CAPÍTULO 14
Na-Hi e Cahya começaram a fazer o caminho de volta com as mãos dadas, mas quando subiam as rochas para poderem chegar ao lago, algo chamou a atenção de Na-Hi. Pedindo para que Cahya esperasse, ela desceu por algumas rochas até chegar ao seu objetivo. Aos seus pés, uma cavidade natural nas rochas tinha seu fundo coberto de um pó branco. Na-Hi se agachou, passou um dedo pelo pó e levou a boca. Com uma expressão feliz ela voltou a se levantar e falou consigo mesma:
– Hum! Isso é algo que precisávamos.
– O que precisar?
Na-Hi levou um susto, pois pensava estar sozinha. E quando olhou para Cahya chamou a atenção dela:
– O que você está fazendo aqui? Eu não pedi para você me esperar lá em cima?
– Não preocupar. Cahya boa subir montanhas. O que você achar?
A coreana explicou que aquilo era sal. Quando a outra perguntou como é que tinha aparecido aquele sal ali, ela explicou que, quando a maré chegava ao seu ponto máximo, a água do mar ficara represada naquele buraco e que raramente acontecia do mar subir tanto. Depois, com o tempo, a água evaporava e o sal ficava depositado no fundo.
– Mas água chuva encher buraco de novo. – Comentou Cahya.
Na-Hi, vendo que a garota tinha razão, olhou em volta e percebeu que as bordas da cavidade eram salientes, o que impedia que a água que descia pelas pedras entrasse dentro dela e, depois de explicar isso para Cahya, comentou:
– A água que cai dentro é apenas a da chuva sobre ela e não é muita. A chuva foi muito breve e bastou um dia para evaporar. Se você notar, o sal ainda está úmido.
Cahya entendeu a explicação e ficou feliz com a descoberta, já querendo levar o sal com ela, mas foi dissuadida disso por Na-Hi que disse que depois eles viriam buscar, pois para passar pelo lago, seria necessário da ajuda de todos para o sal não se perder na água. Isso, porém, não impediu que Cahya tirasse sua blusa e a usasse para poder carregar um punhado do sal. Mesmo com a coreana dizendo que aquilo era bobagem, pois não conseguiria levar aquele material através do lago.
Quando chegaram ao lago, Cahya pediu que Na-Hi atravessasse na frente. Enquanto a outra nadava em direção à outra margem, ela ficou andando pela margem procurando por uma local que permitisse que ela atravessasse a pé e chegou a encontrar um, porém, ficava muito próximo do começo da queda que despejava a água do lago no mar e a correnteza era muito forte. Ela examinou a situação e viu que ali as margens ficam mais próximas uma da outra e atirou o sal para o outro lado. Mais tarde ela foi elogiada por Na-Hi por sua iniciativa.
Chegaram ao alojamento e encontraram o Henrique discutindo com todos, Ele exigia que fossem em busca das mulheres que estavam ausentes há muito tempo e, quando as viu chegando, seu alívio foi tão grande que ele brigou com elas. Quer dizer, tentou brigar, pois a Cahya não lhe deu ouvidos e saiu logo de perto enquanto a Na-Hi apenas olhava para ele sorrindo.
Enquanto Henrique falava sobre a irresponsabilidade das duas em ter sumido daquele jeito, Na-Hi já tinha ligado seu modo liderança e interrompeu ao Henrique para explicar a ele e ao Ernesto sobre a existência do sal, não deixando de falar sobre a dificuldade que teriam para atravessar o lago sem perder a carga. Nestor, que ouvia a conversa, saiu de perto deles sem dizer nada e logo retornou arrastando um dos botes salva vidas que ainda estava intacto. Não precisou dizer nada e todos entenderam qual era a ideia deles. Em seguida, Na-Hi foi com eles para mostrar o local dizendo para Cahya que logo estaria de volta, pois elas precisavam pescar e ainda deu instruções para Diana dizendo a ela que conseguisse algumas varas compridas e fixasse nas pontas de cada uma delas uma faca, o que ela foi providenciar com a ajuda de Pâmela e Margie.
Quando os três homens e Na-Hi retornaram carregando o bote contendo uma quantidade razoável de sal, as lanças de pesca improvisadas já estavam prontas. Eram três e ela convidou a Diana para pescar com ela e Cahya. Margie, ao ver que ficaria de fora, reclamou:
– Eu também quero pescar.
– Nem pensar, Margie. Você não consegue ficar de boca fechada e vai espantar os peixes.
Henrique, que ficara a par do perigo enfrentado pelas mulheres ao se depararem com os tubarões, pois Na-Hi tinha contado o episódio enquanto buscavam o sal, foi terminantemente contra ao fato delas entrarem no mar, porém, Na-Hi o tranquilizou explicando:
– Aqui não tem perigo. Os golfinhos não deixam os tubarões entrarem nessa enseada.
– O que é que te garante isso?
– O fato de não ter nenhum. Ou você está vendo algum tubarão por perto?
Henrique olhou com atenção para as águas tranquilas da enseada, bem diferente do outro lado onde as ondas eram enormes e se viu obrigado a concordar.
Sob a orientação de Cahya, elas se dirigiram ao local onde a água doce do lago desaguava no mar, explicando para suas duas companheiras de pescaria que ali poderiam encontrar algum salmão, pois essa espécie de peixe gosta de habitarem em locais onde existe a foz de algum rio.
Como se fosse uma previsão, em menos de meia hora cada uma delas tinha conseguido capturar um salmão. As medidas deles variavam entre sessenta e oitenta centímetros. Cahya ficou encarregada de limpar os peixes enquanto Diana e Na-Hi providenciavam os espetos e deixavam a fogueira preparada para ser acesa mais tarde.
Naquela noite os nove sobreviventes se deliciaram com os peixes que Cahya preparou. O salmão assado na brasa, que poderia ser considerado um banquete em qualquer lugar, cumpriu a finalidade de manter a todos alimentados e prontos para mais uma noite.
Cahya segurou na mão de Na-Hi e a levou a reboque sem tentar disfarçar quais eram suas intenções. A coreana aceitou o comando da amante de bom grado e se deixou levar.
Henrique já tinha percebido que havia uma ligação muito forte entre as duas orientais e ficou atento. Ele queria saber até onde ia essa interação, Sendo assim, ele se sentou no mesmo local onde ficara na noite anterior e ficou assistindo ao amor que uma dedicava à outra. Cahya ao perceber que era observada por Henrique comentou com Na-Hi, em um intervalo em que as duas se recuperavam do último orgasmo:
– Henrique estar olhando.
– Coitado dele Cahya. Deve estar louco para se unir a nós.
– Não. Ele não merecer.
– Vai ser sempre assim? Você não vai mais o Henrique?
Cahya deu um suspiro profundo e confessou:
– Querer muito. Cahya sentir muita falta. Mas não poder. Diana falar que só quando parar briga.
– Quer dizer que, quando parar a briga você vai aceitar ele de volta?
– Só se Na-Hi deixar.
– Eu não tenho esse poder Cahya. Já falei que você não tem nenhum dono aqui e deve fazer o que quiser sempre.
– Não falar deixar ser dona. Falei de deixar e não ficar longe de Cahya.
– Mas você acha que ele vai aceitar isso?
– Ter que aceitar. Aceitar ou ficar sem Cahya também. Cahya querer os dois.
Cahya ficou pensando sobre o que a garota dizia e lhe ocorreu perguntar o que ela sentia por Nestor e, para sua própria surpresa, não estranhou a resposta quando Cahya lhe confessou:
– Começo ser bom. Nestor carinhoso e agradar Cahya. Depois não mais bom. Ficar bravo qualquer coisa e violento. Cahya achar que ser droga que mudar Nestor.
– Mas, e hoje? Ele mudou muito. Você transaria com ele?
– Nunca. Henrique matar Nestor e matar Cahya.
– Mas, e se o Henrique concordar?
Cahya ficou em silêncio e era nítido que ela pensava sobre o assunto. Então falou:
– Ser bom. Cahya gostar de ter dois homens.
– Sua safada. Você já fez isso?
– Fazer quando chefe tráfico mandava. Foi pouco.
– E você gostou?
– Cahya não ser mais aquela Cahya. Hoje amar Henrique.
– Isso não tem nada a ver com amor, Cahya. Isso é tesão.
Cahya não disse nada e ficou pensando. Na-Hi percebeu que, em seu íntimo, ela imaginava uma situação em que estavam com os dois rapazes ao mesmo tempo e, ao perceber que sua expressão era de desejo, resolveu agir e falou:
– Espere aqui. Vou resolver essa briga desses dois tolos.
– O que Na-Hi fazer?
– Não se preocupe. Só fique aqui e aguarde.
Dizendo isso, Na-Hi se levantou e, nua como estava, foi até onde o Henrique observava as duas. Antevendo que ela vinha fazer alguma coisa com relação à situação dele não poder transar com ninguém, aguardou esperançoso. A coreana chegou e foi falando:
– Escuta aqui Henrique. Você não acha que está na hora de parar com essa idiotice e fazer as pazes com o Nestor?
– Isso nunca. Eu odeio esse cara.
– Não Henrique. Você odeia o cara que ele se tornou quando foi prisioneiro dos traficantes.
– Ele não foi prisioneiro. Ele estava lá porque quis.
– Errado de novo. Ele foi pra lá não porque quis, mas porque foi atraído pela beleza de Cahya. Não só a beleza, mas a mulher maravilhosa que ela é e você não pode criticar o Nestor por causa disso, pois você cairia na mesma armadilha que ele.
– É. Mas ele se tornou um cara ruim. Por culpa dele eu perdi um grande amigo e ainda tenho que aguentar ele rondando a Cahya.
– Rondando como? Ele nunca tentou nada com ela. A única coisa que ele fez foi tentar conversar com ela de forma normal. E tem mais. Você sabe que o errado daquela confusão foi você, pois ele apenas impediu que a Cahya caísse e se machucasse.
– Ah é? E como é que você sabe disso?
– Sei por que eu vi. Eu estava atenta porque também achei que ele poderia ter más intenções quando se aproximou dela. Mas ele não fez nada. Você que foi o violento daquela vez.
Henrique ficou repassando as cenas que assistiu no dia da briga e teve que reconhecer que Na-Hi estava certa. Nestor não tinha feito nada que justificasse a agressão da parte dele. A mulher aproveitou a brecha que ele deu ao ficar calado e falou:
– Olha Henrique. O Nestor que nós temos aqui não é o mesmo que viveu entre os traficantes. Aquele queria te matar e até deu um jeito de trabalhar no iate do Ernesto só para conseguir isso. Mas isso foi antes do iate afundar e chegarmos nessa ilha. Aqui ele só tenta ajudar e ser útil. Você é que tem essa implicância com ele.
– Ouvindo você falar assim até parece que está descrevendo o Nestor que eu conheci antes dele ir trabalhar com os traficantes.
– Eu não sei como era esse Nestor que você está falando. Mas acho que estou falando de um melhor ainda. Se você desse uma chance para ele, ia descobrir isso.
– Puxa vida Na-Hi. Tudo o que eu queria na vida é que o tempo voltasse atrás e eu tivesse meus dois amigos de volta.
Ao dizer isso, embora lutasse contra, Henrique não conseguiu evitar que seus olhos lacrimejassem e duas lágrimas escorressem por seu rosto. Sentindo que a dor dele era autêntica, ela falou com voz calma:
– Olha Henrique. Infelizmente o tempo não volta atrás e não tem como você ter o seu outro amigo de volta. Mas o Nestor está aqui. Ele está arrependido do que fez e aposto que ele também gostaria que o tempo voltasse. Então, se você não pode ter os dois de volta, pode pelo menos ter um. Basta que você olhe para dentro do seu coração e ver que no fundo você gosta desse Nestor que vive aqui. Lógico que ele não é mais o mesmo, mas eu me arrisco a dizer que ele é melhor ainda. Digo melhor porque agora ele tem a experiência que viveu em sua lembrança e tenho certeza que isso faz dele um homem ainda melhor.
Sem ter palavras para responder e com o rosto banhado em lágrimas, Henrique abraçou Na-Hi que aceitou o abraço sem se preocupar com a proibição em vigor que nenhuma mulher devia se aproximar dele.
– Isso tudo é verdade Henrique. – Falou Nestor saindo de trás de uma árvore de onde ouvira toda a conversa.
– Você ouviu tudo? – Perguntou Na-Hi surpresa com a súbita aparição do homem que era o tema da conversa dela com Henrique.
Sem dar ouvidos à pergunta de Na-Hi, Nestor continuou:
– Eu queria sim que o tempo voltasse atrás. Eu queria não ter feito o que fiz. Mas eu não matei o Bo. Eu já te falei que fugi antes. Também é verdade que eu quis me vingar de você e da Cahya, mas isso foi antes do acidente com o iate. Eu não posso ter raiva do cara que salvou minha vida.
Um silêncio pairou sobre os três, mas não durou muito, pois logo Nestor continuou:
– E olha cara. Quando eu digo que você me salvou a vida, não estou falando só do que aconteceu no iate. Lá outro poderia aparecer e livrar minha perna. Mas foi você e eu fico eternamente grato, pois você tinha motivos para querer que eu morresse e em vez disso você ficou lá e me salvou. Mas teve outra situação que você me salvou, mesmo sem querer. Quando você apareceu naquele acampamento dos traficantes, o que provocou aquela confusão toda...
Henrique fez menção de que ia falar algo, mas Nestor o impediu com um gesto com uma das mãos e continuou:
– Não. Eu não estou dizendo que a culpa é sua. Aliás, hoje eu sei que você não teve culpa nenhuma, pois o amor que existe entre você e a Cahya é algo que não dependeu de vocês. Foi como se vocês dois fossem feito um para o outro e hoje eu sei disso. E quando eu me refiro à confusão, quero dizer que foi ela que me afastou dos traficantes e, o mais importante, das drogas. Se você não tivesse ido lá, hoje eu estaria morto. Disso eu tenho certeza.
– Verdade Henrique. – Apoiou Na-Hi. – Se a droga não tivesse matado ele, os traficantes o fariam. Um drogado se torna inútil para eles e o destino de qualquer um quando chega nesse ponto é a morte.
– Eu lamento muito o que aconteceu, mas como foi dito aqui, o tempo não volta atrás. Então, o que eu posso te prometer é que nunca mais vou fazer nada que te magoe. Quer dizer. Acho que vou sim, pois tem horas que você é um saco. O que eu quero dizer é que nunca vou fazer nada para prejudicar seu relacionamento com a Cahya. Vou até evitar ficar perto dela.
– Assim também não, Nestor – Falou Na-Hi aproveitando o comentário bem humorado dele com relação ao Henrique ser um saco em determinado momentos e continuou explicando: – E se a Cahya quiser te ver por perto.
– É mais fácil os oceanos congelarem. Ela nunca vai querer sequer ser minha amiga.
– E se não for assim? E se ela provar que é mais esperta que o Henrique e já tenha enxergado o que você realmente é agora?
– Ainda assim eu ia manter distância. Como disse. Não vou fazer nada que magoe ao Henrique.
– Na-Hi. O que você está querendo dizer com isso? – Perguntou o Henrique confuso.
– Isso é algo que você vai ter que descobrir sozinho e decidir como reagir. Agora, o que eu quero é que vocês entendam que não podem ser inimigos e façam as pazes.
Mal a mulher disse isso e Nestor já oferecia a mão para o Henrique apertar. Mas a reação do outro não foi o que se esperava. Ele olhou para a mão de Nestor estendida para ele e depois para os olhos dele, Então, com uma ação que ninguém esperava, ele estendeu as duas e abraçou o amigo.
Na-Hi se afastou dos dois dizendo:
– Acho que vocês dois têm muito para conversar. Amanhã a gente se fala. Tenham uma boa noite.
Em seguida se afastou dali e foi se juntar a Cahya que perguntou:
– O que Na-Hi fazer? Cahya parece ter visto Nestor perto do Henrique. Ter briga de novo?
– Não Cahya. Ninguém vai brigar. Eles vão fazer as pazes. – Depois de falar Na-Hi ficou examinando o rosto de Cahya e, ao ver um brilho diferente nos olhos dela, provocou: – E sim. Se é o que você quer, ainda vai ter a chance de foder com os dois.
– Para ser idiota Na-Hi. – Falou Cahya sorrindo e dando um leve tapa em seu ombro.
Na-Hi, sem dizer mais nada, empurrou com fora a outra que caiu de costas sobre as folhas de bananeira e, sem dar nenhuma chance, foi para cima dela e começou a beijar a sua boca. Logo as duas estavam empenhadas em se darem prazer em um intenso sessenta e nove. Elas sabiam que, perto dali, Henrique e Nestor assistiam a tudo enquanto controlavam seus desejos. Mas Nestor não resistiu e falou:
– Nossa! Essas duas são muito gostosas. Eu foderia as duas. – E quando viu que Henrique olhava para ele, se corrigiu: – Epa! Isso só se você deixar, meu amigo.
– Quem sabe, um dia. – Respondeu Henrique sem olhar para ele, pois não conseguia desviar os olhos da cena que se desenrolava diante dele.
Enquanto a paz entre Henrique e Nestor era consolidada, Ernesto passava por maus momentos. Afinal, foder sua esposa sob o olhar atento de sua filha e ouvindo os gemidos dela se tocando enquanto o casal transava não era nada fácil. Ele ficava dividido entre a moral e o tesão, pois se fazia de tudo para evitar transar com sua filha, sua vontade era de ir para cima dela e a castigar por ser tão teimosa.
Teimosa porque não importava que ele ordenasse, pedisse e depois implorasse para que ela não ficasse perto ela não obedecia. Nua, com seu corpo dourado resplandecendo sob a lua maravilhosa, ela procurava ficar em posições onde a visão dele sempre iria encontrar a ela ali. Não só nua, mas provocante e se insinuando para ele. Para piorar tudo, todas as vezes que Ernesto gozava na Pam, Milena agia e atacava a mulher chupando, ora sua buceta ou o cuzinho de onde sugava toda a porra ali deixada por seu pai, ou a beijava na boca para que recebesse parte dessa porra em sua boquinha. E sempre, depois de engolir o esperma do pai, olhava para ele com uma expressão de puro tesão e falava:
– Hum, papai. Que porra gostosa essa sua. Quando é que você vai me deixar tomar esse leitinho direto da fonte?
Não adiantava o Ernesto dizer que isso nunca aconteceria, pois bastava ele gozar em Pâmela para que Milena repetisse tudo e ainda o provocava, sempre com a mesma frase. E ele sabia que o fato de gozar tantas vezes seguida era devido o tesão que sentia em ver Milena por perto.
Pâmela tentou ajudar ao Ernesto, mas logo viu que Milena estava sendo teimosa e pirracenta, então resolveu mudar de lado e, em vez de ajudar, uniu-se a Milena no intuito de acabar de vez com aquele problema e tentou conversar com o homem que, não só se recusou a falar sobre assunto como ameaçou a Pam de que, se ela insistisse nesse assunto, a relação deles naquela ilha ia ficar muito difícil.
Se Ernesto pudesse pelo menos adivinhar o que Milena estava preparando contra ele, certamente teria se precavido contra. A cabecinha dela trabalhava febrilmente para encontrar um jeito de atrair seu pai até aquela caverna mágica. Ela tinha certeza de que, entrando ali, o senhor Ernesto deixaria de lado todos seus preconceitos e se entregaria ao prazer com ela. Em sua cabecinha ela já antevia as imagens dela e o pai juntos e sozinhos, sem ninguém por perto, pois achava que isso ajudaria a fazer com que ele se soltasse.
Mas naquela noite não havia mais essa possibilidade. O pai já tinha descarregado todo o seu tesão na Pâmela e ela o queria descansado e bem disposto. Não era uma situação onde ela seria atendida em seus desejos, mas como prêmio de consolação. Isso ela não queria. Milena desejava que sua primeira vez com Ernesto fosse algo especial, tão especial que seria só deles. Nem mesmo Pâmela deveria estar presente nesse dia e ela já tinha a convicção que podia contar com sua madrasta.
Depois do pai, seriam os outros. Ela levaria cada um dos dois para aquela caverna e teria o dia em que levaria os dois juntos. Pensando nisso, seu desejo foi além e ela pensou> “E por que não os três? Já imaginou eu com três machos gostosos ao mesmo tempo e, melhor de tudo, um desses três seria o seu pai”.
Essa era outra das características de Milena. Ela desejava um homem e estava fazendo planos para transar com ele, mas nem chegara a conseguir isso e já se imaginava com outros.
Todos já estavam dormindo há horas quando Milena, depois de ficar imaginando cada passo que daria a partir do dia seguinte, finalmente conseguiu dormir.
O quarto dia amanheceu e eles tiveram que se alimentar com o resto do leite em pó e alguns se aventuraram a consumir o que sobrara dos salmões assados no dia anterior. Depois disso foram convocados por Na-Hi para uma nova expedição. Ela queria explorar a ilha a procura de madeiras que permitissem a construção da casa que ela pretendia fazer e, lembrando-se da sugestão de Cahya, pediu a todos que ficassem atentos à existência de bambus. Começou a explicar como identificar isso, mas logo foi dispensada disso por Henrique que a avisou que tanto ele como Nestor sabiam o que era bambu. Diana também disse a mesma coisa.
O que ninguém notara ainda é que Henrique e Nestor estavam um ao lado do outro, o que até o dia anterior era impensável. Na-Hi pensou melhor e resolveu dispensar alguns dos integrantes do grupo para ficarem na enseada e cuidarem de outras tarefas. Cahya, como sempre, foi a primeira a ser dispensada e foi orientada a tentar pegar um peixe novamente. Diana, embora fosse uma das conhecedoras da planta procurada, foi dispensada e instruída por Na-Hi a cumprir a tarefa que elas já tinham combinado antes. Milena ficou encarregada de ajudar Cahya e deveria ir buscar água no lago ou lavar alguma das latas, que era ainda o único utensílio que eles contavam para cozinhar.
– Eu fico. Quero ajudar a Cahya a pescar. – Disse Margie toda animada.
– Negativo. Você vai com a gente. Podemos precisar de você.
– Você nunca me deixa pescar, Na-Hi. Isso é implicância, sabia?
– Não é não. É sabedoria. Já falei que você fala muito.
– E o que eu vou fazer no mato? Você acha que, com o meu tamanho, vou ser útil? Não vou dar conta sequer de carregar alguma coisa se precisar.
– Não. Mas se aparecer alguma fera, a gente dá você para ela e isso vai nos dar tempo para correr. – Falou Henrique que amanhecera com o seu bom humor de antigamente.
– Com esse tamanho, não vai adiantar. Não vai servir nem como sobremesa do bicho.
– Vocês vivem dizendo que eu sou pequena, que não sirvo nem como sobremesa, mas aposto que qualquer um faria de tudo para me comer. – Depois ela fez uma carinha que demonstrava estar se lembrando de algo e emendou: – Ah! É verdade! Vocês estão de castigo e não podem comer ninguém.
– Podemos sim. – Informou Nestor. – A punição era até que a gente fizesse as pazes. Então, já estamos livres para trepar com todo mundo.
– Vocês fizeram as pazes? Como esse milagre aconteceu? – Perguntou Pâmela curiosa.
– Ah! Esqueci de avisar. Os dois ficaram conversando até tarde e entraram em um acordo. Eles não vão brigar mais. – Falou Na-Hi para todos e depois especificamente para Diana: – Pode suspender a punição Diana. Problema resolvido.
– Ufa! Aleluia! Eu já estava sentindo falta do pau gostoso do Nestor. – Falou Diana e, quando viu que o Ernesto olhava sério para ela, tentou arrumar: – Desculpe Ernesto. O seu pau também é gostoso. O problema é que eu gosto muito de variar.
Dessa vez Na-Hi não dividiu o pessoal da exploração em grupos. Em vez disso, ela conduziu os cinco até o local onde a praia terminava ao sul e lá deu instruções de que deveriam caminhar todos na mesma direção, mas que deveriam formar uma linha para cobrir um perímetro maior, Cada um ficaria a vinte metros do outro e, de tempos em tempos, ela chamaria por eles para impedir que algum deles ficasse para trás ou se afastasse muito em direção à montanha. Ao dividir o pessoal, ela fez questão que a Margie ficasse entre ela e Henrique, demonstrando que tinha um cuidado especial com a garota.
Eles andaram por quase uma hora quando se ouviu Margie gritando para eles:
– Pessoal. Aqui. Acho que tem o que estamos procurando.
Na-Hi correu na direção de onde vinha a voz e quando chegou lá o Henrique já estava ao lado da garota e informou com um sorriso no rosto:
– Acho que teremos muito mais do que você imaginou Na-Hi. Olha a grossura de alguns desses bambus. Dá até para fazer uma bica d’água.
– O que é isso? – Perguntou Na-Hi.
– É uma calha que você faz para desviar a água. Com bambus dessa largura, podemos trazer água para perto do acampamento.
– Ah! ‘Water Spout’. Boa ideia Henrique.
Depois explicou para Ernesto e Pâmela que já tinham se aproximado. Não demorou o e Nestor se juntava a eles.
– O problema vai ser transportar isso até a enseada. – Lamentou Ernesto.
– Nem tanto. O bambu pesa muito e cada um de nós pode arrastar uma vara deles até lá.
– Mas isso vai levar muito tempo. – Reclamou Pâmela.
– E tempo é uma algo que temos de sobra. Então, mãos às obras. Quem trouxe o serrote?
Essa tarefa coubera ao Nestor que, sem que ninguém lhe dissesse o que fazer, foi até a moita de bambus e se preparou para serrar o primeiro. Mas a Na-Hi o interrompeu e orientou:
– Esse não Nestor. No momento esses não vão servir. No futuro, talvez. Escolha um mais fino. Entre cinco a sete centímetros de diâmetro deve servir.
– Mas esses ainda estão verdes.
– Exatamente. Para o que vamos fazer, vai ser preciso que eles se curvem. Os que já estão secos não vão permitir isso, pois se quebrariam.
Entendendo o que Na-Hi queria, Nestor passou a cortar os bambus indicados e logo seis deles estavam prontos para serem transportados.
Foi no momento em que eles se preparavam para voltar ao acampamento que uma quase tragédia aconteceu. Vindo não se sabe de onde, surgiu na frente deles uma sombra enorme e de quatro patas. Uma pantera adulta estava em posição de ataque e a pessoa mais perto deles era Margie. Se não fosse o medo de todos, alguém se lembraria do que o Henrique dissera.
Na-Hi não pensou duas vezes e, segurando o punho da faca, saltou para ficar entre Margie e a fera. Heitor e Henrique logo se juntaram a elas. A pantera rugiu e mostrou os dentes enormes para ele. Ela acabara de avisar que ia atacar e Na-Hi curvou o corpo adotando uma posição de defesa. A coreana mostrava que estava disposta a morrer para defender Margie e Nestor e Henrique, embora não conseguissem disfarçar o medo que sentiam, não arredaram pé e aguardaram pelo ataque.
No exato momento em que o animal ia saltar, aconteceu algo inusitado. Saindo de trás de seus protetores, Margie se colocou entre eles e a pantera e, estendendo a mão, gritou:
– PAREM TODOS. NÃO MACHUQUEM A ELA.
O que passava na cabeça de todos era uma dúvida. Como assim? Não ferir a quem? Será que aquela maluquinha ruiva estava se dirigindo à fera e ordenando que ela não ferisse à Na-Hi? Se era isso, aonde foi que ela encontrou tamanha coragem. Mas o pior é que não dava mais tempo para nada. O bote da fera era iminente.
Falando sem movimentar muito os lábios e baixo para que apenas seus três defensores ouvissem, ela ordenou:
– Andem lentamente para trás, mas não percam o contato visual com ela.
E depois, em voz alta, se dirigindo ao animal:
– Calma Chantal. Ninguém vai te fazer mal. Eu não vou deixar.
Ninguém entendia nada, porém, a reação do animal fez com que Na-Hi, Henrique e Nestor fizessem o que a garota pediu. É que, ao ouvir a voz de Marguerithe, a pantera mudou completamente sua postura, abandonando a posição de ataque e se deitando de barriga no chão, com as duas patas dianteiras estendidas para frente. A ruiva começou a andar lentamente em direção a ela enquanto falava palavras tranquilizadoras, insistindo em que ela não seria molestada. Sua boca agora estava fechada e as orelhas deitadas param trás e sua aparência era a de um enorme gato esperando por carinho.
– Não Margie! Saia daí. – Gritou Na-Hi e sua voz assustou ao animal que se levantou.
Ao dizer isso, a coreana começou a se deslocar em direção à Margie, mas foi impedida por Henrique que lhe falou baixinho:
– Pare Na-Hi. Acho que a Margie tinha a situação sob controle. Você acabou de ferrar tudo.
Na-Hi voltou a ficar imóvel e a voz de Margie se dirigindo ao animal voltou a ser ouvida:
– Não Chantal. Ninguém aqui quer te machucar. Vem aqui, vem.
Como se compreendesse o que a garota falava, a pantera voltou à posição anterior e, deixando todo mundo congelado no chão, começou a rastejar para se aproximar a ela. Então aconteceu o que foi considerado um verdadeiro milagre. Margie recebeu uma lambida na mão direita que manteve imóvel, enquanto a esquerda ia até a enorme cabeça do animal e começou a fazer carinhos. De repente, a garota deu um riso cristalino e o animal ronronou sob seus carinhos. Então ela se virou para trás e falou:
– Pessoal. Vocês não vão acreditar. A Chantal vai ser mamãe logo.
Ninguém disse nada. Aquela situação inacreditável e o suspense que eles viviam temendo que a Margie fosse atacada a qualquer momento impedia isso. Então, Margie se levantou e a fera a imitou, ficando ao seu lado. Henrique fez um cálculo de que, apoiada nas quatro patas, a altura da pantera chegava à cintura de Margie e, caso ela resolvesse ficar apoiada apenas nas patas traseiras, a suplantaria em altura em pelo menos trinta centímetros. Mas Margie continuava a agir de forma inexplicável e, pedindo para que ninguém se mexesse, foi caminhando em direção à Na-Hi enquanto a fera a acompanhava. Quando estava a um passo da coreana, parou e falou se dirigindo ao animal:
– Chantal, essa é a Na-Hi. Ela é uma mulher valente e vai te proteger quando você precisar. – E continuou, dessa vez para Na-Hi, em com voz mais baixa: – Estenda a sua mão para ela. Deixe que ela sinta seu cheiro.
Tremendo, Na-Hi obedeceu. A fera repetiu os mesmos gestos que havia feito com Margie. Lambeu a mão da coreana e depois esfregou sua cabeça na mão estendida como se estivesse implorando por carinho. Como ela ficou imóvel, Margie chamou a atenção dela que fez um breve carinho na pele aveludada da fera.
Um depois de outro, Margie foi fazendo as apresentações, como se estivesse no colégio ciceroneando uma nova colega aos alunos antigos. Ela fez questão também de criar uma frase para explicar o caráter de cada um deles. Henrique era o calmo que nunca se apavorava. Nestor era o amigo calmo sempre pronto a defender um amigo. Pâmela a sábia que tinha sempre bons conselhos a dar e Ernesto foi simplesmente o chefão de tudo, o que ele não gostou. Quanto ao outros, não teve um que não se surpreendesse com a descrição de Margie, pois nenhum deles jamais sonharia que aquela cabecinha oca pudesse analisar as pessoas daquele jeito. Não que corresse tudo bem, pois ao apresentar Pâmela, a pantera rugiu e mostrou os dentes, mas depois que Margie gritou com ela dizendo que isso era feio, ela aceitou os carinhos como fizera com os outros.
Depois das apresentações, como se fosse a coisa mais natural do mundo, Margie se abaixou, pegou a ponta do bambu que coubera a ela levar até o acampamento e saiu andando com a pantera ao seu lado. Quando ela viu que nenhum dos outros se movia, parou, se voltou para eles e gritou:
– Vamos gente. Vocês vão ficar aí o dia todo? Olha que não demora e a noite chega.
Como se fossem despertados de um sonho, todos pegaram a sua carga e a seguiram da forma como Na-Hi programara antes. Eles deviam andar em fila indiana. A diferença era que, dessa vez, era Margie que puxava a fila.
Ao chegarem no acampamento o estresse se repetiu. Dessa vez foi pior, pois Milena, ao ver a fera, correu para dentro da água e se recusava a sair de lá, só aceitando quando a Margie foi até ela e a pantera a acompanhou e fez a apresentação dentro da água mesmo. A exceção foi Diana que, para surpresa de todos, declarou que aquilo era um barato e que ela queria ver quem ia ter coragem de se meter com a Margie daquele dia em diante.
Cahya tinha tido sucesso na pescaria, porém, com a presença do novo membro do grupo, ela teve que voltar para dentro do mar e, com a ajuda de Na-Hi e Diana, fisgaram vários peixes de tamanho menor que aqueles que reservaram para eles. Os peixes foram entregues para Margie que, fazendo grande farra, deu cada um deles na boca de Chantal que parecia um animal domesticado ao lado da garota.
Mas Margie teve que pagar um preço pelo novo brinquedo. Naquela noite, ninguém se aproximou dela e a garota teve que dormir, pela primeira vez desde que chegaram naquela ilha, sem ter gozado antes. Dormiu com o corpo encostado no pelo aveludado de Chantal que, durante toda a noite, ficou imóvel ao lado dela. Imóvel, mas atenta a tudo o que se passava à sua volta.
Entretanto, Margie não reclamou. No outro dia, ela chegou a declarar que nunca na sua vida se sentiu tão feliz e ao mesmo tempo tão protegida.