Nos dias que se seguiram, Edu não conseguiu mais tirar Diego da sua mente. Havia algo magnético naquele homem que parecia estar sempre em uma constante fuga de si mesmo. Ele começou a notar os detalhes: a maneira como Diego segurava o corrimão do ônibus com força demais, como se precisasse se firmar para não desmoronar; o olhar perdido pela janela, como se buscasse algo que estivesse longe demais para alcançar. Aquela aura de mistério o consumia, atiçando sua curiosidade como nunca antes.
Certa noite, após o expediente, Edu tomou uma decisão impulsiva. Ele seguiria Diego. Precisava entender o que se escondia por trás daqueles olhos inquietos e da postura reclusa. Ele não sabia exatamente o que esperava encontrar, mas sua intuição dizia que aquele homem carregava algo maior do que deixava transparecer.
Diego desceu do ônibus no ponto habitual, e Edu manteve uma distância segura. A rua estava movimentada, mas Edu sentia que estava ultrapassando um limite invisível. O coração batia acelerado enquanto ele observava Diego caminhar pelas calçadas mal iluminadas. Havia uma urgência nos passos dele, como se precisasse chegar em casa antes que algo ruim acontecesse.
Edu o seguiu até um prédio simples, com a fachada desgastada pelo tempo. Era um contraste gritante com a vida de Edu: seu apartamento moderno, sua rotina organizada. Ele hesitou diante da entrada, o coração pulsando em uma mistura de adrenalina e receio.
Diego desapareceu dentro do edifício. Edu olhou para os lados, certificando-se de que ninguém estava por perto, e entrou logo em seguida. O cheiro de mofo e o som de passos ecoando nos corredores criavam uma atmosfera opressiva. A cada degrau, ele sentia como se estivesse invadindo um espaço proibido, mas algo o impulsionava a continuar.
Ao virar uma esquina, Edu viu Diego subindo as escadas com uma expressão cansada, os ombros curvados sob o peso de algum fardo invisível. De repente, Diego parou. Ele sentiu a presença de Edu antes mesmo de virar o rosto. Quando o fez, seus olhos se estreitaram, carregados de desconfiança.
— O que você está fazendo aqui? — Diego perguntou, a voz tensa e baixa.
Edu sentiu o coração disparar. Ele não tinha um plano, nenhuma desculpa preparada. Mas sabia que não poderia recuar agora.
— Eu precisava falar com você. — Sua voz saiu mais firme do que ele esperava.
Diego riu, mas o som era seco, desprovido de humor. Ele cruzou os braços, como se quisesse se proteger.
— Você me seguiu? — A pergunta soou mais como uma acusação.
— Sim — admitiu Edu, encarando-o diretamente. — E antes que você me expulse daqui, quero dizer que… eu não sei por que fiz isso. Só sei que tinha que fazer. Você… você me intriga, Diego.
Por um momento, Diego não respondeu. Seus olhos escuros analisavam Edu, como se tentasse decidir se ele era uma ameaça ou apenas um tolo. Finalmente, ele suspirou e encostou-se na parede, cruzando os braços.
— Você não sabe nada sobre mim — disse Diego, com uma firmeza que contrastava com o cansaço em sua voz.
— Não sei, mas quero saber — respondeu Edu, dando um passo à frente.
Diego riu novamente, dessa vez com um toque de amargura.
— As pessoas não querem saber a verdade, Edu. Elas querem o que é fácil, o que é bonito. E a minha vida… não é nenhuma dessas coisas.
Edu percebeu que Diego estava abrindo uma pequena brecha, uma fissura na barreira que ele havia construído ao redor de si mesmo.
— Então me conta. Deixa eu entender — disse Edu, com suavidade.
Diego desviou o olhar, fixando-o em um ponto no chão. Por um momento, o silêncio reinou entre eles, pesado e carregado. Então, ele finalmente falou:
— Eu trabalho de dia e de noite para pagar as dívidas do meu pai. Ele… se envolveu com pessoas perigosas. Pessoas que não aceitam desculpas ou atrasos.
Edu ficou em silêncio, assimilando a informação. Ele não esperava por aquilo.
— E é por isso que você…? — Edu hesitou, sem saber como completar a frase.
— É por isso que eu não posso me envolver com ninguém — respondeu Diego, cortando-o. — Você entende agora?
Edu deu mais um passo à frente, sentindo que Diego estava se afastando emocionalmente.
— Ninguém deveria carregar tudo isso sozinho — disse Edu, com sinceridade.
Diego olhou para ele, com algo que parecia ser uma mistura de surpresa e incredulidade.
— Você não entende. Não é só sobre mim. Se eu me distrair, se eu falhar… eles vão atrás da minha família. Não há espaço para mais ninguém na minha vida.
Edu sentiu a dor por trás das palavras de Diego, mas também percebeu que ele estava tentando protegê-lo.
— Talvez você não precise fazer isso sozinho. Talvez eu possa ajudar.
Diego riu novamente, dessa vez com mais intensidade.
— Ajudar? Como? Você acha que pode aparecer na minha vida e resolver tudo? Isso aqui não é um filme, Edu. É real. E pessoas reais se machucam.
As palavras de Diego foram um golpe, mas Edu se recusou a desistir. Ele sentia que havia algo ali, uma conexão que não poderia ser ignorada.
— Eu não estou dizendo que posso resolver tudo — retrucou Edu, com firmeza. — Mas eu posso estar aqui. Com você.
Diego o olhou novamente, e pela primeira vez, Edu viu algo diferente em seus olhos. Uma mistura de esperança e medo.
— Você é teimoso, sabia? — murmurou Diego, finalmente relaxando um pouco a postura.
Edu sorriu, mesmo com o peso do momento.
— Já me disseram isso antes.
Diego suspirou e passou a mão pelos cabelos. Ele sabia que estava quebrando suas próprias regras ao deixar Edu se aproximar. Mas algo naquele homem o fazia baixar a guarda, mesmo contra sua vontade.
— Tá bom, Edu. Você quer ajudar? Então… começa aceitando que minha vida é complicada. Muito complicada.
Edu assentiu.
— Complicado não me assusta.
Os dois ficaram em silêncio por um momento, o peso do que havia sido dito pairando no ar. Diego finalmente se virou para subir as escadas, mas antes de desaparecer, lançou um último olhar para Edu.
— Eu vou te avisar só uma vez: se continuar, vai se arrepender.
Mas Edu sabia que não havia mais volta. Ele estava decidido a descobrir tudo sobre Diego, mesmo que isso significasse enfrentar segredos que poderiam mudar suas vidas para sempre.