Armação para que eu me tornasse corno (3ª parte)

Um conto erótico de Lael
Categoria: Heterossexual
Contém 4317 palavras
Data: 03/12/2024 13:06:02
Última revisão: 03/12/2024 13:53:09

O Dr. Raul não precisava ser anunciado para subir, por isso, fomos acordados por batidas na porta e a campainha. Ellen, que estava nua, disse surpresa:

-Só pode ser o meu pai. Corre para o banheiro e se veste.

Ela botou um hobby e foi atendê-lo. O homem entrou pisando forte e já falando.

-Precisamos conversar, Ellen. Ando ouvindo alguns boatos e não estou gostando. Nunca me meti em sua vida pessoal, mas quero saber se é verdade que está de namorico com um funcionário da empresa, o tal de Patrick que trabalha subordinado ao Alexandre.

-Qual o interesse em saber com quem ando saindo? Vai querer bancar aquele tipo de pai que escolhe com quem a filha pode ou não sair? Seria cômico.

-Não é nada disso, sei que você deve ter seus... Sei lá... Encontros por aí... Nunca foi dada a namoros, exceto com o Jorginho, um partidaço, filho de um dos homens mais ricos deste país e que você despachou como se fosse um vendedor de porta a porta. Mas não vamos falar disso, o problema é que o que tem chegado ao meu ouvido é que com o tal sujeitinho não é apenas um casinho de uma, duas vezes, mas que a senhorita anda dando boa vida a ele e que o malandro já estaria até morando aqui.

De dentro do banheiro, eu ouvia aquilo sem saber se deveria sair ou não. Ellen respondeu:

-Se é sério ou não, só o tempo irá dizer, mas estou sim tendo um relacionamento, digamos um namoro com o Patrick. Agora, não gostaria que fizesse pré-julgamentos sobre ele, não tem malandro nenhum se aproveitando de mim, me admira o senhor me conhecendo, acreditar na hipótese de algum homem me manipular.

-Mas quando o assunto é amor, minha filha, todo mundo muda e esse camarada não está à altura da nossa família, você tem que pensar em gente de nível como o Jorginho, torci tanto para que desse certo...

-Bem, o senhor veio atrás da verdade e já teve, mas não darei cabimento a respeito dessa história sobre com quem devo ou não me relacionar.

O Dr. Mauro começou a querer contra-argumentar, mas Ellen lhe fez uma surpresa ao me chamar. Sem graça, mas já trocado apareci e ele não perdeu tempo em me atacar:

-Ah! Olha aí, o camarada! Pelo visto já veio de mala e cuia para a cobertura da minha filha! Se bobear, deve até estar recebendo mesada!

-Papai, por favor!

-Calma aí, doutor Mauro! A Ellen já explicou. A gente começou a se gostar desde a viagem a Fortaleza e...

Sem nem me olhar, mas fazendo uma expressão de desprezo como quem vê algo repugnante, ele me cortou:

-Não quero saber de conversa fiada de funcionariozinho medíocre de 2º escalão, vim conversar com a minha filha.

Minha vontade era mandá-lo tomar no cu, mas me contive. Ellen, então, o fez cair em contradição:

-Veja que coisa curiosa, papai. Quando voltamos de Fortaleza e o senhor viu as ações de marketing que o Patrick sugeriu que a nossa empresa fizesse, o que foi mesmo que o senhor disse? Ah! Lembrei: "Todos os projetos de marketing que adotamos da agência de publicidade, pagando uma fortuna, não chegam aos pés dessas ideias, temos que aproveitar e valorizar o trabalho desse rapaz", e agora que descobriu que ele está comigo, virou um funcionariozinho medíocre de 2º escalão? Mas ainda que fosse, sou eu quem escolho com quem vou me deitar, por isso, considero essa conversa encerrada e mesmo respeitando-o, peço que pare com grosserias e volte outra hora e com outro assunto.

O Dr. Mauro sabia que era bobagem teimar com a filha, um ano antes, ela praticamente o forçou a torná-la sócia majoritária da empresa sob ameaça de que se não pudesse mandar mais que todos, montaria a sua própria, diante desse contexto, Ellen não aceitaria que ele interferisse em sua vida amorosa. Resignado, o coroa se levantou, mas antes olhou bem para mim e disse:

-A Ellen não é de ficar muito tempo com homem nenhum, o grande amor dela é essa empresa, logo enjoará de você e quando isso ocorrer, farei questão de demiti-lo pessoalmente e ainda queimar teu filme junto a outras empresas. Pode anotar.

Esse foi o cartão de recepção da família de Ellen, em um futuro próximo, eu amargaria muitos dessabores graças a eles, mas naquele momento, estava tão feliz ao lado dela que procurei não pensar no futuro.

Entretanto, não tardou muito para que o Dr. Mauro tentasse nos afastar e dessa vez com um golpe bem baixo. Ele me chamou para ir à sua sala, pediu que eu trancasse a porta e começou um longo discurso dizendo que apesar de Ellen ser independente, como pai tinha que intervir.

-Não tenho nada pessoal contra você, mas sejamos francos, qual a chance de 2 pessoas de mundos tão diferentes darem certo? Você mostrou aí outro dia com seus projetinhos que pode ser um profissional que receba um salário de um bom médico, de um bom engenheiro, mas para por aí, não tem estofo para se tornar um grande milionário, uma coisa é se casar com uma milionária, outra é se fazer por conta própria, ter uma visão empreendedora, dedicação, sabedoria e isso, meu jovem, infelizmente é para poucos. Mesmo que o relacionamento de vocês dê certo no começo, a médio prazo, a Ellen perceberá o quanto faz falta ter um companheiro que esteja a mesma altura dela para tomar decisões, isso ela só conseguiria com um homem que já fosse um vencedor, como o Jorginho, ah! Como torci para que desse certo.

-Não concordo com quase nada do que o senhor está dizendo, talvez o meu problema não seja ter ou não competência para me tornar um multi milionário, talvez eu não tenha essa obsessão doentia, dinheiro é bom, vivemos num mundo capitalista, mas ser escravo dele é uma burrice.

-Tá vendo! você próprio admitiu que não tem vontade de crescer, pelo menos não com as próprias pernas, mas com as da Ellen, sim, não é mesmo? O Jorginho não me daria uma merda de resposta dessa.

-Olha, doutor Mauro, sobre o Jorginho, vamos aos fatos, ele não se tornou um milionário, já nasceu milionário, ou seja, não teve mérito nenhum, é um playboy de vida mansa, assim como o seu filho, Rafael, só não sei se ele também curte certos hábitos (nessa hora, coloquei o dedo indicador em uma de minhas narinas, o que muito irritou o pai de Ellen). Outro ponto importante, o senhor não parou para pensar que a sua filha namorou o Jor-gi-nho antes de mim e não quis continuar? Certamente, ela tem um bom motivo, pergunte-a.

-Chega de conversa fiada! Vamos ao ponto, se eu te der 5 milhões, mais dois anos de salário sem precisar aparecer na empresa, você termina com essa porra de namoro e some sem deixar vestígios?

Fiquei chocado, já tinha visto isso em filmes e séries, mas receber tal proposta me fez engolir seco e não acreditar em tal baixeza.

-O senhor só pode estar brincando!

Ele deu um tapa na mesa e balançou a cabeça afirmativamente:

-Tudo bem! Dobro a oferta: 10 milhões, mas não subo mais. Pensa bem, a Ellen é de veneta quando o assunto é homem, ela pode muito bem chegar amanhã e te dar um passa fora, aí além de perder a princesa, perde o emprego. Não é melhor pegar o dinheiro e ainda ter 2 anos de salário? Vá viver na praia! Não disse que não quer saber de ficar milionário? Então, compra um apartamento mediano de frente para o mar e um quiosque só para fazer um dinheirinho, garanto que não vai faltar umas gostosinhas para você comer sempre que quiser.

-Se essa proposta for séria mesmo...

O Dr. Mauro arregalou os olhos torcendo para que eu aceitasse:

-Só tenho uma coisa a dizer, o senhor é um canalha e se me despedir por chamá-lo do que de fato é, essa história chegará aos ouvidos de sua filha, conhecendo o gênio dela, imagino qual será sua reação.

Virei as costas e ainda tive que ouvir mais um desaforo dele:

-Você vai se arrepender, rapaz! Anote bem isso.

Por mais vontade que tivesse, não contei a Ellen sobre a proposta do pai, isso a faria vê-lo com outros olhos, mas ter esse trunfo poderia me ajudar no futuro, pois caso nosso relacionamento realmente desse certo, o coroa gordo e patético veria que ao contrário dele, eu tinha caráter.

Seguimos namorando apaixonadamente por mais 3 meses. Não fazíamos nenhuma cena na empresa, aliás, raramente nos víamos, apesar de eu agora tocar toda a parte de marketing da marca e ter uma sala só para mim. Entretanto, todos já sabiam do nosso romance, os mais próximos se arriscavam a fazer perguntas, outros só mudaram a forma de me tratar, mas senti que rolava uma certa inveja de alguns. Já a família dela deu novas provas de que era contra nosso relacionamento, cruzei umas duas vezes com o playboy do irmão dela e o mesmo riu e balançou a cabeça negativamente; a mãe me cumprimentou um dia, mas com cara de azeda e o pai, bem esse não via a hora de poder me ferrar.

Quando completamos cinco meses juntos, estávamos passando um final de semana em Gramado. Voltamos de um breve passeio e nos sentamos próximos à lareira, devido ao frio. Eu estava encantado com a beleza do local e com a lareira acessa, nunca tinha ficado de frente a uma e ainda mais acompanhado de uma linda mulher, parecia um garoto. Comentei isso, ela ficou me fitando por um tempo, com um olhar apaixonado e me surpreendeu:

-O que acha de nos casarmos, Patrick?

Brinquei:

-Só se for agora. - Respondi sorrindo

-Agora não, mas dentro um mês, um mês e meio? -Respondeu Ellen calmamente e depois tomou um gole de vinho.

Olhei espantado para ela, pois apesar de parecer que estávamos há muito tempo juntos, já que passávamos muito tempo juntos, na verdade, eram só 5 meses de relacionamento, além das 2 transas em Fortaleza. Para não cortar o barato dela, respondi:

-Acho que poderíamos morar juntos um tempo e depois, se der certo, nos programarmos para o casamento.

-Você me ama? - Perguntou de maneria séria.

-Mais do que tudo.

-Eu também te amo, então não tem porque ficar enrolando com bobagem de mais tempo de namoro, noivado, vamos nos casar, acho que dá para fazer algo adequado e nos casarmos em julho, saímos de lua de mel e ainda aproveitamos o resto de verão na Europa ou nos Estados Unidos.

-Mas e sua família? Nem falam comigo, já pensou nisso?

-Esquece deles, vão aceitar e pronto. Agora, vamos transar para comemorar, deixa que quando voltarmos, eu passo os detalhes para o papel.

Acabamos transando no tapete ao lado da lareira, foi um momento mágico, mas mentiria se não dissesse que fiquei temoroso com a reação da família dela.

De volta a São Paulo, Ellen começou a planejar todos os detalhes. Seria uma cerimônia elegante, mas apenas para os mais próximos, sem grandes badalações, se bem que seria impossível não chamar a atenção da mídia.

No meio dos preparativos, Ellen me contou que teve uma conversa séria com sua família e disse que qualquer ataque que fizessem a mim, consideraria como um ataque a ela e se afastaria imediatamente de qualquer um que fosse. Sabendo do gênio dela, restou aos pais e ao irmão me aceitarem atravessado e a paz foi selada num jantar. Não pensem que eles passaram a me tratar bem, apenas pararam de me tratar como um merda e adotaram uma postura de respeito, mas sem intimidade.

Houve uma tarde que Ellen me disse:

-Você pode tirar um tempo amanhã para falar com o meu advogado a respeito do nosso contrato de casamento?

-Contrato?

-Sim, pelo fato de sabe... Eu ser uma empresária... Ter uma imagem... Gostaria de acertar uns detalhes, mas acho legal ele te explicar para não haver nenhum mal-entendido.

-Bem, de minha parte resolveríamos isso de maneira bem simples, nos casamos com separação total de bens, assim (bati na madeira 3 vezes), se um dia nos separarmos, não teremos pelo que brigar.

-Não é tão simples assim, acho que ambos precisam ser amparados, é coisa de tempo de casamento, confidencialidade, enfim, conversa com ele e qualquer coisa, me pergunta depois.

No dia seguinte, recebi o tal advogado, um coroa de cabelos grisalhos bem falante que após um tempo de tagarelice me mostrou dois contratos, mas antes tratou de explicá-los.

-A jovem Ellen quer um tempo mínimo de casamento de 4 anos e para isso propõe um contrato, onde após esse período, caso um dia venham a se separar, o senhor receberá 1% das ações da empresa.

Estranhei aquilo de impor um tempo de casamento e questionei:

-Olha, doutor Osvaldo, não entendi por que o casamento tem que ter um contrato estipulando que dure pelo menos 4 anos, ontem mesmo propus a ela, nos casarmos com separação total de bens, não quero o dinheiro dela.

-Entendo, mas, veja bem, a Ellen é de certa forma uma figura pública de respeito e ao contrário dessas atrizes e subcelebridades que se casam hoje e se bobear, se separam na semana que vem sem que sejam criticadas, no caso dela, por ser uma empresária jovem, vitoriosa, que serve de inspiração para muitas, terminar o casamento em pouco tempo não seria bem-visto, pode parecer bobagem nos tempos atuais, mas a verdade é que Ellen é a cara da empresa e se mostrar que seu relacionamento fracassou em pouco tempo, gerará danos ao negócio.

Fiquei pensativo por um tempo e depois voltei a questionar:

-Tá, vamos supor que eu queira me separar antes o que ocorrerá?

-Aí, o senhor terá que pagar o equivalente no momento da separação a 1% das ações da empresa. Se fosse hoje, seria esse o valor. - Advogado me mostrou um papel e quase caí da cadeira.

-Puta que pariu! Nem trabalhando a vida toda ganharia isso!

O advogado sorriu e disse:

-Mas pense pelo lado bom da coisa, depois de 4, 5 ou 10 anos, se o senhor quiser se separar, esse valor aqui, ó (mostrando novamente o papel) vai direto para a tua conta.

Fiquei com a mão no queixo apertando-o sem saber o que fazer:

-E se ela quiser se separar? Terei que pagar também?

-Não, não (rindo), aí é ela que terá que passar o equivalente a 1% das ações para o senhor.

-Ah, bom! Porque isso tava me parecendo uma arapuca das bravas.

-Façamos assim, leve o contrato para um advogado de sua confiança e se decidir aceitar os termos da minha cliente voltaremos a conversar.

Foi o que fiz e o outro advogado apenas me disse que eu estava praticamente assinando uma nota promissória que seria considerada extinta após 4 anos.

Aceitei os termos, pois entendi que apesar de Ellen e sua equipe estarem exagerando na questão do cuidado com sua imagem, nós poderíamos viver bem ao menos por 4 anos, para falar a verdade, jamais aceitaria me casar pensando em me separar.

Ellen combinou comigo que só pensaríamos em filhos, depois que ela estivesse com 30, 32 anos, pois aí, a mesma tiraria um pouco o pé do acelerador e trabalharia apenas meio-período, topei também.

Poucos dias antes da cerimônia, fiquei boquiaberto com a casa que Ellen comprou. Achei que fôssemos ficar na cobertura, mas a mesma optou por uma imensa casa de 6 quartos, dois andares, vários ambientes e uma ampla área verde externa. Diversas paredes eram de vidro, o que nos permitia ver o lado de fora.

Nosso casamento ocorreu num 20 de julho. Minha família era pequena, apenas pai, mãe, um tio, uma tia e 3 primos. Já a da Ellen era bem maior. Houve algumas notas na mídia, mas nada muito chamativo. Durante a festa, não ocorreu nada de desagradável da parte dos meus agora sogros ou do cunhado, mas estavam longe de aparentar uma alegria efusiva, preferiram ficar quietos e só esboçando falsos sorrisos.

Ellen quis me fazer uma surpresa sobre a lua de mel, só sabia que seria fora, pois ela me perguntou antes se meu visto estava em dia. Foram 20 dias, sendo 10 na Itália, passeando por diferentes cidades e outros 10, esses sim, em um local muito original, uma cabana de madeira no alto da montanha em Bend, estado do Oregon, nos Estados Unidos.

O local era exatamente como em muito filmes que já tinha visto, a única diferença é que tinha todo o conforto em termos de instalações e comida, mas a cabana em si e a paisagem eram de cinema. Em todo o entorno da casa, havia muitas árvores altas e da varanda, dava para ver um lago em que chegamos a pescar.

Sem dúvida, foram os melhores dias da minha vida, em alguns momentos, me sentava na varanda e imaginava se merecia tanta felicidade, do lado de dentro, estava uma mulher maravilhosa com quem fazia amor várias vezes e do lado de fora, a visão que parecia ser do paraíso. Por mim, ficaria ali para sempre. Jamais me esqueceria daquela montanha em Bend.

Entretanto, após a lua de mel, era hora de voltar e começar a vida de casados. O primeiro ano foi ótimo entre mim e Ellen, apesar do trabalho consumi-la demais, estávamos sempre felizes. Viajávamos, mesmo que por 2, 3 dias, passeávamos, assistíamos a diversos filmes juntos e, claro, transávamos muito. Foi um tempo maravilhoso, sem dúvida.

Eu tentei recusar, mas ela acabou me colocando num cargo de direção, isso não foi bem-visto pelos demais diretores nem por sua família.

Após o 1º ano, as coisas começaram a mudar, no trabalho, eu era visto como um párea, sempre que tentava dar uma ideia ou opinar sobre algo, um dos diretores perguntava. "Mas a Ellen já sabe dessa ideia?" e quando eu dizia que era uma iniciativa minha, eles diziam que não era uma boa e logo passavam a falar sobre outra coisa me deixando de lado. Eu tentava estudar a fundo a empresa para estar antenado a pauta de cada uma das reuniões, também seguia apresentando sugestões, mas minhas opiniões eram sumariamente ignoradas, o que foi me deixando cada vez mais inseguro, fazendo com que me sentisse um idiota, incapaz de estar ali.

Havia uma clara implicância comigo por parte dos 8 diretores, eu percebia isso, claro que seja numa empresa ou num simples trabalho de escola, nem sempre uma pessoa terá capacidade de ser a única a dar boas ideias, mas não conseguir sugerir algo bom uma única vez? Sem contar que percebi que alguns projetos que foram escolhidos eram inferiores aos meus, ou pior, que tinham pegado alguma ideia minha, modificado-a minimamente e passado como se fossem eles que criaram.

Já com a família dela, as cutucadas começaram a vir aos poucos. Sempre que me via, Rafael, o vida mansa e cheirador de cocaína, apontava para mim e dizia para a namoradinha da vez:

-Esse é o cara! Quem o vê com esse jeitão meio quietão, não dá nada, mas a verdade é que ele domou a fera da minha mana e como prêmio ganhou uma Mega Sena da Virada sozinho. Tá feito para o resto da vida é só não mijar fora do penico porque senão, a Ellen põe de castigo!

Dizia isso ou algo parecido, dando a entender que eu era mantido por Ellen e tinha que obedecê-la. Eu fingia achar graça, mas por dentro fui ficando irado, até porque, minha própria esposa parou de repreendê-lo.

O doutor Mauro também passou a me provocar, vinha em nossa casa, mal falava comigo, apenas balançava a cabeça quando chegava e já passava a se portar como o dono, especialmente quando Ellen não estava perto. Mudava de canal na minha cara, ia até a adega, pegava um vinho, abria se servia e, pasmem, nem me oferecia, pegava algo na geladeira, colocava os pés com sapato e tudo no sofá e sempre me olhando de canto, como que me testando. Foram muitas as provocações e me estenderia muito se fosse narrá-las, mas houve uma que foi a 1ª em que quase explodi, meu sogro começou a olhar os porta-retratos que tínhamos em uma mesa de canto, havia vários meus com Ellen, outros de sua família e apenas um de meus pais, pois foi justamente esse que ele deixou cair "sem querer", quebrando o vidro e furando a foto. Para completar a patifaria, disse para todos ouvirem:

-Foi só um porta-retratinho sem importância, não fará falta, tem outros bem mais interessantes aqui.

Já minha sogra, sempre que me via ou que eu começava a falar algo, fazia um gesto de canto de boca como quem vê algo que não gostou. Certa vez, a ouvi falando o diabo de mim para a filha, a coisa mais branda que disse foi que eu era um fracassado e acomodado e que meu desempenho na empresa provava isso. "Ele vai se encostar na sua fortuna e olhe lá se não torrar grande parte dela".

No começo, aguentei as pancadas, mas com meses e meses sendo minado tanto no trabalho, quanto no seio da família da minha esposa (que a essa altura já não os confrontava mais por minha causa), comecei a me sentir muito agoniado e até levemente deprimido, tínhamos completado um ano e meio de casamento, mas estava prestes a jogar a toalha.

Resolvi me sentar com Ellen e expor todos os problemas, no caso do trabalho, cheguei a sugerir que eu retornasse ao meu antigo cargo e pedi que ela voltasse a impor limites no modo em que sua família falava comigo. Para meu espanto, minha esposa disse que quanto ao trabalho, eu deveria ter mais voz ativa com os demais diretores para ser respeitado e me esforçar mais, já quanto aos seus parentes, deveria ignorá-los e mostrar que sei comandar também na empresa, pois isso os fariam me respeitar.

Tentei argumentar, mas a verdade é que aos poucos, de tanto falarem que eu era um inútil e que tinha me encostado nela, lá no fundo Ellen começou a mudar e não tardou a me tratar mal. Começaram as brigas, discussões acaloradas e longas, vários dias sem conversar, depois as coisas voltavam a melhorar, mas logo, brigávamos novamente.

Completamos dois anos de casados, a essa altura, o clima era péssimo, tanto que muitas vezes transávamos apenas para saciar o desejo que tínhamos (essa era a única parte em que tudo ia bem) e depois não trocávamos uma palavra sequer. Os ares só melhoravam durante uma viagem ou outra de poucos dias, nesses momentos, Ellen se desligava do trabalho e principalmente da família maldita e voltava a ser a mulher por quem me apaixonei.

Chegou a época de final de ano, passaríamos o Natal na casa de meus pais, mas a Virada, seria em nossa casa, com a família dela. Apenas para ressaltar, as provocações, especialmente do pai e do irmão de Ellen não cessaram nos meses anteriores, ao contrário, estavam cada vez mais intensas.

Passamos um Natal de paz na casa de meus pais, entretanto na Virada, com a família de Ellen seria impossível. Como se já não bastassem os pais e o irmão, ainda vieram alguns parentes deles, e agora com plateia, o Dr. Mauro tratou de começar cedo o show de desfeitas a mim, especialmente após "molhar o bico". Num determinado momento, ele disse:

-Quando tinha apenas 16 anos, minha Ellenzinha chegou e disse: papai, quero montar uma empresa que venda perfumes e produtos de beleza mais refinados, os da tua são muito simplórios, temos que buscar um público-alvo mais exigente. Achei uma grande bobagem, mas não é que aquela moleca estava certa? A nova marca passou a faturar dez, vinte vezes mais e vendendo para um público top. Só que agora vem a parte engraçada, para ver que ninguém nesse mundo é perfeito, ela não queria vender produtos para os segmentos mais popularescos, queria clientes de um nível melhor, só que na hora de escolher um marido, foi pegar justamente um pobretão sem eira nem beira, moral da história, use o que eu vendo, mas não faça o que eu faço.

Em seguida, ele caiu numa gargalhada estridente, solitária e patética que causou constrangimento em todos, vários abaixaram a cabeça, outros fingiram estar bebendo. Ellen, educadamente e baixo, disse ao pai:

-Vai devagar na bebida, essa é uma noite para comemorarmos e não para humilhar ninguém.

O Dr. Mauro não demorou muito a voltar com seu show, passou a mostrar a casa toda (sem nem pedir licença), falando alto que tudo o que estava ali tinha sido escolhido e pago com o dinheiro da filha, inclusive as minhas roupas, o que era mentira já que com meu salário, comprava muitas coisas para a casa e, claro, minhas roupas.

Eu estava me segurando, mas as provocações não cessavam, de vez em quando, o via conversando em uma rodinha e fazia um gesto com a cabeça como que apontando para mim e rindo.

Por volta das 22h30, chegaram Rafael e mais uma de suas putinhas caras. Tinha sido um ano bem "hot" para o cunhadão que durante um racha, acabou com uma Lamborghini de míseros 5 milhões, mas o dinheiro não era dele mesmo, então por que esquentar, não é mesmo? Ainda teve que pagar um nota alta a uma garota que disse ter sido agredida pelo safado, quando o mesmo estava drogadão.

Assim que bati os olhos nele, vi que o mesmo já tinha dado alguns "tiros" (cheirado cocaína) e estava bem agitado. A "euforia" dele e o deboche incessante do pai resultariam numa confusão de proporções históricas, aquela Virada de Ano seria inesquecível para todos os presentes.

( a 1ª e a 2ª partes já foram postadas, se não estiver visualizando-as, suba a página e clique em Lael e aparecerão as demais partes).

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Foto de perfil de Lael Lael Contos: 248Seguidores: 747Seguindo: 11Mensagem Devido a correria, não tenho conseguido escrever na mesma frequência. Peço desculpas aos que acompanham meus contos.

Comentários

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Que família complicada em nota mil amigo pela saga kkkkk

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historia magnifica ja imagiando onde essa historia vai dar

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Muito bom, Lael, parabéns!

Pelo visto o amigo do Bob Esponja vai ter que aguentar qualquer coisa: não tem grana para pagar a separação, não tem mais clima nem com a esposa, não tem como se refugiar no trabalho... Minhas contas podem estar erradas, mas se eles se casaram no meio do ano e o primeiro ano foi bom, essas festas de final de ano devem ser com um ano e meio de casamento. Faltam dois e meio. Esse tempo dá para aguentar qualquer coisa... Um dia de cada vez :-D

Vamos ver os passos que essa dança vai nos trazer...

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