Mateus e Gabriel continuavam a se encontrar sob o manto da noite, em lugares afastados, onde a escuridão protegia o que a luz do dia condenava. Cada encontro era como um fio que os ligava, mas, ao mesmo tempo, o mesmo fio que os sufocava. Gabriel, com seu olhar distante e os gestos cada vez mais mecânicos, tornava-se uma figura fria e enigmática. Mateus, sempre tão claro em suas emoções, começava a sentir o peso de carregar sozinho a intensidade daquele amor proibido.
Certa noite, após um desses encontros, Mateus não conseguiu mais ignorar o comportamento esquivo de Gabriel.
— O que está acontecendo com você, Gabriel? — perguntou ele, segurando o braço do outro com firmeza. — Parece que você está fugindo.
Gabriel se desvencilhou, evitando o olhar direto.
— Não estou fugindo de nada, Mateus. Só... tenho muito em mente.
Mateus não comprou a desculpa. Algo estava errado, e ele sabia. Gabriel, que antes era tão caloroso, agora parecia uma sombra de si mesmo.
Nos dias seguintes, Mateus decidiu que precisava entender o que realmente estava acontecendo. Ele começou a conversar com alguns conhecidos de Gabriel, discretamente. Foi assim que descobriu a verdade que o atingiu como uma lâmina: Gabriel tinha um caso com Juliana, sua esposa. Até aí, não era exatamente uma novidade. O casamento de fachada sempre foi uma forma de Gabriel manter as aparências. Mas o que chocou Mateus foi descobrir que Gabriel também estava se envolvendo com outros homens.
Essa revelação fez tudo desmoronar dentro dele. As dúvidas, as ausências e os olhares furtivos de Gabriel agora faziam sentido. Gabriel não estava apenas dividido entre dois mundos; ele estava construindo um castelo de cartas que ameaçava ruir a qualquer momento.
Mateus confrontou Gabriel na primeira oportunidade. Encontraram-se em um parque vazio, ao cair da tarde, um lugar que costumava trazer conforto aos dois.
— É isso, Gabriel? — começou Mateus, a voz firme, mas os olhos denunciando a dor. — Você está brincando com todo mundo? Comigo, com a Juliana, com esses outros homens?
Gabriel se calou por alguns segundos, o rosto pálido.
— Você não entende, Mateus... não é tão simples assim.
— Não? — Mateus deu um passo à frente. — Então me explica. Porque, do meu ponto de vista, você está usando todo mundo para sustentar essa mentira de vida perfeita que você insiste em manter.
Gabriel abriu a boca para falar, mas fechou em seguida. Ele não tinha como negar.
Enquanto isso, a vida de Mateus começou a seguir em outra direção. Ele conheceu Lucas, um modelo recém-chegado à agência onde trabalhava. Lucas era jovem, confiante e, acima de tudo, transparente. Sua energia contrastava com a carga emocional que Gabriel trazia consigo.
Os dois começaram a passar mais tempo juntos, primeiro por questões profissionais, depois por afinidade. Lucas tinha uma risada contagiante e uma forma leve de encarar a vida. Mateus, que ainda carregava as feridas de Gabriel, se viu pouco a pouco encantado.
— Você tem um sorriso lindo, sabia? — disse Lucas, em um dos intervalos de trabalho.
Mateus riu, meio tímido.
— Você diz isso para todo mundo?
— Não. Só para quem realmente tem.
Apesar da conexão crescente, Mateus não conseguia se entregar completamente. Ele ainda estava preso ao fantasma de Gabriel. Cada toque de Lucas, cada sorriso, era uma lembrança do que ele desejava com Gabriel, mas nunca poderia ter.
Mateus decidiu que precisava de respostas definitivas. Ele não podia continuar vivendo naquela montanha-russa emocional. Procurou Gabriel novamente, desta vez determinado a colocar um ponto final na situação.
— Você vai me dizer a verdade, Gabriel, toda ela — exigiu Mateus, cruzando os braços. — O que nós somos? O que eu sou para você?
Gabriel suspirou profundamente. Ele parecia exausto, como alguém que carregava um fardo pesado demais.
— Você é tudo que eu queria ser, Mateus. Mas eu não posso.
— Não pode? Ou não quer? — rebateu Mateus.
— Não posso! — gritou Gabriel, perdendo o controle. — Você acha que é fácil? Jogar fora uma vida inteira? Minha família, minha carreira, tudo que construí?
— Isso não é vida, Gabriel. É uma prisão.
— Talvez seja, mas é a única vida que eu conheço.
Mateus sentiu as lágrimas subirem aos olhos, mas ele as conteve. Não podia mais se permitir fraquejar diante de Gabriel.
— Se você prefere viver uma mentira, tudo bem. Mas eu não vou ser parte dela.
Gabriel tentou se aproximar, mas Mateus deu um passo para trás.
— Acabou, Gabriel. Eu não posso mais ser sua sombra.
Após o confronto, Mateus decidiu se abrir para Lucas. Ele não sabia se estava pronto para um novo amor, mas sabia que merecia uma chance de ser feliz.
— Lucas, eu preciso ser honesto com você — começou Mateus, em uma conversa no café perto da agência. — Eu estou tentando superar alguém. Não sei se consigo te dar tudo que você merece agora, mas quero tentar.
Lucas segurou a mão de Mateus, os olhos cheios de compreensão.
— Eu não estou pedindo nada além de honestidade, Mateus. E se tentar é tudo que você pode fazer agora, isso já é suficiente para mim.
Enquanto Mateus tentava reconstruir sua vida, Gabriel começou a lidar com as consequências de suas escolhas. A culpa que antes o corroía agora se transformava em solidão. Ele percebeu que, ao tentar agradar a todos, acabou perdendo a única pessoa que realmente o entendia.
Certa noite, Gabriel apareceu na porta de Mateus, o rosto marcado pela angústia.
— Eu errei, Mateus. Sei que errei. Mas, por favor, me dá outra chance.
Mateus o encarou por um longo tempo antes de responder.
— Eu te amei, Gabriel. Mais do que amei a mim mesmo. Mas agora eu preciso me amar mais.
E com essas palavras, ele fechou a porta, deixando Gabriel do lado de fora.
Mateus sabia que o caminho para a cura não seria fácil, mas, ao lado de Lucas, sentia que finalmente poderia recomeçar. Gabriel, por sua vez, ficou parado na porta, percebendo que, às vezes, perder é a única forma de aprender.
Os dias se transformaram em meses, e a dor de Mateus foi sendo substituída por uma nova esperança. Ele e Lucas começaram a construir algo verdadeiro, sem segredos ou sombras. Gabriel, por outro lado, continuou preso às suas escolhas, vivendo em um mundo que ele mesmo criou, mas que nunca foi realmente seu.
A vida seguiu para ambos, mas a história que compartilharam permaneceu como um lembrete do que acontece quando o medo supera o amor.