Acordei no outro dia e meu amor já tinha saído para trabalhar. Levantei para ir ao banheiro e senti meu corpo um pouco dolorido, provavelmente por causa do furacão loiro que passou por cima de mim. Mesmo com algumas dores, saí da cama animada e com um sorriso no rosto. Fiz minha higiene e, ao olhar no espelho do banheiro, vi algumas marcas roxas no meu pescoço. Em vez de ficar chateada, aquilo me arrancou um sorriso dos lábios. A noite passada foi incrível, nunca vi Naomi tão solta como ela estava. E saber que ela só se solta totalmente comigo me deixou feliz também.
Voltei para o quarto e fui procurar as maquiagens da Naomi para disfarçar aquelas marcas. Não foi difícil encontrar o que eu queria, até porque Naomi tinha alguns estojos de maquiagem. Eu não uso muito, e ela também não usava no início do nosso namoro, mas pelo jeito agora ela aprendeu a gostar. Consegui deixar as marcas praticamente invisíveis e fui tomar meu café. Simone estava na sala e, ao me ver, abriu um sorriso e me desejou bom dia.
Meus dias ali foram tranquilos. Durante o dia, ajudava Simone com os afazeres de casa e conversava com minhas amigas e família por chamadas ou mensagens. À noite, curtía meu amor e conversávamos muito sobre o nosso futuro. Ela queria voltar para sua cidade e ter uma vida mais tranquila; eu não me opunha a isso, mas o problema eram meus pais. Eu não queria ficar longe deles, e Naomi entendia isso. Ela disse que ainda precisava trabalhar alguns anos antes de pensar em comprar outra pousada para a mãe e abrir um escritório para si. Além disso, queria ganhar mais experiência na sua área.
Depois de dez dias, o Ministério Público retirou todas as acusações contra mim. Com isso, em dois dias, fui reintegrada à corporação e ao trabalho. O Dr. Paulo mexeu uns pauzinhos e consegui minha transferência como em um passe de mágica. Fiquei no trabalho burocrático durante 20 dias e conheci meus novos amigos de trabalho. Quem não gostou disso foi meu antigo parceiro, mas ele me desejou boa sorte e disse que, quando eu precisasse dele, era só ligar.
Voltei para a casa dos meus pais, que ficaram muito felizes. Quem não ficou foi Naomi, mas ela me entendeu perfeitamente. Ela convenceu o patrão a ameaçar o maior jornal da cidade por causa da matéria tendenciosa que fizeram contra mim. Para não serem processados, eles publicaram uma matéria de primeira página explicando todo o caso e deixando claro que eu era totalmente inocente. Colocaram também uma foto enorme da Rayssa e deram todas as suas características para que, se alguém a visse, pudesse reconhecê-la e fazer uma denúncia anônima.
Eu sabia que aquela matéria seria muito boa em alguns aspectos. Eu teria meu nome limpo, e a Rayssa enfrentaria muitos problemas para dar as caras sem ser reconhecida, aumentando as chances de encontrá-la. No entanto, havia um lado ruim: Rayssa saberia que o plano dela deu errado e eu tinha certeza de que ela não deixaria isso quieto. Mas eu e Naomi colocamos tudo na balança e as vantagens eram maiores. Outra coisa é que, de qualquer forma, uma hora ou outra, Rayssa saberia que eu estava bem e de volta à ativa.
Outra certeza que eu tinha é que, se Rayssa não fosse presa logo, seria mais difícil pegá-la depois. O povo iria esquecer da cara dela e o risco dela descobrir que eu e Naomi estávamos juntas seria grande. Esse era meu maior medo, que só aumentou quando Leandra me disse que uma pessoa como ela não desiste dos seus objetivos. Enquanto não acabasse comigo ou morresse, ela não pararia. Mesmo se fosse presa, ainda manteria o foco em me destruir, caso eu estivesse bem.
Leandra disse que Rayssa só me deixou em paz por uns anos porque eu estava sofrendo e no fundo do poço. Para ela, isso era perfeito; não importava se estava presa ou não, ela estava feliz com meu sofrimento.
O tempo foi passando e eu voltei a trabalhar nas ruas, dessa vez sozinha, e amei isso. O ruim é que eu só pegava casos fáceis e de menos perigo. Mas usei isso a meu favor, ocupando meu tempo vago procurando e investigando tudo que pudesse para encontrar Rayssa. Mas nunca dava em nada, e o tempo foi passando, diminuindo minha esperança de encontrá-la. Seria cada vez mais difícil encontrá-la e eu não tinha mais ideias do que fazer. Rayssa é louca, mas não é burra; na verdade, tem uma inteligência acima da média e um don de manipular as pessoas que chega a dar medo.
Mas não tinha como parar de viver por causa da Rayssa, e foi o que fiz. Continuei minha vida. Meu namoro estava cada dia melhor; eu e Naomi nos dávamos maravilhosamente bem, até mais do que antes. Ela estava mais madura e não tínhamos mais as inseguranças que Rayssa usou para nos separar. Não havia mais dúvidas sobre o amor que uma tinha pela outra. Sabíamos que nosso amor era forte e, com isso, a confiança se tornou inabalável. Na cama, a cada dia nos dávamos melhor, mas começamos a ficar muito escandalosas e decidimos pegar mais leve quando uma dormia na casa da outra. Nos finais de semana, sempre íamos a um motel, lá a gente se soltava sem se preocupar com nada.
Minha mãe agora era uma mulher aposentada e, além dos afazeres de casa, passou a ajudar meu pai na mercearia. Eles moram no mesmo lugar quase a vida toda, e isso me deixava mais tranquila; os vizinhos eram amigos e ficavam de olho uns nos outros. O apartamento da Naomi era bem seguro e, tanto ela quanto minha sogra, tomavam cuidado. Principalmente Naomi, que comprou uma arma registrada e fez um curso de tiro. Ela nunca fazia o mesmo trajeto nas suas idas a lugares que frequentava, como seu trabalho ou minha casa. Nós também nunca íamos aos mesmos lugares, como restaurantes, motéis ou cinemas, muito menos nos mesmos horários. Tínhamos uma cartilha de segurança que seguíamos à risca.
O fim de ano se aproximava e Rose viria de vez para ficar em dezembro. Eu estava com muita saudade dela, mas Naomi estava mais. Cheguei a vê-la chorar falando da falta que sua melhor amiga fazia. Ainda bem que logo elas estariam reunidas de novo; eu ficava com pena de ver minha linda tão jururu.
Por outro lado, arrumei uma nova amiga, na verdade duas. Denise acabou virando parte da minha vida. Fui vê-la mais algumas vezes no hospital e, quando ela saiu, fui visitar sua casa. Conheci sua filha, Andressa, e sua babá, Daniela. Por falar em babá, acho que essa babá vai acabar virando mãe da Andressa. Dá para ver que ela é apaixonada pela Denise e, pelo que tenho conversado com Denise, acho que vai acabar rolando um namoro. Daniela é ex-garota de programa, hoje tem um salão de beleza e sua própria casa. Ela é um pouco mais velha que eu; provavelmente já está quase chegando aos 40. Denise, que eu achava que tinha uns 28 ou 29 anos, na verdade tem 32. As duas são lindas e acho que a estabilidade financeira de Daniela pode ajudar Denise. Além disso, Daniela é louca pela Andressa. Não precisava trabalhar de babá; provavelmente fazia isso por gostar muito da Andressa e para se aproximar mais de Denise. Espero que a tática dela funcione; não queria que Denise voltasse à vida de antes.
Hoje, Denise já está de volta ao seu apartamento e está totalmente recuperada. Graças a Deus, a única sequela que ficou foi uma pequena cicatriz entre seus seios. Mas ela disse que vai fazer uma tatuagem para cobri-la.
Fizemos um jantar no apartamento dela, e Naomi se encantou com Andressa. Agora não para de falar em filhos; acho que ela vai querer ser mãe logo. E eu, sinceramente, adoraria ter um filho com ela, ou mais de um. Eu adoro crianças e, depois que voltei com Naomi, tenho sonhado muito com uma casa grande cheia de crianças correndo. Fico imaginando uma cópia menor da Naomi nos meus braços, bem branquinha e de olhos azuis, seria como se eu estivesse segurando um pequeno anjinho.
Fizemos um almoço em família na minha casa no início de novembro. Só eu, Naomi, Simone e meus pais. Minha mãe se deu super bem com Simone; pareciam amigas de longa data conversando. Dessa conversa surgiu uma ideia que poderia mudar nossas vidas. Minha mãe comentou sobre sua aposentadoria e disse que, se pudesse, iria morar em um lugar mais calmo com meu pai, para que eles pudessem aproveitar mais a velhice tranquilamente. Simone falou da pousada que ela tinha e disse que só largou tudo para ajudar a filha. Mesmo gostando da nova cidade, o sonho dela era voltar a morar em um lugar tranquilo, cercado pela natureza.
Minha mãe conversou com meu pai sobre isso e ele teve uma boa ideia. O resultado disso é que meu pai vai vender a mercearia e comprar uma pousada; o irmão de Simone está procurando uma para ele comprar. A ideia é que meu pai e Simone se tornem sócios. Meu pai vai comprar a pousada, ele e minha mãe vão morar lá, e Simone vai tocar o negócio. Eu e Naomi conversamos muito sobre isso e chegamos à conclusão de que, pelas características dos nossos pais, é quase impossível eles não darem certo. Eles estão realmente animados, então decidimos apoiar essa ideia.
Dezembro chegou e, com ele, as festas, as férias da Naomi e a volta de Rose para casa. Minha linda estava mais feliz do que pinto no lixo, e se ela estava feliz, eu ficava ainda mais. Rose trouxe alguns presentes para nós duas e, finalmente, matamos a saudade da nossa amiga. Fiz questão de agradecer a ela por ter me ajudado mais uma vez. Rose ficou muito feliz por nós duas termos nos acertado. Ela disse que já era para nós termos nos casado e ter uma afilhada nos braços; que nos duas estávamos atrasadas no nosso cronograma.
Infelizmente, minhas férias eram só no mês seguinte. Eu e Naomi tentamos mudar nossas férias para serem no mesmo mês, mas como foi em cima da hora, não deu certo. Mas, mesmo eu estando trabalhando, dava para aproveitar bem meu amor dia sim, dia não. Nas próximas férias, iremos passar com nossos pais em sua pousada. O tio de Naomi achou uma a venda ótima; o lugar é lindo e grande. O problema é que o dinheiro do meu pai não foi suficiente, mas o dono aceitou o que ele tinha e deu três meses de prazo para pagar o restante. Meu pai já colocou nossa casa à venda e, com o dinheiro dela, ele pagará o restante e sobrará para eles começarem o novo negócio da família.
No Natal, fizemos uma ceia na minha casa. Seria a última que faríamos ali; no dia seguinte, meus pais iriam se mudar. Não era só uma ceia de Natal, mas também a despedida do lugar onde vivemos por tantos anos. Apesar do clima de despedida, a ceia foi muito boa. Além da minha família e da família da Naomi, vieram Rose e sua família, Denise, Andressa, Daniela, Diana, Diogo e a Drª Leandra com seu marido. Foi muito bom passar o Natal com eles. Eu amei cada momento juntos.
No dia seguinte, meus pais e Simone partiram para Capitólio. Eles iriam ficar na casa do tio da Naomi até a mudança chegar. Eu também fiz minha mudança para o apartamento da Naomi, que agora seria nosso. Decidimos seguir nossos planos juntas; Rayssa sumiu e não podíamos deixar de ser felizes por causa dela. Iríamos tomar cuidado, mas não viver com medo o resto da vida.
Estávamos cheias de planos e realmente muito felizes por tudo que estava acontecendo em nossas vidas. Estávamos recomeçando nossa vida juntas e, dessa vez, seria para sempre, no que dependesse de nós duas. Faltavam três dias para a virada do ano e tudo indicava que seria o melhor ano das nossas vidas. Fizemos amor naquela noite e dormimos juntinhas pela primeira vez depois de oficializar aquele apartamento como nosso.
Acordei no outro dia e Naomi não estava na cama. Levantei, fui ao banheiro, fiz minha higiene e voltei para o quarto. Fui até a cozinha e não vi Naomi, mas encontrei um bilhete em cima da mesa. Ela tinha ido até a padaria comprar algo para a gente comer de café da manhã. Voltei para o quarto e peguei meu celular; olhei a hora e já eram mais de oito da manhã. Provavelmente, Naomi acordou mais tarde que o normal. Voltei para a cozinha e fui passar um café até ela chegar.
Quando terminei, já estranhei a demora dela. Quando pensei em ligar para ela, meu celular tocou. Olhei e era Naomi; era uma chamada de vídeo. Assim que atendi, tive uma surpresa nada agradável. Naquele momento, percebi que mais uma vez tínhamos cometido um erro enorme.
Continua...
Criação: Forrest_gump
Revisão: Whisper
