Outono.
— Vão, saiam meninos. — a mãe incitava os filhos para fora de casa. — Vão que seu pai está falante e me dói a cabeça escutar a ele e prestar atenção nos dois. Não retornem até o banhar. E não se atrasem, é hoje dia insigne ao vosso progenitor.
Os meninos obedeceram, mas não por muito tempo.
Quando a mãe se afastou, os dois garotos se esgueiraram até a sala de estar, pegaram a carabina Berthier na parede da lareira e fugiram dos olhares dos servos da propriedade.
A casa no alto da colina era margeada por hectares de vinhedos, e entre as parreiras e arames suspendendo os resquícios das plantas colhidas no inicio da estação os irmãos correram.
Existiam muitas propriedades rurais na cidade de Étretat, norte da França, no entretanto, apenas a família Miloslavskaia cultivava uvas e produzia vinho.
Eram os Miloslavskaia antigos na França como a arma segura pelos garotos.
Advindos da Rússia, como outros muitos sobrenomes na época da I Guerra, fizeram morada na pacata cidade à beira mar e trouxeram com eles, que cultivavam vinhedos no sul da Rússia, as técnicas necessárias para o plantio e cultivo dos parreirais a perder de vista.
Eudóxia, antes uma Ledoyen, agora usava o nome do marido, esse que ela voltava a escutar após as falas dos garotos, enfim, cessarem.
— Vê que há engano em Epicuro? O tal paradoxo é apenas blasfêmia contra nosso Senhor. — Mikhail não esperava a resposta de Eudóxia. Discorria quase que para si. — É mais um dilema, ou melhor, um trilema tolo, aliás. São os estudiosos apáticos no que trata o antigo, de certo tempo para trás tudo se torna verdade, como se uma linha fosse traçada canonizando sapiência e ignorância igualmente. Não, acredito que entre eles, sábios do passado, há tanto de erro quanto entre nós, contemporâneos do esquecimento. E enganos. E falsas compreensões sim fim.
Os anos tornaram Mikhail Miloslavskaia amargo, e o mesmo tempo agora guiava novas esperanças às rugas no rosto do velho homem.
A esposa, seguindo ao jardim frontal da residência já imaginando a nova mudança que o homem faria, ou ordenaria servos a realizar, carregava a tristeza de enterrar filhos, irmãos, e amigos, de forma diferente. Ela era grata, não pela morte, é claro, mas pela vida, o tempo compartilhado até o adeus.
Se o homem era calafrios e recordações que o tornavam murmúrios e maldições em momentos solitários, a mulher perdia singelos sorrisos, em memórias distantes e breves da grande casa.
— E esse Epicuro vem também para o jantar? — o jantar, esse era o norte na mente de Eudóxia. Ela ajeitava os cabelos loiros encaracolados acima das orelhas e se aproximava do homem com expressão de descrença a indagando:
— E pode um homem morto dois mil anos antes de nascermos nos visitar? Epicuro foi um filósofo grego! — e era Mikhail desde os primeiros fios brancos entusiasta da filosofia, e a biblioteca da casa tinha livros e mais livros de pensadores de todo o mundo. — Era Epicuro defensor da ideia de que se há um Deus, esse, obrigatoriamente, não é bom.
Eudóxia suspirava aliviada.
Sempre que recebiam visitas, as visitas traziam mais visitas, era esse um costume da região que muito a desagradava.
E se não fosse tal costume talvez ela nem estivesse casada com Mikhail.
Quando menor, a família Ledoyen recebeu a família de Baux, e esses apresentaram a família Miloslavskaia.
As crianças brincavam juntas desde o primeiro encontro.
São como irmãos, diziam os mais velhos, e eram, quando supervisionados. Nos bosques e rios, lagos e vinhedos, se beijavam e tocavam desde a primeira infância dela.
E eram os dois irmãos, o mais velho Mikhail, e o mais novo Feodor, apaixonados pela pequena menininha de longas tranças e cabelos como ouro.
Eudóxia percebia que a relação não terminaria bem. E tentou falar com o irmão mais velho para encerrar a situação.
Mikhail, cinco anos mais velho que a menina, a tomava entre os vinhedos no inicio daquela tarde:
— Abre mais as pernas. O quanto você é mimada é o quanto eu te quero alargar. — ela obedecia a voz do adolescente, que tinha certo encanto sobre a ninfa.
A boceta dela, com três dos dedos dele atolados até o limite, estava tão quente que mesmo as coxas ardiam.
O vestido rosado no chão era marcado pela terra clara.
E deitados eles se beijavam até a falta de fôlego marcar a separação de línguas e bocas.
— É melhor pararmos.
— Agora? — ele colocou a mão dela acima das calças dele.
— Pensei que estava para fora... — ela pegou no membro dele em outras situações, e a memória guiou ao falar impensado.
— Eu coloco...
— Não precisa... — ela tentou impedir, mas ele moveu a mão dela para as calças desabotoadas e abertas, ao caralho ereto, liso, com pele acima da cabeça. Ela movia a mão com delicadeza, quase sem apertar. — É disso que estou falando. É melhor não fazer mais.
— Ninguém vai nos ver aqui. Os funcionários ficam fora até o fim das neves. — deitavam entre as cercas e arames, após uma colina, escondidos por apertados caminhos de folhas marrons.
As parreiras estavam secas nas cercas.
O céu azul de um dia quente resplandecia como teto.
— Não é isso. É melhor não fazer mais. Nem aqui e nem em lugar nenhum. — ela afastou a mão do membro duro.
— Por que não?
— Falta pouco para me tirar a pureza.
— Espero que sim. — Mikhail assumiu voltando a beijar Eudóxia.
— Viu. Se eu não me controlar terminamos os dois casados, ou pior.
— E isso seria ruim?
— Seria péssimo.
— Não seria! — Mikhail protestou.
— Seu irmão também gosta de mim.
— E que isso importa? Eu é quem gosto mais. E você me beijou primeiro. — esse argumento valia muito na cabeça de Mikhail.
— E se eu escolher ficar com ele? — ela provocou, infantil, levantando e se afastando após puxar as roupas presas abaixo do corpo dele.
— Não vai escolher. — ele afirmou com tanta certeza que a menina se irritou:
— Se eu quiser. Eu escolho ele.
Mikhail se levantou e logo estavam os dois no chão.
— Você não pode fazer isso... — ela murmurou após ser derrubada.
Ele podia.
E fez.
Eudóxia ficou com as pernas ainda mais separadas.
Os seios pequenos sentiam os mamilos enrijecidos.
O rosto de menina enrubesceu, com a franja escondendo os olhos verdes.
E ele entre as pernas dela se esforçou, apertando o pau com toda a força até compreender estar dentro dela:
— Entrou tudo?
— É. — a violência a deixou sem reação. E o prazer inevitável com Mikhail fodendo a bocetinha com poucos áureos pelos a incitava a aproveitar.
Mordendo os lábios róseos ela reparou na força do adolescente, e o prendeu com as pernas.
A diferença de idade nunca pareceu maior.
Ele deitou em cima dela e foi com tanta vontade que só parou ao perceber que metia sem pausa, gozando várias vezes dentro e voltando a foder mais e mais forte até o céu se tornar carmesim prenunciando a noite:
— Está te machucando?
— Não. — ela respondeu ofegante coberta de suor.
Ele voltou com mais intensidade, agarrado nas coxas finas da menininha, a pressionando contra o chão.
— Agora doeu... — ele a surpreendeu, quase tirando o membro todo, afastando o corpo. E ela complementou rapidamente, excitada e ansiosa. — Só um pouco.
Ficaram assim, fodendo forte, sem pausas.
Mikhail queria a beijar, mas não conseguia devido à altura da menininha com a cabeça encostada ao peito dele.
Depois, no tesão adolescente, ele gozou uma última vez com certa raiva e violência, e ela gozou com ele, não controlando uns gritinhos manhosos.
Ela o agarrou, com as unhas pequenas o marcando nas costas suadas por baixo da camisa desgrenhada.
Não falaram nada.
E depois, na companhia de bruxuleantes luminescências noturnas, seguiram por caminhos opostos.
Eudóxia até tentou esconder o acontecido, mas, vista por servos entregou o nome do violador.
Existiam duas escolhas. A morte de Mikhail, ou o casamento com o mesmo.
Eram casados até então, trinta e sete anos depois.
Os irmãos Miloslavskaia cresceram brigados.
E em idade de estudos partiu Feodor para Paris.
Junto dos estudos se tornou ele um libertino que vivia mais em bordéis que no lar bancado pelos pais.
Depois o bom Feodor passou a trabalhar como contador, e fez fortuna sendo administrador de burgueses e bêbados que conhecia entre as putas.
Eram dois os vinhedos da família Miloslavskaia.
Segundo Liev, patriarca da família e bisavô dos irmãos, o Vinhedo Crescente tinha esse nome para as bênçãos multiplicar. E o Vinhedo Minguante foi batizado para os problemas solucionar.
Quando menores, existiam outros irmãos e irmãs, e os dois brigados nem sonhavam em administrar a região.
Com o passar dos anos, e as mortes encerrando o sangue parental principalmente devido a uma epidemia de febre que assolou Étretat. Crescente passou para Mikhail. E Minguante passou para Feodor.
Por cartas organizaram os negócios. Mikhail administraria ambas as propriedades, e ficaria com parte dos dividendos como pagamento. Em troca, seria enviado bimestralmente a Paris os lucros de Minguante.
E desde então os irmãos não mais se falaram.
Isso até a carta, uma semana antes da noite do jantar.
Na carta, uma novidade.
Feodor havia se casado, e com a esposa, e filhas, se mudaria para Minguante. Chegavam naquele dia, e Mikhail, ou melhor, Eudóxia e as servas da casa, preparavam um banquete.
O humor de Mikhail, alegre, contrastando com a feição taciturna comum, movia a esposa, que apreciava no marido esse bom espírito:
— Vamos, me explica sobre o tal filósofo.
—Ele, Epicuro, dizia que o mal era a pergunta.
— O mal seria uma pergunta, como?
— Por que existe o mal se Deus é onipotente, onisciente e onibenevolente? Eis o trilema. Primeiro, se Deus tem poder para extinguir o mal, e, não o faz, Deus não pode ser onisciente, pois, sendo onibenevolente e onipotente, apenas não acabaria com o mal se não soubesse como erradicar o mesmo. Segundo, na opção de ser Deus onisciente e onibenevolente, saberia o Senhor como destruir o mal, e, não o faria por não ser capaz, logo, não seria Deus onipotente. Terceiro, seria Deus onipotente e onisciente, no entretanto, ainda existindo o mal, não caberia a opção onibenevolente para Deus.
— Um trilema. — compreendia Eudóxia, pensativa com o marido pegando a gadanha e limpando o mato na beira do caminho de rochas ovaladas esbranquiçadas guiando à porta. — E você encontrou a resposta que ninguém mais conseguiu por milênios?
— A um homem atento a ironia de uma mulher é um convite.
— Então lhe convido a compartilhar sua resposta. — e ela assumiu. — Me vejo intrigada.
— Primeiro é preciso pensar na pergunta. Esse é o problema, as pessoas se fixaram em encontrar uma resposta e esqueceram a questão. Vamos lá, minha querida. — Mikhail se empolgava. — O que é o mal?
Eudóxia pensou em silêncio antes de responder:
— Doenças? Acidentes? A morte?
— Não. Doenças são naturais, e a morte é o mesmo. A vida é só o caminho, o destino é igual a todos. E acidentes geralmente seriam evitados com atenção ou cuidado. Vamos. Terremotos não são o mal. E ventanias e tempestades são só natureza. Tão pouco é mal o sol, os planetas, ou todo o espaço. Nenhum elemento químicos é mal. Nenhuma flora ou fauna é o mal. O único mal existente, e real, é o ser humano. E a resposta ao trilema é a mais simples possível. Por que Deus não extingue o mal? Inquiri Epicuro. Eu responderia, porque o único mal é a humanidade, e a extinguir seria fácil ao onipotente e onisciente, mas, impossível ao onibenevolente. Logo, é, obrigatoriamente, um Deus onipotente e onisciente, onibenevolente!
A mulher aplaudiu o pensamento.
Só ela e o Jardim testemunharam a filosofia de Mikhail.
— Deus é bom. — e ela voltou ao assunto que a afastou da cozinha. — E como é essa esposa de seu irmão? Tem preferências, gostos, desgostos?
— Não sei. Nem sabia que tinha se casado até receber a carta avisando do retorno. E me irrita não ter sido convidado para o casamento. Espero que ele tenha uma boa desculpa.
— Usávamos a casa de Minguante para algo?
— Para nada. O lugar está fechado desde a morte de irmão Galkin. Por ordem do próprio Feodor os móveis foram vendidos. E poucos pertences restaram. Pelo que soube, se mudaram com a própria mobília de Paris, mas ainda não chegou nada.
— E como sabe? Os visitou hoje?
— Não, mas os servos comentam.
— Fofocam?
— Como quiser chamar, Eudóxia. — Mikhail suspirou e observou o caminho com a grama aparada até adquirir um aspecto de satisfação.
— Certamente a esposa resguarda um nome da alta sociedade.
— Duvido muito.
— E por que?
— É meu irmão, afinal.
— E que isso que dizer?
— Se apaixonou por uma puta, de fato.
— E sou eu uma puta?
Desde a infância, pensou o gordo e velho homem, e, antes que pudesse criar uma pequena confusão, perdeu o sorriso sarcástico ao escutar o som de disparo advindo do bosque de faias cingindo os limites entre Minguante e Crescente.