19 - A RAINHA DO CÉU

Um conto erótico de Nassau
Categoria: Heterossexual
Contém 6116 palavras
Data: 30/12/2024 16:07:58
Última revisão: 30/12/2024 17:58:24

CAPÍTULO 19

Na-Hi mais uma vez estava certa e quando começaram a se aproximarem da praia Margie, que gemia de dor a qualquer movimento mais brusco da maca improvisada que a carregavam, ficou mais tranquila e conseguiu dormir. Ao notar isso, a coreana se aproximou mais dela e viu algo que a deixou assustada, fazendo com que ela tocasse o ombro da ruivinha para acordá-la e, quando Margie abriu o solhos, viu o rosto assustado de Na-Hi que lhe perguntou com ela em voz baixa:

– Margie, o filhote está mamando em você?

– Lógico Na-Hi. Eu sou a mãe dele! Está lembrada?

– Loucura é uma mãe deixar de alimentar seus filhos.

Não querendo discutir mais e entendendo que a garota precisava descansar, Na-Hi apenas revirou os olhos e não disse mais nada. Dez segundo depois Margie já tinha fechado os olhos e sua respiração regular indicava que ela já voltara a dormir.

Quando finalmente chegaram na praia o dia já estava quase amanhecendo e logo todos acordaram. A princípio, foi um alvoroço, com todos querendo ver de perto os filhotes, porém, Na-Hi se encarregou de impedir que perturbassem o sono de Margie e ficou ao lado dela e de Chantal que também apresentava sinais de melhoras. Só na tarde daquele dia, quando Margie acordou e demonstrou estar com a disposição de sempre, foi permitido ao demais se aproximarem e admirarem os filhotes. Nessa altura, os ferimentos de Margie já apresentavam apenas uma marca mais clara, o que indicava que ela não ficaria com nenhuma cicatriz. O de Chantal também já estava praticamente curado.

Três dias depois, foi necessário que Ernesto e Na-Hi reunissem a todos para uma reunião, onde eles chamaram a atenção de todos para o fato de que os trabalhos tinham que continuar, pois até mesmo Pâmela estava tão empolgada com os filhotes. Todos entenderam os argumentos deles, porém, negociaram e conquistaram um tempo no final da tarde para se dedicarem aos filhotes.

Com vinte dias de vida, os filhotes já faziam parte da família. Mas o que aconteceu de uma forma natural e a princípio ninguém percebeu foi que cada um deles parecia ter a predileção por uma pessoa diferente.

Ares corria para Milena assim que ela se aproximava e a garota ficava eufórica ao ver que era a preferida, enquanto Apolo não se desgrudava de Pâmela. Ártemis se tornava cada dia mais, uma sombra de Nestor enquanto Afrodite não deixava o Henrique em paz e, para a admiração de todos, Atena estava sempre no colo de Ernesto que a embalava como se fosse um bebê enquanto ela ronronava em seu colo. Mas essa escolha, que pareceu partir mais dos filhotes do que dos humanos, serviu para que cada um deles fosse identificado, uma vez que, considerando a aparência deles, não tinha como identificar os três negros e nem os dois pintados. Apenas Neve, por ser totalmente diferente, não passava por esse problema.

E não era só isso que diferenciava o filhote albino dos demais. Seu comportamento, apesar de ter menos de três semanas de vida, não era igual ao dos irmãos. Ele não se apegara a ninguém e ainda implicava com os outros filhotes e com seus preferidos. Chegava a ser cômico ver aquela bola de pelos brancos tentando intimidar aos outros com uma imitação de rosnado. Mas o que chamava mais a atenção é que ele era agressivo com os humanos e filhotes quando esses estavam juntos, pois quando estava só a ninhada, ele não perturbava ninguém.

Também não adiantava ralhar com Neve, pois ele não se intimidava nunca e só sossegava um pouco e deixavam os outros em paz quando a Margie brigava com ele. Chamava a atenção quando ela, apenas dizendo seu nome, fazia com que ele parasse de importunar aos outros e corresse para o lado dela e tentava escalar sua perna, só sossegando quando ela a pegava no colo.

Durante os vinte dias desde que voltara de sua aventura, Margie desfilava diante de todos completamente nua. Ela perdera a roupa que usava antes e parecia não se incomodar com isso. Para piorar a situação, ela tinha aprendido a controlar Chantal e, quando queria transar, bastava ordenar que a pantera ficasse deitada na praia e era obedecida. A beleza do corpo dela que não apresentava nenhuma marca dos ferimentos que teve quando lutou com os lobos.

A aventura vivida por Margie provocou nela algumas mudanças. Ela agora era mais segura, exercia total controle sobre Chantal e trabalhava com afinco durante o dia ajudando Na-Hi que agora se dedicava a construir uma cabana e planejava uma forma de levar água da fonte até esse o local. A ruivinha não perdera a sua jovialidade e continuava uma garota alegre e brincalhona nas horas vagas e, em virtude de sua libido estar sempre em alta e aproveitando que Chantal obedecia quando ela ordenava para que ficasse deitada na praia, transava com o Nestor todas as noites e houve uma vez em que cismou em transar com o Ernesto e quando pediu para Milena trocar com ela, causou um verdadeiro alvoroço que foi resolvido com a intervenção da Pâmela que cedeu o seu lugar.

Milena, a princípio contrariada e com ciúme ao ver seu pai fodendo a ruivinha, logo mudou de ideia, pois quando Margie se dedicou a lhe dar prazer, ela gozou como poucas vezes, Depois da transa, ela chegou a confessar para quem quisesse ouvir que o ménage com seu pai e Margie fora uma das fodas mais loucas que tivera em sua vida.

Depois desse dia, Margie começou a se jogar para o lado do Henrique. Ela já tinha transado com ele duas vezes, a primeira foi no iate, junto com Diana e a outra quando foi fodida durante uma noite inteira pelos três homens. Ela não sabia explicar o motivo disso, mas todas as vezes que ela olhava para o Henrique se imaginava transando com ele e sentia sua bucetinha escorrer e, em virtude de andar sempre nua, não demorou em que alguém notasse e a primeira foi a Diana que comentou isso com ela quando estavam, ela, a Diana e Pâmela cortando folhas das palmeiras para começarem a cobrir a cabana em construção e o Henrique veio até onde elas estavam para transportar as que já tinham cortado. Ao ver o olhar que Margie deu ao rapaz, Diana comentou:

– O que foi Margie? Está sonhando acordada?

– Do que é que você está falando? Eu não estou fazendo nada! – Respondeu Margie com uma cara de safada.

– Sei. Não está fazendo porque o cara não te dá brecha. Se desse, você já se atirava pra cima dele.

– Ah Diana. Esse cara é meu sonho de consumo. Pena que a Cahya não se separa dele nunca.

– Entra na fila, querida. É seu sonho e de todas as mulheres daqui. Até a Milena que está nessa fase de curtir ao Ernesto daria um tempo nessa paixão e transava com ele.

– Faço sua as minhas palavras, Pâmela. Eu mesma não esperava um segundo, Mas parece que depois daquela noite em que a Margie resolveu ser a putinha dos três machos que existem aqui, a Cahya não dá mais um minuto de folga. – Falou Diana sorrindo. Depois ela ficou séria e acrescentou: – Esse ciúme da Cahya já está enchendo o saco. Ela vai acabar perdendo o Henrique por causa disso.

– Pois é! A Cahya era um doce de pessoa e depois daquilo se tornou uma chata.

Isso era verdade. O ciúme de Cahya estava provocando mal estar entre os todos os outros moradores do acampamento e provocou o afastamento de Na-Hi do casal, e quando menos se esperava, ela já era vista mais em companhia de Nestor e Diana, passando a fazer parte das noites de sexo com os dois.

Desta forma, as relações entre eles ficaram alteradas. Ernesto, Pâmela e Milena, agora sem mais problemas quanto ao fato do pai se relacionar com a filha, formavam o outro trisal, enquanto a Margie, com exceção do dia em que transou com Ernesto, se juntava à Diana e Nestor, mas apenas para a transa, pois ela sempre tinha que se agastar por causa do Neve que, impaciente com o fato dela estar distante dele, ia até onde o casal estava. Para não estragar a noite de Nestor e Diana, Margie se afastava em companhia do filhote. Ela fazia isso e normalmente ficava horas brigando com o animal que, ao ver que ela estava brava, se deitava em seu colo e ficava todo enrolado enquanto olhava para ela com seus olhos verdes e brilhantes.

Sentido a dificuldade em aguentar os ataques de Cahya, o Henrique foi se tornando uma pessoa mais séria e até evitava ficar muito tempo ao lado dela. É muito difícil ficar ao lado da pessoa que ama quando essa parece ter como objetivo principal ficar acusando-o de ser um safado que gostava mais das outras mulheres do que dela. Por maior que seja o amor, isso acaba fazendo com que ele também comece a evitar a pessoa que o ataca e essa atitude por parte do Henrique só piorou as coisas, pois todas as vezes que ele ficava muito tempo sem se aproximar da esposa, quando se aproximava era só para sofrer um interrogatório completo e isso começava com Cahya querendo saber onde e com quem ele estava e o que estava fazendo. E não adiantava nada ele dizer a verdade, pois estava trabalhando ou simplesmente conversando, que ela não acreditava, começava a acusá-lo de ser um mentiroso e tarado e a discussão entre marido e mulher se intensificava e acabava sempre com ele tendo que enfrentar a pior das acusações, que era a de ser um traidor que não podia ter uma buceta por perto que já queria foder.

A situação no relacionamento do casal ia cada vez mais se deteriorando, até que um caso fortuito fez com que surgisse uma oportunidade que acabou por levar à ruptura e, mesmo sem ter nenhuma intenção, mais uma vez foi a Margie que causou o desfecho.

Margie continuava a amamentar os filhotes, principalmente Neve que dificilmente mamava em Chantal. Quando Diana comentou que não entendia porque o albino era o mais fortes entre os filhotes, pois não mamava direito, Margie desmontou o argumento dela provando que estava produzindo leite. Na frente de todos, ela espremeu o bico de um de seus seios e todos viram o leite esguichando.

Quando os filhotes entrando no terceiro mês de vida e ainda dependendo da mãe para seu principal meio de alimentação, o leite de Chantal começou a ficar escasso. Isso era um problema, pois não havia entre eles ninguém que tivesse um conhecimento nessa área para poder pelo menos tentar resolver a situação, Havia o leite de Margie que, apesar de abundante, não era o suficiente para amamentar seis filhotes.

Em uma reunião entre Margie, Na-Hi, Diana e Henrique, a angolana lembrou-se de uma coisa. Ela disse que quando aconteceu, não pareceu ter importância, mas que agora poderia ser algo que resolvesse o problema que eles enfrentavam. Na verdade, tudo surgiu com um comentário de Ernesto que falou depois de confessar não ter nenhuma esperança em resolver o problema:

– Se pelo menos tivéssemos algumas vacas, ou mesmo cabras nessa ilha, a gente poderia dar um jeito nisso.

Quando ele comentou isso, a Diana que até então pouco contribuíra na reunião, interrompeu Na-Hi que ia dizendo alguma coisa e falou:

– Você está enganado. Tenho certeza que nessa ilha tem os dois.

– Como assim? – Perguntou Na-Hi – Ninguém aqui jamais comentou que tenha visto uma. Você por acaso já viu?

– Não. Não vi nenhum. Mas vi uma coisa que prova que estou falando a verdade.

– O que você viu Diana? Conte pra gente. – Falou Ernesto ao perceber a expressão de descrença no rosto da coreana.

– Quando estávamos procurando pela Margie, naquela vez que ela sumiu e a encontramos no meio do mato, eu vi fezes de gado e também de cabritos.

– E por que você nunca comentou nada? – Perguntou Na-Hi, agora irritada.

– Porque eu não pensei que isso fosse importante. Achei que era uma descoberta que poderia ser útil no futuro e eu estava certa. Pelo jeito agora é.

– E onde foi que você viu? E aproveita para explicar o motivo de nunca ninguém daqui ter visto a mesma coisa.

– Porque é longe. Muito longe. Fica além daquele rio que nós atravessamos e perdemos um dia todo antes de descobrir que a Margie não tinha atravessado o mesmo. Acho que esses animais só existem do outro lado daquele rio e, se eu estiver certa, muito além de lá. Acho que mais um dia de caminhada.

– Espera aí Diana. Agora você está indo além da suposição. Você dizer que viu as fezes dos animais, tudo bem, mas confessar que sabe até a distância que eles estão de nós já é um chute daqueles. – Censurou o Henrique.

– Está bem gente. Eu não queria falar sobre isso porque não queria ser considerada uma aberração. Mas algo de muito estranho tem acontecido comigo. – Falou Diana pesarosa.

– Tá. Então desembucha. O que esse algo estranho tem a ver com o que você sabe?

– Vocês vão dizer que estou mentindo. Mas vou falar mesmo assim. E tem outra coisa que vocês precisam saber primeiro. Eu cheguei naquela lareira e vi os abutres já sabendo que isso aconteceria. Isso porque, quando fomos dormir achei uma pena de ave no local onde me acomodei. Acho que era de uma água. Acho não, eu tenho certeza que era de uma águia. Era uma pena muito grande, o que indica que a ave que a deixou ali é muito grande. Então eu peguei a pena e, quando a toquei, aconteceu algo que eu não sei explicar. Foi como se eu entrasse em transe e me vi dirigindo para a clareira e vendo os abutres no céu. No outro dia, quando retomamos nossa caminhada, parecia que eu já tinha percorrido aquele caminho. Cada árvore, cada raiz se sobressaindo do chão era minha conhecida. Então eu segui aquela trilha e cheguei à clareira e vi a cena que nada mais era do que uma repetição da visão que eu tive em sonho.

– Você quer dizer que, apenas por tocar na pena de uma águia você teve uma visão? – Comentou o Ernesto sem esconder seu ar de descrença.

– Exatamente isso. E foi essa visão que nos auxiliou a encontrar a Margie, a Chantal e os filhotes.

– Tudo bem. Mas qual a relação disso com o gado e os cabritos?

– A relação é que eu trouxe a pena comigo. Quase todas as noites eu a seguro em minha mão e uma visão se repete. O normal sou eu me sentir voando em uma noite sem lua, tudo escuro. Em outras, a visão parece ser durante o dia ou com uma lua que permite eu ver toda a paisagem abaixo de mim. E foi nessa visão que eu vi os animais do qual estamos falando.

– Era só o que faltava. Já temos quem se comunica com os peixes, outra que se comunica com uma fera, e agora me aparece uma que parece ter a mesma relação com uma ave. – Comentou o Ernesto em um tom que não dava para saber se estava falando sério ou com ironia.

– Não é a mesma coisa. – Contestou Na-Hi: – A Cahya entra na mente da Ruta e passa a agir. É ela que determina o que deve ser feito. Além disso, ela usa essa conexão para comandar os demais golfinhos. A Margie não faz nada disso. Ela e Chantal conseguem se comunicar e uma age a favor da outra.

– Mas como ela se comunica? Eu a vejo falando com a Chantal e ela usa o mesmo idioma que nós. – Perguntou Henrique que passou a demonstrar curiosidade com o assunto.

– Não sei. Acho que não é o que ela fala. Talvez sejam ondas cerebrais que ela emite quando se dirige à Chantal e a onça entende. A recíproca deve ser verdadeira e a Chantal se comunica com ela da mesma forma. Mas isso é só um palpite. Não estou afirmando nada,

– E como é que você acha que funciona esse poder da Diana?

– Em primeiro lugar eu não sei se é um poder. Ao que tudo indica, o simples fato de tocar em algo que fez parte do corpo da águia faz com que ela tenha as mesmas visões que a água já teve, ou que está tendo.

– E como é que podemos descobrir isso? – Perguntou Ernesto, agora demonstrando mais interesse.

– Podemos fazer um teste. – Disse Na-Hi e depois se dirigiu à Diana: – Diana, você pode, por favor, pegar essa pena. Quero tentar uma coisa.

Diana correu até o cômodo construído por Na-Hi e que todos usavam para guardar suas coisas e voltou em menos de dois minutos. A coreana pediu para que ela tocasse a pena e se concentrasse em tudo o que estava vendo e ficou decepcionada quando Diana relatou que via as mesmas coisas que já tinha visto antes. Na-Hi ficou pensativa até que falou:

– Vamos tentar uma coisa diferente. Essa pena, ao que tudo indica, pertenceu a uma águia. Então eu quero que você se concentre em uma água e me diga tudo o que vê.

Diana tentou e dessa vez, embora os demais não conseguissem saber o que estava acontecendo, era possível notar que algo se passava, pois o semblante de Diana foi se alterando, começando a expressar surpresa e depois foi mudando até se transformar em puro êxtase, Na-Hi quis saber o que ela via, porém, Diana parecia estar a quilômetros dali e não lhe respondeu naquele momento. Somente depois de passado três minutos, a angolana foi saindo do transe em que estava e, depois de olhar para todos, falou sorrindo:

– Nossa! Que maravilha é poder voar.

– Você se sentiu voando da mesma forma que antes?

– Não. Dessa vez foi diferente. Nas outras eu tinha apena a visão da paisagem embaixo de mim, mas agora parecia que eu estava no comando. Olhava para os lados e para baixo e me senti pairando no ar.

– Vamos tentar só mais uma coisa. Volte a se concentrar e, quando estiver voando, venha para cá.

– Como assim?

– Você disse que estava no comando. Isso quer dizer que voava para onde quisesse. Então, venha para cá.

Diana obedeceu e dessa vez o transe que ela entrou não durou apenas três minutos. Precisou que se passasse mais que dez para que ela finalmente abrisse os olhos e só então Na-Hi perguntou:

– A então? Conseguiu?

Em vez de responder, Diana estendeu o braço e apontou com o indicador para algo que estava atrás de Na-Hi. Todos olharam naquela direção e ficaram de bocas abertas. Pousada em uma árvore à cerca de trinta metros de onde eles estavam uma águia olhava para eles enquanto virava a cabeça para os lados, quase fazendo uma volta completa, Precisou de tempo para que Na-Hi se controlasse e ordenasse para Diana:

– Vá até ela.

– Será que é seguro?

– Você que deve saber. Mas acho que é sim. Senão fosse você não a traria até aqui.

Diana obedeceu, porém, quando chegou próximo ao local onde a águia estava pousada, a mesma arremeteu um voo direto para ela com as garras estendidas para um golpe que, não fosse a velocidade de Na-Hi agiu, teria sido fatal. As duas caídas no chão, se viraram rapidamente e viram a água ganhando altura.

– Concentre-se e faça com que ela volte.

Diana se esforçou, mas logo informou:

– Eu não consigo.

Enquanto Na-Hi olhava para os lados procurando por algo que justificasse a reação da ave, notou que Henrique andava em direção a elas com a pena que Diana deixara cair no chão na mão.

– Pegue a pena e tente fazer com que ela volte.

Diana obedeceu e imediatamente a águia fez um gracioso arco no ar e voou em direção a ela, pousando no chão, a cerca de um metro de Diana. Na-Hi a orientou:

– Aproxime-se mais agora. Mas não solte a pena.

Segurando a pena com a mão estendida à sua frente, Diana se levantou. Precisou de um minuto para que ela desse um passo em direção à águia que se manteve imóvel. Animada com a reação da ave, ela deu mais um e já estava face a face com o animal. Então estendeu mais a mão que segurava a pena e a água abaixou a cabeça tendo um contato entre essa parte de seu corpo e a mão de Diana.

A visão de Diana, ao sentir o contato suave da penugem da cabeça da ave contra sua mão, imediatamente teve o foco de sua visão modificada. De repente, não era mais a águia que estava à sua frente. Em vez disso, ela via a si mesma em pé, com a mão estendida e atrás dela seus três amigos. Por conta própria, resolveu fazer um teste e, afastando sua mão da cabeça do animal, segurou apenas a pena e se concentrou, voltando a ter as visões de antes.

Ela voltou a tocar o animal e disse com voz suave:

– Vá. Quando precisar eu te chamo.

A ave deu alguns passos para trás, abriu as asas mostrando sua envergadura de quase dois metros e depois emitiu um pio calmo antes de alçar voo e sumir entre as nuvens.

Todos estavam em êxtase. Mas não durou muito, pois logo Na-Hi voltou a dominar o seu dom de organização e começou a dar ordens:

– Vamos pegar nossas coisas e vamos atrás dessas vacas. E não se esqueça de levar essa pena Diana. – Depois ficou pensativa, voltando a falar depois de alguns segundos: Aliás, você nunca deve se separar dessa pena, Tenha ela sempre ao seu alcance.

– Tudo bem Na-Hi. Eu concordo que devemos capturar esses animais. Só acho que você devia ficar aqui. Acho que três é o suficiente. – Propôs o Ernesto.

– Tudo bem. Melhor vocês três irem. Eu cuido das coisas aqui. – Disse Na-Hi para evitar que a discussão se prolongasse.

Depois de discutirem mais, agora sobre a expedição, decidiram deixar para partirem na madrugada do dia seguinte.

Entretanto, não foi fácil a expedição formada pelos três partirem para cumprirem a missão a que se propuseram. Primeiro foi a Milena que não aceitou seu pai ir sem ela e no final, como os serviços a serem feitos naquele dia precisava do maior número de pessoas, o que tornava desaconselhável que quatro deles se ausentassem, acabou dela convencendo seu pai a ficar e se oferecendo para ir no lugar dele.

Depois de resolvido esse problema, surgiu outro motivado pelo ciúme de Cahya. Ela, que já não gostava de saber que o Henrique ia sair para uma expedição que poderia levar três dias ou mais, não quis aceitar e, quando percebeu que seu marido estava irredutível e desesperada ao ver que ele estaria em companhia de duas mulheres, sendo uma delas Milena, surtou de vez e passou às acusações que levou ao início de uma briga, o que só não ficou pior porque ele pegou suas coisas e saiu em direção ao mato, indicando o local onde esperaria pelas duas, deixando a Cahya com um olhar furioso, mas que não durou muito, pois quando viu Milena e Diana caminhando na direção onde seu marido tinha desaparecido antes, caiu em prantos.

No primeiro dia o trio acelerou os passos e pararam ao anoitecer às margens de um curso de água cristalina. Com a ajuda de suas facas e um facão que Na-Hi entregara ao Henrique, eles fizeram uma pequena clareira em meio à vegetação, usando as folhas para improvisarem suas camas. Depois acenderam uma fogueira, se alimentaram de carne de veado salgada que Cahya, muito a contragosto, tinha dado a eles e se preparam para dormir. Henrique se deitou na cama mais distante do córrego e Milena se apossou da cama ao lado dele, ficando a Diana mais próxima à água. Por estarem cansados da caminhada em ritmo acelerado que fizeram durante quase todo o dia, eles dormiram logo. Porém, não demorou em que eles acordassem com o uivo de lobos que começaram a soar não muito longe de onde estavam, o que fez com que o Henrique se prontificasse a ficar acordado, montando guarda.

Diana não concordou com ele e depois de uma breve discussão ficou decidido que eles ficariam de guarda em turnos, sendo a Milena a primeira. Eles revezaram sem problemas em ficar cuidando da segurança dos que dormiam, sem imaginar que a fogueira que ardeu durante toda a noite já era uma segurança, pois a sua existência impedia a aproximação de qualquer outro animal.

Voltaram a caminhar na manhã seguinte e antes da metade do dia já tinham ultrapassado o rio. Eles ficaram surpresos por ter percorrido uma distância tão grande em pouco tempo, sem saber que a Diana, usando o seu poder de poder enxergar através dos olhos da águia, escolhera um caminho mais direto e mais fácil de percorrer.

– Agora que estamos do outro lado do rio, é melhor irmos mais devagar e tomar mais cuidado, – Propôs o Henrique.

– Não precisa Henrique. Já sei exatamente aonde ir e sei também que não tem nenhum risco. Quer dizer, pelo menos até chegarmos lá não tem. E pelos meus cálculos, deveremos chegar lá antes do pôr do sol.

Tudo aconteceu do jeito que Diana previu e ainda faltava mais de uma hora para o sol se pôr atrás das montanhas ao oeste quando os primeiros sinais dos animais que procuravam surgiram. O primeiro deles foi descoberto com as pragas rogadas por Milena ao pisar com seu pé descalço em estrume de gado. Diana, depois de rir da garota, caçoou dela ao mesmo tempo em que pedia:

– Pelo menos isso vai evitar que eu precise colocar as mãos nessa merda. Fala pra mim se está quente ou frio?

– Está morno ainda. Se bem que não sei no que isso pode ajudar. – Respondeu Milena mal humorada.

– Se estiver pelo menos morno quer dizer que está aí há pouco tempo, o que indica que o animal que deixou esse presente para você não está longe.

– Diana, vem dar uma olhada nisso. Acho que não são só vacas que vamos encontrar aqui. – Chamou o Henrique enquanto Milena dizia que ‘a merda que pisara’ ainda estava quentinha.

Diana correu até lá e, depois de examinar, perguntou:

– Isso é de que animal? Cabrito?

Ela se referia a outro monte de fezes que Henrique lhe mostrara.

– Não, de cavalo. O de cabrito são bolinhas menores. – Quem respondeu foi Milena, cuja curiosidade a levara a se juntar aos seus companheiros.

– E você entende disso? – Perguntou Diana desconfiada.

– Lógico que entendo. Meu pai me deu um cavalo antes da gente vir parar nessa ilha.

– E você sabe montar, pelo menos?

– Acho que sei. Quer dizer, meu pai contratou um professor de equitação, mas ele ficava mais tempo montada em mim do que eu no cavalo. – Disse Milena sorrindo e depois revirou os olhos e continuou: – Nossa! Como era gostoso o meu professor de equitação.

– Essa aí só pensa naquilo! – Comentou Diana em tom de provocação.

Milena não respondeu, pois seu olhar estava fixo em um ponto que ficava às costas de Diana, Henrique olhou naquela direção e comentou em tom de admiração:

– Meu Deus! Olha só que temos aqui!

Diana se virou bruscamente e, quando olhou a massa negra que, parado a menos de quatro metros dela, balançava a cabeça e batia com uma das patas dianteiras no chão.

Era um garanhão. Negro como a noite, com sua pele refletindo os raios mortiços de um sol poente, o cavalo balançava a cabeça para baixo e para cima de forma ameaçadora, fazendo com que Diana começasse a se mover para trás até perceber que estava atrás de Henrique e de Milena que, sem que ela notasse, estava andando em direção ao animal,

Com uma mão estendida para frente, Milena falava em voz baixa e carinhosa:

– Oi, amigo. Você é muito lindo, sabia?

O cavalo se levantou nas patas traseiras e depois se manteve imóvel, mas quando Diana, com uma voz apavorada, gritou para que Milena se afastasse, ele pareceu se assustar, recuou alguns passos e depois se virou, saindo a galope dali.

– Porra Diana. Isso foi uma idiotice. Você não precisava gritar. – reclamou Milena.

– Você está doida, Milena. Olha o tamanho daquele animal? Uma patada dele ia te deixar em pedaços.

– Aí é que você se engana. Se ele estava aqui é porque tem algo de especial nele. Normalmente os cavalos fogem das pessoas.

– É mesmo? E quando foi que a patricinha aí passou a ser especialistas em cavalos.

– Acho que agora mesmo. Eu até gostava do meu. O nome dele era Calígula. Mas era uma coisa normal.

– E daí? Isso não explica nada.

– Tá, Não explica. Mas eu senti algo que nunca tinha sentido antes. Senti como se aquele... – Milena vacilou pensando no que ia falar, pois ela mesma achava uma loucura: – Aquele cavalo tivesse alguma ligação comigo.

– Isso é loucura. Você só pode estar doida Milena.

– Pois é. Estou doida sim. Tão doida como as pessoas que se entendem com golfinhos, com panteras e até com águias. Ou você discorda que tudo isso não passa de uma loucura?

O argumento de Milena não tinha contestação e Diana ficou calada pensando no quanto ela tinha razão e foi tirada de seu pensamento por Milena que reclamou:

– Mas isso agora não adianta mais. O cavalo se assustou e acho que nunca mais vamos vê-lo. Pelo menos não tão de perto.

Só que Milena estava errada. Eles se preparam para dormir, acenderam uma fogueira e repetiram a mesma escala da noite anterior, com Milena sendo a primeira a ficar vigiando o acampamento improvisado deles.

A noite seguia tranquila, Diana e Henrique já tinham dormido depois de se alimentarem e Milena encontrou um tronco de uma árvore caída onde se sentou e ficou admirando as estrelas. Era a primeira vez que ela se dedicava a olhar o céu noturno e ficou impressionada. Era uma noite sem lua, mas as estrelas pareciam tão próximas da terra que ofereciam uma tênue claridade que a permitia ver os vultos das árvores e da montanha ao longe. Ela não conhecia nada de astrologia, mas mesmo assim, percebeu que havia diferenças consideráveis entre o céu que aprendera a olhar durante toda a sua vida e o que se apresentava diante dela. Lembrando-se que tinha viajado para o sul para chegar àquela ilha, procurou pelo Cruzeiro do Sul, mas não o encontrou. Em vez disso, estrelas maiores e mais brilhantes brilhavam aos seus olhos.

Estava nessa contemplação quando ouviu o estalo de um galho seco se quebrando atrás dela. Milena prendeu a respiração imaginando que poderia ser um lobo ou coisa pior e, assustada virou-se rapidamente.

O susto que levou fez com que desse alguns passos para trás e tropeçasse em um galho caído, caindo sentada no chão. Diane dela, o cavalo negro a mirava com seus olhos grandes e brilhantes e foi se aproximando, dando a volta o tronco onde ela sentava. Milena prendeu a respiração quando ele se aproximou, baixou a cabeça e, num gesto que ela jamais sonhara, encostou o focinho em sua cabeça como se quisesse sentir mais de perto o cheiro dela e depois recuou a cabeça. Ela, lentamente, foi se levantando até ficar em pé, diante do animal. Com muito cuidado, estendeu a mão e tocou na cara do cavalo que forçou a cabeça ao encontro de sua mão e soltou o ar. Era como se ele tivesse sentido prazer naquele toque. Ela então falou:

– Você é um bom garoto. E muito lindo.

O cavalo balançou a cabeça para cima e para baixo como se concordasse, ou agradecesse a ela pelo elogio, o que fez com que ela tentasse algo mais ousado e, segurando a cara do cavalo com as duas mãos, aproximou seu rosto do dele e deu um beijo na testa, entre os olhos, exatamente no local onde havia uma mancha branca cujo desenho era muito parecido com o de uma estrela. Aquela e uns vinte centímetros no final de cada uma de suas patas eram as únicas coisas brancas no animal, pois o resto era de um negro da cor da noite.

Depois disso, sem deixar de tocar o rosto do cavalo com ambas as mãos, Milena ficou vários minutos olhando nos olhos dele e, na medida em que o tempo passava, ela se via cada vez mais envolvida com o brilhos daqueles olhos negros e expressivos. Parecia até que o animal queria passar uma mensagem tranquilizadora a ele. Só então ela falou:

– Como vou chamar um cavalo tão bonito como você? Não me ocorre nada que possa dar uma ideia do quanto você é lindo.

O cavalo, como se quisesse dizer algo, balançou a cabeça para cima e para baixo.

– Tudo bem. Você me ajuda. Eu falo o nome e você me mostra se gosta ou não.

Novamente o mesmo movimento por parte do animal.

– Vamos ver. Tempestade, o que você acha.

O cavalo dessa vez ergueu a cabeça o mais alto que conseguiu e deu dois passos para trás;

– Tá bom. Tá bom. Esse não serve. Por favor, não vá embora.

Depois de falar isso, Milena viu o cavalo voltar até ela e esperar.

A partir daí Milena passou a repetir nomes, Ela se lembrou de tudo que era negro. Petróleo, Breu, Negro e alguns outros e o cavalo repetia o mesmo gesto, dando a entender que não gostava. Então ela falou:

– Tornado. Tornado é bom, pois você deve ser rápido como um tornado. Rápido e livre.

Dessa vez a reação do animal foi diferente. Ao invés de recuar e fazer o movimento que fizera antes com a cabeça, ele a abaixou e depois se aproximou ainda mais dela até que seus rostos se tocassem.

– Gostou, não é? Muito bem. Então vai ser Tornado.

Depois disso os dois ficaram naquele romance com Milena falando para o animal como se estivesse falando com um velho amigo e ele ficava apenas a encarando com seus olhos grandes e brilhantes, até que chegou a hora em que ela devia acordar ao Henrique. Ela explicou ao cavalo que precisava fazer isso e falou que ele podia ir embora, pedindo para que voltasse no dia seguinte. Ele bufou, virou-se e saiu andando em passos lentos até parar e olhar para ela. Milena então disse:

– Vai Tornado. Vai correr e viver sua vida. Mas volte amanhã, viu?

O cavalo então saiu em um galope lento e macio.

Milena foi acordar o Henrique que tomou o seu lugar na vigília, porém, ela não conseguia dormir. Sentia que precisava falar sobre aquilo com alguém e ao mesmo tempo, achava que devia fazer uma surpresa para seus companheiros de jornada no dia seguinte. Ela tinha certeza de que Tornado voltaria. Então, talvez para distrair seus pensamentos daquele episódio, ela resolveu pensar em outras coisas e a primeira coisa que lhe veio à mente foi Henrique.

O cara que, tirando o pai dela, tinha ocupado seus sonhos mais loucos nos últimos tempos estava ali, ao alcance de sua mão e ela se imaginava nos braços dele. Sentiu um arrepio percorrer seu corpo e percebeu que, se era para se distrair e deixar que o sono a dominasse, tinha escolhido o pensamento errado, pois aquele só servira para deixar seu corpo mais quente e, quando sentiu sua xoxotinha ficar molhada, ela não resistiu. Levantou-se e foi até o local onde deixara o Henrique.

Aproximou-se lentamente, mas sem adotar nenhum cuidado para evitar que sua presença fosse notada e ouviu o Henrique dizer:

– O que você está fazendo aqui Milena? Vai dormir vai. Amanhã vai ser um dia difícil.

Ele falou tudo isso sem se voltar para ela. Ela se admirou, pois poderia ser a Diana que estivesse ali, mas ele falara com tanta certeza que ela chegou a acreditar que ele já esperava por isso. Então ela deu a volta e ficou à sua frente, falando:

– Não consigo dormir. Acho que não estou me sentindo bem.

– Verdade? E o que você está sentindo?

– Meu corpo está quente e parece que tem borboletas voando no meu estômago,

– Você comeu alguma coisa? Será que foi a carne seca que não te fez bem?

“Santa ingenuidade!” pensou Milena e depois falou:

– Não acho que seja isso. É um tipo de queimação diferente. Olha,

Dizendo isso Milena pegou a mão do Henrique e a encostou em seu rosto, Ele comentou:

– Parece que está normal.

– Talvez no rosto esteja, Mas olha aqui,

Dizendo isso, Milena puxou a mão de Henrique para baixo e a encostou em um de seus seios. Ele suspirou e disse:

– Para com isso Milena. Eu não quero problemas com seu pai.

“Você escolhe cara. Problemas com meu pai, ou problemas comigo”,

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Comentários

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Vamos ver se eu acertei. O primeiro nome que foi recusado era para ser Tempestade e eu digitei Tornado que no final ficou sendo o nome disso.

Se for só isso, está editado e corrigido.

Se não for, me avisa aí. Pode dizer onde está o erro, não se preocupe porque eu sei que você só está me ajudando.

Obrigado amigo. Obrigado mesmo. Valeu. Muito

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Era isso mesmo, meu caro.

E estou adorando todas as citações espalhadas pelo texto...

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Nassau, dá uma revisada no trecho da escolha do nome do cavalo.

No mais, continua muito legal.

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Desculpe, Em vez de responder eu fiz outro comentário.

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