Eles começaram a rir e ambos se deram as costas, seguindo cada qual o seu caminho e gargalhando alto até se afastarem bastante de mim. O Kaká entrou em seu carro e saiu, enquanto o Leo continuou andando rumo a sua casa. Entrei na minha, tranquei o portãozinho, a porta, e fui direto para minha cama. Custei a dormir e quando consegui tive um sonho estranho em que eles me comiam, revezando entre si e depois juntos. Acordei de sobressalto, suada e ensopada de cima a baixo, eu diria que até mais na parte de baixo. “Nunca mais bebo com eles!”, decidi naquela mesma hora.
Parte 11 - Proposta Indecente
O dia começou e eu não conseguia tirar aquilo da cabeça. Apesar de excitante, era muito fora do que eu havia idealizado para mim quando me tornasse mulher. Eu não sabia direito o que pensar, mas sabia que devia decidir algo e teria que ser logo.
Cuidei das minhas obrigações domésticas mais urgentes. Depois, sentei-me à mesa e preparei a aula daquele dia. Algum tempo depois, vi uma mensagem do Kaká chegando em meu celular, perguntando se eu estava bem. “Vá se foder, Kaká!”, pensei e não respondi. Ele não insistiu, sinal de que devia ter notado que cometera um grande erro comigo.
No horário de costume, fui para a escola e não vi a linda carinha do Leo quando cheguei, nem no primeiro intervalo. Estranhei, mas continuei focada em minhas obrigações. Só no segundo intervalo que ele apareceu e veio falar comigo, constrangido:
- Oi, Vê. Tudo bem com você? - Perguntou, dando-me um beijo na bochecha.
- Estou bem sim, Leonardo, obrigada. E você? - Falei, bem seca, sem sequer olhar em sua direção.
- Eu sei que você está chateada e…
- Estou! Estou mesmo. - O interrompi e depois de me certificar que estávamos sozinhos, encarei-o com sangue nos olhos e falei: - Que merda estava passando na sua cabeça ontem, Leo, aliás, na sua e na do Kaká, né? Parecia até que vocês tinham combinado me sacanear.
- Eu não sei. Talvez tenha sido a bebida, sei lá…
- Tá bom, tá bom… Sei… - Respondi, voltando a ler minhas anotações da próxima aula.
- Desculpa mesmo. Me deixa te pagar um lanche hoje depois da escola. Aí a gente pode conversar com mais calma.
- Não! Não mesmo. Vou pra casa descansar, sozinha, em paz, sem ninguém para me sacanear, se é que você me entende?
- Poxa, Vê, não aconteceu nada.
- Você tá certo. Não aconteceu nada ontem, nem vai acontecer nada hoje, porque… eu quero… ficar… sozinha. - Falei pausadamente, mas ainda de forma bastante ríspida.
Ele ainda insistiu por mais algum tempo e já quase no final do intervalo, deixei bem claro que não iria sair com ninguém naquele dia. Decidi agir assim para ele entender que ninguém, ninguém mesmo, tinha o direito de me constranger em qualquer situação, ainda mais numa que envolvia a minha liberdade sexual.
Na saída da escola, novamente ele me pediu desculpas e se dispôs a me dar somente uma carona até minha casa. Aceitei as desculpas, mas recusei a carona. Ele ficou surpreso, incomodado, mas não me afrontou, aceitando calado o meu “não”. Cheguei em casa e fui cuidar da minha vida e só então decidi responder à mensagem do Kaká, aliás, mensagens, pois ele havia me mandado várias que eu não havia visto por estar dando as minhas aulas:
Eu - “Estou bem, obrigada, Carlos Henrique.”
Eu - “Sim, estou chateada, pois vocês não tinham o direito de fazer o que fizeram comigo ontem.”
Eu - “E não, não quero conversar com você agora.”
Voltei a me ocupar com minhas coisas, já nem me lembrava do Kaká ou do Leo quando a campainha tocou. Fui atender e dei de cara com o Kaká, segurando um imenso vaso com uma samambaia. Fiquei boquiaberta e ele começou a falar:
- Desculpa. Não achei uma floricultura aberta e comprei essa no supermercado. - Justificou-se: - Mas está linda e sei que você ama esse tipo de planta.
- O que você quer aqui, Kaká? - Perguntei sem papas na língua.
- Primeiro, que você abra o portão, porque isso aqui tá pesado. - Disse, levantando um pouco o vaso que carregava: - Segundo, queria conversar, te pedir desculpas pelo papelão de ontem.
Abri o portão e dei uma alisada na samambaia que ele trazia. Pedi que colocasse sobre um suporte que eu tinha na entrada da garagem que depois eu decidiria onde colocá-la em definitivo. Quando voltamos para o portãozinho, falei:
- Obrigada pela planta, realmente é linda, mas hoje não estou a fim de conversa fiada. Vamos deixar para outro dia, tudo bem?
- Poxa, Verônica, você não é assim…
- Você também não era como o cara que eu vi ontem!
- Eu sei. É por isso que quero conversar com você. Eu queria tentar me explicar, só isso. - Insistiu e depois pediu: - Não vai me negar um café, vai?
Eu o encarei inconformada, mas café era algo que eu não negava, era contra minha educação e ele sabia bem disso:
- Tá. Só um cafezinho e depois você vai embora, ok?
- Prometo! - Disse com a mão direita levantada.
Entramos e fomos direto para a cozinha, enquanto eu pegava minha cafeteira ele falou:
- Ah! Esqueci um negócio no carro. Vou buscar e já voltou.
Quando me virei para perguntar do que se tratava ele já estava saindo da cozinha e acabei não conseguindo. Voltei a preparar o café e coloquei a cafeteira no fogão. Pouco depois, ele retornou com um embrulho:
- Aposto que você vai gostar. - Disse e me entregou o pacotinho, sorrindo.
Curiosa (óbvio que sou!), abri o pacotinho e havia dentro um lindo bombocadinho de coco que eu adoro de paixão. Olhei para ele que sorria feito uma criança e não consegui evitar um sorriso também:
- Palhaço! - Falei, já abrindo a embalagem e cortando uma pequena fatia para mim: - Hum, hum, huuuuummmmm… Delícia!
- Sabia que você ia gostar. - Disse e veio pegar um pedacinho também.
Não tive dúvidas: dei-lhe um tapa na mão assim que se aproximou do meu bolinho:
- É meu! Tira a mão. - Falei, surpreendendo-o que recolheu a mão e começou a rir, aliás, começamos ambos a rir: - Pega, seu bobo. Estou brincando.
- Eu sei! Eu já devia esperar, mas ainda assim me pegou. - Falou, agora pegando uma fatia e comendo: - Hum… Tá bom mesmo.
- Né!?
Meu café começou a borbulhar na minha cafeteira Moka e pouco depois nos servi duas xícaras. Ficamos sentados de frente um para o outro, com a cafeteira e a embalagem com os bolos no meio. Ficamos comendo e bebendo, e nada dele falar! Tomei a dianteira:
- Você queria falar o que mesmo?
Ele engoliu a seco, depois tomou um gole do café para facilitar a descida do bolinho e, só então, respirou fundo, começando:
- Desculpa. Eu… Olha só, não sei bem como começar…
- É melhor andar logo porque quero tomar banho. Ainda tenho que preparar o material da aula de amanhã e preciso descansar, Kaká. Então, desembucha homem!
Ele me olhava sério, tentando achar uma brecha, mas o caminho estava aberto, era só ele falar que eu iria escutar. Daí para tomar outra decisão, perdoar, negar, brigar, discutir, só depois que ele me falasse o que tanto o incomodava:
- Fala, Kaká! Caramba, homem, a gente já passou por tanta coisa e agora você vai criar freio comigo? Se eu gostar do que vou ouvir, vou te falar; se não gostar, vou te falar também. Então fala, vai!
- Verônica, eu te amo… - Disse e tomou um gole de café, me encarando timidamente.
- Taí! Disso eu gosto! Só acho que o momento não combina muito, né?
- Eu queria reatar meu casamento com você… - Falou e novamente ficou me observando.
- Gostei também! Só não sei se a gente consegue isso porque…
- E eu gostaria de tentar um negócio diferente com você. - Me interrompeu e eu o encarei, curiosa, mas antes que eu dissesse algo, ele próprio continuou: - Eu queria que a gente tentasse um casamento liberal.
De curiosa fiquei surpresa, mas muito surpresa mesmo. Tomei uma golada caprichada do meu café, sem tirar os olhos bastante arregalados dele e falei:
- Oi!?
- É! Um casamento liberal, desses modernos.
Foi a minha vez de empurrar um pedaço de bolo com café garganta abaixo. Após conseguir e depois de pigarrear, insisti:
- Explica melhor isso que eu… eu… Ó! A gente nunca teve abertura pra isso quando era casado e agora você me chega com essa!? Eu não sei, Kaká, nunca pensei nisso. Nossa Senhora se a minha mãe ouve essa sua proposta…
- Verônica, é lógico que esse é um assunto nosso, né!? Ninguém tem que ficar sabendo, a não ser nossos eventuais parceiros ou parceiras…
- Cê tá querendo recasar comigo para poder comer outras mulheres!? Mas pra que você quer casar, então? Fica você no seu canto, eu no meu, e se der vontade, a gente dá umazinha. Simples assim. Sem compromisso, sem dor de cabeça.
- Verônica, presta atenção. Eu amo você! Quero você como minha mulher, minha esposa. Esses parceiros ou parceiras que a gente tiver, serão apenas para curtição, um sexo para desfrutarmos, entende?
- Não! Não entendo.
- Você não transou com os outros carinhas? Não foi bom? Não foi prazeroso?
- Transei, você sabe disso. Agora… bom, prazeroso… Vou ser sincera, acho que não. Eu queria na verdade te foder e achava que me entregando para outros, eu estaria te fodendo, me vingando. Hoje, hoje, eu vejo que foi uma puta besteira o que eu fiz.
- Exato! Porque você fez pelo motivo errado. Você não procurou prazer, você procurou vingança e por isso não curtiu.
- Curtir, curtir assim, eu até que curti, só que as transas não foram tão marcantes como as que eu tive com você ou com o Leo… - Disse e me calei.
- Ahá! Então você gostou de transar com o Leo?
- Kaká, esse papo tá estranho…
- É uma pergunta simples. Você não vai me ofender, nem me constranger se respondê-la. Fica tranquila.
Eu o encarei por alguns segundos e ele realmente parecia curioso, sem medo da resposta, então fui sincera:
- Gostei! Ele transa legal, é carinhoso, tem uma pegada diferente. Ele… ele é bom de cama sim.
- E com ele você curtiu, mais do que com os outros?
- Sim, claro.
- E sabe por que você curtiu com ele? - Perguntou, mas logo ele próprio respondeu: - Porque você queria transar. Você queria o prazer e se permitiu dar e receber o prazer pelo prazer, e…
De repente, ele se calou, colocou uma das mãos à frente da sua boca, me olhando apreensivo. Eu fiquei sem entender nada e agora quem estava ficando tensa era eu:
- E o quê, Kaká?
- Você ama esse tal de Leo?
Peguei um pedacinho de bolo e coloquei na boca, mastigando-o lentamente para tentar ganhar algum tempo enquanto eu tentava obter uma resposta de mim mesma, uma que fosse sensata, justa e não o ofendesse. Ao fim, depois de engoli-lo, decidi abrir meu coração:
- Gosto muito! Acho que não o amo, mas gosto demais da companhia dele. Ele me ajudou pra caramba depois que nos divorciamos. Ele nunca me deixou ficar pra baixo e, até onde eu sei, nunca ficou com outra desde que começamos a sair.
Ele agora me encarava em silêncio, pensando em algo, mas não demorou muito e voltou a considerar:
- Olha… Eu não quero ser um empecilho na sua vida. Já errei e muito com você, e te amo demais para correr o risco de prejudicar seu caminho novamente. Se você quiser ficar com ele, eu vou entender, aceito e me afasto.
Fiquei surpresa e não consegui evitar de arregalar os olhos novamente para ele que continuou:
- Se você achar que existe uma mínima chance de me aceitar na sua vida novamente, eu vou me esforçar todo dia, toda hora, todo minuto para te reconquistar. Eu só queria que você considerasse a possibilidade de a gente viver um relacionamento diferente dessa vez, um em que a gente não precise mentir, magoar, ou trair o outro.
- Kaká, olha só… A gente combina, isso é fato e basta ver o que a gente fez anteontem, né? Mas tem o Leo, eu não queria magoá-lo…
- Continua com ele, ué! - Disse e tomou ou fingiu tomar uma golada de seu café.
- Como é que é!?
- Se você gosta de transar com ele, se ele te faz gozar gostoso, é só continuar. Só precisa ser discreta para não cair na boca do povo.
- Ah tá… E você acha que eu vou deixar você continuar com a Sandrinha, né? Pode ir tirando o teu cavalinho da chuva, isso não vai dar certo!
- Nem tava pensando nela! Aliás, não quero a Sandrinha. Ela tentou me sacanear. - Respondeu firme, sem titubear e continuou: - É claro que eu gostaria de sair com outras, mas tudo dentro de regras que a gente poderá combinar para a coisa funcionar.
- E se não funcionar?
- Se não funcionar, a gente para, porque eu quero você, feliz e satisfeita, comigo ou com outros. Se não for com outros, que seja só comigo, ué!
Eu estava atônita. Realmente não conseguia acreditar que o meu marido, digo ex, talvez futuro, estava me propondo aquilo. Sem saber o que falar, pedi que fosse embora que eu precisava cuidar da minha vida. Ele concordou, mas não antes de eu prometer que pensaria na proposta dele e que lhe daria uma resposta o quanto antes.
OS NOMES UTILIZADOS NESTE CONTO E OS FATOS MENCIONADOS SÃO TOTALMENTE FICTÍCIOS E EVENTUAIS SEMELHANÇAS COM A VIDA REAL É MERA COINCIDÊNCIA.
FICA PROIBIDA A CÓPIA, REPRODUÇÃO E/OU EXIBIÇÃO FORA DO “CASA DOS CONTOS” SEM A EXPRESSA PERMISSÃO DO AUTOR, SOB AS PENAS DA LEI.