Eu sei que Guigo não será apresentado como meu namorado, ainda sim estou nervoso como se fosse, tipo não é comum nem meus amigos dormirem na minha casa e o fato da vizinha fofoqueira já ter passado a fita para minha mãe de que Guigo tem indo muito na nossa casa, dessa vez ele está indo para dormir e possivelmente mais de uma noite, não sei como ela vai reagir e posso está problematizando na minha cabeça.
Tipo não tem como ela saber que ele é meu namorado — é estranho, porém extremamente satisfatório pensar nele assim, como meu namorado — então não tenho muito do que me preocupar, o máximo que pode acontecer é ela ficar chateado com o fato de ter alguém dormindo na nossa casa mais de uma noite, só que parando para pensar não sei se ela vai grilar com isso também não, na real é a primeira vez que um namorado ou namorada dorme na minha casa, por isso estou pirando de animação e receio ao mesmo tempo.
Quando chegamos ele fica no carro para pagar o motorista enquanto vou preparando o terreno, minha coroa está na sala com nossa vizinha fofoqueira e uma manicure amiga delas fazendo as unhas do pé da minha mãe, não gosto dessas amigas da minha mãe, são todas umas fofoqueiras, preferia que ela estivesse só, agora o bairro todo vai saber que trouxe um amigo para dormir em casa.
— Oi mãe — digo ignorando totalmente as outras.
— O que foi isso na sua testa Raylan? — Os pontos no meu supercílio são a primeira coisa na qual minha mãe põe os olhos.
— Eu caí, mas está tudo bem, vou só esperar o tempo de tirar os pontos no posto — digo tentando tranquilizá-la.
— Falei que não era para você ir para essa viagem, mas ele não me escuta mulher — ela divide sua atenção em brigar comigo e explicar a situação para suas amigas, mas o assunto simplesmente acaba quando Guigo entra logo atrás de mim.
— Mãe, esse é o Guilherme, meu amigo da faculdade — os três pares de olhos o escaneiam de cima a baixo — Guigo essa é minha mãe Marta — digo apresentando eles, mais uma vez ignorando nossa plateia.
— Boa tarde, senhora Marta — ele diz todo educado.
— Oi Guilherme, você também estava nessa viagem? — Nossa vizinha simplesmente entra no assunto, sem nem ser chamada.
— Sim, foram quase todos da nossa turma — ele diz de forma muito simpática.
— Mão o Guilherme vai dormir aqui hoje — não peço, apenas aviso — vem Guigo — digo indo para o meu quarto, ele pede licença pois é muito educado e me segue.
Ele está todo animado com a ideia de dormir no meu quarto, mas já o avisei que não vai rolar nada, não enquanto minha mãe estiver em casa, já seria ruim ela descobrir sobre mim, imagina ela descobrindo depois de nos flagrar um com o pau do outro na boca? Não consigo pensar em uma forma pior de morrer do que essa, até porque eu morreria do coração no instante do flagra, então para evitar isso tudo, melhor não dar sorte pro cão.
— Você fica lindo bravo — Guigo diz me abraçando por trás beijando minha nuca.
— Você prometeu se comportar — digo em protesto seu gesto, porém não consigo afastá-lo, pois sou sua presa, não posso escapar do meu predador.
— Eu sei, mas é tão difícil ficar perto de você e não fazer isso — ele diz apertando meu pau por cima da bermuda, sua boca colada no meu pescoço, preciso morder o lábio para não gemer.
— Raylan! — Tomo um susto ouvindo minha mãe chamar meu nome da sala.
— Já vou — respondo tentando retomar meu folego — não faz mais isso por favor Guigo, não com minha mãe em casa.
— Desculpa — ele diz.
— Não precisa se desculpar, é só que eu não quero que ela pegue a gente no flagra — explico para que ele não tire conclusões erradas.
— Certo, vou me comportar, de verdade — ele diz sorrindo.
— Raylan — minha mãe chama de novo.
— Já vou! Caralho que pressa é essa? — Vou até a sala praguejando.
— Fala direito comigo que ainda sou sua mãe — ela diz me fuzilando quando chego na sala.
— Desculpa — digo — o que foi?
— Seu pai vem buscar você mais tarde para jantar — meu sangue ferve na primeira palavra que ela diz.
— Como é que é? — Ela acha que por está na frente de suas amigas não vou questionar nada.
— Você voltou antes, avisei seu pai e ele disse que quer te levar para jantar e você vai.
— Não, eu não vou — digo.
— Raylan, não seja ingrato, ele pagou pelo hospital — é engraçado ela usar logo esse argumento.
— Se você enche a boca para dizer que ele é meu pai, então pagar pela saúde do filho dele não é mais do que obrigação — digo, mas isso a deixou ainda mais irritada.
— Não vou discutir com você Raylan enquanto você morar de baixo do meu teto você vai fazer o que eu mando — não acredito que ela vai passar até a porra do teto que eu vivo na minha cara.
— E o meu amigo, o que o Guigo vai ficar fazendo, estou com visita, não posso sair — digo.
— Eu disse seu pai e ele disse que seu amigo pode ir também, não tem problema.
Saio da sala pisando forte, posso parecer uma criança às vezes, tenho ciência disso, mas poxa não entendo porque tenho que ser obrigado a fazer algo que não quero, minha mãe insiste em me tratar como uma criança, ela ainda diz que estou debaixo do teto dela, minha vontade é de sair daqui, mas não tenho para onde ir, não vou morar na rua por birra, até eu tenho que reconhecer o limite da minha rebeldia, mas assim que conseguir me sustentar eu vou sair dessa casa, aí ela vai sentir minha falta.
— Mãe, meu tio está em casa — Guigo diz ao telefone, parece que não sou o único a ter problemas com os pais — não sei ainda mãe.
Ele está visivelmente irritado, sua mãe deve ter achado um jeito de preocupá-lo com algo, as vezes esqueço que ele também teve de amadurecer e se criar sozinho bem cedo assim como eu, porém por um motivo diferente, meu pai fugiu o dele sofreu um acidente que mudou sua vida para sempre, minha mãe mergulhou no trabalho e a dele de certa forma também, ela tomou para si a missão de cuidar do marido doente, mas esqueceu que seu filho também precisava de atenção.
Minha mãe ficou distante por que precisava trabalhar, para ele deve ter sido ainda pior, ter os pais a um quarto de distancia ao mesmo tempo em que eles não poderiam estar mais longe dele, emocionalmente, Guigo me faz pensar no que minha psicologo disse quando ainda frequentava a terapia.
— Raylan sua dor é sua, mas não ache que você é o único a ter uma vida dificil.
Ela sempre me dizia para chorar o tanto que eu precisasse chorar, mas que no final lembrasse que o mundo continua girando, ele não vai parar não importa o que eu faça, na epoca não entendi muito bem o que ela me dizia, mas hoje entendo que cada um tem seus problemas, vai ver até o Ciço que é rico e privilegiado também deve ter suas dores, mas em fim, nem sei exatamente porque entrei nesse pensamento.
— Tá mãe, tchau — Guigo encerra a ligação.
— Quer falar sobre isso? — Pergunto.
— Minha mãe está me enchendo o saco para voltar para casa, pois meu pai parece que está ficando doente de novo, mas minha tia falou comigo ontem a noite de que ela está colocando todo mundo doido lá por que não estou em casa — ele diz bem irritado.
— Nunca passou tanto tempo assim? — Pergunto.
— No final do terceiro ano fizemos uma viagem de formatura, meu pai passou mal, ele foi pro médico, mas desde então ela não me deixava mais ficar muito tempo fora, só que nessa viagem bati o pé.
— Sinto muito — digo, não tenho muito o que falar para ele.
— Não sou um monstro, meus tios estão em casa o feriado todo, não viajaria se não tivesse certeza de que tem gente para ajudar meu pai se for preciso — ele diz.
— Você parece cansado e irritado, vem aqui — digo para que ele se sente na beira da cama.
— O que vai fazer? — Ele pergunta, enquanto se senta de costas para mim como pedi.
— Uma massagem no meu namorado — só de ouvir a palavra ele parece relaxar — nossa você está tenso mesmo.
— Onde aprendeu a fazer isso — Guigo parece está curtindo.
— Rick é um excelente massagista, aprendi com ele — digo.
— Devo sentir ciúmes? — Guigo me pergunta com uma certa cautela.
— Não, o que aconteceu entre a gente ficou no passado — digo.
— Ray — Guigo me encara com os olhos faiscantes.
— Tó brincando, Rick é tão meu irmão que se fizermos um dna é arriscado dar positivo — digo me divertindo com o seu ciúmes.
— Acho bom — ele diz ainda mais emburrado.
— Calma namorado, quem era caidinho pelo Rick era o Dan, mas acho que ele já superou isso também.
— O que esse Rick tinha que você e o Dan ainda lembram dele até hoje?
— Se você tivesse conhecido ele vocês se dariam bem, Rick era o cara que queria ajudar todo mundo, ele priorizava tanto os amigos que às vezes esquecia dele mesmo — digo.
— E o que aconteceu? Porque esse cara incrível saiu da vida de vocês?
— O pai dele, parece que todos estamos fadados a ter pais complicados afinal — Guigo volta a curtir a massagem.
— E onde ele está?
— Não sei, a última vez que falei com ele foi a muito tempo, e sério Guigo, não precisa ter ciúmes dele, se Rick ainda estivesse aqui, eu teria começado a namorar com você bem antes, porque ele me encheria o saco para ser sincero com meus sentimentos.
— Ray, não sou tão descolado quando seu melhor amigo perfeito, mas eu sou seu amigo tá certo — ele me encara e não consigo resistir ao impulso de beijar sua boca carnuda e macia.
— Você é o melhor namorado que eu já tive — ele voltou a sorrir.
— Sou o único namorado que você já teve seu palhaço — ele diz me fazendo rir.
— Sim, mas isso não faz com o que eu disse seja menos verdade, a propósito minha mãe vai nos obrigar a jantar com meu pai — digo.
— E você está de boas com isso? — É a primeira vez que alguém me pergunta algo do tipo na vida, não estou acostumado com ninguém preocupado com o que eu acho.
— Não quero ter que sair com ele e seu marido maravilhoso — digo.
— Sobre isso, tem uma coisa que preciso muito te contar, mas por favor saiba que eu só soube depois e meio que durante a viagem não vi nenhuma brecha para te contar — ele me deixou bem preocupado agora.
— O que foi?
— O Paulo, marido do seu pai é um dos irmão do meu pai, o Paulo é meu tio — de repente meu mundo começou a girar, como que isso pode ser possível?
— Ray, eu juro que não sabia que ele era seu pai, por favor acredita em mim, meu pai não odeio o fato do irmão ser casado com outro cara, então o tio Paulo nem costuma ir muito nos eventos lá de casa, nunca tive uma conversa muito aprofundada com ele — ele parece está falando a verdade, mesmo assim me sinto mau, minha cabeça está a mil.
— Você não me disse que a pizzaria era do seu tio — digo o questionando.
— E não é, ele mesmo sempre fez questão de dizer que é do Rogério.
— Por que não me contou naquele dia? — Estou segurando o choro.
— Eu queria te contar, mas fiquei com medo da sua reação, você ficou possesso naquele dia só por ter visto ele.
Nunca vi Guigo aflito assim antes, posso ver em seus olhos que ele está com muito medo da minha reação, então dou um passo na sua direção e beijo sua boca levemente, ele está muito confuso, estou puto por ele ter mentido, mas em um saldo geral me conheço, se ele tivesse me contado naquele dia ou durante a viagem teríamos tido uma briga gigante e provavelmente não ficaremos juntos.
Por isso tenho duas escolhas agora, perdoar e entender os motivos dele para só está me contando agora — afinal meu pai fez de conta que não conhecia ele também — ou tenho uma briga épica com ele e vou ter mais uma parte boa da minha vida estragada por causa daquele merda, Rick com certeza me diria para desculpar e falaria que sou uma pessoa bem difícil às vezes, com certeza isso me deixava puto com ele também, mas no final do dia iria concordar com ele, mesmo nunca admitindo isso a ele.
— A partir de agora, sem mais mentiras, tá bom? — Digo com firmeza.
— Sem mais mentira, eu prometo — ele diz ainda aflito.
— Eu te amo Guigo, sei que pode ser cedo para dizer isso, mas é que você mexe com meu juízo, não consigo ser normal perto de ti — digo e ele me beija da forma mais apaixonada possível.
— Eu te amo Ray, por isso fiquei com medo de te contar.
— Se tivesse contado antes teria sido ruim mesmo, mas por favor, não faça mais isso — é a primeira vez em que me sinto maduro o suficiente para aceitar e admitir minhas falhas.
— Prometo, nunca mais vou esconder nada de você — ele me beija mais uma vez.
— Guigo, sua família sabe que o marido do seu tio é um cuzão?
— Na verdade não, boa parte da família só finge que aceita o Rogério, mas na verdade nunca teve uma relação próxima, meu pai mesmo considera uma afronta o tio Paulo ter comprado uma casa na nossa vila.
— Mas e agora? — Ele me olhou meio confuso — você disse a sua mãe que ainda estava na viagem e seu dia vai te ver hoje.
— Não tinha pensando nisso — ele diz pensativo.
— Tem alguma chance dele não contar nada?
— Não sei, minha família não costuma seguir um padrão, eles gostam de surpreender.
— E aí, o que vamos fazer?
— Vou ter que voltar para casa, se ele chegar lá falando que me viu vão derrubar o mundo em cima de mim — ele parece mais triste do que eu agora.
— É incrível como essa merda continua me fodendo de todo jeito — digo.
— Ei, vou dormir com você hoje — ele diz segurando meu rosto.
— Não Guigo, não quero te deixar com problemas, sua mãe já me odeia sem nem me conhecer imagina se ela tiver um motivo.
— Não ligo — ele me beija levemente.
— Ei, eu ligo, não vou deixar você passar por uma situação pior — seus olhos estão brilhando e isso me deixa um pouco envergonhado.
— Tem certeza, eu posso mesmo ficar.
— Tenho, vamos ter outras oportunidades de dormir juntos — queria muito dormir com ele hoje, mas não quero que ele tenha problemas por minha causa.
Ser um cara maduro dá muito trabalho, mas estou orgulhoso de mim mesmo por ter conseguido agir da melhor forma, ainda estou chateado por ele não ter me contato e por não poder dormir comigo hoje, mas não no fim não vale a pena brigar por isso, acho que já completamos nossa cota de brigas antes mesmo de começar o namoro.
Aproveito pelo menos para passar a tarde curtindo meu namorado — ele tem razão ficar tão perto dele e não transar é um desafio — vendo um filme no computador, estamos deitados na minha cama então o filme é mais uma desculpa mesmo, estou beijando ele pelo menos, já que não dá para fazer nada além disso, e assim passamos uma tarde leve e agradável.
Anoiteceu bem rápido hoje, o tempo corre quando estamos nos divertindo afinal, tomar banho e me arrumar é desanimador, pois sei que cada segundo que passa me aproxima de uma despedida, Guigo vai ter que voltar para casa e vou dormir sozinho, sei que podemos nos ver amanhã, mas é que realmente fiquei empolgado com a ideia de dormir com ele pelo menos uma noite que fosse.
— Raylan, seu pai chegou — minha mãe grita da sala, Guigo está terminando de se arrumar.
— Você vai levar suas coisas para aproveitar a carona do seu tio? — Ainda é um pouco estranho pensar no marido do meu pai sendo o tio do meu namorado.
— Não, estava pensando em voltar com você e pegar um carro de aplicativo daqui — ele diz — que assim posso passar mais um tempinho com você.
— Você é muito fofo, mas não faz sentido gastar tanto assim a gente pode fazer algo amanhã — digo.
— Eu sei, mas é que eu quero aproveitar o máximo de tempo com você antes de voltar para minha vida naquela casa — estou conhecendo um Guigo mais fragilizado e isso só me dá ainda mais vontade de cuidar dele.
— Tá certo, qualquer coisa te ajudo se o valor ficar muito caro — digo e ele se anima.
— Estou gostando muito desse Ray mais leve — ele diz se aproximando para me beijar, mas minha mãe nos chama de novo nos apressando, pois o bibelô não pode esperar.
Meu pai está no volante e Paulo no banco do passageiro, olhando bem para ele, dá até para notar algumas semelhanças com Guigo, respiro fundo, pois vou fazer algo que jurei que nunca fazer, que é conhecer o marido do meu pai, pelo menos Guigo está do meu lado e por falar nele os olhos do Paula ficam arregalados quando nos ver juntos.
— Guilherme, o que você está fazendo aqui? — Ele pergunta espantado.
— Estudo com o Ray tio, somos amigos — ele diz.
— Eu te falei amor — quero vomitar, só de ouvir meu pai chamando seu amante de amor, pois vendo eles juntos faz minha memória do meu pai fodendo ele na cama da minha mãe bem vivida na minha mente.
— O que vocês querem comer? — Paulo pergunta.
— Tanto faz — respondi de forma ríspida.
— Você gosta de sushi? — Ele pergunta para mim.
— Não sei, eu gosto pai? — Digo olhando para ele pelo retrovisor.
— Sushi está ótimo tio — Guigo diz evitando que uma cena aconteça no carro.
Meu pai liga o carro e começa a dirigir até a parte mais rica da cidade, no caminho Paulo vai comentando como a mãe do Guigo está agitada esses dias, segundo ele o pai dele está bem, mas ela não está dando descanso, fazendo ainda mais drama do que o normal e o pior é que ela está estressando o marido com todo esse excesso de cuidado.
— Por isso queria uma folga, tio — Guigo diz.
— Sua mãe só quer o melhor pro Otavio, o negócio é ela é muito superprotetora e um pouco dramática — Paulo diz escolhendo as palavras, mas a risada de deboche do meu pai entrega que tem mais coisas aí nessa frase.
— Ela está pirando porque ele estava com pneumonia, só queria um pouco de folga, toda a família está lá, mesmo assim para ela estou sendo um filho ingrato e escroto — Guigo diz deixando toda sua raiva e mágoa evidente.
Nunca o vi assim, até agradeço por não ter brigado com ele hoje, ao contrário de ser mais um problema para ele hoje, estou aqui do seu lado, ele é tão foda, tipo um cara inteligente, bonito, esforçado e tão carinhosos e leal, Guigo é mais do que mereço e mesmo assim ele está comigo, tenho que valorizar a sorte que tive conhecendo ele, então sem pensar muito seguro sua mão da forma mais discreta que consigo, estamos no banco de trás e o carro está escuro também.
Guigo aperta minha mão com força, pode parecer um gesto bobo, mas ele sabe do medo que tenho de ser exposto, então entende o significado desse pequeno ato, estou disposto a correr o risco se for preciso para confortá-lo e mostrar que entendo pelo que ele está passando afinal estou no carro com meu pai e o cara que arruinou minha família e definitivamente não queria está aqui.
Quando chegamos sou obrigado a soltar sua mão, é só soltar sua mão para que algo em mim sinta falta do calor dela na minha, a verdade é que ao confortá-lo isso me ajuda também a passar por isso, meu pai está tentando parecer de boas, mas ele já percebeu que não estou aqui por que quero, posso ver as engrenagens girando em sua mente, ele quer encontrar uma maneira de me fazer aceitar seu casamento, quer que sejamos uma grande família feliz.
— Posso falar com Rogerio sozinho, por favor — digo chamando meu pai pelo nome no momento em que ele estaciona o carro.
— Tudo bem amor, vão pegando uma mesa, já vamos — ele diz.
Quando Guigo e o tio descem do carro ficamos calados por um tempo até que sou o primeiro a falar.
— Não queria conhecer seu amante, te falei isso e mesmo assim você me forçou a isso — digo de forma direta.
— Marido, Paulo é meu marido Raylan — ele diz — olha eu sei que fui um merda com vocês, mas eu sinto muito.
— Porque você acha que eu tenho que te perdoar, você não estava lá quando precisei de você — digo com as lágrimas escorrendo do meu rosto.
— Raylan, eu sinto muito, era jovem e tomei todas as decisões erradas que poderia tomar, mas o Paulo me fez procurar ajuda, me fez entender melhor meus sentimentos.
— Que romântico, ele só esqueceu que você era casado antes de trepar com você né — digo.
— Por favor, respeite ele filho, Paulo é um cara incrível e ele também sofreu muito com toda essa situação — ele diz pensativo — sua mãe e eu não éramos mais um casal, errei em levar o casamento por mais tempo do que deveria, errei principalmente como pai.
— E, o que isso significa? — Pergunto encarando seus olhos.
— Eu amo o Paulo, ele apareceu na minha vida em um momento muito confuso, foi ele quem me deu forças para ser quem realmente sou, são treze anos de amor e companheirismo, ele enfrentou sua família por mim, pelo nosso amor, no dia do nosso casamento sua família não compareceu, mesmo assim ele ficou no meu lado — estou apenas ouvindo — ele me deu forças para enfrentar meu próprio preconceito e te procurar.
Ele faz uma pausa respira fundo, e passa as mãos no rosto, então volta a falar.
— Paulo não teve culpa de nada Raylan, eu fui fraco, fui covarde, ele enfrentou o mundo por mim, e desculpa se levei tanto tempo assim para te pedir desculpas, nada justifica o que fiz com você, só quero uma chance de me redimir, uma chance de ter seu perdão.
— Não te odeio pai, eu queria e até tentei muito, só que tudo que eu sempre quis foi ter um pai — as lágrimas estão escorrendo do meu rosto.
— Desculpa filho.
— Mesmo não te odiando, isso não muda o fato de que você tomou tudo de mim — ele me encara sem entender bem o que quero dizer — você fez com que eu cresci sem um pai, por sua causa minha mãe teve de trabalhar tanto que mau a vi, mas isso nem é o pior, você me roubou o direito se ser quem eu sou.
— Raylan.
— Por sua causa não posso falar para minha mãe que eu amo um cara pai, você encontrou um cara que lutou com tudo no mundo para ficar com você, que ótimo para você pai, mas eu nunca vou poder ter isso, nunca vou poder tratar o cara que eu amo da mesma, forma, ele nunca vai poder está no natal, no ano novo, no meu aniversario ou na porra de um simplis feriado para dormir na minha casas, sem que eu tenha que inventar alguma mentira para minha mãe.
— Filho eu, eu — ele está completamente atônito.
— Seja feliz pai, espero que o senhor possa ter tudo que seu filho jamais vai poder ter por sua causa — digo descendo do carro, quando Guigo me ver saindo sem rumo na rua ele vem correndo atrás de mim, já meu pai, ele ficou dentro do carro, completamente imovel.