Júlia ter falado sobre um provável próximo filho ficou na minha cabeça. O assunto pareceu ter sido esclarecido e encerrado por ali, mas eu achei o clima tão pesado e tenso que com certeza merecia uma melhor atenção, talvez uma conversa maior e mais desenvolvida saciasse essa pendência na minha cabeça.
Eu teria dois times de futebol contando até com o banco de reservas com ela, porém, as imagens dela em completo sofrimento eram vivas em minha cabeça, toda as expectativas que criamos indo embora em um piscar de olhos e presenciar o quão difícil foi passar por tudo aquilo, viver aquela dor ou repensar na possibilidade daquilo acontecer novamente não estava nos meus planos. Eu prometi para ela e para mim que não iríamos enfrentar aquela batalha outra vez.
Percebo que estou preocupada demais quando perco meu sono. Fiquei observando minha gatinha dormir enquanto fazia carinho em seu rosto e assim vi o dia amanhecer, a conclusão que cheguei foi, termos uma conversa transparente e se houvesse o desejo de mais filhos, tentar novamente pela adoção.
O processo para ter Kaká conosco foi solitário e muitas vezes incerto, mas a a via da adoção, caso não desse certo, não traria nenhum risco a vida do meu amor. E isso de certo modo, me confortava. Eu passaria por tudo aquilo de novo, se assim ela desejasse!
- Já acordou? - Juh me perguntou e logo depois depositou um beijo no meu rosto.
- Na verdade, eu nem dormi... Fiquei pensando em algumas coisas, depois do nosso café, quero conversar, tá bom? - Disse-lhe, devolvi o beijinho e levantei para tomar um banho bem frio, eu ia precisar estar atenta.
Iniciei já tentando relaxar o máximo possível e a cabecinha dela brotou na porta com um sorrisinho lindo.
- Eu fiquei curiosa... - falou tirando a roupa para se juntar a mim.
- É só que... - comecei a dizer, mas contempla-la era muito mais interessante.
- Você nem disfarça... - ela disse ao me abraçar e puxar meu rosto para um beijo.
Segurei em sua cintura, trazendo-a para mim.
- Aiiii, essa água está gelada, amor! - exclamou, se afastando.
Eu ri e a abracei, enchendo seu pescoço de novos beijinhos. Desci minhas mão lentamente, percorrendo das costas a sua bunda, apertei e voltei a beija-la, dessa vez com mais intensidade, e Juh correspondia, enfiando os dedos dentro do meu cabelo e apertando.
Carreguei-a encostando na parede e ela encostou a boca no meu ouvido, senti sua respiração quente e ofegante bem próxima.
- Você ainda está de castigoooo! - disse-me, rindo.
- Está decretado o fim! - exclamei.
Retornei ao beijo, e sentia seu sorriso dentro da minha boca, ela mordia meu lábio inferior com vontade e tinha um olhar penetrante, aquilo me hipnozava, me dava mais tesão e me incendiava por completo.
Aos poucos Júlia se desvinculou dos meus braços e parou a boca no meio das minhas pernas e iniciou um oral delicioso, com a língua me penetrava e logo depois me sugava veementemente, não demorou muito e eu gozei.
Ela levantou sorrindo, com a boca toda meladinha e me deu um beijo, eu estava fora de mim ainda, aquele orgasmo levou minhas forças embora.
- Agora vamos tomar banho - disse, animada.
- Que banho o quê? Vem cá, vem! - A abracei por trás e beijei seu pescoço.
- Naaaao, você tá de castigo... Eu só provoquei demais e não quis deixar você com vontade... - disse convencida.
- Mentirosa, quem não aguentou foi você! - falei em seu ouvido e ela riu virando de frente para mim.
- De castigo! - Exclamou e me abraçou.
- Você ama mandar em mim, não é? - Perguntei segurando seu rosto e dando um beijo molhado.
- Sim... - Ela respondeu com a cara mais lavada do mundo.
Tomamos um banho morno, já que minha senhora quis assim e fomos nos vestir, nós íamos trabalhar e a gente precisava fazer o café das crianças e também alimentar o Brad.
Enquanto me arrumava, ela perguntou:
- O que vamos conversar é sério? Eu fiz alguma coisa errada? Porque se você não dormiu por isso... Acredito que seja um problema...
- Huuuuuum, se você pode me pôr de castigo, eu posso guardar segredo até o café! - falei e dei um selinho nela
Enquanto ela agilizava na cozinha, fui acordar Kaique e Milena, passamos um pouco do horário e avisei para eles não demorarem tanto, pularam da cama rapidinho.
Fui até Juh e comecei a introduzir o assunto.
- Então, amor... Sobre aquele dia que estávamos na clínica... - comecei dizendo e ela foi ficando vermelhinha e eu ri - Calma, não é só te você ser uma safada, não...
- Para com isso... - ela disse baixinho.
- Ohhhh, nem parece que estava me chupando agorinha - brinquei ao abraça-la e ela enfiou o rosto dentro de mim.
Voltamos a preparação do café, para não atrasar mais ainda.
- É um assunto sério, na verdade, sobre filhos. Quero uma conversa mais esclarecedora sobre seus anseios em relação. - Concluí e ela assentiu, acho que não esperava ouvir aquilo, mas pareceu gostar de falar sobre.
- O que você quer saber, amor? - Me perguntou sentando no balcão a minha frente.
- Me fala se você ainda quer filhos, se quer engravidar, esse tipo de coisa... Quero saber o que você pensa sobre. Eu tenho uma opinião formada, mas quero te ouvir, saber o que você pensa e talvez propôr algo que esteja ao nosso alcance. - Falei.
- Eu... Não sei direito... - suspirou profundamente - Eu adoraria ser mãe novamente, tentar gerar um bebezinho aqui dentro - ela pousou a mão sobre o ventre - mas... Tenho muito medo de tudo aquilo acontecer de novo, não quero passar por nada daquilo novamente... Foi traumatizante... Eu sonhei tanto com o sorrisinho de Maya, de senti-la em meus braços, me imaginei acordando de madrugada para amamentar, queria dividir a experiência de ter um recém nascido contigo, com certeza íamos ter situações engraçadas, queria te ver empolgada com as primeiras ações, inventando as melhores brincadeiras... Queria proporcionar isso para Mih e Kaká, eles dois são incríveis e tenho, desejaram tanto isso com a gente, tenho certeza que seriam maravilhosos... Mas eu não me sinto pronta para encarar tudo novamente, o processo da inseminação, o medo de ter mais um aborto, de todo aquele sangue, de sentir um outro filho saindo de mim sem vida... Não sei se sou capaz de aguentar novamente... De verdade... - Juh finalizou e eu a abracei, algumas lágrimas banhavam seu rosto e eu fui a acalmando, ficamos alguns minutos assim e ela retornou a palavra.
- Você quer? - Me perguntou.
- Não, de jeito nenhum... Não quero nunca mais te ver daquela forma novamente, meu amor... Meu medo era você estar reprimindo um desejo, seja lá por qual fosse o motivo, mas já que nossas ideias são idênticas, fico confortada em saber que não é algo que você está se forçando a fazer. - disse-lhe.
- Você é sempre tão atenciosa, amor... Não tenho nem palavras! - ela disse e eu colei nossos rostos, fazendo carinho sobre suas costas.
- Caso você deseje aumentar a família a gente pode pensar na adoção novamente, o que acha? - Perguntei e percebi o rostinho dela se animando.
- É um ótimo caminho! - Juh exclamou.
- Com certeza, meu amor! - Finalizei.
- Se um dia esse medo passar ou diminuir... Você não vai querer de jeito nenhum? - Ela me perguntou bem baixinho.
A ideia me pareceu inconcebível, contudo, sou uma pessoa do diálogo e gosto de viver as coisas no tempo certo.
- Se acontecer, a gente conversa, certo? - falei e senti no meu peito Juh balançar a cabeça positivamente.
Dei vários beijinhos em seu pescoço e ouvimos os meninos descerem as escadas. Tomamos café juntos e partimos para o colégio, não atrasamos, só não chegamos no horário de costume. Juh pediu que Mih e Kaká entrassem e permaneceu no carro
- Amor, obrigada... Acho que eu estava precisando falar tudo aquilo e nem sabia... - disse-me e me deu um selinho
- Não precisa agradecer, eu não ia ficar bem se a gente não conversasse sobre, gatinha... - e dei outro selinho
- Se terminar cedo, vai pra casa e descansa, deixa que eu pego um Uber com as crianças para voltar... Você não dormiu nadinha, não foi? - Me perguntou preocupada, mas eu disse que estava tudo bem.
A gente se despediu e ela desceu do carro.
- Psiu! Muito obrigada pelo bom dia de hoje! - falei e arrastei o carro, deixando-a envergonhada.
Depois ela me mandou uma mensagem, alertando que falei aquilo alto demais e que outras pessoas deveriam ter ouvido, ri e pedi desculpa, mas afirmei que não disse nada demais, achei até inconclusivo para quem estava de fora.
O dia foi exaustivo, mais pela noite perdida, segui o conselho de Juh ao terminar o expediente mais cedo e fui para casa dormir um pouco, antes mandei uma mensagem e ela ficou alegre por eu ter a escutado.
Quando acordei, Kaká estava deitado sobre a barriga da mamãe com um semblante triste e ela acarinhava seus cachinhos, Mih estava na parte externa brincando com nosso dog de jogar objetos, tentando fazer com que ele trouxesse de volta.
- Que foi, neném? - Perguntei me aproximando e dei um beijinho nos dois.
- Conta pra mamãe seu dilema... - Juh falou para ele.
Sentei no tapete, abaixo deles e meu filho sentou entre minhas pernas, apoiando a cabeça em mim.
- Não consigo escolher entre o tio Victor e o tio Lorenzo pra serem meus padrinhos, queria os dois... Mas não pode dois meninos, só um menino e uma menina... - ele desabafou triste.
O casamento de Lorenzo seria em alguns dias e ele pediu que o batizado fosse dentro do rito, o Padre João autorizou e Kaká estava todo feliz por isso, o curso dele estava sendo online.
- Huuuum, é mesmo uma decisão difícil... Você gosta muito dele dois, né? - Perguntei e ele confirmou. - Você conversou com o padre?
- Não... Mas a mamãe disse que só pode um padrinho e uma madrinha... - me respondeu.
- É, então a mamãe deve estar certa... Pensa direitinho, tenho certeza que nenhum dos dois vão ficar chateados, eles te amam e isso nunca vai mudar, é o que importa. - falei.
- A mamãe também disse isso... - Ele me informou melancolicamente.
- A mamãe sempre sabe de tudo, tá vendo? - eu brinquei e eles dois deram uma risadinha.
- Mas quem está chateado sou eu! - Kaká exclamou.
- O que Mimi acha sobre? - Perguntei.
- Ela acha que eu tenho que chamar os dois na hora e ignorar que não pode - ele falou com um sorriso imenso, como se concordasse.
- Pelo amor de Deus, não faz bagunça na igreja que é o casamento dos seus tios... - falei com a mão no rosto.
- Vamos ligar para o padre João? Ele pode ter uma ideia ou aceitar meus dois tios - meu filho pediu.
Eu olhei para Juh, ela olhou o horário e ainda estava cedo... Resolvemos então ligar para tentar deixar Kaique mais tranquilo ou que aceitasse, porque sabíamos que a situação era imutável, nunca ouvi falar de batismo com dois padrinhos ou duas madrinhas, substituindo um casal do sexo oposto.
O padre explicou que não ia ter problemas quanto a isso, ele poderia escolher um para ser padrinho de consagração. Ele praticamente tirou um peso das costas. A gente nem imaginava essa possibilidade. Mih aproveitou para falar que não tinha de consagração e perguntou se podia ter também e o Pe. João informou que poderia ser junto e que era bem rápido. Os dois finalizaram a ligação felizes da vida.
Pediram para ligar para os tios, queriam contar e Kaique ia fazer o convite, que já estava previamente aceito, com toda certeza.
- Tio Victor, tia Loren... Vocês aceitam ser meus padrinhos? - Kaká perguntou animado assim que eles atenderam, sem dar tempo para um "oi".
- Claro que sim!!!! - disse Loren
- Oxe, eu não esperava, não... Aceito, óbvio! - Respondeu meu cunhado quase que explodindo de felicidade.
- Tio Victor, eu não tenho padrinho de consagração, o senhor aceita ser o meu? - Mih perguntou.
- Dois? Meu Deus, eu nunca imaginei que teria um afilhado e agora terei dois! Claro que aceito, meu amor! - ele já estava de pé na cama e Loren ria sem parar, nós também.
- Eu nunca achei que ia ficar tão feliz em ter você como meu compadre... - disse Juh.
Eles têm uma relação meio engraçada, Júlia, Léo e Victor foram criados juntos, são como irmãos. Léo sempre foi o mais responsável, Victor mais zoeiro e engraçado e Juh a mais mimadinha (desculpa, meu amô 😂). Com o rompimento da família com Léo, deram uma afastada, ele era o mais próximo de Juh, com o tempo a relação dela com Victor se desgastou, eles discutiam muito e só se restabeleceu quando ele começou a namorar com Loren, meu cunhado precisou guardar temporariamente o segredo da sexualidade da minha muié e o nosso namoro e mesmo assim, eles se implicavam muito. Com o tempo foi ficando mais saudável, e Júlia me disse que amou isso, eles conseguiam brincar da mesma forma que meus irmãos brincam com ela. Então aquela pequena frase dela para o primo teve um efeito maior, um afeto a mais.
Victor simplesmente começou a chorar.
Loren o abraçou sem conter o riso e a gente achou fofo, ele se despediu ainda com lágrimas nos olhos, apenas dando tchau e soltando beijo para as crianças.
- Felizes? - Perguntei
- Siiiim! - responderam.
- Agora o tio Lorenzo! - exclamou Kaká.
Ligamos para Lorenzo e ele mostrou rindo que estava em frente a nossa casa. Fui abrir e ele entrou perguntando o motivo da chamada, falei para ele entrar que entenderia.
- Tioooo, quer ser meu padrinho de consagração???? - Kaká pediu pulando no colo dele.
- Claro que eu quero, meu lindão! - disse meu irmão girando ele no colo e enchendo de beijo.
Ficamos conversando um pouco e Mih e Kaká brincavam com Brad, festejaram as poucas vezes que ele acertava trazer os ossos de brinquedo e riam quando ele se distraia levando os objetos para mais longe ou enterrando.
Lorenzo foi embora, foi lá só jogar conversa fora, estava nervoso com a proximidade do grande dia, nós ainda jogamos um pouco para distrair, marcamos de fazer algo juntos no outro dia também, fiquei um pouco preocupada com a tensão e ansiedade que o homi se encontrava.
Meus filhos estavam radiantes, tomaram banho e demoraram bastante para dormir, não era compreensível, porém, dava para ouvir do nosso quarto eles conversando.
- Estão tramando algo... - Falei com Juh ao deitar.
- Será?? - Ela me questionou.
- Tenho certeza que sim! - brinquei, rindo e a abraçando.
- As vezes parece que o que eu estou vivendo é um sonho... Amo nossa vida, amo você! - ela falou e me encheu de beijo.
Eu também te amo e amo o que nós temos, acho lindo nosso jeito de cuidar para que tudo continue indo bem... falei e nós nos ajeitamos para dormir. Ela pegou no sono primeiro, eu estava sem sono, mas foi só insistir que também apaguei.
PS: Muita gente aprontou nesse casamento, não só Milena e Kaique... 🤭