A LUA QUE EU TE DEI - CAP 10 - SONHOS MOLHADOS

Um conto erótico de Escrevo Amor
Categoria: Gay
Contém 1758 palavras
Data: 29/12/2024 04:52:26

Por fim, ficamos 10 dias em Buenos Aires. Aproveitamos outros atrativos turísticos da capital argentina, incluindo um musical na Broadway local, "Legalmente Loira". Foi divertido, mas confesso que não entendi muita coisa. Para explorar mais do país, optamos por cortar o litoral e fizemos uma parada em Mar del Plata. Que lugar incrível! Dessa vez, montamos acampamento na rua mesmo. Já tinha me acostumado a morar no motorhome. Além disso, meus companheiros de viagem me passavam segurança, mesmo com algumas das ideias loucas do Benê.

Falando nisso, ele 'criou' um reforço de segurança para a porta: um dispositivo que dava uma pequena descarga elétrica em quem tentasse invadir. Claro que, nos primeiros dias, o próprio Benê foi a vítima inaugural, mas pelo menos comprovou a eficácia da sua criação.

Uma manhã nublada de domingo nos encontrou acordando cedo para um café reforçado. Íamos visitar pontos importantes da cidade e criar conteúdos para o canal, que estava crescendo no YouTube e no Instagram. Meu irmão já tinha tratado da monetização, o que era um alívio, porque manter esse ritmo não era fácil.

Visitamos o Farol de Mar del Plata, a Laguna de los Padres e a catedral de los Santos Pedro y Cecilia. No bairro Los Troncos, sobrevoamos chalés e mansões de arquitetura tradicional. Porém, dessa vez, eu pulei a vida noturna. Benê foi para o Club Tri, acompanhando alguns amigos do ensino médio que também estavam na cidade. E, adivinhem? Fiquei sozinho com o Beto.

Aquele domingo à noite fria pedia uma sopinha. Mais cedo, Beto comprou batatas no mercado e decidiu preparar a refeição. Eu o ajudei com os legumes, enquanto escolhia a trilha sonora — algo primordial para mim na cozinha. Entre músicas e risos, começamos a conversar.

— E os namoradinhos? — perguntei casualmente, sentando perto dele, que mexia na panela. No mesmo instante, me arrependi. Pareci uma tia velha com aquela pergunta.

Ele soltou uma risadinha, mas respondeu:

— Na verdade, nunca namorei. Na minha cidade, era complicado. Claro que aprontei no ensino médio.

— Aprontou muito? — perguntei, brincando. — Você é bonito, deve ter dado trabalho.

Ele deu de ombros, sem tirar os olhos da panela.

— Bah, guri, não foi pra tanto. E obrigado pelo elogio, mas, sei lá, hoje em dia parece que as pessoas preferem outras coisas.

— Tipo o quê? — insisti, curioso.

— Coisas supérfluas. — Ele colocou a tampa na panela e sentou de frente para mim. — Uma vez fiquei com um cara que, logo de cara, perguntou se eu tinha carro. E eu lá, com a minha bicicleta velha. É sempre assim nos apps tipo 'Vrinder': ou tem que ter carro, ou tem que ter local.

Ri da sinceridade dele, mas entendi o ponto.

— É, faz sentido. No meu caso, só tive um namorado sério. — confessei, vendo o olhar dele mudar de curioso para atento. — Ficamos juntos por quase cinco anos. Ele frequentava a minha casa, o meu círculo social... mas, quando terminei, descobri um lado dele que não conhecia: mesquinho, controlador. Fiquei tão mal que acabei entrando em depressão.

Beto ficou em silêncio por um momento, os olhos castanhos cheios de empatia.

— Sinto muito, Quim. — Ele disse baixinho, no momento em que Piccolo, o gato, pulou em seu colo, arrancando um susto.

Soltei uma risada.

— Está tudo bem. O passado fica no passado.

Mais tarde, o Benê ligou. Ele avisou que dormiria no hotel com os amigos, "vou tomar um banho decente", disse ele. Não demorou muito e a chuva começou a cair com força. O vento balançava o Leopoldo de um lado para o outro, como se estivéssemos em um barco.

Enquanto a sopa ficava pronta, Beto preparou torradas com creme de alho e manteiga. Notei como ele levava a cozinha a sério. Aos poucos, ele foi se abrindo mais:

— Sabia que eu sonhava em ser chef?

— Sério? — perguntei, surpreso.

Ele sorriu de lado.

— Sempre gostei de cozinhar. Enquanto meu pai queria me moldar para ser o herdeiro dos negócios da família Klein, eu ficava inventando receitas escondido. Cozinhar era minha forma de escapar.

A sinceridade dele me comoveu.

— Você deveria tentar, Beto. Vai atrás disso. Dá pra ver que você ama cozinhar.

Ele ficou pensativo, mas não respondeu. Foi nesse momento que a chuva começou a entrar: uma goteira apareceu bem na parede ao lado da cama dele. Beto pegou um balde e colocou debaixo da água que pingava incessantemente.

— Vou dormir no chão hoje. — avisou ele, já puxando o colchão.

Segurei o ombro dele e falei antes de pensar:

— Dorme comigo. O Benê não vem, e amanhã a gente resolve isso na funilaria.

Ele hesitou, mas assentiu.

— Tem certeza?

— Qual é. Não vou te atacar. — brinquei, rindo, mas ele ficou sem graça.

— Não quis dizer isso...

— Relaxa, Beto. Somos amigos, certo?

Ele assentiu novamente.

— Você e o Benê são importantes pra mim.

A noite seguiu com a chuva batendo forte no Leopoldo. Conversamos por horas, rindo de besteiras e falando sobre sonhos. Quando finalmente dormimos, acordei com um trovão e percebi que minha cabeça estava sobre o peitoral dele. A chuva ainda caía lá fora, mas eu me sentia confortável. Tão confortável que voltei a fechar os olhos, permitindo-me adormecer novamente.

Posso te contar um segredo? Eu tive um sonho diferente. Sonhei que o Leopoldo havia dado problema e o levava a um mecânico. O sol estava mais quente, a poeira ao redor parecia se mover como fumaça de uma forma quase teatral. E então, lá estava ele: Roberto.

Usava uma regata suja de graxa, que grudava no corpo definido. Os músculos dos braços reluziam ao sol, e o boné velho cobria apenas parte daquele cabelo bagunçado que eu adorava observar. Ele limpava as mãos num pano surrado e me olhava como se soubesse que eu o desejava.

— Problema no motor, tchê? — perguntou ele, com aquele sotaque que sempre me deixava meio zonzo.

Tentei responder, mas as palavras saíram meio trêmulas. Meu peito parecia mais apertado que o capô do motorhome.

— É... Acho que o radiador... ou... não sei. — gaguejei, e ele sorriu. Um sorriso de canto que carregava perigo e promessa.

Roberto veio até mim, perto demais. O cheiro de graxa e algo puramente masculino me acertou como um soco. Senti meu corpo inteiro reagir.

— Deixa eu dar uma olhada. — Ele falou, mas o jeito que olhou pra mim fez meu coração disparar.

Antes que eu percebesse, ele estava ao meu lado, tão próximo que eu podia sentir o calor do corpo dele. E então, em vez de se curvar para olhar o motor, Roberto puxou minha cintura.

— Parece que tem mais coisa quente aqui. — Ele murmurou, a voz baixa, enquanto me encarava.

Não tive tempo de pensar, nem queria. Seus lábios encontraram os meus, e tudo ao redor sumiu. Era só a pressão firme do beijo, as mãos dele explorando meu corpo sem hesitação. Me vi prensado contra a lataria quente do motorhome, perdido no toque de Roberto.

— Tá gostando, guri? — ele sussurrou no meu ouvido, a voz rouca, o sotaque ainda mais forte.

Eu só consegui gemer, sem fôlego.

De repente, as roupas sumiram de uma forma que só nos sonhos faz sentido, e o calor que vinha do sol parecia insignificante perto do que estava acontecendo entre nós. A força com que ele me segurava, o jeito que me explorava... Tudo parecia tão real.

E então, do nada, acordei.

O teto do motorhome estava lá, me encarando como sempre. Eu estava sozinho na cama, ofegante, e apesar do frio, o suor escorrendo pela minha testa. Passei a mão pelo rosto, tentando apagar a cena da minha mente, mas tudo ainda parecia tão vivo, tão intenso.

— Que merda foi essa? — murmurei para mim mesmo, tentando entender como Roberto tinha invadido meus sonhos daquela maneira.

Mas o rosto dele, o toque, o sorriso... tudo continuava latejando em mim. E eu sabia que não ia esquecer tão cedo.

Espantei todos os pensamentos estranho e segui o dia. A chuva persistia, marcando mais um amanhecer cinzento no Leopoldo. Resolvi gravar um vídeo com uma pegada reflexiva para o Instagram. A estrela? Claro que foi o Piccolo, que sempre rendia engajamento com sua fofura. Enquanto o Beto, despreocupado com o frio, preparava o café da manhã usando apenas um short, eu pesquisava mecânicas na região.

A goteira continuava firme, nos lembrando que viajar de motorhome é um constante exercício de manutenção. Nos últimos dias, acumulamos pequenos problemas no carro, mas, seguindo a filosofia do Benê, só mostramos as partes boas para os seguidores.

— Como está a edição, piá? — perguntou o Beto, mexendo na panela.

— Ficou legal. "Um dia de chuva no Leopoldo" — respondi, ainda ajustando os detalhes do vídeo no notebook. — E você? Dormiu bem?

— Dormi ótimo. A cama de vocês é quentinha pra caramba. — respondeu, enquanto servia omeletes e café fresquinho na mesa improvisada.

— Desculpa se te usei como travesseiro. — comentei, meio sem graça, enquanto finalizava o upload.

— Não tô reclamando, guri. — disse ele, com um sorriso de canto.

— Olha, cuidado pra não ficar mal-acostumado. — provoquei, rindo.

O clima tranquilo foi interrompido por um grito vindo de fora. Corremos para abrir a porta e encontramos o Benê caído no chão, encharcado e se contorcendo. Ele havia, mais uma vez, esquecido do sistema antifurto que ele mesmo instalou no Leopoldo. Entre risos e preocupação, puxamos meu irmão para dentro, onde ele tremia como uma vara verde, murmurando coisas sem nexo.

— Tira as roupas molhadas dele. — ordenei, enquanto pegava uma toalha limpa.

— Acho melhor levarmos ele ao hospital. — sugeriu o Beto, recolhendo as roupas encharcadas para o cesto.

— Não precisa... só estou... com fome. — resmungou Benê, esforçando-se para se sentar.

— Seu idiota. — bufei, jogando a toalha na cara dele.

Ainda se recuperando, Benê lançou uma provocação:

— E como foi a noite do casal?

Beto quase cuspiu o café que estava tomando.

— Benê! — exclamei, tentando manter a compostura. — Para deixar claro: eu gosto do Beto. Ele e o Piccolo são incríveis, ótimas adições ao grupo. Mas nós somos só amigos. A-M-I-G-O-S. — soletrei com ênfase, lançando um olhar para o meu irmão. — Sem ofensas, Beto. Você é gostoso, mas somos só amigos.

— Desculpas aceitas. — murmurou Beto, meio sem jeito, mas com um sorriso divertido.

Depois de explicar a situação da goteira para Benê e garantir que ele não estava mais em perigo, seguimos até a funilaria mais próxima. O mecânico nos atendeu, inspecionando a carroceria do Leopoldo e nos dando um prazo para o conserto. Enquanto ele trabalhava, aproveitamos o tempo para ir ao mercado. Decidimos que, na próxima parada, seria noite de caipirinha, porque, afinal, nem todo dia é só consertar goteiras e salvar irmãos desastrados.

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Beto está afim dele mas está na Friendzone

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