Eu não conseguia mais olhar para Marc. Cada palavra que saía da boca dele fazia meu estômago revirar, como se uma mão invisível apertasse meu peito com força. O ambiente ao nosso redor parecia ter se fechado, abafado, como se até o ar recusasse testemunhar aquele momento. A sala, antes impecável, agora parecia um campo de batalha emocional: silenciosa, mas carregada de tensão.
– Finalmente podemos ficar juntos – disse Marc, sua voz doce e calculada, cada sílaba parecendo um veneno. Ele se aproximava devagar, os olhos fixos em mim, como se estivesse diante de uma presa. – Agora vai ser só você e eu, Yago.
Meu olhar, fixo na porta pela qual Kadu havia acabado de sair, não vacilava. Meu coração estava em pedaços, mas algo dentro de mim gritava que eu não podia me deixar levar por mais manipulações.
– Você é patético – disparei, minha voz carregada de desprezo. – Você realmente acha que pode simplesmente varrer tudo isso pra debaixo do tapete? Como se nada tivesse acontecido?
Marc riu, mas o riso não era de alegria. Era frio, cortante, quase ameaçador.
– Você pode me xingar, pode lutar contra o que sente, mas no fundo sabe a verdade. Kadu se foi, Yago. Ele escolheu ir embora, escolheu nos deixar. Mas isso nos liberta. Somos só nós dois agora.
Meu celular vibrou no bolso, mas eu ignorei. Não era hora para distrações, e a ideia de interromper aquela conversa me parecia impossível.
– Liberta? – soltei uma risada amarga. – Não há liberdade em estar preso com você.
Marc avançou mais um passo, sua expressão endurecida.
– Você fala como se fosse um santo, Yago. Mas e você? Quem estava aqui comigo quando tudo aconteceu? Quem ficou, mesmo quando sabia que não deveria?
Meu celular tocou novamente. A insistência do toque começava a me irritar, mas minha raiva por Marc era maior.
– Eu fiquei porque fui enganado, manipulado. Porque você me prendeu aqui com suas mentiras e joguinhos.
Marc não recuou. Pelo contrário, ele se aproximou ainda mais, ficando a poucos centímetros de mim.
– Mentiras? Joguinhos? – Ele riu novamente, mas agora havia uma raiva palpável em sua voz. – Você não entende, não é? Tudo o que fiz foi por você. Porque eu te amo, Yago.
As palavras dele foram como um tapa. Meu corpo inteiro reagiu com repulsa, mas antes que eu pudesse responder, meu celular tocou outra vez. Dessa vez, olhei irritado para o aparelho. Quem quer que fosse, parecia desesperado.
Peguei o celular do bolso e vi várias chamadas perdidas. Meu coração gelou ao ver o nome na tela: Mãe.
Marc percebeu a mudança em minha expressão.
– Quem é? – ele perguntou, mas eu não respondi.
Atendi o telefone com pressa, a voz do outro lado me atingindo como um soco no estômago.
– Alô? O senhor é o filho da dona Beatriz?
– Sim, sou eu. O que aconteceu? – perguntei, a voz trêmula.
– Sua mãe foi encontrada na rua, passou muito mal. Ela está internada no Hospital São Lucas, no Rio de Janeiro. O caso é grave, senhor.
Minha mão começou a tremer, e o celular quase escorregou dos meus dedos.
– Grave? – sussurrei, minha voz quase inaudível. – Mas... mas ela vai ficar bem, não vai?
– É melhor o senhor vir o mais rápido possível – respondeu a voz, cortante e prática, como se aquela fosse apenas mais uma chamada de emergência entre tantas outras.
Desliguei o telefone e deixei o aparelho cair no chão. Meus joelhos cederam, e eu desabei ali mesmo, no meio da sala.
– Não... – sussurrei, minha visão turva pelas lágrimas. – Não, isso não pode estar acontecendo.
Marc, que havia ficado em silêncio durante a ligação, se ajoelhou ao meu lado. Ele estendeu a mão, hesitante, e a pousou em minha cabeça.
– Yago, eu estou aqui. – Sua voz soava quase sincera, mas havia algo de possessivo nela. – Estamos juntos nisso, até o fim.
Mas suas palavras, naquele momento, não significavam nada. O mundo parecia ter desmoronado ao meu redor, e a única coisa que eu conseguia fazer era chorar, esmagado pelo peso da dor e pela certeza de que algo muito ruim estava por vir.
Marc se ajoelhou ao meu lado, sua mão pousando em meu ombro enquanto eu chorava. O toque dele parecia pesar mais do que deveria, como se fosse feito de correntes invisíveis. E então, ele começou a falar, sua voz baixa, mas firme, cada palavra carregada de uma intensidade sufocante.
– Yago, olha pra mim. Olha pra mim. – Ele segurou meu rosto com as duas mãos, forçando-me a encará-lo. Seus olhos estavam vermelhos, mas havia algo neles que não era tristeza; era obsessão. – Eu sei o que você está pensando, eu sei o que você está sentindo. Sei que está com raiva, está confuso, está machucado. Mas nada disso importa agora. Nada.
Eu tentei desviar o olhar, mas ele não deixou. Seu aperto aumentou, quase como se ele estivesse com medo de que eu desaparecesse.
– Tudo o que você disse antes... – Ele riu, mas era um riso amargo, desesperado. – Eu sei que não foi verdade. Sei que você falou da boca pra fora. Porque no fundo, Yago, você sabe que nós dois fomos feitos um para o outro. Você pode tentar negar, pode tentar fugir, mas nunca vai conseguir. Eu estou aqui. Sempre estive. Sempre vou estar.
Aquelas palavras fizeram meu estômago revirar, mas ele não parou.
– Você acha que pode se livrar de mim? Acha que pode simplesmente virar as costas e seguir em frente? Não pode, Yago. E sabe por quê? Porque ninguém vai te amar como eu te amo. Ninguém vai te entender como eu entendo. Ninguém vai te dar tudo o que você precisa, tudo o que você merece, como eu posso dar.
Marc se aproximou ainda mais, sua voz agora um sussurro carregado de promessas e ameaças disfarçadas.
– Você está sofrendo agora, eu sei. Sua mãe está no hospital, você acha que o mundo inteiro está desabando. Mas não está. Porque eu estou aqui. Eu posso resolver isso, Yago. Eu tenho dinheiro, eu tenho poder, eu posso fazer qualquer coisa por você. Qualquer coisa.
Ele fez uma pausa, mas não era para me dar espaço. Era para que suas palavras se impregnassem em mim.
– Você acha que vai encontrar felicidade longe de mim? Não vai. Não existe um mundo onde você seja feliz sem mim, Yago. Porque eu sou a única pessoa que realmente te conhece, que realmente te ama. O único que está disposto a fazer tudo por você, sem limites, sem reservas.
Marc soltou meu rosto, mas suas mãos deslizaram para os meus ombros, segurando-me com firmeza.
– Você pode me odiar, pode gritar, pode chorar, mas no final, vai entender. Eu sou tudo o que você tem. E você é tudo o que eu tenho. Sem você, minha vida não faz sentido. Tudo o que eu fiz, tudo o que eu sofri, foi por você. Por nós.
Ele inclinou a cabeça, seu olhar agora quase suave, mas ainda assim perigoso.
– Eu não vou te abandonar, Yago. Nunca. Você pode tentar me afastar, pode me xingar, pode dizer que me odeia, mas eu sei a verdade. Sei que, no fundo, você sente o mesmo que eu. Você pode lutar contra isso, mas não pode fugir.
Marc respirou fundo, como se estivesse tentando se acalmar, mas sua voz continuou carregada de emoção.
– E tudo o que está acontecendo agora, todas essas dores, todos esses problemas... eu vou resolver. Eu vou tirar isso de você. Vou te proteger, vou te salvar, vou te dar tudo o que você precisa. Porque é isso que eu faço. É isso que nós fazemos.
Ele soltou meus ombros, mas sua presença continuava me sufocando, como se fosse impossível escapar da gravidade que ele exercia sobre mim.
– Você não tem saída, Yago. Não há outro caminho. Só há nós dois. Sempre foi assim, e sempre será. Então pare de lutar. Pare de fugir. Deixe-me cuidar de você. Deixe-me ser o que você precisa, o que você merece.
Marc se inclinou e beijou minha testa, um gesto que deveria ser de conforto, mas que parecia mais uma marcação de território.
– Estamos juntos nisso, até o fim. Quer você queira, quer não. Porque eu nunca vou desistir de você, Yago. Nunca.