Ele limpou a lágrima que escorria pelo rosto e engoliu o nó na garganta. Mais um dia de trabalho havia terminado, mas o caos estava longe de acabar. Ainda precisava se arrumar para a faculdade. Bruno fazia direito com uma bolsa de estudos e sonhava com o diploma. Apesar das dificuldades, aquele curso era a sua válvula de escape, o lembrete de que poderia construir algo melhor para si e para os irmãos.
Ao entrar em casa, o cenário era o mesmo de sempre: bagunça por todo lado, mas hoje havia um silêncio incomum. Ninguém à vista, exceto seu pai, jogado no sofá, bêbado como sempre.
Bruno respirou fundo, ignorou o pai, e subiu direto para o corredor dos quartos. Ao passar pelo de Yasmin, viu a irmã mais nova no espelho, toda arrumada e maquiada.
— Onde você pensa que vai? — perguntou, encostando-se à porta.
— Dar umas voltas com as meninas. — respondeu, sem dar muita atenção ao irmão.
— Não vai, não. — Ele entrou no quarto, sua voz firme.
— Vou sim. — Yasmin o encarou com raiva, mas ele não recuou.
— Não.
— Bruno, eu vou para onde eu quiser! Você não é minha mãe e nem meu pai.
O tom desafiador de Yasmin fez o sangue de Bruno ferver ainda mais. Ele respirou fundo, tentando manter a calma, mas era difícil.
Bruno bufou, passando a mão pelo cabelo.
— Não é sobre isso, Yasmin. É sobre quem você anda. Sabia que vocês estão sendo chamada de " as panteras" é isso que você chama de amigas só vão te levar para o buraco. Não vou deixar você jogar sua vida fora por causa delas.
— E o que você sabe sobre elas, hein? Você nem as conhece!
— Não preciso conhecer. Adelaide me contou...
— Pra onde essa fofoqueira deveria ir é para o inferno! — Yasmin gritou, virando para a janela como se a vizinha pudesse ouvir.
— Yasmin! Cala a boca. — Bruno elevou a voz, apontando o dedo para ela. — Você acha que sabe tudo, mas não sabe nada. Eu só estou tentando te proteger.
— Proteger? Controlar, você quer dizer. Você não tem esse direito! Eu não sou criança.
— Você tem 17 anos! E sim, eu tenho o direito, porque ninguém mais aqui está se importando com o que acontece com você.
A tensão entre os dois crescia. Yasmin pegou a bolsa de novo, mas Bruno a segurou pelo braço, firmemente, mas sem machucar. Tomou a bolsa da sua mão e tentou achar o celular, e viu algumas coisas estranhas lá dentro que mais tarde iria repreender sua irmã por isso. Achou o celular e o colocou no seu bolso.
— Você não vai sair. E ponto final.
— Me devolve, Bruno! — Ela tentou pegar de volta o celular, mas ele não cedeu.
— Não, até você entender que isso não é brincadeira. Eu não vou deixar você destruir sua vida.
Os dois se encararam, nenhum deles disposto a ceder. Finalmente, Yasmin jogou a bolsa na cama.
— Ótimo! Quer controlar minha vida? Então controle. Mas saiba de uma coisa: você nunca vai ser como a mamãe, não importa o quanto tente.
Bruno engoliu em seco. As palavras o atingiram como um soco, mas ele não deixou transparecer.
— Exatamente. Sua mãe morreu, e ninguém vai substituir ela e seu pai... — ele apontou na direção da sala — ...é um imprestável dormindo feito um porco. Quem paga as contas aqui sou eu, quem coloca comida na mesa sou eu. E enquanto você estiver sob o meu teto, vai fazer o que eu mandar.
— Comida? — Yasmin riu com sarcasmo. — Hoje não tem comida.
Bruno ficou em silêncio por um momento, tentando processar as palavras da irmã.
— Como assim? Eu deixei cinquenta reais no pote da cozinha. Era para vocês comprarem o jantar.
— Pois não tinha nada lá quando eu fui.
Bruno sentiu o sangue ferver. Seu pai, mais uma vez. Ele saiu do quarto de Yasmin pisando firme, foi até a cozinha, pegou um balde e encheu de água. Com o balde em mãos, voltou para a sala.
— ACORDA, SEU IMBECIL! — Ele jogou a água no pai, que despertou num pulo, escorregando no sofá molhado.
— Que porra é essa? — Pedro gritou, cambaleando enquanto tentava se levantar.
— Cadê o dinheiro que estava no pote da cozinha?
Pedro riu com desdém, pegou uma cerveja na geladeira e levantou a lata.
— Aqui.
A paciência de Bruno estava no limite. Respirou fundo, fechou os punhos e tentou não explodir.
— Você é inacreditável. Esse dinheiro era para alimentar seus filhos! Você acha que eles comem na escola? Que comem na rua? Você não tem vergonha?
Pedro deu de ombros.
— Vai a merda, a casa é minha e se tem dinheiro aqui dentro, ele é meu.
— Você não é pai de ninguém. Não merece esse título. E sabe de uma coisa? Queria que você tivesse morrido no lugar da mamãe.
-Olha como você fala comigo. -Pedro pela segunda vez no dia sentiu raiva, era claro que ele estava usando a bebida e outros vícios para superar o luto, mas confrontar esses sentimentos era bem mais difícil.
-Eu falo como eu quiser, você não é meu pai e nem de ninguém, não age como tal, então não merece meu respeito.
Pedro ficou quieto e bebeu outro gole da sua cerveja.
-Você é inacreditável.
Bruno percebeu que não ia mudar nada falando com aquele homem, foi para os quartos pisando fundo e parou em um dos quarto de porta fechada, era o do Gustavo.
Abriu e não tinha ninguém lá dentro.
Só me faltava essa.
Foi de novo no quarto da Yasmin e ela estava na cama emburrada.
-Cadê o Gustavo?
-Não sei, não sou grudada nele.
-Você sabe? Se saber eu devolver seu celular.
Os olhos da Yasmin brilharam e ela logo falou.
-Sei sim, agora me dar. -Bruno tirou o celular rosa e cheio de decoração do bolso e antes de entregar esperou ela falar onde ele estava.
-Ele saiu e foi na toca, deve está la ainda.
-Toca? Aquele filho de mãe não foi lá.
-Foi, agora me dar.
-Menina, você é viciada nesse celular, mas se eu descobrir mais alguma coisa de você, eu quebro esse lixo em vários pedaço.
-Tá tá, agora saia do meu quarto.
Bruno foi para seu quarto e fechou a porta e se sentou no chão, não vinha lágrimas, ele não tinha tempo para chorar, muito menos lamentar nada.
Sua família estava quebrada, cada um tinha um problema diferente e caia tudo em cima dele, era muito para um jovem de 20 anos resolver, mas ele tinha que ser forte, sua mãe pediu isso a ele.
Então se levantou, respirou e foi enfrentar o caos que era esse mundo.
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