Axel considerasse fazer uma tatuagem.
Intrigado, Axel perguntou o porquê da sugestão. Léo explicou que uma tatuagem ficaria bem nele, considerando seu físico bonito. Apesar de hesitar em relação à imagem que uma tatuagem poderia projetar, Axel reconsiderou a ideia. Como pretexto para estar mais perto do primo, convidou Léo para passar um tempo na capital e juntos encontrarem um bom tatuador. Léo aceitou e prometeu viajar na semana seguinte, planejando passar alguns meses ao lado de Axel.
Na noite após a conversa com Léo, Axel saiu para fazer suas vendas. Ao voltar, lembrou-se de um cara que conhecera em uma das noites na boate. Eles se viam esporadicamente, e o rapaz tinha uma tatuagem bem discreta na panturrilha. Decidido, Axel o levou para seu apartamento. Depois de algum tempo juntos, Axel perguntou quem havia feito a tatuagem. O ficante respondeu que apenas tinha o número do tatuador, que havia deletado o site onde compartilhava suas artes.
— Mano, o cara manda bem demais. Só não fala que eu fui eu que te passei o contato Beleza?
— Qual foi, por que eu não posso falar que te conheço? Por que ele é GP? — Perguntou, franzindo o cenho.
— Ele não é não..., mas esquece isso é só um tipo de logotipo dele.
— Tô ligado, mas passa a visão aí dele. — insistiu Axel.
— Ele parece que ele não bota muita fé nas pessoas... Troca ideia com ele. Vai curtir fazer tua tatoo, ainda mais onde esse homem quer. — respondeu o ficante. — Mas ele é de boa; só acho que age assim porque não tem muita amizade.
— E como tu sabe que ele não tem uns parças? — Axel questionou desconfiado.
— Porque quis fazer minha tattoo igual a dele. Aí ele soltou que só fazia em quem ele considerasse que fosse seu amigo. Ai ele fez uma parecida — explicou.
Axel observou a panturrilha do ficante com atenção, admirando a perfeição da tatuagem. Satisfeito com as informações, ele decidiu entrar em contato com o tatuador. O contato “Hiroshi GP” foi editado por Axel em seu contato por “Hiroshi Tatoo”, após diversas chamadas via operadora sendo rejeitadas, nos dias antes de seu primo chegar na capital.
Axel queria que, quando Léo o visitasse, ele já tivesse a tatuagem pronta. Seu subconsciente era dominado por essa vontade.
***
Léo tinha Axel como um verdadeiro guia. Contudo, ao chegar à casa do primo, percebeu a ausência de livros e suspeitou que Axel havia desistido da faculdade. Ao ser confrontado, Axel admitiu que realmente havia abandonado o curso, pois não se identificava, e ainda revelou seu envolvimento com o tráfico.
Léo, sem julgá-lo, perguntou curioso sobre como Axel usava o dinheiro enviado pelos pais para seu sustento. Axel explicou que estava guardando, mas confessou que só começou a economizar depois que entrou no tráfico. Ele sabia que, cedo ou tarde, precisaria contar a verdade aos seus pais e estava se preparando para ter um plano para o futuro.
Léo sugeriu que Axel considerasse explorar seus contatos na vida noturna em busca de novas oportunidades diferentes do tráfico. Ele prometeu manter em segredo sobre a situação, especialmente em relação aos pais de Axel, já que o pai de Axel era irmão do pai de Léo. No entanto, a situação financeira entre os dois tios era drasticamente diferente: enquanto o pai de Axel desfrutava de uma vida confortável, o pai de Léo enfrentava dificuldades financeiras há muitos anos.
Dias depois, refletindo sobre a sugestão de Léo e percebendo que seus lucros estavam diminuindo, Axel considerou deixar o tráfico. Ele encontrou essa justificativa financeira plausível e pediu para sair do negócio. O proprietário da boate conversou com Axel, tentando convencê-lo a continuar reafirmando sua confiança nele. Propôs ainda que Axel retomasse suas noites na boate como traficante. Embora tentado, Axel recusou, revelando que não queria mais trabalhar com drogas.
O dono da boate compreendeu e deixou Axel ir, mas Axel não sabia que estava sendo testado. Esse teste indicaria se ele estava realmente comprometido a deixar aquele estilo de vida ou se era apenas uma fase passageira.
***
Semanas depois, o dono da boate chamou Axel para uma conversa, expressando que confiava nele para gerenciar um local estratégico que havia adquirido algum tempo atrás. Curioso, Axel perguntou se se tratava de uma boate, mas o proprietário explicou que não, era um bar que um parente distante, em quem ele não confiava muito, estava administrando há alguns meses.
Antes de aceitar, Axel quis entender como os negócios estavam indo. O proprietário expressou suas preocupações, revelando que temia que seu parente estivesse vendendo drogas dentro do estabelecimento, o que poderia comprometer o lugar. Ele desejava um ambiente limpo, livre de drogas, para poder lavar dinheiro. Ao ouvir isso, Axel finalmente compreendeu a situação e perguntou se poderia gerenciar o local da maneira que achasse melhor.
— Pode fazer do seu jeito. Só não quero drogas lá. E outra coisa: meu parente só está lá porque quer reconquistar a esposa, então não o demita, pelo menos por enquanto — disse o proprietário.
— Você tá me pedindo? Você é o chefe, cara. — Questionou Axel, surpreso.
— Axel, você vai descobrir muitas coisas ruins sobre esse homem. Tente fechar os olhos por enquanto. Ele me pediu apenas alguns meses até conseguir voltar para a esposa; depois, voltará a fazer o que gosta. Então, faça de conta que você é um sócio meu e que vai estar lá só até garantir que esteja tudo bem, com o tempo ele vai embora — explicou o dono.
Axel ouviu atentamente, questionando-se se conseguiria lidar com o negócio. Perguntou até quando precisaria fechar os olhos, e seu patrão respondeu:
— Até ele sair ou até o dia em que você identificar a venda de drogas.
Axel aceitou o desafio, assegurando que conseguiria resolver a situação o quanto antes, mesmo que, por dentro, não estivesse tão certo disso. O proprietário, então, enviou a localização do bar e pediu que Axel fosse lá no dia seguinte, apresentando-se como o sócio e novo responsável ao parente que estava cuidando do lugar.
No mesmo dia, ao voltar para o apartamento, Axel contou a Léo sobre a proposta que havia recebido. Léo se mostrou empolgado e deu total apoio ao primo. Axel pediu a Léo que fosse ao bar para sondar o ambiente. Devido à sua altura e porte físico, Léo sempre aparentou ser mais velho. Ele concordou, e Axel o deixou na esquina do bar, recomendando que não bebesse muito.
Depois de deixar o primo, Axel retornou para o apartamento e passou mais de duas horas esperando. Preocupado com a demora, decidiu ligar para Léo, que atendeu com a voz um pouco confusa. Axel decidiu ir buscar o primo. Ao chegar na esquina, novamente ligou e encontrou Léo, que estava visivelmente embriagado.
A visão de Léo naquela condição incomodou Axel. Ao levá-lo de volta ao apartamento, Léo tentou se explicar, enquanto Axel o ajudava a se recuperar, insistindo para que ele contasse o que havia acontecido, mas que tomasse um banho logo.
Léo começou a falar sobre muitas coisas, enquanto se banhava. Em um momento, Léo revelou que um dos garçons havia oferecido droga a ele. Ao ouvir isso, Axel sentiu uma onda de raiva e gritou que iria até o bar ver o garçom, já procurando a chave da moto e segurando o capacete com os braços rígidos.
Léo, ainda molhado, saiu correndo do banheiro totalmente nu, e agarrou o primo, impedindo-o de sair. Compreendendo a resistência de Axel, ele explicou que não havia usado nada. O contato inesperado entre os corpos fez Axel estremecer, despertando em si um desejo que havia enterrado no subconsciente. Após um breve momento, Axel se acalmou e Léo o soltou; Axel se afastou, evitando olhar Léo, e disse que já estava mais calmo, mas tornou a perguntar se o primo havia aceito a oferta de drogas. Léo tocou seu ombro e garantiu que nunca usaria drogas, antes de voltar rapidamente para o banheiro, percebendo que Axel estava, de fato, mais calmo.
***
Quando Léo saiu do banheiro, começou a se secar na frente de Axel, que ficou visivelmente desconcertado. Notando o olhar fixo do primo, Léo perguntou o que Axel observava com tanta atenção. Tentando disfarçar, Axel desviou os olhos, como se estivesse perdido em pensamentos.
— Qual foi, mano? Tá bolado com o quê? Desembucha logo o papo aí. — disse Léo, se enrolando na toalha, com a marra que absorveu de Axel no curto tempo em que estavam próximos.
Para justificar sua fixação, Axel pensou em algo aleatório. Ele se levantou e apontou para a parte inferior do abdômen de Léo, fazendo com que o primo desdobrasse a toalha, curioso sobre o que estava acontecendo. Axel tocou na lateral abaixo da cintura de Léo, justo ao lado dos pelos pubianos.
— Quero fechar uma tattoo aqui, Leleco, mas ainda tô na dúvida do que fazer. — Axel respondeu, tentando manter a seriedade, mas com o olhar fixo em uma área específica do corpo de Léo.
Léo olhou para baixo e questionou por que escolheria exatamente aquele local. Axel explicou que era um lugar escondido e que ainda não queria algo exposto.
— Aí, parceiro, naquele dia eu só joguei a ideia. Tu faz se tiver na pilha, tá ligado? Eu nem lembrava mais dessa fita. — Léo respondeu, dando de ombros.
— Porra, Leleco, para de me chamar de parceiro, mano. Esse bagulho soa estranho pra caralho. — Axel retrucou, com um semblante meio desconfortável.
Léo percebeu o olhar insistente do primo pro seu membro, desconfiou e se afastou. — Estranho é tu ainda me chamar de Leleco, tiozão.
Axel riu, e Léo, sem perder a oportunidade, se virou e deu uma sacudida provocativa. — Tá vendo aqui o "Leleco", parceiro?
Axel decidiu brincar com o primo: correu e agarrou o pênis de Léo, sorrindo:
— Qual é, primo? Tá achando que tô na fita disso aí? Fala sério, tô falando da tatoo mesmo.
— Sei... tava até começando a achar que sim. Tu não parava de mirar pro meu pau, pô! — Léo devolveu, rindo e se afastando.
Axel deu uma risada nervosa e bagunçou o cabelo de Léo. — Para de caô, Leleco! Só olhei porque o bagulho é grandão, fi. Bem maior que o meu. Tu anda fazendo o quê?
— Caô o caralho! Mais um pouco olhando e eu ia mandar tu meter logo uma mamada, doido! — Léo respondeu na brincadeira, mas com um tom que deixava Axel na dúvida.
— Na moral, mano, eu tô falando sério sobre a tattoo. A ideia que tu jogou só me fez pensar numa parada que eu já tinha em mente, mas nunca fiz porque estava sem inspiração. — Axel mentiu, desviando o olhar.
— Então fecha uma na bunda com "me fode" escrito, tá ligado? Vai ficar da hora. — Léo respondeu, rindo e fazendo o gesto como se segurasse um cartaz.
Axel ficou intrigado, mas decidiu perguntar: — Tu tá achando que eu curto homem, é?
Léo riu alto, balançando a cabeça. — Pô, na moral, você curte sim, mano! Desde aquele dia que tu me pediu pra vazar do apê e, quando voltei, o quarto tava trancado. O cara gemendo mais que uma atriz pornô, fi. Putaria da porra, Axel. Foi só ele descer a escada que tu já me ligou...Tu é péssimo em disfarçar.
Axel admitiu a verdade, e os dois riram.
— Mas eu ainda não dei não, tá ligado? AINDA, viu. — Axel respondeu com um sorriso de canto, deixando a indireta no ar.
— Ah, então tu só tá no corre de comer os gays, AINDA né? — Léo perguntou, fazendo movimentos de vai e vem com a mão no ar, zoando o primo.
Axel apenas balançou a cabeça afirmativamente, um sorriso no rosto, tentando evitar olhar demais para Léo, que andava de um lado para o outro sem se vestir.
— Vai dormir, Leleco. Tá falando merda já. Tu tá procurando cueca, é? — Axel perguntou enquanto viu Léo pegar uma toalha de mãos em uma gaveta.
— Que nada, mano. Vou dormir assim mesmo. Tá um calor do caralho hoje. — Léo disse, se jogando na cama. — Só quero um lençol fino. Tu tem?
— Não, mas de boa. Fica na cama que eu durmo no colchonete. — Axel respondeu, tentando manter o tom tranquilo.
Curioso, Léo perguntou por que Axel havia tomado essa decisão. Axel explicou que Léo poderia dormir sem lençol e que, com a janela encostada, o vento ajudaria a diminuir o calor.
— Qual foi, cara? Nós dorme junto todo dia, pô. Tá com frescura agora? — disse Léo, se esticando na cama, cobrindo-se com a toalha e deixando o volume evidente, aparentemente despreocupado. — Eu sei que tu curte uns gays, mas nós é primo, pô. Eu curto buceta. Relaxa, mano. Deita aí que eu vou já apagar.
— Eu tô ligado, Leleco. — Axel disse com um sorriso meio forçado, se movimentando pra procurar uma toalha.
— Porra nenhuma, Axel. Só porque tu gostou do meu pau agora vai ficar com essa putaria, mano? Se curtiu tanto, apaga logo a luz e mete a boca, pô. — Léo disse rindo de lado, sempre provocativo.
Axel tirou a roupa, com a voz mais firme, mas com um sorriso debochado no rosto, perguntou:
— E se eu disser que tenho vontade de ver se é bom curtir de outro jeito?
— Porra, só dá, parceiro. Sem caô. Só que procura outro pau porque o meu não rola, não. — Léo respondeu, mexendo no celular sem nem olhar pra Axel.
— Tô zoando contigo, Leleco. Sai fora. — Axel disse, rindo enquanto pegava a toalha pra tomar banho.
— Sei... Tu pegou bandeira, tá ligado. Mas se eu tivesse metido numa buceta antes, tu ia ver uma coisa. — Léo piscou, provocando com um sorriso debochado.
— Para com essa viagem, Leleco. Não rola nada entre a gente.— Axel afirmou, balançando a cabeça em negativa.
— Sei... Eu tô ligeiro... Se eu já tivesse socado uma "boyzinha", eu ia dar a moral pra esse homem. Essa sua bundinha aí é massa, cara. — Léo dizia com os olhos pra o celular, mas um sorriso denunciando uma possível verde.
— Cara, melhor você não beber mais não, Leleco, papo torto esse seu. — Axel falou tentando só olhar nos olhos de Léo, mas se roendo pra apagar a luz. — Você só pode tá me tirando.
— Sei... Se eu tivesse as ideias desse homem, eu dava a primeira vez pra um primo. Melhor do que sair dando pra qualquer um, tá ligado? — Léo respondeu, zoando sem freio.
Axel riu, mas desviou o olhar desconcertado. — Tu tá bêbado, Leleco. Vai dormir que esse papo tá virando mó doideira. — Essas paradas só rola com droga, pô. E nem eu nem você usa o veneno.
— Relaxa, primo. Só estava gastando esse homem. Mas se quiser arrumar uma bucetinha pra gente dividir, tamo junto! — Léo respondeu, rindo e deixando a dúvida no ar.
Axel riu novamente, balançando a cabeça. O desejo que Axel sentia por Léo era inexplicável. Axel tinha um controle muito firme sobre o próprio corpo. Criando a capacidade de se conter até quando o tesão e o desejo estavam a mil.
Ao entrar no banheiro, considerou brevemente contratar uma garota de programa, mas logo descartou a ideia. Em um momento de devaneio durante o banho, considerou dar alguma droga a Léo, mas sua consciência rapidamente interveio, impossibilitando a ideia. Tentou compreender que tudo não passava de uma brincadeira.
Embora Léo estivesse aparentemente falando sério, o efeito do álcool deixava tudo em uma linha tênue entre a verdade e a brincadeira. Ao voltar do banho, percebeu que Léo havia vestido um calção e já estava roncando na cama. Axel balançou a cabeça, sorrindo com a situação, e se deitou ao lado do primo.
Com os pensamentos confusos e a conexão inexplicável que sentia por Léo, Axel se esforçou para afastar as idéias desconcertantes da cabeça, refletindo sobre a situação e sua preocupação com o bem-estar do primo. Ele prometeu a si mesmo que protegeria Léo de qualquer influência negativa. A começar por ele mesmo.
***
No dia seguinte, Axel se apresentou no bar com a intenção de conversar apenas com o parente do seu chefe. O velho o esnobou por causa da sua idade, mas Axel se manteve firme, afirmando que, a partir daquele momento, ele seria o responsável pela gestão do local. Ele deixou claro que, caso houvesse vendas ou consumo clandestino de drogas, não hesitaria em demiti-lo.
Surpreso com a atitude do jovem, o homem ameaçou ligar para seu parente. No entanto, Axel, demonstrando segurança, estendeu seu próprio celular. Isso fez com que o homem hesitasse e lembrasse que Axel, na verdade, não era funcionário, mas sim o “sócio” do local. Axel estava tão seguro de sua posição que o homem não teve alternativa a não ser aceitar que a situação era irremediável e reconhecer que Axel estava no comando.
A partir de então, a presença de Axel no bar era rápida e focada em entender os negócios. Ele se concentrava nos números e evitava contato próximo com os garçons. Sua postura impunha respeito, e sempre que estava presente, o chefe aproveitava o momento para chamar a atenção de algum garçom, tentando garantir a Axel que tudo estava sob controle.
Após algumas semanas, Axel se sentia empolgado por ter conseguido se afastar do mundo das drogas. Essa mudança de perspectiva o fez lembrar da ideia de fazer uma tatuagem, e agora era uma intenção genuína. Ele havia aguardado até então para não reforçar o estereótipo de traficante. Léo, por sua vez, já estava à procura de tatuadores desde o "mal-entendido” no apartamento, porem sem sucesso satisfatório.
Certo dia, o dono da boate chamou Axel para uma conversa reservada. Durante o diálogo, Axel esforçava-se para evitar suas habituais gírias, reflexo de suas convivências com clientes e parceiros, e procurava adotar uma postura mais profissional.
— Axel, meu parente pediu para eu conversar com você sobre uma contratação. Parece que o filho dele está tentando se reaproximar e pediu uma oportunidade no bar para um amigo, como um teste. Mas tem um detalhe... — começou o patrão, avaliando a reação de Axel.
— Ele é usuário ou já foi envolvido? — Axel perguntou diretamente, mantendo o olhar firme no homem.
— Pelo que entendi, não tem nenhum desses defeitos. Nada que degrade o ambiente. Mas parece que já tem experiência na área, apesar de ter surdez. — Confirmou o patrão, desconversando um pouco.
— Se não for rolar, só me fala que eu resolvo com ele. — Insistiu Axel, demonstrando maturidade.
— Não, Axel. Não vou dizer nada. Quem toma conta do bar é você. Se acha que ele serve, fale você mesmo. Mas se me permite um conselho, use isso como vantagem.
Axel estreitou os olhos, confuso. — Que tipo de vantagem?
— Você pode sugerir que sabe sobre o comércio de drogas por lá... — disse o patrão, observando a expressão de Axel.
— Você já sabia? — Axel perguntou, surpreso, com o semblante mais sério.
— Claro que sei. Ele pega comigo..., mas eu entendo por que você nunca me contou. Eu mesmo pedi que fechasse os olhos uma vez. Se você tivesse o denunciado de imediato, não iria provar sua lealdade e sim que sua ambição se sobrepõe a sua maturidade. E você, Axel, é maduro. Eu sei muito bem quem você é.
Axel inclinou-se ligeiramente à frente, interessado. — E quem você acha que eu sou?
O homem sorriu, mas não respondeu diretamente. — Você descobrirá com o tempo.
Axel respirou fundo, mas decidiu continuar no assunto. — Então, o que exatamente você espera que eu faça?
— Isso é com você. Mas sugiro que você pense rápido. Acabei de enviar uma mensagem para ele dizendo que você não aceitou. Isso vai fazê-lo conversar pessoalmente com você.
Axel recostou-se na cadeira, pensativo. Após alguns momentos de reflexão, respondeu:
— Vou propor uma aposta. Se ele conseguir aumentar o faturamento de bebidas com as vendas de drogas, eu saio do jogo. Mas se eu atrair clientes que não consumam e ainda assim tragam lucro, ele que terá que desistir.
O patrão arqueou as sobrancelhas, intrigado. — E quando pretende fazer isso?
— Agora mesmo. — respondeu Axel, levantando-se com determinação.
— E se ele recusar?
Axel sorriu de canto, confiante. — Ele não vai recusar. Ele quer essa chance para se reaproximar da família.
— E com pretende ganhar essa aposta? — o patrão insistiu.
Axel encarou o homem por alguns segundos antes de responder, com um leve sorriso. — Trapaceando.
O patrão riu baixinho, aprovando a ousadia. Em seguida, abriu uma caixa com drogas e a empurrou na direção de Axel. — Use os recursos que achar necessários. O resto é com você.
Axel pegou a caixa, ajeitou a jaqueta e saiu do escritório sem dizer mais nada. Era esse tipo de desafio que ele adorava vencer, mas no fundo independente do rumo da conversa que ia tomar com o parente de seu patrão, Axel iria dar a oportunidade ao jovem com deficiência auditiva, sem nem mesmo o conhecer, pois apesar de toda sua superficialidade, Axel na verdade era um homem de bom coração.
***
Quando conversou com seu sócio, Axel aceitou a contratação e fez a proposta e, após ouvir, o velho pediu um prazo. Axel disse que iria pensar no prazo. O sócio sorriu e previu que Axel iria perder. Axel desejou boa sorte.
Axel não comentou isso com Léo, que sempre falava sobre a tatuagem, mas Axel se negava a passar o número de Hiroshi. Nos dias seguintes, Axel permaneceu em seu apartamento, refletindo sobre como agir da melhor forma. Embora estivesse liberado para contatar clientes, sentia temor de um efeito reverso devido ao seu afastamento e não queria usá-los tão descaradamente.
Na quarta-feira da semana seguinte, ele finalmente ligou o celular que estava guardado, que usava apenas para os negócios, e discou para seu ficante, pedindo desculpas pela distância e convidando-o para ir ao seu apartamento naquela noite. Axel almejava, após uma noite de sexo com seu parceiro, seguir com a proposta para que ele o ajudasse a atrair alguns clientes.
Axel tinha um plano a longo prazo bem pensado. Ele iria usar sua influência pra atrair seus antigos clientes pra lá, e para isso iria liberar drogas por conta dele, mas em troca os clientes teriam que consumir no bar e não comprar drogas no local.
Quando à noite o rapaz, com uma tatuagem na panturrilha, entrou, ele cochichou algo no ouvido de Axel. Axel rapidamente tentou disfarçar a mudança de clima e se dirigiu a seu primo.
— Ei, cara, por que você não dá uma volta? Vai relaxar um pouco — sugeriu Axel, entregando um pouco de dinheiro a Léo.
Léo, hesitante, concordou. — Beleza... Vou dar uma volta.
Desconfiado de que Axel pudesse estar envolvido com tráfico novamente, Léo, antes de sair, pegou sutilmente o celular de Axel, na esperança de encontrar alguma pista.
Fora do prédio, Léo abriu o aplicativo de mensagens e encontrou várias conversas não visualizadas com homens. Ele viu que a foto de perfil de Axel era apenas do próprio abdômen. Léo sorriu, pensando o quanto seu primo era "safado". Tentando encontrar alguma pista, achou um contato salvo como "Hiroshi tatoo". Foi quando Léo lembrou da empolgação do primo e resolveu aproveitar o momento pra adiantar o serviço.
Acendendo um cigarro, Léo enviou uma mensagem de áudio: “Você que é Hiroshi?”. Para sua surpresa, a mensagem foi visualizada rapidamente, mas sem resposta. Após alguns minutos de espera, Léo decidiu ligar do próprio aplicativo e foi atendido por uma voz ofegante.
***
No apartamento, após o sexo, Axel explicou seu plano para atrair novos clientes para o bar. No entanto, para sua surpresa, o ficante recusou imediatamente.
— Qual foi? Qual é a fita? — perguntou Axel, confuso.
— Primeiro, porque vai ser treta juntar esse povo todo dia nesse bar. Segundo, nem todo mundo tá na vibe de beber direto, sacou? E outra, Axel: mais cedo ou mais tarde, esses caras vão usar isso pra chegar junto de você. Nesse bar, tu vai depender deles.
— Tá, mas o que eu faço, então? — insistiu Axel, com a preocupação estampada no rosto.
— Tu não fechou a tattoo? Falou com o Hiroshi? — rebateu.
— Tentei, mas qual é a conexão disso com o rolê? — Axel perguntou, intrigado.
— Ele pode te dar uma força nisso também, mano. Confia em mim... só não vai dar a letra que tu me conhece. — disse o ficante, deixando Axel ainda mais perdido.
— Porra, tu nunca me explicou essa parada direito. — Axel reclamou, tentando entender.
— Relaxa, já eu desenrolo contigo. Agora deixa eu ver teu celular. Vai que o contato era errado, sei lá. — Sugeriu o ficante, com um tom prático.
Axel procurou o celular nos bolsos, mas nada. Sua expressão ficou séria.
— Ih, mano… acho que deu ruim… — Axel falou, sentindo o suor gelado subir. Léo veio à cabeça como o culpado.
Preocupado com o fato de o primo mexer em fotos íntimas, Axel se levantou rápido. — Leleco, com certeza, catou meu celular.
— Então resolve lá e depois me dá um salve. Não esquece de me passar o número pra eu conferir. — respondeu o ficante, tranquilo.
— Nada disso, tu vem comigo. Vambora! — Axel não deu chance para discussão, puxando o ficante pela mão e correndo em direção à garagem. Eles subiram na moto de Axel e dispararam na direção do bar, o lugar mais provável para encontrar Léo.
Chegando lá, Axel deu uma olhada pela janela e flagrou o primo em uma mesa com um asiático baixinho. O clima era de risadas e zoeira.
Nesse instante, o ficante de Axel travou, empalidecendo de repente. Ele puxou Axel pela camisa com um movimento brusco.
— Cara, não tenho tempo de falar, mas eu não vou poder ir ao seu apartamento mais.
— Por que? O que houve? — Axel questionou, preocupado.
— Eu nunca vi Hiroshi sorrindo desse jeito. — respondeu.
Axel escutou, intrigado, enquanto o ficante dizia que Hiroshi estava com problemas. Ele insistiu que, se a amizade do primo de Axel com Hiroshi fosse vingar, Axel ia precisar ajudar Hiroshi.
— Do que você está falando, cara?
O ficante prometeu explicar tudo outro dia, mas primeiro conhecesse Hiroshi.
***
O SURDO, O ATLETA E O ESTUDANTE
Ao entrar, Axel precisou potencializar sua agonia em relação ao celular pra conseguir desvincular a curiosidade que sentia. Teria que dar um jeito de fazer alguma tatuagem o quanto antes. Porem ao chegar, foi contido rapidamente pelo carisma acolhedor do garçom surdo, Davi, que ainda não havia conhecido. Porem o clima mudou ao vê-lo sendo cruelmente humilhado pelo patrão. Essa situação deixou Axel indignado; ele sabia que não podia ficar de braços cruzados. Percebeu que o velho, parente do seu patrão, era um homem sem dignidade. Fingiu subornar o homem para dar o ultimato de seis meses e que depois desse prazo um dos dois cairia fora.
Axel não queria que Davi soubesse que ele era o gerente. Pra isso o conduziu pra fora e tentou conversar com ele, mas Davi estava muito nervoso e não conseguia escrever nada. Hiroshi apareceu e Axel disse pra chamar Léo.
Depois que Hiroshi saiu do bar com Léo, Axel pediu que Léo que levasse o tatuador, Hiroshi ao seu apartamento pra escolher a tatuagem, enquanto continuava tentando conversar com Davi. Axel o conduziu até uma praça próxima, onde, começaram a conversar.
— Davi, meu mano, eu sei que você não se ofendeu com o que aquele lixo te chamou. — Axel disse, coçando a cabeça. — Diz aí o que aconteceu.
Davi enxugou o rosto e soltou um suspiro. Davi contou que seu namorado, Ulisses, ocultou que o patrão era seu pai, mas garantiu que não se magoou por isso.
— Achei que você estava assim porque descobriu que seu namorado é filho daquele cara. — Axel disse, coçando a cabeça.
Davi revelou que soube desde o primeiro dia de trabalho que seu patrão era pai de Ulisses.
— Qual foi, Davi? Então por que tá bolado desse jeito? — perguntou Axel, com uma expressão séria, encarando Davi.
Davi explicou que não queria que Ulisses descobrisse que seu pai era uma pessoa ruim e que não era o dono do bar.
Axel ficou confuso e Davi explicou, hesitante, que estava preocupado com a possibilidade de o gerente demitir o pai de Ulisses. Ele contou que o pai de Ulisses foi direto e disse que Davi só estava trabalhando graças a ele, já que o gerente era uma pessoa ruim.
— Tu tem medo desse cara, Davi...? O gerente? — Axel perguntou, inclinando-se para mais perto do garçom.
Davi negou, sorrindo, e explicou a Axel que já sabia que o gerente era ele e tinha certeza de que Axel não era o que diziam. Axel arregalou os olhos, processando a informação. Desconfiando que seu primo estava mais envolvido do que imaginava, Axel soltou:
— Tu parece até que curte o meu primo, hein? — Axel brincou, com um sorriso de canto.
Davi balançou a cabeça afirmativamente e riu como se não fosse nada demais, gesticulando para Axel que entendeu Davi sugerir que Léo era engraçado.
— Então, Davi..., foi meu primo que te contou que eu sou gerente? — Axel quis saber.
Davi balançou a cabeça, explicando que a foto de Axel estava no celular de todos os garçons, para que pudessem esconder as drogas quando Axel chegasse, e que só o tinha visto por foto. Axel arregalou os olhos novamente, processando a informação. Davi também disse que nunca ofereceu droga a ninguém.
— Mas por que isso tá te pegando tanto, mano? — Axel perguntou, cruzando os braços. — Eu não vou te demitir.
Davi, abrindo o coração, contou várias coisas sobre sua vida, incluindo seu talento com bebidas. Axel então explicou seu plano a Davi, e no final, o surdo implorou para que Axel não demitisse o pai de Ulisses.
— Tranquilo, não vou mandar o cara embora, mas você tá ligado na situação, né? — disse Axel, enquanto Davi ficava pensativo, olhando para o chão.
— Tu consegue confiar em mim, Davi? — Axel perguntou, sério, quebrando o silêncio.
Davi balançou a cabeça afirmando que sim.
— Então cola lá no meu apê, bora trocar uma ideia melhor. — Axel convidou.
Davi aceitou, e Axel o levou em sua moto. Chegando à garagem do prédio do apartamento de Axel, depois de estacionar, Davi tocou no ombro de Axel e mostrou a tela do celular com uma mensagem digitada:
"Sei um jeito de tu aumentar as vendas sem precisar vender droga."
— Como, Davi? Desembucha. — Axel perguntou, curioso, com as sobrancelhas erguidas.
Davi sorriu, confiante, e digitou outra mensagem:
"Me deixa trabalhar que eu te mostro."
Axel deu um sorriso de lado, entendendo o recado: a confiança precisava ser uma via de mão dupla. Axel sorriu e respondeu:
—Então vamos nós dois dar uma lição nele.
Os dois subiram, mas ao chegar ao apartamento, encontraram-no vazio.
***
Quando finalmente Hiroshi e Léo retornaram, Axel os recebeu perguntando onde haviam estado. Léo respondeu que apenas tinham ido comprar comida, e as sacolas cheias de mantimentos confirmavam isso. Animado, ele anunciou que já havia escolhido uma tatuagem para Axel e que planejavam ficar acordados a noite toda, pois Hiroshi iria trabalhar na tatuagem dele.
No entanto, Axel decidiu adiar a tatuagem, explicando que não estava com a cabeça no lugar naquele momento. Hiroshi, percebendo a situação, sentiu-se um pouco deslocado, pensando que talvez não fosse bem-vindo. Mas Axel rapidamente esclareceu que queria ver primeiro a tatuagem de Davi.
Davi, visivelmente confuso, pois não queria uma tatuagem; começou a folhear o catálogo de Hiroshi em busca de uma arte, como se quisesse amenizar o desconforto que Axel havia causado em Hiroshi. Após um tempo, Axel decidiu fazer uma brincadeira e perguntou a Hiroshi se ele tinha alguma tatuagem. Hiroshi, tímido, apenas balançou a cabeça. Léo, então, subiu a bermuda de Hiroshi e revelou um desenho magnífico. Hiroshi corou de vergonha.
Axel ficou impressionado e notou a semelhança com a tatuagem do seu ficante, embora a de Hiroshi fosse muito mais específica. Antes de prosseguir com a brincadeira, Léo comentou: “Foi ele mesmo que fez, mano... diga aí”.
Sorrindo, Axel sugeriu a Davi que fizesse uma tatuagem igual. Davi pensou por um momento, olhou para Axel e sorriu, concordando. Axel esperava que Hiroshi negasse, mas, para sua surpresa, Hiroshi se levantou e começou a abrir sua bolsa, enquanto Davi tirava a camisa. Curioso, Axel perguntou o que estava acontecendo.
— Eles vão começar agora, parceiro — respondeu Léo, surpreso com o espanto de Axel. — E acho que Davi vai fechar as costas.
Por essa, Axel não esperava.
***
Léo voltou para sua cidade um mês após aquela noite. A tatuagem de Davi levou muitos meses para ser concluída. Com a ajuda de Axel, Davi conseguiu exibir seus talentos na mixologia para os clientes, quase todos gays, o que se tornou um incômodo para o pai homofóbico de Ulisses.
Embora Axel tenha ganhado a aposta, ele não demitiu o pai de Ulisses. Pelo contrário, decidiu colocá-lo como assistente de Davi por um tempo. No entanto, o pai de Ulisses acabou saindo e viajando, sem pensar mais na família. Axel conseguiu operar o bar sem precisar vender drogas em nenhum momento e, graças ao apoio de Hiroshi, convenceu seu chefe a vender o estabelecimento para ele, propondo lavar o dinheiro dele através do negócio. O ex-patrão aceitou, e logo Axel tornou Davi um sócio oficial, enquanto ele cuidava das finanças e Davi gerenciava e treinava os garçons.
Certo dia, o ex-chefe perguntou a Axel se ele já se conhecia. Axel respondeu que tinha uma suspeita, mas não sabia como expressá-la. Apenas Davi conseguiu se comunicar de forma clara e fazer Axel entender.
Axel já havia se aproximado de Hiroshi o suficiente para tentar ajudá-lo em seus planos. Ele propôs se tornar um fornecedor de drogas no cabaré, mas Hiroshi recusou imediatamente. Axel argumentou que só queria lucrar um pouco mais e, de alguma forma, apoiar Hiroshi em seu objetivo de tomar o cabaré. Mas Hiroshi manteve sua negativa.
O plano que Hiroshi elaborou e executou no salão do cabaré para manipular Diego ocorreu semanas depois da ida de Léo para sua cidade. No entanto, ele ignorou um detalhe crucial: alguém havia semeado uma ideia em sua mente, levando-o a usar essa abordagem contra Diego. Apesar de ser inteligente, Hiroshi não conseguia perceber algumas sutilezas, pois estava completamente focado em dar orgulho à sua mãe. Axel conseguiu fazer com que Hiroshi acreditasse que estava agindo única e exclusivamente por conta própria.
Sabendo da ação bem sucedida de Hiroshi, o próximo passo de Axel era entrar em contato com Diego, que se apresentaria a ele como Neto e para isso ele teria que agir sem Hiroshi saber.
***
No dia da conclusão da tatuagem de Davi, Axel estava realmente impressionado e concentrado nas costas do amigo.
— E aí, senhor Miyagi, tá quebrado, mano? — perguntou Axel com um sorriso.
— Não, por quê? — respondeu Hiroshi, sem desviar os olhos das costas de Davi.
— Termina aí o trampo que depois eu te passo a visão. — Axel disse, abaixando a cueca e encostando-se na parede ao sentar na cama. Ele cobriu sua parte íntima com um lençol e apontou para o lugar abaixo da cintura de maneira provocativa.
— Você quer que eu tatue o quê aí? — perguntou Hiroshi, desinteressado pela nudez do amigo.
— E aí, o que tu acha? — Axel riu levemente. — Faz teu corre aí, fi.
Hiroshi, tranquilo, pegou a arte de uma frase que havia guardado e a apresentou a Axel. — Essa aqui?
Axel soltou uma risada debochada e comentou: — Na moral, japinha, não é isso que você e o Leleco ficaram viajando aquele domingão, não. Eu e o Davi no corre, enquanto vocês brincavam de artistas, né?
Hiroshi empalideceu. — O que Léo te disse, Axel?
— Pega tua visão e troca logo esse material, mano. Tô precisando dessa tatuagem pra ontem. — Axel disse, tentando aliviar a tensão. — Ele não me contou nada, mas foi só eu e Davi colar que vocês ficaram com cara de vacilão... Todo mundo voou, e ainda deixaram ele me mostrar aquele rabisco tosco de henna que você fez. Na moral, da próxima vez que ele colar aqui, se prepara, porque ele vai querer fechar uma permanente. E já vou te avisando: diz pra ele nem tentar me mostrar, tá ligado, japa?
Hiroshi concordou e, ao trocar todo o EPI e material, olhou para Axel e perguntou se ele queria uma tatuagem igual à de Davi e a dele.
— Não — respondeu Axel.
— Por que não, Axel? — Hiroshi perguntou, enquanto ajustava o material para a tatuagem.
— Só vou fazer essa tatuagem quando eu provar que sou firmeza com vocês. — Axel disse, cruzando os braços. — Por enquanto, só faz meu nome. Capricha na arte, que eu preciso chegar como chave pra uma parada.
Davi se sentou na cama, enquanto Hiroshi trocava as luvas e se preparava. Nervoso, ele se aproximou um pouco e se apoiou em um banco ao lado da cama. Axel se ajeitou.
— Você sabe que é nosso amigo, né? — Hiroshi disse, esterilizando a pele de Axel.
— Sou daqueles que prefere provar na prática. — Axel respondeu com um tom sério.
— Cara, você já provou isso para Davi e por me aceitar como amigo. — Hiroshi disse, com a agulha perfurando a pele de Axel.
— Hiroshi, não fui eu que te aceitei. Você virou meu irmão naquele dia, por mais que você não acredite. — Axel comentou, fazendo caretas ao sentir a agulha. — Na hora certa, você vai entender qual é a real.
Axel olhou para Davi, que parecia sonolento, e pediu para ele se deitar, sugerindo que Davi poderia usá-lo como travesseiro. Davi se deitou de lado e sorriu enquanto Axel fazia cafuné em sua cabeça.
— Foi contigo que eu entendi quem sou e o que preciso fazer nesse mundão, tá ligado? — Axel disse, com o olhar distante.
— Eu sempre soube. Desde o dia em que você fez o que fez por Davi. — Hiroshi comentou, e Davi fez um sinal de positivo. — Você deveria fazer uma tatuagem igual à nossa.
— Eu não faço porque meu corre não é esse... ainda não. Tu fez pela solidão que carregava sendo mó mente brilhante. O Davi fez pelo amor que ele sente por nós, como irmãos... Eu? Só vou fazer quando cumprir o que eu tenho pra vocês dois. Aí sim essa tatuagem vai fazer sentido.
— Cara, eu sei que você é... — Hiroshi tentou, mas Axel o interrompeu.
— Ô, Davi, digita aí o que eu sou. — Axel pediu.
Davi digitou e entregou a Axel o celular. Hiroshi parou curioso. — O que foi que ele escreveu? Ele sempre disse que eu estava errado.
Axel sorriu e mostrou a frase que Davi digitou a Hiroshi: “Você cuida da gente.”
— Cara, isso é só a maneira dele dizer que você é nosso líder. — Hiroshi disse, ajustando os óculos.
Axel sorriu, negando com a cabeça. Davi já estava levemente ressonando.
— Hiroshi, irmão de verdade não lidera. Uns amam, tipo o Davi. Outros, igual a tu, usam a inteligência pra fortalecer os parceiros. Mas liderar? Isso não é meu corre. Minha missão com vocês é mais o lance de proteger. E, quer tu queira ou não, japinha, tu vai tá sempre debaixo da minha proteção.
Hiroshi soltou a agulha e baixou a cabeça em desespero pelas palavras de Axel, que o puxou para um abraço. Hiroshi não resistiu ao contato amistoso, e o movimento de Axel fez Davi se mover, mas Davi permaneceu parado, observando, sem reação. Era a primeira vez que Hiroshi não resistia a um abraço de Axel. Davi percebeu que, finalmente, Hiroshi confiava em Axel, o que fez com que eles se reconhecessem como amigos de verdade.
Quando Hiroshi se afastou um pouco, Axel entendeu o limite e pediu que ele mostrasse sua tatuagem. Hiroshi subiu a bermuda, e Davi expôs suas costas. Ambas as tatuagens eram idênticas, porem em diferentes escalas.
Axel tocou na de Hiroshi — Isso aqui — disse ele, e logo apontou para a de Davi — e isso aqui... são só desenhos, mas um dia vão criar vida. Aí sim você e o Davi vão entender.
Davi e Hiroshi encararam Axel por um instante, e Axel pediu para Hiroshi continuar dizendo a Davi para voltar a dormir de bruços. Axel aplicava uma pomada na pele sensível de Davi, que adormeceu aos poucos. Hiroshi continuou.
Axel canalizou todo o amor que sentia por seu primo, Léo, em forma de amizade a Hiroshi e Davi. Manter Léo distante foi uma maneira de esquecer seus sentimentos incestuosos, mas uma atitude que traria consequências desastrosas para todos em um futuro não muito distante.
Os olhos de Axel penetravam o desenho na pele a sua frente, enquanto seu amigo dormia sereno.
As intricadas linhas e sombras da tatuagem nas costas de Davi formavam uma silhueta bem definida, como se estivesse em movimento. Os contornos delicados e detalhados conferiam profundidade à arte, e o corpo coberto de escamas parecia querer ganhar vida, culminando na cabeça erguida e atenta de uma bela serpente.
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Por R. Rômulo (Novatinho)
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